Discurso durante a 63ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Contestação ao artigo de Claudio de Moura Castro, publicado na revista Veja desta semana, em que o autor trata da história do desenvolvimento econômico do Estado de Pernambuco. (como Líder)

Autor
Humberto Costa (PT - Partido dos Trabalhadores/PE)
Nome completo: Humberto Sérgio Costa Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • Contestação ao artigo de Claudio de Moura Castro, publicado na revista Veja desta semana, em que o autor trata da história do desenvolvimento econômico do Estado de Pernambuco. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 04/05/2011 - Página 13725
Assunto
Outros > DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • REPUDIO, CONTEUDO, DISCRIMINAÇÃO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), RELAÇÃO, DIFICULDADE, DESENVOLVIMENTO REGIONAL, REGIÃO NORDESTE, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE).

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco/PT - PE. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ocupo a tribuna na tarde de hoje para tratar de um assunto do qual normalmente não trataria, mas do qual me sinto na obrigação de falar diante da importância do órgão que veiculou esse artigo e principalmente pelo fato de ser pernambucano e o meu Estado ter sido atingido por uma dose extremamente alta de preconceito.

            Refiro-me a um artigo do economista Cláudio de Moura Castro, publicado na revista Veja desse final de semana, intitulado “Vinte metros de produndidade”, que trata do processo de desenvolvimento que vive hoje o Estado de Pernambuco, em especial o porto de Suape.

            Tive oportunidade de ler outros artigos desse articulista e sempre tive por ele muito respeito, considerando-o uma pessoa equilibrada e culta. Mas, infelizmente, no artigo que publicou esta semana, ele não só demonstrou um grande preconceito que todos nós imaginávamos ser algo superado em nosso País, como também um certo grau de desconhecimento da história e da economia do nosso País para tratar principalmente do tema Pernambuco.

            Ele começa dizendo que há cem anos Pernambuco era um dos epicentros do País que vivia da economia da cana-de-açúcar, mas que era economicamente importante e culturalmente florescente, enquanto o Estado de São Paulo não passava de um vilarejo provinciano.

            Depois, ele passa a dizer que a indústria pernambucana hoje é frágil e acanhada quando comparada com outros Estados. É verdade. No entanto, em nenhum momento ele entra no mérito de porque, historicamente, isso aconteceu.

            Em primeiro lugar, o Estado de Pernambuco - talvez ele não tenha conhecimento - foi, historicamente, muito prejudicado no desenvolvimento da sua economia, porque, pelo nosso fervor libertário, pela nossa defesa da democracia, em 1817, perdemos, o Estado, uma parte do nosso território para o que se transformou no Estado de Alagoas, porque queríamos a independência do Brasil e implantamos, durante 45 dias, uma República democrática em Pernambuco, na Paraíba e no Estado do Ceará.

            Depois, em 1824, na Confederação do Equador, movimento dirigido pelo Frei Caneca e que tinha o objetivo libertário de constituição da República, D. Pedro I nos deu como castigo a perda de todo o território equivalente ao vale do São Francisco e uma parte do que hoje é o Estado de Minas Gerais.

            Além do mais, reconhecemos que, ao longo da nossa história, especialmente no período da ditadura militar, fomos governados por uma elite muito mais afeita às páginas do Diário Oficial do que à luta pelo desenvolvimento do nosso Estado, os chamados “estadistas do Diário Oficial”.

            Porém, o que fez com que Pernambuco e outros Estados do Nordeste tivessem um desenvolvimento relativo mais difícil do que outras regiões do País foi exatamente a falta de visão e de políticas de desenvolvimento regional.

            O Brasil, no Governo do Presidente Lula, pela primeira vez nos últimos anos, começou a olhar para outras regiões, a olhar para o Nordeste. Hoje, no artigo, ele diz, muito bem, que Pernambuco é um Estado com uma dinâmica de desenvolvimento muito grande. Temos um estaleiro construído e dois que serão iniciados, uma refinaria de petróleo, um pólo petroquímico, uma empresa como a Emobrás... Naturalmente, um Estado que, ao longo de todo esse tempo, não foi olhado pelo Governo Federal, que foi olhado apenas no Governo Lula, tem dificuldades, como a falta de mão-de-obra qualificada, o que, na verdade, é um bom problema para ser resolvido e não deve ser objeto de qualquer preconceito no sentido de tentar qualificar os trabalhadores nordestinos e pernambucanos como incapazes de, em recebendo essa qualificação, fazer com que estejamos à altura desse desafio, desse grande desenvolvimento.

            Hoje não temos trabalhadores qualificados porque não se investiu na educação neste País. No governo passado, por exemplo, no governo do PSDB, as escolas técnicas foram fechadas, deixaram de ser construídas. E hoje nós temos dificuldades concretas para que isso aconteça.

            Então, na verdade, eu me dirijo a esse cidadão porque faz, inclusive, referências desairosas aos empresários pernambucanos, quando hoje nós temos, inclusive, empresas multinacionais que têm origem no Estado de Pernambuco, como na Bahia também há empresas como a Queiroz Galvão ou a Odebrecht, que são geridas da forma mais moderna possível e mostram a capacidade de empreendimento dos empresários pernambucanos.

            Portanto, como se trata de uma pessoa relevante, importante, que escreve para uma revista importante, a Veja, eu não poderia deixar de aqui fazer esse registro, de manifestar aqui a minha estranheza, acima de tudo pela falta de conhecimento sobre por que Estados como Pernambuco e outros chegaram a níveis de dificuldade no seu desenvolvimento, como vários deles chegaram, e, agora, estão sendo resgatados - resgatados por um Governo que, pela primeira vez nos últimos anos, como eu disse, começou a entender desenvolvimento regional como algo fundamental para o desenvolvimento de um país.

            A grande demonstração de que Pernambuco e o Nordeste podem e sabem responder a esses estímulos é que, ao longo dos últimos três anos, esses Estados e a região Nordeste têm crescido mais do que o próprio Brasil.

            Portanto, Sr. Presidente, queria fazer essa referência, manifestar a minha indignação com um artigo com esse conteúdo em uma revista importante como essa. Não faço aqui referência a quem escreve, mas ao conteúdo, que, tão somente, demonstra preconceito, desconhecimento e, acima de tudo, falta de uma visão do que o Brasil precisa hoje. O Brasil precisa hoje da união do seu povo, da unidade das suas regiões e de um trabalho em conjunto para que o futuro a que todos aspiramos possa chegar o mais rapidamente possível.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/05/2011 - Página 13725