Discurso durante a 96ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações acerca dos primeiros seis meses do mandato do Governador Agnelo Queiroz, destacando a necessidade de atuação empreendedora do Governo do Distrito Federal.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF), GOVERNO ESTADUAL.:
  • Considerações acerca dos primeiros seis meses do mandato do Governador Agnelo Queiroz, destacando a necessidade de atuação empreendedora do Governo do Distrito Federal.
Aparteantes
Jorge Afonso Argello, Rodrigo Rollemberg.
Publicação
Publicação no DSF de 11/06/2011 - Página 23094
Assunto
Outros > GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF), GOVERNO ESTADUAL.
Indexação
  • CRITICA, ATUAÇÃO, AGNELO QUEIROZ, GOVERNADOR, DISTRITO FEDERAL (DF), NECESSIDADE, INOVAÇÃO, INICIATIVA, EXECUÇÃO, PLANO DE GOVERNO, BUSCA, ALTERAÇÃO, SAUDE PUBLICA, IMPLANTAÇÃO, PROGRAMA, SAUDE, FAMILIA, OBJETIVO, CUMPRIMENTO, INTERESSE, POPULAÇÃO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, fico feliz de ter aqui os outros dois Senadores pelo Distrito Federal, porque vou fazer o que não costumei fazer aqui ao longo desses oito anos: falar especificamente do Governo do Distrito Federal.

            Tenho pautado as minhas participações aqui - e alguns até criticam - como Senador da República, buscando rumos para o Brasil, que é o caminho de encontrar bons rumos para o Distrito Federal. Mas, depois de quase seis meses, resolvi falar, provocado por um discurso, ontem na Câmara, do Deputado Reguffe. O Deputado Reguffe disse ontem que não dava para julgar o governo com seis meses, e outras coisas.

            Quanto às outras coisas, estou de acordo com o Deputado.

            Com essa, Senador Gim, eu não estou de acordo, porque não dá para julgar um governo de seis meses pelas obras, pelos resultados, mas dá para julgar um governo em seis meses pelas intenções dele, pelas propostas dele, pelas ideias dele, pelo entusiasmo que ele é capaz de provocar na sociedade.

            Lamentavelmente, depois de seis meses de Governo, nós não vemos esse entusiasmo, nós não vemos essas intenções diferentes, nós não vemos aquilo que esperávamos.

            Senador Mozarildo, o senhor talvez não tenha acompanhado a eleição aqui, pela qual eu fiz uma campanha muito forte. A campanha aqui tinha por lema: Um Novo Caminho - o Senador Eurípedes Camargo se lembra bem disso. Era um novo caminho, nós prometemos um novo caminho ao Distrito Federal. E nós ganhamos a eleição com a mensagem de um novo caminho. Tanto o Senador Gim como o Senador Rollemberg apoiaram isso comigo nas ruas.

            Não vejo novo caminho.

            Reguffe tem razão ao dizer que, em seis meses, não dá para construir um novo caminho, mas, em seis meses, dá para apontar o novo caminho. E nós não vemos isso.

            Nós esperávamos uma mudança de governo que fosse absolutamente transparente e, apesar de eu não ter qualquer razão para desconfiar que o Governo atual tenha qualquer corrupção, nenhum indício, hoje a cidade inteira está tomada de rumores nesse sentido. Há rumores de que o Delegado Durval continua influenciando nas compras do Governo em alguns setores. São rumores. A gente não vê um rebatimento desse rumor e nem vê uma clareza de que isso é mentira. Eu desejo, espero e até acredito que seja mentira e que, se for verdade, acho que nem conta com o aval do próprio Governador.

            Nós esperávamos que, no lugar de um Governo empreiteiro, como foram os outros, nós tivéssemos um Governo empreendedor. É uma diferença radical: governo empreiteiro e governo empreendedor. O governo empreiteiro é um governo empreendedor de obras; o governo empreendedor é um governo de soluções para os problemas sociais, fazendo obras quando necessárias para isso, mas as obras físicas, a construção civil não é a base de um governo empreendedor, é a base de governos empreiteiros.

            Temos uma tradição no Brasil, de Distrito Federal, de governos empreiteiros. E tem uma lógica, Senador Gim. A lógica é que esta cidade, diferentemente de todas as outras, começa por sua construção física. Esta não é uma cidade que começou com pessoas aos poucos a formando. Esta é uma cidade que saiu de um papel. Não há outras. E do papel à realização, quem faz? Os empreiteiros, com seus trabalhadores.

