Discurso durante a 73ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração ao centésimo vigésimo aniversário do Jornal do Brasil.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração ao centésimo vigésimo aniversário do Jornal do Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 17/05/2011 - Página 16314
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, AUTORIDADE, JORNALISTA, SESSÃO ESPECIAL, HOMENAGEM, COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, JORNAL, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).
  • COMENTARIO, ATUAÇÃO, HISTORIA, FUNDAÇÃO, ORGÃO DE PUBLICAÇÃO, JORNAL, JORNAL DO BRASIL, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente dos trabalhos, Senador Wilson Santiago; feliz responsável por esta solenidade, Senador Marcelo Crivella; Srª Presidente do Jornal do Brasil, Srª Ângela Moreira, mais uma vez se vê que as mulheres até ao Jornal do Brasil já chegaram, e também à Presidência da República; Sr. Diretor Reinaldo Paes; Sr. Editor Executivo Marcelo Migliaccio; Editor do Jornal do Brasil, Sr. Humberto Tanure; Jornalista ilustre Luis Orlando Carneiro; Mauro Santayana, meu amigo, por quem tenho uma admiração extraordinária, voz de resistência, ao longo do tempo, que honra as páginas do Jornal do Brasil, ocupando um lugar tão querido do nosso estimado Castelinho; Jornalista Leandro Mazzini; Srª Jornalista Heloísa Tolipan; meu prezado amigo e ex-Presidente do Jornal do Brasil Pedro Grossi; senhoras e senhores, primeiro, antes de vir à tribuna, telefonei e falei com a família de Marcos Sá Corrêa, ex-Redator Chefe do Jornal do Brasil, que teve um grave problema doméstico. Informou-me sua família que ele já está bem melhor.

            Quando tomei conhecimento do que tinha acontecido com Marcos Sá Correia, disseram-me que ele tinha tropeçado num canhão. Perguntei: “Mas, como é que ele foi tropeçar num canhão?” Aí me disseram: “Ele tropeçou, e o canhão caiu.” “Amigo Marcos, com tanta escultura bonita, por que levar a escultura de um canhão para sua casa?”

            Pois é! Ele foi atingido por um canhão, mas, graças a Deus, está muito bem.

            Cento e vinte anos do Jornal do Brasil, bem mais de um século. Muito poucas entidades do setor da imprensa chegam a uma idade com o prestígio do Jornal do Brasil. Importante é que ele chega nessa idade com a mesma credibilidade, como uma entidade que impõe o respeito e a admiração do Brasil e do mundo. E olha que a imprensa no Brasil não tem uma história tão grande e tão profunda, com grandes nomes e com grandes destaques.

            Temos, pelo mundo afora, grandes jornais. Mas, aqui, no Brasil, o primeiro foi o Correio Braziliense, mas editado lá em Londres, em 1822, por Hipólito José da Costa, nascido no, hoje, Rio Grande do Sul, onde havia a colônia de Sacramento. Logo depois, veio o Jornal do Brasil, que marcou sua trajetória já no seu início, por denúncias que fazia, à época do Governo de D. João VI, aos seus Ministros. E, já naquela época, um regime discricionário, lutando pela liberdade de informar.

            Aliás, a crítica aos governantes marcou a existência e a história do Jornal do Brasil. O Jornal do Brasil já surgiu sóbrio, já surgiu com uma estrutura empresarial sólida, destoando do universo de pequenos veículos militantes, caracterizados como panfletários, apaixonados, numa época de imensa agitação política, às vésperas da Independência .

            O Jornal do Brasil nasceu como um grande jornal, com toda a estrutura para iniciar seu trabalho. Recém-instalado no regime republicano e já encontrou um jornal crítico dos excessos desse novo governo.

            Já nessa época, já no seu início, o JB contava com grandes nomes entre os seus colaboradores. Olha, um jornal nascer e ter como seu primeiro correspondente em Londres nada mais que Joaquim Nabuco - pelo amor de Deus! - é nascer sob as bênçãos de Deus e as bênçãos da história. Esse Joaquim Nabuco ocupou, inclusive, a chefia de redação do JB. Além do autor, de um estadista do Império, uma das obras fundamentais da literatura brasileira, fizeram parte do Jornal do Brasil, fundado pelo saudoso Rodolfo Dantas, o poeta Olavo Bilac, o príncipe dos nossos poetas, e o nosso Rui Barbosa, que trouxe para esta Casa a garra, o espírito, a competência e a resistência que o transformou no Patrono do Senado Federal. Foi lá no Jornal do Brasil que Rui começou a sua luta que o transformou no Águia de Haia.

