Discurso durante a 72ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Inquietação diante do quadro geral da economia e das medidas do Governo para controlar a inflação.

Autor
Cyro Miranda (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/GO)
Nome completo: Cyro Miranda Gifford Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Inquietação diante do quadro geral da economia e das medidas do Governo para controlar a inflação.
Publicação
Publicação no DSF de 14/05/2011 - Página 16282
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • QUESTIONAMENTO, CAPACIDADE, GOVERNO FEDERAL, CONTROLE, INFLAÇÃO, CRITICA, POLITICA MONETARIA, AUMENTO, JUROS, TITULO DA DIVIDA PUBLICA, NECESSIDADE, MELHORIA, GASTOS PUBLICOS, EFEITO, REDUÇÃO, PREÇO, MERCADORIA, SERVIÇOS PROFISSIONAIS.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O CYRO MIRANDA (Bloco/PSDB - GO. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, temos reafirmado nesta Tribuna nossa inquietação diante do quadro geral da economia e das medidas do Governo para controlar a inflação.

            A Presidente disse que esta é preocupação do Governo.

            Mas a equipe econômica do Governo, que começa a dar mostra de desentendimentos internos, parece não ter consenso sobre a efetividade das medidas tomadas.

            O Presidente do BNDES criticou a política cambial e disse que, a pretexto de conter a inflação, Brasília abandonou a ideia de segurar o câmbio.

            Nas palavras dele: “O resultado não poderia ser outro: a destruição da indústria nacional!”

            Vejam, Srªs e Srs. Senadores, que o Informe Conjuntural da CNI referente ao primeiro trimestre diminuiu a estimativa do crescimento econômico brasileiro de 4,5% para 3,5% ao final de 2011.

            Já a produção industrial foi de uma expectativa de alta de 4,5% em relatório de dezembro de 2010, para 2,8%, segundo as atualizações feitas na sexta-feira 15 de abril.

            A CNI justifica a redução dos números pela queda no consumo das famílias, refletindo a restrição ao crédito, e ao aumento do custo de mão de obra, devido à escassez de profissionais.

            Por outras palavras, se continuarmos nesta marcha, poderemos colocar em jogo um dos maiores patrimônios nacionais: as nossas indústrias.

            As nossas indústrias pela implantação das quais lutamos ferrenhamente ao longo da segunda metade do século XX, como símbolo do desenvolvimento nacional, como valor máximo da condição de economia emergente.

            Esta dissonância que ouvimos entre o Ministério da Fazenda, o Banco Central e expoentes como o Presidente do BNDES era de se esperar.

            O governo parece ser o único que não reavalia a conjuntura internacional e insiste em manter os juros altos para conter a inflação.

            O contexto hoje mostra um quadro em que os Estados Unidos, numa atitude unilateral de salvar a economia norte-americana, emitem moeda como nunca e fazem acordo bilateral com a China, para garantir a sobrevivência.

            E nós, se desejarmos continuar num processo de crescimento duradouro e sustentável, precisamos chamar os setores produtivos para discutirmos o que fazer e como fazer.

            É claro que o Brasil não pode deixar escapar o controle da inflação, que se construiu, também, como um patrimônio do povo e alicerce da estabilidade econômica.

            Mas não adianta os Senadores da base do Governo virem à Tribuna para tentarem nos convencer sobre o acerto das medidas do governo.

            “Dizem que a União alcançou, neste primeiro bimestre, um resultado primário positivo de R$16,8 bilhões, quatro vezes mais do que o apurado no mesmo período de 2010.

            Isso teria contribuído para um superávit primário do setor público, em doze meses, de 2,7% do PIB, próximo à meta de 2,9% estabelecida para este ano, indicando que a trajetória fiscal mostra-se muito favorável.”

            Mas se esquecem de que, na verdade, boa parte desse resultado é proveniente do aumento da inflação que leva mais dinheiro aos cofres públicos.

            Na nossa modesta opinião, o Governo tá pagando para ver! Ignora as tendências do mercado e vai em frente até não sabemos quando.