            Só que nós já temos 50 anos. Está na hora de um governo que seja menos empreiteiro e mais empreendedor para cuidar dos interesses do povo. A palavra cuidar, nós a esperávamos, mas nós não a vemos. Não vimos ainda, não é a solução do problema da saúde, mas o encaminhamento deste problema. Até porque, mais uma coisa que a gente esperava e que não acontece - Dr. Mozarildo, Senador médico, pode dar razão ou não dependendo da visão -, aqui, provamos que a saída para o problema de saúde não está em mais hospitais, está na saúde chegando às casas das pessoas. Em seis meses dava para começar a sinalizar que Saúde em Casa ou Saúde da Família - se não quiser usar o nome do meu Governo - seria o caminho. Mas não é o que a gente vê. O que a gente vê 

            O SR. PRESIDENTE (Mozarildo Cavalcanti. PTB - RR) - Senador Cristovam, permita-me interromper o seu brilhante pronunciamento um pouquinho, só para registrar a presença, em nossas galerias, dos alunos do Centro de Ensino Fundamental Pompílio Marques de Souza, de Planaltina, Distrito Federal.

            São muito bem-vindos.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Fico muito feliz de falar não só para os velhos Senadores, mas também jovens que nos assistem, sobretudo sendo aqui do Distrito Federal a fala que estou fazendo.

            Então, esperávamos um governo de cuidar e não um governo de construir. Eu votei em um doutor e tenho como Governador um engenheiro. O Dr. Agnelo virou engenheiro Agnelo. Ele se concentra na construção de um estádio para abrir a Copa, na construção e abertura de novas vias e não no cuidado do doente que está em casa e que não consegue sair ou se conseguir sair vai entrar numa fila de hospital.

            Hospital é para um tipo de doença, restrito número de doenças de um hospital. A maior parte das doenças é tratada fora dos hospitais. As classes médias e altas vão para os consultórios médicos, não vão para os hospitais, a não ser em caso de acidente ou de cirurgia. Por que é que povo, que não pode pagar um consultório particular, corre para um hospital? Porque hospital é público. Tinha de ter consultórios públicos, como aquelas casinhas que, no meu Governo, a gente fez, alugou, aliás, colocamos médicos, enfermeiros para atender o povo junto.

            Nós esperávamos que o Governo Agnelo estivesse sinalizando para um novo tipo de saúde. As soluções que ele está procurando são as velhas soluções. Eu não reclamo de ele não haver solucionado, Senador Rodrigo, porque demora, mas eu reclamo de ele não ter sinalizado para um outro tipo de solução, uma solução simples, como eu disse na campanha, aprendendo com o Gabeira, que propôs isso para o Rio de Janeiro, quando disse: “Todo morador do Rio de Janeiro vai ter direito a um chek-up uma vez por ano”.

            Ele poderia estar fazendo isso. Um check-up, por ano, custa menos do que financiar o tratamento de quem ficou doente porque não soube antes que ia ter a doença. Não custaria muito. Nós esperávamos, sim, mais cuidar e menos construir.

            Nós esperávamos que o transporte público fosse tratado diferentemente. E estamos vendo as mesmas coisas de sempre: uma aliança de trabalhador rodoviário com empreiteiro para ter um aumento. Talvez seja necessário, mas não está sinalizando uma mudança. Qual mudança? A mudança de que a descentralização pode ser mais eficiente do que o transporte; a solução de novas tecnologias, como o próprio Governador Arruda sinalizou, dos Veículos Leves sobre Trilhos, construídos em qualquer lugar, sem gastos públicos inclusive. E aí, sim, o Governador Arruda fez de uma maneira que eu não defenderia.

            E aqui vem outra coisa que eu esperava. Enquanto estamos discutindo se aumenta ou não tarifa, já deveríamos estar discutindo como implantar a tarifa zero de ônibus nesta cidade. Porque não é impossível tarifa zero, Senador Gim! Hoje, parte considerável do custo é pago pelo Estado sob a forma de vale transporte, de tarifa zero, para PMs, para estudantes, para deficientes. Essa é uma parte considerável. O que falta complementar para se ter tarifa zero não é muito. Já pensou uma visão diferente? O Governo construir uma empresa popular - eu a chamaria assim - para zelar pelo transporte público, em que a tarifa seria zero, o Governo diria quanto pode colocar para isso e essa empresa, até uma empresa do ponto de vista de gerência, com o povo participando, como no orçamento participativo do meu tempo, definiria as tarifas. Tarifa sendo definida pelo povo. Isso não é impossível. E o povo não vai querer ônibus velho. E se para ter ônibus novos for preciso pagar maiores tarifas, o povo é até capaz de aceitar, mas não apenas para aumentar o salário dos rodoviários e os lucros das empresas.