            Desde o seu início, o Jornal do Brasil fez questão de levar à crônica a política nacional, abrigando ainda, em suas colunas, ao longo do tempo, jornalistas e personalidades do porte de Barbosa Lima Sobrinho.

            Eu ficava impressionado! Cem anos de idade, e o Barbosa publicava seus artigos numa página inteira, em linha pequena, para poder conter. E que memória fantástica! E que coerência de pensamento, de vida e de biografia! Barbosa Lima Sobrinho e o Jornal do Brasil se confundem. Barbosa Lima Sobrinho fez sua linha no Jornal do Brasil, e o Jornal do Brasil teve os que formaram sua firmeza em Barbosa Lima Sobrinho, o maior Presidente da história da ABI.

            Quando tivemos coragem de fazer a campanha do anticandidato, resistindo ao Colégio Eleitoral, na campanha pelas Diretas Já, precisávamos de um nome que desse garantia moral e ética ao anticandidato; o candidato que tinha votos para ganhar se a eleição fosse direta, mas não podia ganhar, porque o Colégio tinha sido feito para um espaço determinado.

            Quando fomos convidar Barbosa Lima Sobrinho - nunca vou me esquecer, nunca vou me esquecer! -, o normal era ele não aceitar. Era um jornalista duro, duro, mas independente. Ele não tinha cor partidária, ele não era MDB, ele não tinha filiação de nenhuma espécie; ele tinha compromisso com a democracia e com a história. No entanto, ele disse: “Não era o que eu devia fazer; nem eu, jornalista, nem o Presidente da ABI, mas, nessa caminhada, a gente tem que tomar uma posição, e a minha posição é pelo Brasil.”

            O Marcos Freire, Líder do MDB, que não tinha lá muita simpatia pelo Dr. Ulysses, foi convidar para ele ser candidato à Presidência da República. E ele não aceitou. Não aceitou. Não! E até disse: “Se vocês têm um candidato, o candidato é o Dr. Ulysses.

            Não tem por que eu, de repente, ser candidato a Presidente da República por um partido que tem organização, que tem história e que tem quadro. Aí fomos lá convidá-lo para ser Vice-Presidente, e ele aceitou, porque aí foi como nós dissemos e ele reconheceu: o nome dele era para referendar, era para dizer que a sociedade, o povo, a nação, a ética e a moral estavam ali. Esse é o Barbosa Lima Sobrinho.

            Quando fizemos o impeachmant do Collor, tínhamos que ver quem assinaria. E tinha duzentas, trezentas entidades, todo mundo querendo assinar. E cairia na vulgaridade. Aí nós decidimos. Não. E Chegamos à conclusão: uma pessoa e uma entidade. A OAB assinou - com todo o carinho, Sr. Presidente - não pelo Presidente, porque era a OAB. E Barbosa Lima Sobrinho assinou não porque era Presidente da ABI, mas porque era o Barbosa Lima Sobrinho. 

            Figuras como o inesquecível Carlos Castello Branco, o Castellinho. Lembro a série de personagens que, de modo especial, o autor desta reunião citou, mas nenhum igual a essa figura, o Castellinho, figura fantástica, imprevisível em seus comentários. Ele era perigoso até com os amigos e eu era um dos amigos dele.

            Ele era amigo íntimo do primeiro Ministro da Cultura, seu amigão de Minas Gerais. Indicado para Ministro da Cultura, nós fizemos um jantar em homenagem a ele. Falou um, falou outro e falou o Castellinho: meu amigo Ministro, eu quero lhe dar um conselho. Pois não, Castellinho. Você tem que ler um livro. É muito importante que você leia um livro. Claro que eu vou ler. Qual é o livro, Castellinho? Qualquer um, desde que você eleja um livro.

            A piada e a brincadeira, o Castellinho teve a coragem heroica e fantástica de ser o que se pode imaginar de correto, de digno, de corajoso.

            Quem busca entender o momento em que vivemos hoje acompanha as colunas de Mauro Santayana. Impressionante a sua convicção e a sua competência. E eu, Santayana, às vezes lendo a sua coluna, irrito-me comigo mesmo, porque, depois de ler, eu digo: - Mas é isso mesmo, como é que eu não havia notado? Na verdade, ele chama a atenção de todos nós para a realidade que estamos vivendo. E Wilson Figueiredo e Villas-Boas Corrêa, que se revezam na secção Coisas da Política, e Leandro Mazzini, no Informe JB.

