Discurso durante a 83ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro da necessidade de uma política agrícola que contemple investimentos em tecnologia para aumentar mundialmente a produção de alimentos.

Autor
Cyro Miranda (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/GO)
Nome completo: Cyro Miranda Gifford Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA AGRICOLA.:
  • Registro da necessidade de uma política agrícola que contemple investimentos em tecnologia para aumentar mundialmente a produção de alimentos.
Publicação
Publicação no DSF de 27/05/2011 - Página 19420
Assunto
Outros > POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, MESA DIRETORA, PUBLICAÇÃO, DISCURSO, AUTORIA, ORADOR, REGISTRO, NECESSIDADE, GOVERNO FEDERAL, DEFINIÇÃO, INVESTIMENTO, TECNOLOGIA, DESTINAÇÃO, AUMENTO, PRODUTIVIDADE, PRODUTO AGRICOLA, ATENDIMENTO, CONSUMO, POPULAÇÃO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


           O SR. CYRO MIRANDA (Bloco/PSDB - GO. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o mundo não parou pela falta de petróleo diante de crises recorrentes, porque desenvolveu tecnologia para buscá-lo em águas profundas e aproveitar mananciais para garantir os estoques ao longo das décadas.

           Provavelmente o mundo não chegará a parar pela falta de petróleo, porque, quando o ouro negro se esgotar - se vier a se esgotar - já teremos tecnologias suficientemente desenvolvidas para nos reabastecermos por outras fontes de energia e combustíveis renováveis, como o etanol e o biodiesel.

           Mas, o Brasil e os atores mundiais precisam ouvir o alerta da FAO - órgão das Nações Unidas para agricultura e alimentação - e investir de forma efetiva na tecnologia para aumentar a produtividade da agricultura.

           Ou o mundo se esforça no sentido de multiplicar a produção, ou poderemos sentir o peso de uma realidade nefasta: a fome.

           O quadro de desabastecimento e de aumento dos alimentos chega a níveis preocupantes e é resultado de um conjunto de fatores mundiais que merecem extrema atenção e medidas efetivas dos governos.

           O fato é, Sr. Presidente, que o quadro multipolar da economia mundial, marcado pela ascensão dos países emergentes, contribuiu para o significativo aumento do consumo de alimentos no mundo.

           Agregue-se a isso a expansão da população mundial, que, de acordo com a Organização das Nações Unidas, passará de 6,5 bilhões, em 2005, para 8,3 bilhões, em 2030, e 9 bilhões em 2050.

           Agregue-se, também, o aumento do preço do petróleo que tem forte impacto no preço dos fertilizantes em geral e empurra o preço dos alimentos para cima.

           Por outras palavras, temos um trinômio que merece atenção e deve ser objeto de amplo debate nesta Casa: aumento da população; aumento do consumo e aumento dos insumos da produção.

           Um dos maiores problemas é que o crescimento populacional se verifica principalmente na Ásia e na África.

           E, na África, encontram-se os países que mais tendem a sofrer com o quadro de desabastecimento mundial e que poderiam ser atirados a uma guerra fratricida por alimentos.

           Nesse contexto, o Brasil tem um papel primordial porque detém, ainda, fronteiras agrícolas a serem desbravadas, com possibilidade de aumento significativo da produção de alimentos para abastecer o mundo.

           Da mesma forma, o Brasil poderia assumir a liderança no processo de cooperação bilateral com os países africanos, com os quais mantemos profundos laços de amizade e cultura, para ajudá-los a transformar a África num novo celeiro da humanidade.

           Se o mundo tem carência da tecnologia desenvolvida pelos países centrais, tem igualmente necessidade das commodities oriundas dos diversos polos emergentes.

           Por que, então, não nos juntarmos para ajudar a África numa empreita desenvolvimentista, voltada à agricultura, tão saudável e importante para todos os países?

           A Embrapa teria um papel primordial nesse processo de cooperação com nossos irmãos africanos, porque, ao longo das últimas décadas, tem-se notabilizado como um centro de excelência no desenvolvimento de tecnologias agrícolas.

           A Embrapa é responsável pela Revolução Verde no Brasil e poderá ser na África.

           Exatamente por isso, não se poderia admitir, em hipótese alguma, o aparelhamento político desta instituição emblemática para o Brasil, que desempenha papel essencialmente técnico e voltado à pesquisa.

           Mas, Sr. Presidente, para o Brasil conseguir manter-se à frente no desenvolvimento tecnológico voltado à agricultura, será necessária uma política pública clara e objetiva para o setor.

           Além disso, temos um problema que, há muito, deteriora a competitividade dos nossos produtos agrícolas: a falta de logística de transporte, o que não tem sido suplantado com a velocidade exigida pelo setor.

           O valor da tonelada transportada por rodovia é de 42 dólares, por ferrovia é de 26 dólares e por hidrovia chegamos a 18 dólares.

           Ora, é evidente que, ou reconstruímos a concepção de transporte no Brasil, ou não teremos condições de competir no mercado mundial em pé de igualdade com os demais atores.

           É verdade que o câmbio contribui de forma significativa para a falta de competitividade também, mas esta talvez esteja mais agregada aos custos da produção e do escoamento no plano nacional, do que ao dólar baixo e até mesmo às injustas barreiras tarifárias no plano internacional.

           Sr. Presidente, o Brasil precisa rever a forma de projetar o futuro da Nação, precisa traçar estratégias para superar gargalos que atrapalham o aproveitamento de oportunidades de extrema importância para o futuro da economia nacional.

           Nós nem sequer temos o problema de outros países que se voltaram à produção de biocombustíveis em detrimento da segurança alimentar.

           Aqui, as lavouras de cana de açúcar não chegam a 1% das terras agricultáveis, o que nos deixa uma reserva confortável.

           Devemos, portanto, definir uma política agrícola que contemple investimento em tecnologia voltada à produtividade, ao tempo que nos voltamos de forma efetiva para a multimodalidade no escoamento da produção.

           O Brasil é líder no setor agrícola, mas precisa arregaçar as mangas e lançar-se ao trabalho se o desejo for manter essa posição.

           Muito obrigado!


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/05/2011 - Página 19420