Discurso durante a 57ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Manifestação de indignação sobre informação divulgada pela Organização não governamental Transparência Brasil contra o Parlamento.

Autor
Ana Amélia (PP - Progressistas/RS)
Nome completo: Ana Amélia de Lemos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO. IMPRENSA.:
  • Manifestação de indignação sobre informação divulgada pela Organização não governamental Transparência Brasil contra o Parlamento.
Aparteantes
Demóstenes Torres, Jayme Campos, Waldemir Moka, Wellington Dias.
Publicação
Publicação no DSF de 27/04/2011 - Página 12390
Assunto
Outros > SENADO. IMPRENSA.
Indexação
  • CRITICA, ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL (ONG), TRANSPARENCIA ADMINISTRATIVA, BRASIL, PUBLICAÇÃO, INTERNET, MANIPULAÇÃO, DADOS, REFERENCIA, DESPESA, SENADOR, IMPORTANCIA, RESPONSABILIDADE, IMPRENSA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            A SRª ANA AMELIA (Bloco/PP - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Caro Presidente Cícero Lucena, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, nossos telespectadores da TV Senado e da Rádio Senado que nos acompanham, meu pronunciamento, hoje, é um pouco um desabafo e um desalento, porque cheguei a esta Casa com o objetivo de exercer um mandato transparente, responsável e comprometido com os interesses da sociedade do meu Estado, o Rio Grande do Sul, que represento.

            Quando leio que um Senador custa R$33 milhões, fico alarmada, porque, como uso Twitter, como acompanho as notícias pela rede social, de onde chega este valor, de um Senador custar R$33 milhões, Sr. Presidente?

            É uma manipulação muito grande, por maior respeito que eu tenha por uma ONG chamada Transparência Brasil, cujos dirigentes entrevistei várias vezes quando era jornalista. Trata-se de manipulação tão primária pegar todo o Orçamento do Senado e dividir por 81 Senadores! É uma manipulação com objetivo claro de provocar a reação negativa da opinião pública contra esta Casa, contra o Parlamento.

            A responsabilidade é de cada um, e, por isso, sinto muito, pela responsabilidade que tenho. Ontem, cheguei aqui às 8h30 e saí às 21h30.

            Precisamos defender esta instituição, e falo com autoridade moral, Presidente José Sarney, porque fui jornalista durante 40 anos e sempre que critiquei o Parlamento o fiz com base em fundamentos. Nunca fui uma crítica irresponsável. Nunca fui uma crítica sem razão de ser, mas uma crítica com o senso da justiça.

            É muito triste para quem chega aqui pela primeira vez - chego com a alegria de ter 3.401.241 eleitores do meu Estado que me consagraram este mandato. E estou aqui cumprindo rigorosamente com a minha obrigação.

            Quando digo que trabalho doze, quatorze horas, não estou querendo ser referência para ninguém, apenas para o meu compromisso e a minha consciência profissional.

            Fico muito impressionada que essa manipulação seja usada por veículos comunicação que têm a responsabilidade de mostrar ao País o lado ruim mas também o lado bom do que estamos fazendo.

            Hoje estamos com nove comissões especiais. Saímos agora de uma subcomissão que estava debatendo o crack, o qual assola o País. Mas há pouca mídia para isso, a não ser a nossa mídia, aqui da TV Senado, da nossa Agência Senado, da Rádio Senado.

            Dizem que o Senador não deve ter um iPhone. Eu uso um BlackBerry, porque dei o meu iPhone ao chefe de gabinete, a pessoa que tem a minha confiança porque me acompanha no trabalho e tem de atender centenas e centenas de prefeitos, de líderes comunitários, de lideranças políticas.

            Um telefone hoje, os carroceiros que andam por aqui - que a gente respeita tanto -, com seu burrinho e a sua carrocinha, trazem nela escrito “Faço frete. Celular número tal”.