            Eu quero dizer outra coisa que eu esperava e não estou vendo: uma relação diferente entre o setor público e privado. O Governo está com o viés da velha estatização para tudo. Morreu o tempo em que a solução vinha pela estatização. A solução vem pela publicização. E têm hospitais estatais que não são públicos e pode ter um hospital com gestão privada que seja público.

            Eu tenho uma definição, Senador Gim, de hospital público de uma maneira muito diferente. Por aí se diz: hospital público é aquele que é do Estado. Para mim hospital público é onde não se tem fila para entrar e não saímos de lá com doença e não tira dinheiro do bolso. Agora, se a gestão, se a propriedade, se os trabalhadores daquele hospital são dirigidos por uma entidade privada, não é problema, desde que o governo pague, depois de uma licitação correta, depois de uma fiscalização cuidadosa.

            Nem podemos exigir que os médicos deste País que tenham vocação para donos de hospital façam hospitais de caridade - não podemos exigir isso -, nem podemos impedir que nossos pobres possam ir a um hospital dito privado. Mas a gente não vê agora mesmo o compromisso do governador de colocar creche para todos? Está querendo fazer com creches estatais. Não vai funcionar e vai demorar demais. Creche pública é creche de igrejas, com qualidade, que a gente paga com dinheiro público. É creche de uma mulher que tenha a sua creche, ou uma mulher crecheira, como se chama, e que o governo paga, fiscalizando, tomando cuidado, fazendo um vestibular para ver se aquela creche merece. Vão adiar e adiar e adiar e não vão fazer; ou vão fazer e não vai funcionar bem.

            Imagine uma greve de todas as creches de uma cidade. Um desastre. Se elas forem público-privadas, uma PPP, uma faz greve, mas a outra não faz. A gente tem formas de conviver.

            Nós esperávamos, sim, que a publicidade fosse diferente. Eu não imaginava que o governo que nós elegemos, com dois meses, ia colocar hospitais que não construiu, porque não dava tempo. E aí o Reguffe tem toda razão. Agora, se o Deputado Reguffe tem razão ao dizer que não dá para julgar um governo em seis meses, por que é que dá para botar na publicidade que o governo fez um hospital novo?

            Eu soube que até empresas de publicidade, no começo, disseram que não se devia fazer essa publicidade, porque as pessoas não iam acreditar. E o Governo insistiu em fazer essa publicidade. Por que o governo repete a mesma coisa?

            Eu esperava - e nós esperávamos - desapadrinhamento neste Governo, porque os governos anteriores tiveram a tradição de apadrinhamento de deputados, pessoalmente, e não de conversa com os partidos aos quais ele pertence. E hoje a gente sabe que secretários, administradores são nomeados por apadrinhamento. É claro que poderia dizer compadrio em vez de apadrinhamento, porque o deputado oferece ao governador um apoio em troca de cargos. Confesso que não esperava esse tipo de coisa.

            Eu poderia, Sr. Presidente, fazer uma lista muito maior do que eu esperava, do que eu esperava, do que eu esperava...

            Eu esperava que o Governador levasse adiante. Eu não quero usar a palavra compromisso, porque nunca exigi dele nada de compromisso durante a campanha, mas eu esperava que ele fosse adiante com as falas dele para o povo de implantar o horário integral por cidade. Não dá para ele implantar o horário integral em todas as cidades do Distrito Federal nem em quatro anos. Nem em quatro anos! Não só nos seis meses que o Deputado Reguffe usou, nem em quatro anos dá. Mas já dava para estar implantando e para no fim do ano inaugurar em cidades como o Paranoá, em algumas das cidades pequenas do Distrito Federal. Já dava! A gente não vê isso. Já dava, sim, para o Programa de Erradicação do Analfabetismo estar em marcha, e não está. Eu esperava um governo diferente.

            Eu poderia citar muitos outros “esperávamos”, porque não era só quem fez a campanha, muitos outros esperávamos. E é nesse sentido que eu discordo da maneira específica do Deputado Reguffe, mas concordo plenamente com o Deputado Reguffe quando ele diz e defende que o PDT, que é o partido dele e meu, deveríamos estar fora do Governo, independentes, não ir para a oposição, por causa de responsabilidade que temos com esse governo, mas estarmos olhando, dando sugestões. Aliás, o Deputado Reguffe disse: não quero cargo, quero que ouçam minhas ideias.

