Discurso durante a 59ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre o filme brasileiro, de Jeferson De,"Bróder".

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA CULTURAL.:
  • Comentários sobre o filme brasileiro, de Jeferson De,"Bróder".
Publicação
Publicação no DSF de 29/04/2011 - Página 12989
Assunto
Outros > POLITICA CULTURAL.
Indexação
  • ELOGIO, FILME NACIONAL, DISCUSSÃO, DISCRIMINAÇÃO RACIAL, DESIGUALDADE SOCIAL.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador) - Sr. Presidente Senador Anibal Diniz, gostaria de lhe perguntar: V. Exª já teve oportunidade de assistir ao filme Bróder?

            O SR. PRESIDENTE (Anibal Diniz. Bloco/PT - AC) - Ainda não, Senador.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - É um filme brasileiro de Jeferson De, que retrata a vida no Capão Redondo, um dos bairros da Zona Sul da grande metrópole São Paulo, um filme que tem qualidades muito especiais e eu quero recomendá-lo a todos.

            Como a Presidenta Dilma Rousseff tem ido ao teatro e gosta de assistir a bons filmes - assim como fazia no Palácio da Alvorada o Presidente Lula, que assistia a bons filmes, inclusive alguns dos melhores filmes brasileiros -, eu quero muito recomendar à Presidenta Dilma Rousseff que possa convidar um dia o diretor do Bróder, Jeferson De, e alguns dos seus principais colaboradores, como os atores Caio Blat, Jonathan Haagensen e Silvio Guindane, para assistir a esse filme muito especial. Trata-se da história de Macu, Jaiminho e Pibe, três amigos de infância que nasceram e cresceram naquela comunidade na periferia de São Paulo, no Capão Redondo, e muitos anos depois se reencontram. O Macu ainda mora no Capão, mas ele - assim mostra o filme - foi instado, às vezes pela pressão do seu meio, a se envolver com a criminalidade. O Jaiminho, que, como Macu e Pibe, jogava futebol desde menino - os três jogavam muito bem -, o Jaiminho acabou treinando em alguns dos principais times e foi levado a ser um craque dos grandes times de futebol brasileiros e foi jogar na Espanha e estava para ser convocado para a seleção brasileira.

            Era um dos principais craques. Já o Pibe, que se mudou para outro bairro, um pai de família sem muitas perspectivas na vida. Eles se encontram no aniversário de Macu para reafirmar a sua amizade e dialogar sobre as suas diferenças.

            Há ali algo muito bonito que é o sentimento de amor entre eles, o sentimento de amor que existe, portanto, numa família também do Capão Redondo, em que pese às circunstâncias ali da vida no Capão Redondo se mostrarem muito difíceis, algumas tragédias também ocorrem.

            Bem, Jefferson De, diretor do Bróder, que criou polêmica ao criar o movimento Dogma Feijoada para mudar a forma como o negro é retratado na cinematografia brasileira, nasceu em Taubaté. É filho de uma costureira e de um metalúrgico, um dos responsáveis pelo amor que ele tem hoje ao cinema, quando o levava, ainda menino, para as sessões que organizava no sindicato.

            Bróder, seu primeiro longa, chega ao circuito após passar com sucesso por vários festivais, inclusive em Berlim, onde foi mostrado no Panorama Especial. O filme traça o reencontro de um grupo de amigos que dividiram a infância em Capão Redondo, bairro da periferia de São Paulo, numa história de afeto, amizade e amor. Tendo sido escolhido para ser o protagonista, Caio Blat provocou uma grande polêmica por ser um ator branco - diferentemente das teses defendidas pelo diretor, em parte -; o ator interpreta o filho de um negro, mas é branco e tem irmãos negros.

            Jefferson De disse que a questão apresentada no filme é: quem é negro e quem não é. Disse ele que enviou o roteiro para o Caio Blat, ele entendeu toda a proposta do Bróder e, durante as filmagens, se mudou para o Capão Redondo. Lá conheceu os trabalhadores, os artistas locais, enfim, passou a conviver com a população da região e, explicou o diretor, conseguiu vencer as barreiras para fazer o filme.

            Diz ele:

            “Embora já tivesse feito três curtas metragens, eu sou estreante em longas (Jeferson De); assim, procurei me cercar de diretores mais experientes como Cacá (Diegues), Barreto (Luiz Carlos) e o Hector Babenco. Isso me facilitou o caminho para chegar aos produtores. Outra coisa é que eu não sou uma pessoa de fora daquele contexto que eu estava retratando. Eu sou um deles, eu não venho do mesmo bairro, mas sou da mesma condição, então eu sei bem o que é isso. O Brasil é um dos países onde existe maior desigualdade no mundo e é também um país muito racista. O filme fala de um bairro específico, mas eu quis contar uma história universal.”

            E, tendo assistido ao filme, percebi isso. O filme mostra situações de grande sensibilidade. A Cássia Kiss, uma atriz notável, faz o papel da mãe daqueles filhos. Ela branca, casada com um negro, que tem portanto o Caio Blat, que é um filho branco, mas que tem irmãos negros. Então acaba havendo uma história muito interessante.

            Não vou aqui contar todo o filme, mas quero dizer que são justamente o rap e o hip hop que estão ali como fundo musical; são mais de vinte músicas que acompanham todo o roteiro do filme. E, como seria próprio acontecer e acontece, os Racionais, que moram no Capão Redondo, o Mano Brown, o Ice Blue, o DJ King e outros da banda, como disse, moram ali no Capão Redondo. Então a trilha musical tem muitas das músicas do Capão Redondo e retratam como é a vida ali.

            Outro importante contribuidor do filme, e se agradece a ele, é uma pessoa que muito tem contribuído para que os diálogos havidos possam ser os mais autênticos.

            De maneira que quero muito recomendar à Presidenta Dilma Rousseff que possa assistir esse filme, convidando os que muito contribuíram para o filme que retrata uma realidade. Nesse filme, há boa música, sobretudo com a presença da música dos Racionais MCs, uma música dos jovens excluídos, um clássico do rap brasileiro; uma música dos anos 90, no momento em que os três personagens ainda estavam no bairro.

            É importante ali o abraço do que ingressou na criminalidade, da mãe com o padrasto, do negro, do branco. Ele justamente procura mostrar o afeto dentro de várias histórias. Tudo focado no relacionamento dos três meninos.

            Jeferson De já havia ganho o prêmio Kikito, em Gramado, com o curta Carolina. Tenho certeza de que esse filme será também uma contribuição muito importante, é uma contribuição muito importante para o cinema brasileiro.

            Meus parabéns a todos que contribuíram com o Bróder.

            Um abraço!

            Obrigado, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/04/2011 - Página 12989