            O celular é democrático, o celular é algo que está ao alcance de todas as pessoas. Como um Senador, que tem de atender tantas demandas, não pode ter um iPhone? Eu tenho um BlackBerry, cuja conta eu pago.

            Aqui foram adotadas medidas de controle de gastos de telefone. Foram pedidos mais ramais, mas não foram dados. Fez muito bem a Mesa. O telefone só o Senador tem. Não são dados telefones nem franquias de telefone para os assessores principais.

            O chefe de gabinete de um Senador ganha mais - porque está no quadro dos funcionários - do que um Senador que tem mandato parlamentar. Eu não estou reclamando disso. É só para que a sociedade entenda a função e a natureza da atividade que nós exercemos.

            Falar de um automóvel que tem oito anos: o carro da Senadora Vanessa Grazziotin incendiou outro dia, não tem peças de reposição! Carros velhos, com oito anos de uso. É um problema até de segurança. Não me faz falta, eu posso usar o meu veículo, mas nós temos um mandato, nós temos algumas prerrogativas. E a nossa prerrogativa é a da responsabilidade. Todos aqui têm igual responsabilidade, todos estão empenhadíssimos em exercer um bom mandato. E é muito triste, ao longo dia, lermos essas informações, que são, para mim, uma grande dor, uma grande dor porque não é dessa forma que vamos construir a democracia, nem é dessa forma que vamos fazer o nosso País melhor.

            A imprensa tem uma responsabilidade muito grande nesse particular, uma responsabilidade de colocar os pingos nos “is”, de tratar as coisas como são. Ataquem os outros Poderes como atacam este Poder. Cobrem dos outros Poderes da mesma forma e com o mesmo rigor!

            É claro que eu lamento o que aconteceu ontem aqui com um colega jornalista. Lamento muito. E tenho certeza de que, embora o Senador tenha usado a tribuna - não vi -, ele, no fundo, no fundo, sentiu-se desconfortável. Nós temos que ter respeito, sim, pela instituição. Eu, como Senadora, tenho o direito de não responder às perguntas que me fizerem, porque dei essa liberdade, e a obrigação de um jornalista é fazer o mesmo. Mas também temos que respeitar o exercício profissional dos jornalistas nesta Casa, assim como os jornalistas também têm que entender as posições que nós aqui tomamos, nesta Casa. Ninguém pode impor-nos a vontade de quem quer que seja. Nós temos o arbítrio sobre as nossas decisões, o julgamento sobre elas!

            Por isso, Presidente, eu tenho hoje, Presidente Itamar Franco, como o senhor, muita responsabilidade, muito zelo pelo que significa ocupar um mandato, ter um mandato parlamentar nesta Casa, Casa que está envolvida com tantas questões relevantes: com a reforma eleitoral, com a reforma política, com a reforma tributária, com decisões relevantes para tudo isso. Mas é preciso que haja respeito das instituições, nosso respeito.

            Eu tenho, no meu gabinete, controle de ponto eletrônico para todos os funcionários. Só quatro funcionários estão dispensados do ponto eletrônico no meu gabinete: o motorista, o assessor de imprensa, o chefe de gabinete e o assessor político do meu gabinete. Tenho 21 pessoas que trabalham aqui e trabalham em Porto Alegre. E faço economia, sim: controlo a quilometragem do motorista, controlo o gasto do telefone, controlo o gasto de viagem. E, da verba que eu tenho para receber, eu não uso a verba disponível, uso no limite necessário.

            Talvez seja muito pouca coisa que eu esteja fazendo aqui. Muito pouca coisa! Porque o mais importante são as nossas decisões, que se refletem no cotidiano dos brasileiros, todos. Porque tomamos aqui decisões para reduzir taxa de juros - taxa de juros é o Banco Central -, decisões para reduzir os impostos, como foi hoje na Comissão de Assuntos Econômicos, como foi a questão do crack, como é a questão dos direitos humanos. Tantas questões!