            Eu queria que esse governo cumprisse aquilo que o Deputado Reguffe fala, que ouvisse as nossas sugestões, que ouvisse as nossas cobranças e que ouvisse os nossos alertas, como o que estou fazendo agora.

            Não vamos deixar de colaborar com o Governo. Antes de ontem, tive o privilégio de assinar um convênio do Ministro do Trabalho com o Governador Agnelo para investir R$2 milhões em um programa de formação de mão de obra, um curso profissionalizante. Dois milhões de uma emenda que eu coloquei. Eu coloquei essa emenda, por isso fui convidado pelo Ministro Lupi. Não fui pelo Governo, mas fui pelo Ministro Lupi. Estive lá e assinei embaixo do Governador, como testemunha, nada mais.

            Queremos continuar torcendo. Nós queremos continuar ajudando. Não queremos absolutamente indicar nada, indicar ninguém. Agora, o que mais a gente exige é o respeito ao eleitor, respeito aos não eleitores, porque são brasilienses, e também respeito aos eleitos, como dois que aqui estão, e não sei como estão sendo respeitados, Senador Rodrigo Rollenberg, Senador Gim, eu também, e a bancada de Deputados. Nós exigimos respeito para eleitores, não eleitores brasilienses e os eleitos. No mais, não precisa de nada, de cargo, de favor, de nada, só de respeito. E dentro do respeito, obviamente, ser capaz de entender um discurso como esse como um alerta e, ao mesmo tempo, como porta-voz, porque eu não pedi licença a ninguém. Mas o que estou dizendo, sinto que estou sendo porta-voz da população do Distrito Federal, porque é isso que ouço todos os dias na rodoviária quando ali vou, que ouço nas feiras, que ouço em restaurantes, que ouço entre amigos e não amigos, que ouço nas conversas. O Governo prometeu um novo caminho, mas está no velho caminho.

            E para concluir, Senador Gim, deixarei para depois do aparte que lhe concedo com muito prazer.

