Discurso durante a 86ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Reflexões acerca dos motivos que levaram o Brasil a cair diversas posições na classificação que mede a competitividade dos países.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA CIENTIFICA E TECNOLOGICA.:
  • Reflexões acerca dos motivos que levaram o Brasil a cair diversas posições na classificação que mede a competitividade dos países.
Publicação
Publicação no DSF de 31/05/2011 - Página 19787
Assunto
Outros > POLITICA CIENTIFICA E TECNOLOGICA.
Indexação
  • REGISTRO, RELATORIO, ECONOMIA INTERNACIONAL, APREENSÃO, ORADOR, POSIÇÃO, BRASIL, INDICE, CAPACIDADE, CONCORRENCIA, MERCADO INTERNACIONAL, NECESSIDADE, AUMENTO, INVESTIMENTO PUBLICO, EDUCAÇÃO, CIENCIA E TECNOLOGIA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Exatamente.

            Sr. Presidente, peço desculpa por ter cedido o lugar ao Senador Suplicy e agora chegarmos à conclusão de que o discurso dele vai ser bem mais longo e que, portanto, eu falaria antes dele, porque às 18 horas começamos a reunião da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, que hoje vai debater a presença da China na África. Têm sido debates muito interessantes. Quero estar lá. E tem começado pontualmente. Peço até que V. Exª ponha o tempo, para que eu me policie.

            Sr. Presidente, os jornais de hoje falam da queda do Brasil no nível de capacidade de competitividade no mundo. Estamos na 66ª posição mundial em competitividade. Sexagésima sexta posição do ponto de vista da capacidade de concorrer com os outros países na economia!

            Houve um tempo em que isso não era problema. O Brasil tinha uma economia fechada. Os carros que eram fabricados aqui - eu me lembro de que na época o Presidente Collor os chamou de carroças - eram vendidos sem nenhum problema, porque não podia entrar carro de outro país aqui. E o que valia para automóvel valia para qualquer produto. Éramos uma economia fechada. Para entrar aqui, qualquer produto estrangeiro tinha que pagar uma quantidade enorme de tarifas, um valor enorme de tarifas.

            A globalização acabou com isso. Hoje, o país que não tiver competitividade é um país que não vai conseguir resistir muito tempo na disputa pelo mercado mundial. E o Brasil não só está em 66ª posição como está caindo. Estivemos já na 57ª, já estivemos na 49ª, e fomos caindo. Em 2004, estávamos na 40ª posição; em 2005, na 57ª; e agora, na 66ª.

            E o documento que estuda isso, o Fórum Econômico Mundial, que fica na Suíça, deixa claro que problemas há para um país estar melhor do que outro. Uma das coisas é a infraestrutura, a chamada logística: os produtos chegarem no porto e saírem rápido; o produto vir de fora do porto e entrar rápido aqui; o transporte interno dentro do País. Esse é um ponto que nos deixa fragilizados.

            O outro é a capacidade institucional, a velha e chamada burocracia que dificulta a instalação de indústrias, de negócios, que faz com que uma empresa nova tenha dificuldade de se instalar.

            Outra - e não falo do Brasil, estou falando na teoria - é a corrupção. O país que tem corrupção tem menos competitividade. Mas o fundamental, o mais importante é a capacidade de desenvolver ciência e tecnologia e, para isso, o nível educacional do país. Tudo é possível se o país tiver boa educação e alta capacidade de produção de conhecimento, e o Brasil está na 66ª posição em competitividade, sobretudo pela fragilidade da nossa capacidade científica e tecnológica. E essa incapacidade decorre do baixo nível educacional que oferecemos ao nosso povo.

            Um país que exclui quase dois terços de sua população de concluir o ensino médio joga fora os cérebros de dois terços dos nossos meninos, meninas e adolescentes. Esse país não vai ter boa capacidade de competitividade, porque jogou fora cérebros, capacidade criativa, capacidade inventiva, possibilidade de produzir ciência e tecnologia, que é a base maior da competitividade. Nossa educação de base é a principal causa, na sua fragilidade, da nossa incapacidade de competir no cenário internacional. Enquanto não entendermos isso, não vamos dar o salto de que precisamos.

            É preciso dizer que, daqui para frente, o que faz um país exportar mais ou menos produtos de alta capacidade, de alto valor, é produto com alto conteúdo de inteligência. Claro que somos grandes exportadores de ferro, de laranja, de suco de laranja, de soja, mas nós não somos exportadores daquilo que não inventamos, como são os chips. Nós exportamos ferro e importamos chips, os produtos necessários para manter a saúde funcionando, os produtos de saúde.

            Nós temos uma fragilidade que esse documento mostra, 66ª posição em competitividade que vem da 88ª posição na educação. Se o Brasil quer competir bem, o Brasil precisa desenvolver...

(Interrupção do som.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Terminei nos cinco minutos, mas a última palavra foi engolida pelo microfone.

            Quero apenas dizer, Senador Suplicy, a última frase: se nós não fizermos o esforço por uma revolução na educação, garantindo escola igual para todos, de alta qualidade para todos... Além de ser um compromisso ético, Senador Paim, além de ser uma condição necessária para construir oportunidade, a partir daí construir a igualdade, além disso, é o único caminho para construir a competitividade.

            Espero que esse documento que acaba de sair do Fórum Econômico Mundial nos ajude a alarmar o Brasil para o risco que a Nação corre pela falta de competitividade e a despertar que o caminho para retomar, para garantir e para assegurar uma posição do Brasil no mundo de hoje é uma educação de qualidade, gerando ciência e tecnologia de ponta.

            Era isso, Sr. Presidente, que eu tinha para falar.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/05/2011 - Página 19787