            Outro dia, alguém disse que só eu posso falar dessas coisas porque sou jornalista. Eu não tenho medo da imprensa porque eu fui jornalista. Não tenho medo de desagradar os colegas. Por isso, eu já disse: lamentei profundamente o que aconteceu aqui. Sou muito amiga do Senador Roberto Requião. Repito: ele deve estar desconfortável. O jornalista que está trabalhando aqui também está a serviço de uma missão, a de informar. E nós devemos, então, ter igual responsabilidade de todos com as instituições que formam essa democracia, ainda flor jovem, nascendo ainda, Presidente. Fizemos muito, da redemocratização até agora, e muito há por fazer. Mas só será essa construção melhor e maior, quanto maior a maturidade e maior a responsabilidade que as instituições tiverem aqui.

            Eu havia preparado umas palavras para falar a respeito dos restos a pagar. Milhares e milhares de prefeitos vêm aqui, aos gabinetes de todos os Senadores. A Ministra Miriam Belchior está lá na Câmara, dando explicações, o que já pode reduzir e aliviar as dificuldades financeiras dos prefeitos que contrataram recursos e não têm a pagar. Nós estamos aqui cobrando, empurrando o Governo, fazendo críticas necessárias para o Governo, pedindo. Precisamos fazer e impor respeito, Presidente.

            Eu liguei, na quarta-feira, véspera da Semana Santa, para uma Secretária do MDIC, para uma informação relevante de um acordo binacional com a Argentina. Não recebi retorno, Presidente, de uma ligação telefônica a uma secretária do MDIC, secretária responsável pela área de comércio exterior.

            Temos que ter nessa relação civilidade antes de tudo, mas sobretudo respeito, porque estamos aqui a serviço do interesse nacional, estamos aqui a serviço da população brasileira. E queremos fazê-lo da melhor forma: de maneira transparente, de maneira responsável, de maneira que todos nós saiamos desta Casa com a sensação e a consciência do dever cumprido. Todos fazem isso quando termina uma sessão longa, às vezes demorada, como foi a da votação do salário mínimo, em que chegamos aqui muito cedo e terminamos perto da meia-noite.

            Mas eu hoje não pude calar-me diante desta questão: usar e manipular um dado, pegar o orçamento do Senado, que é para pagar a luz, para a limpeza do Senado, para todo o funcionamento desta Casa. Essa estrutura toda não é só para 81 Senadores. Os visitantes estão acostumados a visitar aqui, o Senado, e cada vez batem recordes de visita. E se vêm aqui é porque estão interessados na democracia.

            Nós precisamos agir com esse zelo, porque é com esse zelo, essa responsabilidade e essa coragem de enfrentar aqueles que atacam esta Casa que vamos torná-la respeitada, amada e desejada. Não há democracia sem um Congresso que tenha compromisso com a Nação. Por isso, hoje, em vez de falar sobre essas questões, eu não pude resistir em relação a esse desabafo.

            Concedo, com muito prazer, o aparte ao Senador Demóstenes Torres.

            O Sr. Demóstenes Torres (Bloco/DEM - GO) - Senadora Ana Amelia, V. Exª faz um pronunciamento que é muito correto, um pronunciamento que muitos aqui têm pouquíssima coragem de fazer. Os congressistas se calam quando aparece uma crítica, um argumento irresponsável acerca do funcionamento da Casa. A democracia é isso mesmo, a democracia é cara. Como bem observa V. Exª, quantas vezes eu não recebo a cobrança de um eleitor que me diz: “Mas como? Está no jornal, todo dia, que o senhor recebe tanto.”? Alguns têm a impressão de que eu recebo R$ 100 mil, R$ 150 mil, R$ 200 mil por mês, quando, na realidade, recebemos, líquido, valor... Eu ainda pago pensão de alimentos, então...

            A SRª ANA AMELIA (Bloco/PP - RS) - R$ 16 mil, Senador Demóstenes.