            O caminho mais sensato é outro! Basta ler os jornais para ver que a melhoria da qualidade dos gastos públicos teria um efeito bem mais benéfico e duradouro sobre a inflação do que o aumento sistemático da taxa selic.

            Mas o Governo parece tentado a ignorar os alertas do mercado e segue preso ao caminho dos juros altos, o que, na prática, estimula o capital especulativa e o carry trade.

            Hoje, não quero perder a oportunidade para dizer, também, que a Presidente Dilma deve estar bastante pensativa e, o que é pior, sem poder reclamar de seu antecessor.

            A Presidente Dilma não tem como vir a público e falar da herança maldita de seu antecessor.

            O Presidente Lula costumava maldizer o quadro econômico que herdou do Governo do PSDB, mas a história já começa a fazer justiça a Fernando Henrique Cardoso.

            E, com certeza, não há quem não reconheça a importância das medidas de FHC como base da estabilização econômica, sem a qual, o Brasil não teria aproveitado o ciclo de constante crescimento mundial até a crise de 2008.

            Como bem observa o jornalista Carlos Alberto Sardenberg, durante o mandato, o Presidente Lula “não avançou um passo sequer no aperfeiçoamento do modelo econômico” que herdou.

            Preferiu ir tocando uma coisa mista entre ortodoxia e heterodoxia, deixando a coisa correr.

            Mas, no lugar de surfar na onda do Governo de Fernando Henrique Cardoso, o Governo Lula poderia ter aproveitado a conjuntura mundial favorável e a popularidade de que desfrutava para aperfeiçoar o modelo econômico e trazer a meta de inflação para 3%, como os demais países emergentes.

            Com certeza, vão dizer aqui que, no Governo Lula, promoveu-se o aumento das reservas cambiais e houve um crescimento considerável das exportações de commodities.

            Ocorre que havia sobra de dólares no mercado e que, se o Banco Central não houvesse comprado as reservas, a moeda americana teria caído a menos de um real.

            Mas hoje, já há questionamentos no mercado sobre qual seria o ponto de equilíbrio do montante dessas reservas.

            Isso porque, para mantê-las, pagamos os juros mais altos do mundo e contribuímos para o aumento sistemático da dívida pública.

            O jornal o Estado de S. Paulo afirma que “ a dívida pública do Governo Federal em títulos nas mãos dos investidores totalizou 1, 69 trilhão de reais em março, com aumento de 1,39% em relação a fevereiro.

            A expansão de 24 bilhões de reais em um mês se deveu em grande parte aos juros da dívida, que somaram 16,39 bilhões de reais, segundo os dados divulgados pelo Tesouro Nacional.”

            Em relação ao comércio de commodities, este não decorreu de uma estratégia deliberada do Governo Lula ou da diplomacia, mas de uma demanda oriunda da China, que foi buscar minério de ferro, soja e petróleo em todo o mundo, inclusive no Brasil.

            Na verdade, ancorado no bordão “nunca antes na história”, o Governo Lula sempre forçou o Brasil a olhar apenas para si mesmo, nunca num recorte comparativo com os demais membros do BRIC.

            O fato é que hoje o Real é a moeda mais valorizada entre todos os BRICs e o Brasil é onde se paga o maior juro de mercado.

            Cremos, Sr. Presidente, que, aos poucos, a sociedade brasileira irá compreender duas coisas:

            Primeiro, o Governo anterior poderia ter feito muito mais pelas futuras gerações, mas preferiu aproveitar o vento de popa e bradar feitos e realizações, como se a história do país começasse a ser construída pela mão do Presidente Lula.

            Segundo, e mais grave, Srªs e Srs. Senadores, a sociedade brasileira já começou a perceber que, nesta nova conjuntura mundial, ou a equipe econômica da Presidenta Dilma se liberta da âncora dos juros altos, ou o barco vai afundar pelo peso da falta de competitividade de nossos produtos e do processo de desindustrialização.

            Muito obrigado!


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/05/2011 - Página 16282