            Hoje vivemos um momento especial. Falando com o meu amigo Grossi, ele me dizia que pode ser boa a Internet, mas a gente quer ver o jornal na mão. É verdade que o Jornal do Brasil está, aqui também, revolucionando a realidade jornalística do Brasil e do mundo. A Folha, de 1,2 milhão, não sei nem quero dizer o número de assinantes que tem hoje. No The New York Times, no mundo inteiro, é impressionante como a Internet está entrando. E o número de horas dedicado à Internet substituiu o número de horas dedicado ao jornal.

            Eu sou daqueles que dizem que nada vai substituir o jornal escrito. Mas ele vai aprender a conviver com a realidade de hoje. Realidade que é tão impressionante que é o que está acontecendo lá no Oriente Médio. Na Líbia, no Egito, não são os muçulmanos, não são as seitas que estão à frente do movimento. Não tem um líder político, não tem um chefão, alguém que esteja comandando. É a espontaneidade através da Internet: Vamos para a frente do palácio! Vamos fazer um movimento! Vamos aqui... E, espontaneamente, sem liderança e sem chefia, as coisas estão acontecendo. 

            O Governo do Egito caiu e as coisas estão acontecendo. Não tenho dúvida de que estamos marcando uma fase nova, que, de certa forma, entrou no Brasil na hora da votação do Ficha Limpa, que não era para passar nesta Casa. Não passava pela cabeça de ninguém que passaria nesta Casa, e passou.

            Milhares e milhares de mensagens a gente recebeu. Cada um de nós, Parlamentares, recebeu. Duras, enérgicas: “Estou te acompanhando. Quero ver teu voto. Quero ver como tu vais votar”. E aconteceu o milagre. Por imensa maioria foi aprovado na Câmara.

            A verdade é que a Câmara aprovou na certeza de que, vindo para o Senado, da maneira como a Câmara aprovou, esta Casa não aprovaria. Haveria uma série de emendas e voltaria para a Câmara e ficaria nas gavetas daquela Casa. Essa era a estratégia.

            Eles não contavam com o que fizemos aqui no Senado. Fizemos um acordo com todos os Senadores e ninguém emendou. Ficou claro que aquele projeto, da maneira como estava sendo votado, não era o nosso. Eu berrei desta tribuna: “Não é o meu! Mas é o que dá”. Se nós aprovarmos, está aprovado; se nós emendarmos, volta para a Câmara e fica na gaveta. E foi aprovado por unanimidade.

            Foi uma revolução feita sem líder e sem chefe. A OAB, é verdade, fez uma certa movimentação. Mas não tinha ninguém lutando, brigando pelo Ficha Limpa. Foi a espontaneidade. Milhões de mensagens assustaram centenas de Parlamentares. Então o JB está entrando nesta hora, neste momento nesta situação, e volta ao seu pioneirismo.

            Eu concordo com o Grossi: mas a gente quer ver o jornal impresso. A gente quer ver o jornal impresso. Eu até acho que é bom se isso voltar a acontecer. É muito importante. Mas o importante é estarmos aqui não numa mensagem saudosista: Ah, o Jornal do Brasil era um jornal muito bom. Não. O Jornal do Brasil é um jornal muito bom. Isto é importante: é um jornal muito bom. É respeitado, é lido. Eu o leio todos os dias. É questão fundamental no gabinete: “Eu quero ver o Jornal do Brasil, traga-o para cá.”

            Agora, tu tens razão, Grossi: não é a mesma coisa que ver o jornal, aquela coisa de pegar no jornal. A gente sente saudades. Não vou mentir.

            Olha, a história do Brasil e de sua gente, a vida pública, a economia, as festas populares, as conquistas em todas as áreas, o futebol, a ciência e a arte sempre foram registradas pelo Jornal do Brasil. Isto é interessante, o contexto todo da sociedade brasileira, o esporte, a cultura, a política, a página policial, o seu contexto em geral está e sempre esteve no Jornal do Brasil. Não há quem não se lembre de um ou outro fato que ficou conhecendo pelo JB, jornal fundado em 1891 e que se tornou o primeiro jornal 100% digital do Brasil.

            O pioneirismo marcou a história do Jornal do Brasil. Foi o primeiro também a promover uma reforma gráfica e editorial que modernizou o jornalismo nacional; serviu de exemplo a todos os jornais, todos os demais jornais, com sua então inédita maneira de apresentar a notícia, adotando a forma direta na escrita, utilizando espaços em branco e destaque para as fotografias.

