Discurso durante a 99ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Referências à carta que a Presidente Dilma Rousseff enviou ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a qual, segundo S.Exa. teve o poder de abrir uma porta entre o PT e o PSDB; e outro assunto.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. EDUCAÇÃO.:
  • Referências à carta que a Presidente Dilma Rousseff enviou ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a qual, segundo S.Exa. teve o poder de abrir uma porta entre o PT e o PSDB; e outro assunto.
Publicação
Publicação no DSF de 15/06/2011 - Página 23508
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. EDUCAÇÃO.
Indexação
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MOTIVO, REMESSA, CARTA, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, EX PRESIDENTE, OBJETIVO, CRESCIMENTO, RELAÇÃO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), FATO, FAVORECIMENTO, POLITICA, BRASIL.
  • SOLICITAÇÃO, APROVAÇÃO, SENADO, MEDIDA PROVISORIA (MPV), AUTORIZAÇÃO, CONTRATAÇÃO, PROFESSOR UNIVERSITARIO, SUBSTITUTO, MOTIVO, CONTINUAÇÃO, AULA, UNIVERSIDADE.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Senadora Marta Suplicy, eu vim aqui, em primeiro lugar, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, porque creio que a Presidenta Dilma fez, essa semana, um gesto extremamente positivo na política brasileira.

            Uma simples carta dela ao ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, para mim, representou um fato fundamental. Ela conseguiu, com essa carta, abrir uma porta entre PT e PSDB de uma maneira que pode trazer vantagens extremamente positivas para o Brasil, Senador Ricardo.

            Venho insistindo aqui que deveríamos acertar cinco, seis pontos em que disséssemos: aqui não há discussão partidária, aqui é do interesse nacional, aqui temos posições suprapartidárias. Um desses temas pode ser a própria campanha pela erradicação da miséria, que a Presidenta lançou, mas nós podemos, sim, trazer para cá a ideia do futuro da economia brasileira, porque a economia brasileira está bem, mas ela não vai bem. Ela está bem no presente, conjunturalmente, mas ela não vai bem estruturalmente.

            Vamos precisar resolver uma porção de entraves, de entulhos, que podem ameaçar, daqui a vinte, trinta, quarenta anos, o bom funcionamento da economia brasileira, tais como o desenvolvimento científico e tecnológico, sem o que não vamos ganhar o mercado dos produtos que de fato geram valor. Vamos continuar sem ciência e tecnologia, condenados a exportar ferro, a exportar soja, a exportar bens primários. Temos o problema da educação. Temos que resolver o problema da educação, mas não apenas para melhorar um pouquinho, como a gente vem melhorando, mas para dar um grande salto de qualidade, fazendo uma verdadeira revolução. Precisamos ter pontos em comum. No mais, a gente briga, mas alguns pontos teríamos que definir suprapartidariamente, como, aliás, muitas democracias fazem.

            A carta da Presidenta teve essa vantagem, abriu a porta. A gentileza como ela escreve ao ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso é um fato muito raro no Partido dos Trabalhadores. Como fui, por quinze anos, do Partido dos Trabalhadores, eu lembro como tive dificuldades em conseguir alguns gestos, por exemplo, na hora do Plano Real. Aquilo era para ser um programa suprapartidário. Não foi. Em outros momentos também: a própria criação do Bolsa Escola, quando o Presidente Fernando Henrique Cardoso, pegando a ideia do Distrito Federal, do Governo do PT no Distrito Federal, trouxe para o plano federal, mas não conseguíamos.

            A Presidenta fez o gesto. Eu acho que está na hora de a oposição também começar a fazer algum tipo de gesto, algum tipo de gesto que permita a convivência.

            Lembro-me de uma noite, até madrugada, em que o candidato à Presidência recém-derrotado, Lula, em 98, em novembro, junto comigo, fomos ao Palácio da Alvorada e conversamos com o Presidente Fernando Henrique Cardoso. Conversamos até muito tarde, ou muito cedo, se quiserem, na madrugada. Eu imaginava que dali iria surgir a possibilidade de uma convivência entre o PT e o Governo Fernando Henrique Cardoso. Não houve possibilidade, até por uma razão de que hoje eu tenho consciência: é porque tem que ter alguém embaixo que faça o trabalho da costura.

            Os grandes líderes abrem as portas, mas quem constrói o caminho não são os grandes líderes; são aqueles assessores em quem ele confia. Não havia nem no Governo Fernando Henrique nem no PT pessoas que pudessem, de fato, dar continuidade a esse diálogo. Hoje, é fácil encontrar essas pessoas que levem esse diálogo adiante, sem excluir os outros partidos, obviamente, sem excluir o PMDB, que faz parte da base desde o princípio e tem, inclusive, o Vice-Presidente. Mas esse diálogo, Senador Mozarildo, a gente tem de fazer; e é até para salvar a credibilidade desta Casa termos aqui pontos em comum que unam oposição e Governo.

            Eu tenho impressão, por exemplo, que um desses pontos pode ser hoje mesmo, à noite, quando formos votar aqui a medida provisória que autoriza o Governo a contratar professores substitutos para as universidades brasileiras. Essa medida provisória tem hoje o limite. Se não for aprovada hoje, cai. Se ela cair, professores serão demitidos, alunos ficarão sem aulas, acontecerá um verdadeiro caos.

            Compartilho da preocupação de muitos, na universidade, da própria Andes, o sindicato dos professores das universidades, que emitiu uma nota contra, com o argumento - correto até - de que precisamos contratar professores concursados, permanentes, definitivos, com estabilidade. E esses professores são substitutos. Mas sempre, Senador Lindbergh, há momentos em que precisamos de professores substitutos. E este é um dos momentos. O Governo conseguiu ampliar o número de alunos graças a esses professores. E não podemos correr o risco de atrapalhar o funcionamento das universidades, o emprego desses professores.

            Conversei, hoje de manhã, com diversos Líderes do Senado, com diversos Senadores da oposição, e senti da parte deles o desejo de votarem a favor, de não criarem nenhum problema, mesmo que venham aqui, talvez até corretamente, denunciar o fato de que a medida provisória chega na última hora - o que é lamentável - e de que não estamos contratando professores permanentes, e, sim, substitutos. Eu acho que a oposição presta até um serviço ao denunciar isso. Mas temos de trabalhar para que essa medida provisória não caia.

            Votei contra a medida provisória há quinze dias, porque era uma medida provisória que misturava alhos e bugalhos, que ninguém entendia. Eu não entendia o que ela trazia. Essa, não. Essa é uma medida provisória enxuta, com um único tema, com uma única proposta, e alguns podem discutir se isso poderia ou não ser feito através de projeto de lei, mas foi feito por medida provisória, a favor da sobrevivência e do encaminhamento das universidades brasileiras.

            Quem sabe a gente não tem, de um lado, o gesto da Presidenta em direção ao ex-Presidente Fernando Henrique e, de outro lado, a compreensão de que, neste momento, a contratação desses professores é uma questão suprapartidária, mesmo reconhecendo a insatisfação da Associação Nacional dos Docentes, que o professor deveria ser contratado permanentemente, e não como substituto por essa medida provisória.

            Era isso, Srª Presidente, que eu tinha a falar em menos que os dez minutos que a senhora me deu, corretamente, de acordo com o Regimento, para dizer da minha satisfação ao ver essa carta da Presidente Dilma, sentindo que, de repente, a ideia de construirmos aqui um conjunto de pontos suprapartidários a serviço do Brasil pode se tornar possível.

            Muito obrigado, Srª Presidente.


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