Pronunciamento de Cyro Miranda em 26/05/2011
Discurso durante a 83ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Registro da necessidade de uma política agrícola que contemple investimentos em tecnologia para aumentar mundialmente a produção de alimentos.
- Autor
- Cyro Miranda (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/GO)
- Nome completo: Cyro Miranda Gifford Júnior
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
POLITICA AGRICOLA.:
- Registro da necessidade de uma política agrícola que contemple investimentos em tecnologia para aumentar mundialmente a produção de alimentos.
- Publicação
- Publicação no DSF de 27/05/2011 - Página 19420
- Assunto
- Outros > POLITICA AGRICOLA.
- Indexação
-
- SOLICITAÇÃO, MESA DIRETORA, PUBLICAÇÃO, DISCURSO, AUTORIA, ORADOR, REGISTRO, NECESSIDADE, GOVERNO FEDERAL, DEFINIÇÃO, INVESTIMENTO, TECNOLOGIA, DESTINAÇÃO, AUMENTO, PRODUTIVIDADE, PRODUTO AGRICOLA, ATENDIMENTO, CONSUMO, POPULAÇÃO.
SENADO FEDERAL SF -
SECRETARIA-GERAL DA MESA SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA |
O SR. CYRO MIRANDA (Bloco/PSDB - GO. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o mundo não parou pela falta de petróleo diante de crises recorrentes, porque desenvolveu tecnologia para buscá-lo em águas profundas e aproveitar mananciais para garantir os estoques ao longo das décadas.
Provavelmente o mundo não chegará a parar pela falta de petróleo, porque, quando o ouro negro se esgotar - se vier a se esgotar - já teremos tecnologias suficientemente desenvolvidas para nos reabastecermos por outras fontes de energia e combustíveis renováveis, como o etanol e o biodiesel.
Mas, o Brasil e os atores mundiais precisam ouvir o alerta da FAO - órgão das Nações Unidas para agricultura e alimentação - e investir de forma efetiva na tecnologia para aumentar a produtividade da agricultura.
Ou o mundo se esforça no sentido de multiplicar a produção, ou poderemos sentir o peso de uma realidade nefasta: a fome.
O quadro de desabastecimento e de aumento dos alimentos chega a níveis preocupantes e é resultado de um conjunto de fatores mundiais que merecem extrema atenção e medidas efetivas dos governos.
O fato é, Sr. Presidente, que o quadro multipolar da economia mundial, marcado pela ascensão dos países emergentes, contribuiu para o significativo aumento do consumo de alimentos no mundo.
Agregue-se a isso a expansão da população mundial, que, de acordo com a Organização das Nações Unidas, passará de 6,5 bilhões, em 2005, para 8,3 bilhões, em 2030, e 9 bilhões em 2050.
Agregue-se, também, o aumento do preço do petróleo que tem forte impacto no preço dos fertilizantes em geral e empurra o preço dos alimentos para cima.
Por outras palavras, temos um trinômio que merece atenção e deve ser objeto de amplo debate nesta Casa: aumento da população; aumento do consumo e aumento dos insumos da produção.
Um dos maiores problemas é que o crescimento populacional se verifica principalmente na Ásia e na África.
E, na África, encontram-se os países que mais tendem a sofrer com o quadro de desabastecimento mundial e que poderiam ser atirados a uma guerra fratricida por alimentos.
Nesse contexto, o Brasil tem um papel primordial porque detém, ainda, fronteiras agrícolas a serem desbravadas, com possibilidade de aumento significativo da produção de alimentos para abastecer o mundo.
Da mesma forma, o Brasil poderia assumir a liderança no processo de cooperação bilateral com os países africanos, com os quais mantemos profundos laços de amizade e cultura, para ajudá-los a transformar a África num novo celeiro da humanidade.
Se o mundo tem carência da tecnologia desenvolvida pelos países centrais, tem igualmente necessidade das commodities oriundas dos diversos polos emergentes.
Por que, então, não nos juntarmos para ajudar a África numa empreita desenvolvimentista, voltada à agricultura, tão saudável e importante para todos os países?
A Embrapa teria um papel primordial nesse processo de cooperação com nossos irmãos africanos, porque, ao longo das últimas décadas, tem-se notabilizado como um centro de excelência no desenvolvimento de tecnologias agrícolas.
A Embrapa é responsável pela Revolução Verde no Brasil e poderá ser na África.
Exatamente por isso, não se poderia admitir, em hipótese alguma, o aparelhamento político desta instituição emblemática para o Brasil, que desempenha papel essencialmente técnico e voltado à pesquisa.
Mas, Sr. Presidente, para o Brasil conseguir manter-se à frente no desenvolvimento tecnológico voltado à agricultura, será necessária uma política pública clara e objetiva para o setor.
Além disso, temos um problema que, há muito, deteriora a competitividade dos nossos produtos agrícolas: a falta de logística de transporte, o que não tem sido suplantado com a velocidade exigida pelo setor.
O valor da tonelada transportada por rodovia é de 42 dólares, por ferrovia é de 26 dólares e por hidrovia chegamos a 18 dólares.
Ora, é evidente que, ou reconstruímos a concepção de transporte no Brasil, ou não teremos condições de competir no mercado mundial em pé de igualdade com os demais atores.
É verdade que o câmbio contribui de forma significativa para a falta de competitividade também, mas esta talvez esteja mais agregada aos custos da produção e do escoamento no plano nacional, do que ao dólar baixo e até mesmo às injustas barreiras tarifárias no plano internacional.
Sr. Presidente, o Brasil precisa rever a forma de projetar o futuro da Nação, precisa traçar estratégias para superar gargalos que atrapalham o aproveitamento de oportunidades de extrema importância para o futuro da economia nacional.
Nós nem sequer temos o problema de outros países que se voltaram à produção de biocombustíveis em detrimento da segurança alimentar.
Aqui, as lavouras de cana de açúcar não chegam a 1% das terras agricultáveis, o que nos deixa uma reserva confortável.
Devemos, portanto, definir uma política agrícola que contemple investimento em tecnologia voltada à produtividade, ao tempo que nos voltamos de forma efetiva para a multimodalidade no escoamento da produção.
O Brasil é líder no setor agrícola, mas precisa arregaçar as mangas e lançar-se ao trabalho se o desejo for manter essa posição.
Muito obrigado!
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