Discurso durante a 38ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao ex-Vice-Presidente da República, José Alencar.

Autor
Itamar Franco (PPS - CIDADANIA/MG)
Nome completo: Itamar Augusto Cautiero Franco
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao ex-Vice-Presidente da República, José Alencar.
Publicação
Publicação no DSF de 30/03/2011 - Página 8746
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, JOSE DE ALENCAR, EX VICE PRESIDENTE DA REPUBLICA, ELOGIO, VIDA PUBLICA, ETICA, BRAVURA, DIGNIDADE, DEFESA, INTERESSE, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), INTERESSE NACIONAL, ATUAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB).

            O SR. ITAMAR FRANCO (PPS - MG. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Sr. Presidente.

            Sr. Presidente, há pouco recordava aqui com o Senador Clésio Andrade alguns momentos da vida do Vice-Presidente José Alencar em nossa Minas Gerais.

            Sr. Presidente, José Alencar era da mesma região de nós outros, a chamada Zona da Mata Mineira, e eu o conheci há muitos e muitos anos. Mas eu queria destacar - sei da grande amizade que V. Exª tinha pelo nosso José Alencar - dois fatos. O primeiro fato, quando em 1997, 1998, percorremos várias quebradas de Minas Gerais, ele defendendo a sua candidatura ao Senado e eu defendendo a minha candidatura ao governo do Estado. E a nossa fraternidade aumentou muito naquela ocasião, porque nós brincávamos que tomávamos poeira nos olhos enquanto falávamos ao povo de Minas Gerais.

            Recordo-me de que uma noite, Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, veio a notícia da privatização da Vale do Rio Doce. Tanto o Senador e Vice-Presidente José Alencar era contra a privatização como eu também. E o Senador, àquela época buscando a candidatura ao Senado, o nosso Vice-Presidente Alencar falou comigo: “Itamar, veja agora o preço que estão pagando pela Vale do Rio Doce”. Ele era um grande matemático, apesar de não ter nenhuma formação de economista, fez um cálculo rápido e me disse: “Olha, a venda da Vale do Rio Doce vai significar, Itamar, dezessete dias de pagamento do serviço da dívida”. Nunca mais me esqueci desse cálculo do nosso Vice-Presidente Alencar. Ele acabou dizendo isso, de grande repercussão, ao público que assistia ao nosso comício.

            Outro detalhe, Sr. Presidente, que eu gostaria de recordar foi quando, como Presidente da República, convidei José Alencar - tinha intimidade em chamá-lo - para ir ao gabinete no Palácio do Planalto. Lá chegando, disse a ele: “Alencar, eu gostaria que você fosse o meu Ministro da Indústria e Comércio.” Pouca gente sabe desse convite. Ele me disse: “Olha, Itamar, você sabe como é que nós somos em Minas. Todos nós aspiramos chegar ao Governo de Minas um dia. Quero ir à convenção do PMDB, vou ganhá-la e vou ser candidato ao Governo de Minas Gerais, razão pela qual não posso aceitar o seu convite.”

            E eu entendi perfeitamente aquela negativa de José Alencar, porque quem é que não quer, Sr. Presidente - quem começa sua vida pública cedo, como ele começou, e como eu o conheci e o nosso querido Clésio, que aqui está - quem é que não quer governar o seu Estado? Outro dia, eu ainda escutava uma figura da política nacional dizer: “Não, eu parei a minha vida no grupo em que eu estava, fiquei quieto”. Eu disse: “Por que é que ele não vai ser candidato ao Governo do Estado dele?” Aí alguém disse: “Possivelmente, ele não terá votos”. Não era o caso do nosso Alencar. Ele enfrentou, ganhou a convenção do PMDB, para surpresa de todos nós, que achávamos difícil ele vencer a convenção do PMDB, que era o nosso Partido. Ele concorreu ao Governo de Minas. E mais tarde, como eu disse, nós fomos concorrer, numa reunião bem difícil, porque o Governador Hélio Garcia havia me telefonado perguntando se eu não poderia apoiá-lo como candidato ao Senado. Eu disse: “Governador Hélio Garcia, eu acabo de indicar, neste instante aqui, numa reunião do PMDB, o nosso Alencar para ser o candidato ao Senado e eu vou concorrer ao Governo de Minas Gerais.”

            E foi uma luta difícil, Sr. Presidente. Mas eu guardo... Tivemos depois algumas pequenas desavenças exatamente sempre por causa do PMDB. Sempre...

(Interrupção do som.)

            O SR. ITAMAR FRANCO (PPS -MG) -... por causa do PMDB (fora do microfone), tivemos algumas desavenças. Quando havia um movimento de convocação do PMDB nacional, chegava ao nosso conhecimento - eu era o Governador do Estado - que o MDB precisava apenas de uma assinatura em nível regional para que se convocasse uma convenção nacional, o que não era verdade. Mas eu acreditei nessa informação que me deram. E chamei Alencar, que respondia pelo PMDB regional àquela época. Ele me disse: “Itamar, não faça isso. Isso não é verdade!” E eu achei que devíamos fazer essa convocação.

            E pouco depois reconheci, Srªs e Srs. Senadores, que o José Alencar tinha razão. Aquela informação que haviam me passado, de que bastava a assinatura de Minas Gerais, nem a assinatura daquele que me propunha que fizéssemos isso ele conseguiu no seu Estado. Desde então, o Senador Alencar ficou um pouco estremecido comigo. E é por isso que eu digo: mais uma vez, uma interferência do PMDB nas nossas relações!

            Sr. Presidente, eu vejo com muita tristeza e com muita emoção. Não é Minas que perde. Perguntaram-me há pouco: “É Minas?” Eu disse: “Não, não é Minas, isso a extravasa. A figura de Alencar extravasa as fronteiras de Minas.” Ele ocupou esse Brasil com a sua sinceridade. V. Exª lembrou bem: às vezes, muitas vezes, discordava do Governo, sobretudo mostrando aquilo que ele já tinha feito para mim, o problema com relação aos juros. Era um homem digno, um homem ético, um homem que, ao longo de sua vida, desde moço, que conheci, sempre foi um guerreiro. Como guerreiro, ele lutou contra a doença contra a qual ele precisava lutar.

            Sr. Presidente, eu gostaria de terminar dizendo aquilo que nós podemos, de alma e de coração, recordar de José Alencar, dizia eu ao meu caro Clésio Andrade: ele tinha uma coisa fundamental, Sr. Presidente, que às vezes nós sentimos falta hoje na vida nacional de alguns homens públicos. José Alencar era um homem - vou encerrar, Sr. Presidente - que sempre, sempre, ao longo da sua caminhada, defendeu os interesses nacionais.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/03/2011 - Página 8746