            O Sr. Gim Argello (PTB - DF) - Muito obrigado, Senador Cristovam. O senhor traz o tema, e a gente tem que pedir desculpa à população do Brasil, mas estamos falando de Brasília de hoje, temos uma bancada inteira, hoje, aqui no Senado. V. Exª que nos orienta, o Senador Rodrigo Rollemberg e eu. Vou falar sobre cada tema que o senhor colocou. Vamos começar por Brasília cinquenta anos em obra, cinquenta anos construindo uma cidade que é o sonho de todos os brasileiros, a sala de estar de todos os brasileiros, uma cidade que é motivo de orgulho para todos nós, onde juntamos gente de norte a sul do País, e que é motivo de muito orgulho. Uma cidade de gente ordeira, trabalhadeira e que realmente merece, e merece de verdade, esse novo caminho. Foi o caminho em que acreditamos, do qual participamos efetivamente e aonde ajudamos a chegar. Passaram os primeiros seis meses, um oitavo do Governo, e, realmente, o sentimento de rua, o sentimento que escutamos é que está deixando a desejar. Não começou a engrenar o Governo ainda, o Governo não começou a agir. Não é no campo das obras, como V. Exª falou, porque, no campo das obras, Senador Cristovam, e o senhor participou efetivamente, e eu, na condição de líder do meu partido, o PTB, e primeiro vice-líder do Governo tanto do Presidente Lula quanto da Presidente Dilma, posso trazer alguns dados que são impressionantes. É bom para que todos os brasileiros e brasilienses vejam o balanço do que foi trazido do Governo Federal para o Governo do Distrito Federal. Por exemplo, nós colocamos no Governo Federal, no Distrito federal, de 2007 até 2010, dados impressionantes, em execução e já executados R$10,5 bilhões no Distrito Federal. Quando V. Exª começou a falar, pedi ao meu gabinete, todos os trechos, todas as obras, tudo o que está em andamento, quer dizer, o que está em andamento no Distrito Federal, do PAC Federal, o que conseguimos colocar para o Distrito Federal. E, após 2010, no decorrer de 2011, 2012, 2013, 2014, tem mais R$3,2 bilhões. São números impressionantes, são dados impressionantes, por quê? Porque o Brasil todo reconhece a importância de Brasília, que tem que estar realmente equipada: as rodovias que dão acesso à cidade, o saneamento, controle de velocidade, os estudos de manutenção, o aeroporto. São vários investimentos, inclusive em acessibilidade, são todos investimentos que o Governo Federal faz no Distrito Federal. Então, para que isso? Por que fizemos tanto esforço para trazer tantos recursos para o Distrito Federal? Para que o Governador, o Governo local, tenha tempo de cuidar e não olhar, mas de cuidar da população, da área da saúde. É impressionante. Para V. Exª ter ideia, Senador Mozarildo, que é médico, a saúde do Distrito Federal tem hoje à disposição, pelo Fundo Constitucional, R$4,6 bilhões. Temos que realmente cuidar da saúde. Todos reclamam para a gente que isso não está acontecendo, como V. Exª está colocando, como o Senador Rodrigo Rollemberg há pouco me falou, não está acontecendo. E gostaríamos que realmente acontecessem essas melhorias. Agora, no campo da saúde, Senador Cristovam, para este ano, em nível de orçamento, por luta da Bancada, como colocamos aqui, temos 60 equipes da saúde da família, que V. Exª colocou, para ir à casa das pessoas. Já há orçamento, recurso para isso, mas precisa realmente de gestão. Por quê? Se V. Exª olhar aqui, cada equipe da saúde vai custar, e isso já está no orçamento, R$400 mil para cada equipe. Temos aqui autorizada meia dúzia de UPAs para Brazlândia, para Paranoá, para Planaltina, para Santa Maria, para Sobradinho, quer dizer, está tudo pronto para ser realizado, precisa de gestão. É isso que V. Exª está colocando. Se eu colocar para V. Exª a ampliação dos setores, todo o Distrito Federal está protegido por verbas federais. O que precisamos? Precisamos de gestão, porque não adianta ficarmos nesse esforço, falando, pedindo a todos os Srs. Senadores, pedindo ao Congresso Nacional, falando com o Governo Federal, para que possamos colocar todos esses recursos no Distrito Federal se as coisas não começam a acontecer. Mas já se passaram seis meses, e é como V. Exª colocou. Eu não vou discutir as influências que as outras pessoas podem ter no Governo. Escutamos isso no dia a dia, é realidade o que escutamos. Pelo que torcemos e acreditamos, mas não está acontecendo? No que continuamos acreditando? Que vamos achar realmente um novo caminho, porque, até agora - sou obrigado a concordar com V. Exªs -, todos esses recursos colocados para obras... O Governo Federal vem fazendo a parte dele, a bancada vem fazendo a parte dela. Tenho a consciência tranquila de que venho fazendo a minha parte, mas, quando a gente começa a colocar... Hoje tenho um compromisso, vou almoçar na minha querida e grande Taguatinga, vou à Ceilândia. Todas as vezes em que lá estou, o que acontece? Estive recentemente na Feira do Guará e ouvi das pessoas: “Gim, não está acontecendo, o Governo não está reagindo, as coisas não estão fluindo”. O nosso querido Agnelo, que era unanimidade, encontrou um clima hiperfavorável para fazer as mudanças necessárias, mas está perdendo a grande chance de dar uma primeira boa impressão de gestão nos seis primeiros meses, essa é a verdade. Agora, cabe a nós chamá-lo para conversar e dizer: “Vamos consertar, vamos procurar dar aquilo que prometemos para todos”. Nós prometemos escola integral, prometemos creches, há uma série de coisas que prometemos no período de campanha que não estão sendo realizadas. Essa responsabilidade é dele e é nossa. É a primeira vez que estamos falando disso francamente - esperamos passarem seis meses para nos posicionar -, mas sou obrigado a concordar com V. Exª e com o Senador Rodrigo Rollemberg.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Muito obrigado, Senador Gim. Passo a palavra ao Senador Rodrigo Rollemberg.