            Boas reportagens e textos excelentes facilitavam e tornavam agradável a leitura. As mudanças gráficas adotadas atraíram inclusive o interesse internacional. Muitos jornalistas vieram ao Brasil para ver de perto a novidade.

            No momento em que se comemora uma data especial do Jornal do Brasil, não pode ser esquecida a figura de Manoel Francisco do Nascimento Brito, diretor-presidente do JB por 52 anos. Falecido em 2004, recebeu justa homenagem do Senado da República, por sua contribuição competente e corajosa à frente dessa prestigiosa publicação que influenciou a história política do País.

            Vice-presidente durante um longo período do MDB nacional, não agora, porque agora sou uma figura deslocada do MDB nacional, mas à época do Dr. Ulysses, Tancredo, Teotônio, íamos seguido ao Rio só para falar com o Dr. Nascimento Brito. Naquela época de ditadura brava, dura, as nossas visitas não eram escondidas, mas abertas. Ele nos recebia. Ele nos orientava. Ele aconselhava e dizia “avante”. Às vezes era muito bonito ver as pegas entre ele e o Dr. Ulysses. Não que ele tivesse preferência pelo MDB. Ele queria democracia. Ele queria liberdade. Debatia, analisava, lutava. Em mais de um seminário do MDB feito à época em que a gente tentava fazer um debate nacional, praticamente a única pessoa de responsabilidade política e jornalística que comparecia era exatamente o Dr. Nascimento Brito.

            Lembro-me muito. Eu, rapaz ainda, muito aprendi com o Dr. Nascimento Brito, assistindo Tancredo, Ulysses, os outros ali e eu junto. Ele recebia. Às vezes sem dizer, interrompia o almoço e dizia: “É que estão me informando que já tem três unidades do Exército que estão passando em volta da casa em homenagem a vocês”. Bom, para ele, não significava nada demais. Desempenhava a sua missão com respeito. Muitas vezes em horas difíceis no MDB, a palavra do Dr. Nascimento Brito, a cobrança do Dr. Nascimento Brito mudaram e fizeram o MDB avançar. Nas Diretas Já foi por aí. Quando a gente faz e não faz, não sei o quê. “Vamos pra rua! Tem que aceitar o debate! A hora é esta! E alguns, mesmo com medo, foram”.

            Ir pra rua, colocar o povo na rua. Qual seria a reação? Violência? Morte? A dureza? Mas nós fomos. O Dr. Nascimento Brito foi um dos primeiros a estimular essa orientação.

            Foi sob o comando do Dr. Brito que, na história recente do País, o Jornal do Brasil deu demonstrações definitivas de sua coragem e de seu valor. Uma delas, ocorrida durante a ditadura, foi a destemida cobertura do atentado à bomba no Riocentro, no Rio de Janeiro, durante show comemorativo do 1º de maio de 1981. O JB desmentiu a versão oficial e apontou os verdadeiros responsáveis pelo crime: militares da “linha dura”.

            O JB segue sua trajetória de êxito, sempre contando com o respeito e a admiração dos brasileiros, praticando o bom jornalismo que caracteriza sua história. Eu não posso me esquecer. Naquelas horas mais dramáticas e mais duras, o JB esteve sempre presente informando, noticiando, dizendo as coisas que deveriam ser ditas. É difícil encontrar um jornal que tenha uma trajetória uniforme, permanente e sempre igual.

            Esse foi o JB, o jornal mais moderno do mundo; o JB pioneiro; e o JB de hoje, que já não temos em nossas mãos como deveríamos ter. De certa forma, isso vai demonstrar que logo ali, quando voltar a circular, voltará em outro estilo, porque não será igual ao que era, mas o modernismo não destruirá a imprensa escrita, atualizará a sua maneira de ser. Quando isso voltar a acontecer, o JB poderá dizer que continua o mesmo, igual escrito ou na Internet. Ser JB é uma espécie de estado de espírito. A gente é porque nos sentimos bem, porque vê o nosso Brasil nas suas verdadeiras cores. E que bom, daqui a algum tempo, quando o JB mais forte estiver, isso coincidirá, se Deus quiser, com uma fase em que o Brasil estará bem melhor. Rezo pela saúde da Presidenta Dilma, rezo para que ela faça o Governo que está prometendo e que o Brasil ocupe seu lugar na história, um lugar à altura do JB.

            Muito obrigado. (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/05/2011 - Página 16314