            O Sr. Demóstenes Torres (Bloco/DEM - GO) - Exatamente. Aí, fica com essa situação. Muito bem. Mas, realmente, o Senador tem uma cota de celular, que não deve ser criticada - o que não pode haver é o abuso, como já aconteceu na Casa - e tem uma cota de passagem, que, da mesma forma, deve ser seguida com responsabilidade. Creia V. Exª que, em relação a esta questão dos automóveis que V. Exª aborda, para muitos, é uma irresponsabilidade o Senado trocar a frota ou fazer a locação de automóveis. No entanto, é um desperdício total ter uma frota com oito anos de uso, alguns com mais de 200 mil quilômetros rodados, colocando em risco a vida de várias pessoas, não só a do Senador, a do condutor, a de quem está dentro do automóvel, mas a de quem está na rua também. Não é verdade? Mas, em homenagem, digamos assim, a uma certa hipocrisia, ninguém ousa tocar nesse assunto, é um assunto tabu, porque “Ah, o Senado tem tantas mordomias e vamos partir para mais essa mordomia? Por que o Senador não usa o seu próprio carro”, quando nós usamos nosso próprio carro. E tudo isso feito com muito sacrifício. V. Exª também fala, inclusive, de algo que outro dia eu reclamava: a desconsideração de muitas autoridades pelo trabalho do Senador. Eu mesmo, tem dois Ministros com quem tento falar há muito tempo. Não sei por que não consigo. O Ministro Palocci, por exemplo, na época do caseiro Francenildo, era uma simpatia total. Esteve aí, andou visitando, batendo nas portas do inferno, mas hoje, está ali de novo, junto - adjunto, melhor dizendo - de uma potestade, e não fala mais com os Senadores, especialmente os da oposição. Agora, eu vou lá pedir ao Senador Palocci qualquer coisa de irresponsável? É um homem de articulação política. No meu Estado, por exemplo, nós temos um caso em que a empresa de energia elétrica está em uma situação bastante deplorável - não vamos discutir as razões. O Ministro de Minas e Energia, Senador Lobão, favorável a uma solução. Quero falar com o Ministro sobre esse assunto. Não posso porque o Ministro, há mais de um mês, não dá um retorno. Eu vou ligar insistentemente para o Ministro, quer ele queira, quer ele não queira. Não me interessa se ele me acha simpático ou se não acha. Eu tenho um assunto de interesse do meu Estado para falar com ele, e ele tem obrigação de me receber como Ministro. O Ministro José Eduardo Cardozo, que até outro dia, dava palestra junto comigo e tal, outro dia, encontrei com ele, muito simpático, “olha, não precisa nem marcar audiência” e tal. Da mesma forma, há mais de mês que ligo. Por quê? Sou crítico contundente ao tipo de segurança pública que ele está implantando no País e quero dizer isso a ele. Quero ter a oportunidade de dizer, porque parece deslealdade escrever pelos jornais. Quero dizer o que eu acho. Alguns pensam que está certo. Ele tem o direito de ter o pensamento dele, mas eu gostaria de dizer isso a ele. Então, é verdade tudo o que V. Exª diz. Sofremos com isso. Não vamos parar de sofrer com isso, infelizmente. Não será o pronunciamento de V. Exª, lamentavelmente, que vai mudar esse estado de coisas. No Rio Grande do Sul, eles vão continuar achando que V. Exª e os outros dois Senadores ganham R$ 300 mil, R$ 400 mil, R$ 500 mil por mês. Esse, infelizmente, é um trabalho que é feito dessa forma. É claro que muitos dão azo a esse tipo de interpretação. Agora, o pior de tudo: muitas vezes, nós não podemos levar a efeito nosso trabalho grandioso como Senador, porque o Executivo, hoje, é um superpoder, não é verdade? Da mesma forma que nos atropela com essas medidas provisórias, que não dão nenhuma margem de interpretação para o que estamos dizendo, também agora os ministros adquiriram um novo hábito: esnobar os Senadores. Parabéns a V. Exª! Republicanamente, V. Exª faz um discurso não corporativista, mas um discurso que mostra por que o Rio Grande do Sul lhe deu quase quatro milhões de votos.