            O Sr. Rodrigo Rollemberg (Bloco/PSB - DF) - Senador Cristovam Buarque, como V. Exª disse, diferentemente do que costuma fazer quando assume a tribuna - normalmente V. Exª trata de temas nacionais -, V. Exª trata hoje do Distrito Federal. Nós enfrentamos essa jornada juntos, eu, V. Exª e o Governador Agnelo. É claro que somos todos responsáveis pela eleição do Governador Agnelo. Quero aqui fazer algumas observações. Concordo que há, de parte da população, insatisfações, há uma expectativa não realizada em relação a muitos pontos do Governo do Distrito Federal, mas é importante também registrar para todos os que estão nos ouvindo, nos vendo e nos assistindo que a situação encontrada pelo Governo do Distrito Federal, em função de tudo o que aconteceu, lamentavelmente, em Brasília nos últimos anos, é terra arrasada. O serviço público no Distrito Federal é terra arrasada. Isso, de certa forma, contribui para que o Governo não tenha conseguido ainda construir uma agenda positiva. Mas é claro que tudo tem limite, a população já não aceita mais o argumento de que a situação estava deteriorada. A população quer soluções para os seus problemas. Eu entendo que o grande problema hoje no Governo do Distrito Federal seja um problema de gestão, um problema de excessiva concentração de poder, que faz com que, por mais competente que a pessoa seja, torne-se incapaz de dar curso a todas as questões que estão colocadas no dia a dia da política, no dia a dia da administração pública e que são agravadas pela situação que o Distrito Federal vive. Estamos vivendo algumas questões que precisam ser enfrentadas, inclusive pela bancada, conjuntamente com o Governo. Por exemplo, essa recente decisão do Supremo Tribunal Federal de considerar ilegais os incentivos dados a algumas indústrias no Distrito Federal. Neste momento, essa decisão atinge poucas indústrias no Distrito Federal, mas o seu efeito multiplicador e o seu efeito simbólico podem fazer com que muitos empreendimentos que estão querendo vir ou que estão se instalando no Distrito Federal possam mudar de opinião. Este era um momento, no meu entendimento, de o Governador chamar a bancada do Senado, chamar a bancada de Deputados Federais, e compartilhar as preocupações, ouvir. Aqui temos pessoas muito experientes, como V. Exª, que foi Governador, enfrentou problemas no governo, problemas políticos, problemas administrativos, saiu-se bem, e que tem uma contribuição a dar. Então, eu aproveito esta oportunidade para, publicamente, colocar para o Governador Agnelo a necessidade de ouvir as pessoas que querem ajudar. Vejo V. Exª, sei do seu compromisso com o Distrito Federal, V. Exª sabe do meu compromisso e do compromisso do Senador Gim. Temos uma contribuição a dar, temos opiniões para compartilhar. Eu sempre disse ao Governador Agnelo que o meu maior desejo é poder olhar daqui a quatro anos para o Distrito Federal e dizer que ajudei a construir um Distrito Federal melhor, dizer que temos mais qualidade de vida no Distrito Federal, dizer que o Distrito Federal mudou o seu vetor de desenvolvimento e passou a ser um polo de inovação tecnológica, que revolucionou a educação, revolucionou a saúde e transformou-se num grande centro turístico nacional. Nós estaremos sempre à disposição para colaborar com o Distrito Federal, com a população do Distrito Federal. Portanto, quero cumprimentá-lo por trazer à discussão o Distrito Federal. Acho que devemos discutir mais o Distrito Federal. Ainda hoje trouxe essa manchete do Correio Braziliense. Eu também estava querendo abordar este tema: “Máfia do transporte usa greve para elevar tarifa”.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O Sr. Rodrigo Rollemberg (Bloco/PSB - DF) - E quero dizer que terá o nosso apoio tudo o que o Governador Agnelo fizer para enfrentar esse cartel do transporte coletivo no Distrito Federal, que humilha a nossa população no seu dia a dia, que oferece condições péssimas. São ônibus velhos em intervalos enormes, que só andam lotados e vivem quebrando, fazendo com que a população do Distrito Federal perca grande parte do seu dia. Eu li nesse mesmo jornal, ainda esta semana, que o Governo iria licitar 1,2 mil novos ônibus. Entendo que nós devemos é abrir completamente o transporte coletivo do Distrito Federal, licitar para que outras empresas do País todo possam promover uma grande concorrência interna para que a gente tenha transporte de melhor qualidade a preço mais barato. Tudo o que for feito para enfrentar esses cartéis que se instalaram no Distrito Federal nos últimos anos terá todo o meu apoio.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Muito obrigado, Senador.

            Peço mais algum tempinho para dizer o seguinte.

            Senador Rodrigo, de fato, o Governo atual recebeu a casa desarrumada, mas nós, na campanha, não prometemos arrumar casa, prometemos construir uma casa nova, diferente. Essa foi a nossa proposta. Daria, até porque nunca o Distrito Federal recebeu tanto dinheiro do Governo Federal. O Governo hoje recebe mais de quatro vezes o que recebia quando eu fui Governador. E mais: é obrigatória a transferência. No meu tempo, era voluntária a transferência do Governo Federal, não havia esse fundo constitucional.

