Discurso durante a 88ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Leitura do Manifesto da Terra, trecho do livro Os Veleiros do Infinito, do escritor Iveraldo Guimarães. (como Líder)

Autor
Paulo Davim (PV - Partido Verde/RN)
Nome completo: Paulo Roberto Davim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Leitura do Manifesto da Terra, trecho do livro Os Veleiros do Infinito, do escritor Iveraldo Guimarães. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 02/06/2011 - Página 20660
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA INTERNACIONAL, MEIO AMBIENTE, LEITURA, TEXTO, POETA, BIOLOGO, ESCRITOR, ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (RN).

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. PAULO DAVIM (Bloco/PV - RN. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, estamos nos aproximando da Semana do Meio Ambiente, do Dia Mundial do Meio Ambiente, e eu fiz questão de ler, nesta tribuna, o Manifesto da Terra, escrito pelo escritor, poeta e biólogo Iveraldo Guimarães, escritor potiguar, no seu livro Os Veleiros do Infinito.

            Passo à leitura:

Senhores Seres Humanos,

Hoje acordei aborrecida, com os olhos lacrimejantes de tanta fumaça, a pele irritada, certamente porque minha capa de ozônio está furada e o meu ar tem mais ácido. Percorri com estes olhos ardidos os lagos, rios e mares; e os vi mais sujos. Depois chorei, devo confessar, chorei uma lágrima incontida para aliviar meu desgosto e desespero, quando notei que meu vestido, aquele verde, estava rasgado. Eu os culpo por boa parte desses transtornos e, para alertá-los, vou até contar algumas passagens da minha vida, alguns fatos que presenciei para que vocês entendam como reajo às agressões ou circunstâncias perigosas quando delas sou vítima.

Nasci num turbilhão cósmico há quatro e meio bilhões de anos, e já um bilhão de anos depois vi surgir sobre minha pele, ainda de constituição aquosa, uma multidão de células microscópicas as quais deram origem a outras vidas que explodiram numa profusão de vida.

Há uns setecentos milhões de anos surgiu o sexo que acelerou a evolução biológica. Apareceram os vermes, as águas-vivas, os crustáceos e os vertebrados. Todos aquáticos. Algumas partes de minha epiderme secaram e se povoaram de insetos. Mais vertebrados. Começaram a chegar os mamíferos.

No torvelinho de minhas recordações, lembro os continentes separando-se, o nascimento do Atlântico, o frio arrepiante provocando a gênese da Antártica. Ao longo dessas modificações estruturais que eu sofria e da lenta passagem das eras geológicas, ocorreram momentos de necessários ajustamentos nas engrenagens vitais, o que me levou a exterminar muitos tipos de vida e criar outros tantos.

Há 4,5 milhões de anos, por exemplo, presenciei o momento em que vocês forem criados. Levantaram-se do pó, desceram das árvores e ficaram de pé. Acompanhei, então, sua evolução até os dias de hoje. Controlaram o fogo, complicaram a linguagem (até hoje falam demais), inventaram a agricultura e o anzol. Disseminaram-se pelos continentes, trabalharam a cerâmica, fundiram o cobre e começaram a escrever.

Extasiei-me com seus estudos de Astronomia. Deleitei-me ouvindo Homero declamando a Odisseia e gostei das pregações de Lao-Tsu, Confúcio, Buda e Zoroastro. Nesse mesmo tempo, acompanhei a escrituração do Velho Testamento em hebraico; ouvi Pitágoras dizer que tudo é número e que a natureza é harmoniosa (achei lindo!); testemunhei as ideias geniais e loucas de Platão, Aristóteles, Eudóxio; vibrei com a geometria de Euclides; me extasiei com Aristarco de Samos quando afirmou que eu girava em torno do sol.

Confesso que não pude deixar de rir quando fizeram um piquenique bobo na lua e começaram a jogar no espaço geringonças eletrônicas, talvez pensando em deixar-me. Não farão falta, podem crer. Como me fariam falta se, apesar de todos os conhecimentos que vocês vêm acumulando, enfeiam-me e adoecem-me com as suas atitudes devastadoras? Aceito as réplicas quando acusam que também poluo e degrado meu corpo com meus vulcões, terremotos tempestades. É verdade. Mas o faço dentro de limites estabelecidos para a continuidade da vida, das suas próprias vidas inclusive, coisa que vocês não sabem nem respeitam sequer.

Sei que sua ciência é suficiente para diminuir tanta ignorância, pobreza e miséria, que contribuem de forma maciça para a minha deterioração; é suficiente para usar-me criteriosamente rumo ao desenvolvimento sustentável. Mas, se continuarem o seu uso para prejudicar-me, ela não será suficiente para evitar que eu os destrua...

(Interrupção do som.)

            A SRª PRESIDENTE (Marta Suplicy. Bloco/PT - SP) - Para terminar, Senador.

            O SR. PAULO DAVIM (Bloco/PV - RN) -

Mas, se continuarem o seu uso para prejudicar-me, ela não será suficiente para evitar que eu os destrua numa simples faxina doméstica. E se por acaso o seu extermínio acontecer por suas próprias loucuras, como numa global poluição radioativa, química ou biológica, eu me recomporei um dia sobre seus fosseis, dando vida a outras vidas mais virtuosas.

            Fiz questão, Srª Presidente, de ler este Manifesto da Terra, do escritor e biólogo potiguar Iveraldo Guimarães, comemorando a Semana do Meio Ambiente.

            Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/06/2011 - Página 20660