            A SRª ANA AMELIA (Bloco/PP - RS) - Muito obrigada, Senador Demóstenes Torres.

            De fato, também não é republicano o comportamento dos Ministros que não reconhecem a legitimidade que temos nesta Casa para representar os interesses dos nossos respectivos Estados. Então, o Governo deveria repensar o comportamento no relacionamento que tem com o Congresso Nacional.

            A Presidenta da República, no dia em que veio a esta Casa, alegrou-me muito quando disse que não haveria discriminação à oposição e que trataria a todos com igual isenção. Alegrei-me muito, mas lamentavelmente os subordinados da Senhora Presidenta não estão seguindo a palavra que ela havia empenhado quando veio trazer a mensagem.

            Concedo com muito prazer o aparte ao Senador Wellington Dias.

            O Sr. Wellington Dias (Bloco/PT - PI) - Senadora, eu quero só me somar a V. Exª em relação a essa forma, que já se fez outras vezes... Já estive no Parlamento e considero uma má-fé. Primeiramente, reconheço a importância da transparência e da cobrança das entidades, elogio e busco inclusive contribuir. No meu Estado, criamos o Portal da Transparência, que muitas vezes era um espaço de crítica; e eu considerava positivo, porque era uma forma de a gente inclusive saber o que estava acontecendo. Mas dividirmos o valor aplicado em um Parlamento pelo número de Senadores e, a partir de então, passarmos uma ideia de que é isso o que custa, é isso o que se gasta e isso muitas vezes ser entendido até como o que tem cada Senador, considero realmente um ato desonesto. Com todo o respeito que tenho a todas as entidades que trabalham pela transparência, isso presta um grande desserviço e termina desmoralizando um lado importante que existe no trabalho da busca pela transparência. E apenas para ilustrar, citarei um exemplo em relação a veículo. Logo que tomei posse, recebi aqui um grupo de prefeitos do meu Estado e de lideranças. Deslocamo-nos daqui para uma audiência em um dos ministérios. Um deles me fez uma pergunta: “E o Senado, é mesmo o céu?”. Há uma famosa frase do Darcy Ribeiro, espalhada por todo o Brasil, que diz que o Senado é o céu e não é preciso morrer para chegar lá. E quando saímos da audiência, eles tiveram que empurrar o carro comigo. Eu disse: “Pelo menos, para chegar ao céu tem um sacrifício, vou voltar para lá, mas tem que empurrar o carro”. Então, eu queria citar esse caso pitoresco para dizer que sim, precisamos de uma condição melhor nessa área. E se a Mesa for fazer, tem todo o meu apoio. Era isso. Muito obrigada.

            A SRª ANA AMELIA (Bloco/PP - RS) - Muito obrigada, Senador Wellington Dias. Temos trabalhado intensamente na subcomissão temporária que está examinando a questão do crack. O senhor, que é ex-governador do Piauí, tem uma grande experiência nessa relação com a mídia.

            Eu até não poderia reclamar porque tenho uma cobertura muito grande do jornalismo, mas não é a imprensa, é a questão do trato dessas instituições, como a Transparência Brasil, de fazer a manipulação desse dado, pegar o orçamento do Senado inteiro e dividir por 81 Senadores. É uma conta realmente muito primária, mas com um objetivo, parece, absolutamente ilegítimo nessa questão.

            Com alegria, dou aparte ao Senador Waldemir Moka.