            E o que preocupa é que não estejam surgindo as plantas dessa nova casa que seria o Distrito Federal daqui para frente, o novo caminho. Se a gente estivesse consertando a casa, mas apontando um novo caminho, tudo bem. Temos paciência. O problema é que a gente não está vendo o novo caminho.

            Tomemos o caso do ônibus. Esse problema é fruto da casa mal-arrumada, porque demorou-se muito tempo sem aumentar tarifa de ônibus, sem comprar ônibus novos - a maneira de não aumentar tarifa foi não exigir ônibus novos. É complicado arrumar esta casa!.

            Mas por que não se trouxe outra proposta diferente para o transporte público? Por que já não fizemos - e daria dado tempo - as licitações para novas empresas? Por que não sinalizamos para uma relação diferente, em que o usuário fosse ouvido, numa forma de orçamento participativo, para saber qual é a tarifa e se está disposto a sacrificar a qualidade do ônibus em troca de uma tarifa mais baixa? Não houve o novo. Era preciso arrumar a casa, não há dúvida, mas era preciso ter dado pistas de como seria a casa nova.

            Para concluir, abordo dois pontos que o Senador Rodrigo levantou. ´

            Um é o da concentração do poder. Eu diria, Senador Rodrigo e Senador Gim, que temos dois fenômenos no Governo: a concentração de poder exagerada em um Secretário e a ausência de poder do Governador. Estas duas coisas, quando se juntam, são uma tragédia: uma superautoridade, que não foi eleita para aquele cargo, foi nomeada, e a ausência de autoridade do chefe dele. E é o que eu ouço não na rua, mas dos outros Secretários e dos outros que participam do Governo: que há uma ausência, de um lado, e um superpoder, de outro. Mas eu ainda acho que o problema fundamental não é de gestão: trata-se de definir a linha pela qual queremos conduzir o Distrito Federal.

            E quero concluir dizendo que Anápolis, em trinta anos no máximo, vai roubar de Brasília a possibilidade de sermos uma cidade moderna. Não moderna na arquitetura. Não, na arquitetura nós vamos continuar, mas moderna na concepção de desenvolvimento. O Governador Marconi Perillo, que não é do meu partido, que não tenho razão para defender, de quem não tenho procuração apesar de ter boa relação, está, de fato, construindo uma concepção nova para o Estado de Goiás. Vai aproveitar o eixo Goiânia-Anápolis e concentrar ali um grande centro industrial de alta tecnologia, enquanto concentra em Goiânia um grande centro de saúde para atender os casos complicados de doenças do Brasil inteiro.

            Aí a gente vê linhas conduzindo para um futuro diferente. Aqui a gente não vê linhas conduzindo para o novo caminho, que foi nosso slogan - do Governador Agnelo e nosso, porque eu participei e não vou dizer que estava errado naquele momento, de jeito nenhum. Eu estava ao lado dele, mas eu estou aqui cobrando. Não me lamento de ter apoiado o Governador Agnelo. Longe de mim. Ele prestou um grande serviço ao impedir que o Governador Roriz continuasse como nosso Governador.

            Eu não estou lamentando tê-lo eleito. Eu estou cobrando dele o compromisso que ele vendeu ao povo de que o Distrito Federal teria um novo caminho. E eu avalizei essa ideia do novo caminho. Por isso, eu torço que o novo caminho dê certo, que o novo caminho, primeiro, seja desenhado com clareza e, segundo, seja construído. Eu torço e estou disposto a apoiar também, Senador Rodrigo Rollemberg. Não tenha dúvida. Eu preferia estar falando isso no ouvido dele em vez de estar falando aqui, de público, mas não tive chance até hoje. Até hoje não tive chance de falar no ouvido dele...

(Interrupção do som.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - (Fora do microfone) Pediria um pouco mais de tempo.

            E digo mais: fique tranquilo porque não vou levar nenhum nome para nenhum cargo, até porque, se me pedir agora, eu já não indico. Não indicarei nenhum cargo. Mas debater, discutir, sugerir, levar o que os 830 mil votos que me deram... Diziam-me na rua, continuam me dizendo, porque eu continuo indo.

            Era isso, mas o Senador Gim Argello me pediu mais um aparte. Tenho o maior prazer em conceder.