            O Sr. Waldemir Moka (Bloco/PMDB - MS) - Senadora Ana Amelia, quero dizer a V. Exª do meu respeito. Realmente é um discurso corajoso. V. Exª, que veio, ou melhor, que vem exatamente da grande imprensa, quantas vezes fui entrevistado por V. Exª? Então, eu quero dizer que é importante que V. Exª dê esse depoimento, até pela credibilidade que V. Exª angariou ao longo de tantos e tantos anos à frente de um jornalismo sério, que cobrava, crítico. E V. Exª hoje traz um depoimento daquilo que é, sem dúvida, uma manipulação. E eu quero, num aparte muito objetivo, dizer a V. Exª que eu tenho certeza de que vários, senão todos, Senadores aqui hoje gostariam de aplaudir V. Exª pela coragem e pela defesa que V. Exª faz do Senado, de um Parlamento que tem realmente como compromisso maior defender os interesses da população. E isso, quando V. Exª se insurge contra essa manipulação, V. Exª sai em defesa daquilo que é o mais sagrado, que é a democracia no País. Parabéns a V. Exª.

            A SRª ANA AMELIA (Bloco/PP - RS) - Muito obrigada, Senador Waldemir Moka.

            Eu penso que a contribuição que o Transparência Brasil pode dar é avaliando os casos de corrupção, os casos de desvio do recurso público, a má aplicação do dinheiro do povo, o problema da situação em que estão alguns setores fundamentais, como a saúde pública em nosso País.

            Isso seria um bom trabalho, uma boa colaboração exatamente para ver para onde vai o dinheiro, para onde é desviado o dinheiro, para onde está indo o dinheiro público. Exatamente esse é o papel que tem a imprensa responsável e também as organizações não-governamentais que fazem esses controles.

            Com alegria também, concedo um aparte ao Senador Jayme Campos. 

            O Sr. Jayme Campos (Bloco/DEM - MT) - Senadora Ana Amelia, a minha intervenção é muito rápida, mas eu não poderia deixar de cumprimentar V. Exª nesta tarde pelo belo e oportuno pronunciamento, quando aqui sai em defesa dos interesses desta Casa. Na verdade, alguém tinha que fazer algo, tendo em vista, parece-me, uma campanha insidiosa para detonar ou destruir a imagem do Congresso Nacional brasileiro, na medida em que o que se vê todos os dias, pelos veículos de comunicação, são campanhas que, lamentavelmente, só vêm prejudicar a imagem da classe política, do próprio Congresso Nacional. E V. Exª é muito feliz e corajosa, tem o respeito e a admiração de todos nós, Senadores e Senadoras, na medida em que a senhora aponta - não só faz a sua fala, mas aponta - as soluções. Conversando com o Senador Pedro Taques aqui, ele disse: “Acho que é normal, natural, que os Poderes comprem até um carro. É normal. Até por problemas de trânsito, corre-se risco de acidentes.” Todos os poderes compram, o Supremo Tribunal Federal, que é o Poder Judiciário, o Poder Executivo. E aqui, não, nós temos que andar de carro velho. Não significa que nós dependemos exclusivamente do carro. Não. Eu tenho capacidade, condições de ter um carro próprio, mas é um prerrogativa que os Senadores têm aqui. Acho que nós estamos cobrando apenas aquilo que é de direito nosso aqui. Verba indenizatória. Eu confesso a V. Exª e aos demais Pares aqui que eu fico constrangido muitas vezes em oferecer um almoço a um grupo de prefeitos ou lideranças comunitárias que vêm aqui a Brasília, oferecer um almoço e gastar R$500,00, R$600,00. Daqui a pouco vão dizer: Olha, o Senador gastou R$500,00, tinha condições de, com esses R$500,00, comprar 50, 60, 100 marmitex, e ele gastou num almoço. As passagens, Senadora Ana Amélia, eu quero inclusive aqui fazer até um apelo à Mesa Diretora desta Casa. Não adianta me dar passagem. Por exemplo, em Mato Grosso, nós, Senadores, temos R$17 a R$18 mil de passagem. Eu devolvi, no ano passado, R$202 mil. Gastei R$14 mil somente. Entretanto, a imprensa não noticiou, nenhum veículo de comunicação, que devolvi R$200 mil, que ocupei apenas R$14 mil. Faço uma proposta aqui, Senador João, que é da Mesa Diretora, que transforme isso aí em dinheiro em espécie. Em vez de me dar R$17 mil, R$5 mil seriam suficientes para atender não só o Senador, como todo o gabinete, e eventualmente um assessor meu que tiver que se deslocar de Cuiabá para Brasília, ou vice-versa, de Brasília a Cuiabá. Então, nós temos que deixar de ver, e tudo isso aí eu acho uma hipocrisia que está acontecendo. Lamentavelmente, quando a imprensa divulga que “o Senador recebeu R$33 milhões”, você imagina o absurdo. E muitas pessoas acham, interpretam que, de fato, aquilo é verdadeiro. Gente, eu, particularmente, ganho R$15 mil, 16 mil reais. Da verba indenizatória de quatro meses, eu recebi duas até agora, porque eu fico constrangido, porque a imprensa expõe de tal forma que você não sabe como é que se pode fazer. Se você vai a um restaurante, não pode. Se você paga um voo de avião, falam: “Olha, que voo caro de avião esse aqui”. Sobretudo num Estado como o nosso, Senadora Ana Amelia, de dimensão continental. Num voo para Cuiabá, em determinadas cidades do Estado, são gastos de R$12 mil a R$15 mil, são 1.600 quilômetros, às vezes, quando se tem de se deslocar de Cuiabá a Vila Rica, de Cuiabá a Aripuanã. Eu acho V. Exª foi muito feliz, muito corajosa, e eu acho que todos os Senadores aqui em coro têm que sair em defesa do Senado Federal, para que, lamentavelmente, não ocorram fatos de leviandade. Eu digo que a imprensa, muitas vezes, é mal-intencionada. Isso tem que mudar, mas só com pessoas corajosas como V. Exª, que tem autoridade, que tem moral para vir aqui sair em socorro do Senado Federal. Parabéns a V. Exª, Senadora Ana Amelia.

            A SRª ANA AMELIA (Bloco/PP - RS) - Muito obrigada, Senador Jayme Campos pelo seu aparte, pela gentileza e pelo estímulo.

            Na verdade, a responsabilidade deve ser compartilhada por todos.

            E a imprensa, que tanto fez para a redemocratização do País, que tanta cobertura deu à marcha das diretas, a tantas campanhas pela redemocratização, deveria também pensar e repensar exatamente a força que tem para consolidar essa democracia conquistada a duras penas.

            Então, é muito importante que as instituições, a imprensa como instituição, nós, parlamentares, como instituição, o Poder Judiciário e o Poder Executivo da mesma maneira, tenham um relacionamento respeitoso, que é isso o que a sociedade brasileira espera de todos nós.

            Ainda, voltando ao caso, porque reclamei da forma como uma Secretária do Mdic não respondeu ao telefonema de uma Senadora na quarta-feira. A assessoria da Secretária do Mdic ligou hoje pela manhã e solicitou que o gabinete encaminhasse a demanda por e-mail, para o envio posterior de resposta a respeito de um acordo bilateral Brasil-Argentina na área de lácteos, como a assessoria mandou.

            Tudo bem, mas é preciso lembrar que nem as moscas se atraem com vinagre. A boa relação, e nós estamos tratando não de seres extraterrestres, nós estamos tratando de pessoas que têm aqui uma responsabilidade muito grande, aumentada cada dia mais, quanto maiores forem os problemas que nós estamos vivendo.

            Agora, por exemplo, com inflação batendo à porta, nós aqui, no Congresso, nós, no Senado, estamos debruçados também sobre isso.

            Então, foi preciso esse desabafo, Sr. Presidente.

            Eu agradeço muito o tempo que me foi concedido, agradeço todos os apartes que me foram feitos nessa forma de manifestação, de forma espontânea, sincera e muito pessoal, de uma experiência que estou vivendo agora e de que eu tenho muito orgulho. E vou continuar representando o Rio Grande do Sul de maneira muito responsável e comprometida com os interesses da coletividade.

            Muito obrigada, Sr. Presidente.


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