            O Sr. Gim Argello (PTB - DF) - Senador Cristovam Buarque, este tema é palpitante para quem é de Brasília. Nós também não nos arrependemos de ter ajudado o Governador Agnelo a chegar lá, mas também, do mesmo jeito, como V. Exª, como o Senador Rodrigo Rollemberg, torcemos para que ele comece, efetivamente, a fazer jus à função, ao cargo de Governador e que possa, realmente, começar a realizar todos aqueles compromissos de campanha. Por quê? Eu tenho certeza de que a nossa parte nós estamos fazendo aqui. Isso é muito importante. Agora, o senhor falou há pouco - por isso, pedi um aparte - no que Anápolis está se transformando, em um novo polo de desenvolvimento na área dos fármacos, das farmácias, dos laboratórios, em nível de indústria de automóveis. Nós queremos indústrias não poluentes aqui. Nós começamos essa relação de fármacos. Por quê? Por causa da geração de emprego e renda de que tanto precisamos no Distrito Federal, emprego para os nossos jovens. Mais de 80 entre faculdades e universidades no Distrito Federal, onde mais de seis mil jovens são formados - o senhor sabe bem disso - a cada semestre, e eles não têm onde trabalhar. Estão se preparando, mas não têm onde trabalhar, porque não temos as indústrias, principalmente as indústrias do polo de fármacos, que deviam ser no Distrito Federal. O que eu consegui agora? E é muito bom que se diga isto para Brasília e para o Brasil. Consegui que o braço da Norte-Sul - porque estava terminando em Anápolis e de Anápolis seguindo para São Paulo - viesse para o Distrito Federal, por meio de uma emenda colocada no projeto de lei relatado pelo nobre Senador Valdir Raupp, há um ano e meio, ou seja, que a ligação venha até Brasília, e que encontre com a nossa ferrovia, no Distrito Federal, que termina aqui, na rodoferroviária. Ela liga até o porto do Espírito Santo e o porto de Santos. Por que é importante ligar todo o País por meio de Brasília? Porque aqui é a capital de todos, aqui é que vai ser o grande centro. E agora, Senador Cristovam Buarque, para o senhor ter a informação: ontem fechou o prazo da LDO, e fiz as emendas necessárias à Lei de Diretrizes Orçamentárias, para que possa haver essa ligação, para que Brasília possa também entrar nesse polo de desenvolvimento, como o fez Anápolis. Para vocês terem uma ideia, há mais investimento hoje em Anápolis: três vezes o que se investe no Distrito Federal. Temos um problema. Ontem atendemos aos diretores do Porto Seco. Até encaminhei um pedido ao Senador Rodrigo Rollemberg, para que, na condição de coordenador da bancada, convide-a a ouvir sobre esse problema que está acontecendo, sobre essa votação que houve no Supremo Tribunal Federal, com a qual Brasília perdeu o Pró-DF 1. Empresas que estão instaladas aqui estão ameaçando ir embora do Distrito Federal, as poucas que há. Por quê? Foi dito ontem - o Senador Rodrigo Rollemberg escutou também - que o atual Secretário de Desenvolvimento do Distrito Federal havia dito: “Não, não se preocupe com isso, não; com a renda per capita de Brasília, com a localização, as empresas ficam”. Isso não é verdade, o senhor sabe. O senhor lutou tanto para trazer empresas não poluentes para o Distrito Federal. Não podemos perder as empresas que já estão aqui. O que está faltando? É isto que o senhor está colocando e que o Senador Rodrigo Rollemberg também colocou: gestão. Continuamos acreditando, continuamos ajudando. Fiz várias e várias emendas - depois vou relatar cada uma - para o metrô do Distrito Federal. Precisamos fazê-lo crescer no sentido de Recanto das Emas e do Gama. Coloquei todas essa medidas, já pensando em que a nossa Brasília continue crescendo, com qualidade de vida; em que as pessoas tenham facilidade no transporte. Então, Senador Cristovam Buarque e Senador Rodrigo Rollemberg, precisamos sentar com o Governador Agnelo e fazer crescer essa discussão; mostrar que a bancada do Senado e a da Câmara Federal só têm a contribuir. E é isto: abrir mais um pouco o Governo, para que possamos levar não nomes, mas ideias.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Concluo, Senador, na mesma linha. O que falei aqui foi no sentido de colaborar - de colaborar com alerta. Às vezes, para quem deseja o bem para o Governo, a melhor forma de colaborar é alertando.

            Aqui ficam meus alertas.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/06/2011 - Página 23094