Discurso durante a 103ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração a impressão da centésima milionésima Bíblia pela Socieade Bíblica do Brasil.

Autor
Mozarildo Cavalcanti (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/RR)
Nome completo: Francisco Mozarildo de Melo Cavalcanti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração a impressão da centésima milionésima Bíblia pela Socieade Bíblica do Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 21/06/2011 - Página 24342
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, AUTORIDADE, HOMENAGEM, COMEMORAÇÃO, SESSÃO SOLENE, EDIÇÃO, QUANTIDADE, OBRA LITERARIA, BIBLIA, AUTORIA, ENTIDADE, UTILIDADE PUBLICA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PTB - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente desta sessão, Senador Wilson Santiago; Senador Marcelo Crivella, primeiro subscritor desta sessão; meu querido ex-Senador Lindberg Cury, aqui presente; quero pedir permissão para cumprimentar todas as autoridades presentes na pessoa do Revmo Pastor Adail Carvalho Sandoval, que é Presidente da Sociedade Bíblica do Brasil e que, hoje, aniversaria. (Palmas.)

            Portanto, para mim, falar, hoje, é uma ousadia. Primeiro, por causa da laringe prejudicada; segundo, por suceder um brilhante orador, como o Senador Marcelo Crivella. Mas eu não poderia deixar de falar hoje, porque, muito mais do que falar da história da Sociedade Bíblica do Brasil, quero dar, inicialmente, um testemunho.

            Sou católico; fui, portanto, batizado. Fiz o catecismo para a primeira comunhão, fui crismado e, até então, nunca tinha lido uma Bíblia. Saí do meu Estado de Roraima, à época território federal, aos quinze anos para estudar, porque lá só tinha o ensino fundamental - àquela época, o ensino primário. Portanto, fui fazer o ensino médio fora de Roraima e não li a Bíblia até então.

            Entrei no curso de Medicina e comecei a pegar aulas de anatomia, de fisiologia, e tudo se explicava pela ciência em relação ao ser humano. Então, começaram minhas dúvidas sobre as histórias que eu tinha ouvido falar no catecismo, nas aulas preparatórias para o crisma. E, antes me de tornar, vamos dizer, um ateu, tornei-me um cético. Aí, fui ler Bíblia; fui ler a Bíblia por essas circunstâncias. E diria que A li quase de maneira compulsiva, porque peguei o Livro e lia toda hora que podia, nos intervalos dos estudos, para ver se ali, realmente, havia uma explicação para o que eu estava aprendendo na medicina e para o que eu tinha ouvido falar nas aulas, repito, para o catecismo e para o crisma.

            Dessa forma, foi-se aprofundando o meu ceticismo. Foi-se aprofundando, porque eu começava a ver, no microscópio, que as coisas se explicavam de maneira científica. Eu começava a ver, por meio das experiências, que as coisas se explicavam de maneira científica. Aí, eu diria a vocês que me formei um médico, no mínimo, agnóstico.

            Comecei a exercer a medicina. E foi no contato com o paciente, no dia a dia, ao lidar com as pessoas, vendo seus sofrimentos, ao ver casos em que a ciência dizia que o paciente estava desenganado, que minha visão mudou. Quantas vezes eu tive a triste missão de chegar aos parentes e dizer: “Olhem, não sei quanto tempo, mas é questão só de tempo. Não há mais nada a fazer.” E, de repente, esse paciente se recuperava; e se recuperava, muitas vezes, sem nenhuma sequela. Aí, eu perguntava: cadê a ciência aqui?!

            Então, comecei a rever minhas dúvidas e fui ler de novo a Bíblia. Ao final, cheguei à conclusão de que o que falta é a ciência fazer as pazes com a fé e vice-versa, porque o que é a ciência? É um dom de Deus. Foi Deus que deu ao homem a capacidade de poder, por meio do seu intelecto, descobrir algumas pequenas coisas que Ele fez no mundo.

            Então, como disse o Senador Marcelo Crivella, acho que é preciso semear mais Bíblias mesmo. E se discute, hoje, essa questão muito forte de que o Estado é laico; portanto, não se pode permitir que se ensine religião dentro dos estabelecimentos oficiais. Tenho dúvidas quanto a isso. Tenho dúvidas. Defendo, realmente, um Estado laico. No nosso caso, por exemplo, ainda somos muito ligados à Igreja Católica. Repito, sou católico. Vamos observar Brasília: foi projetada, criou-se a Esplanada dos Ministérios e lá está uma catedral católica, plantada justamente no centro, no coração da Capital brasileira. Por quê? Não somos um Estado laico? Ou somos meio laicos?

            Eu me lembro também, à época em que estudava o catecismo, que, entre as inúmeras coisas que foram colocadas na minha cabeça, uma delas era que tínhamos que ter cuidado com um monte de gente: maçons, umbandistas etc. e protestantes, como eram chamados. E, no trajeto entre a minha escola, que era o Ginásio Euclides da Cunha - o Rosber, que é meu assessor e é um evangélico de primeira, conhece muito bem -, e a minha casa, tínhamos duas alternativas: a mais rápida era passar em frente a uma Igreja Batista. A mais distante era desviar. E, realmente, tal era a colocação que, normalmente, eu desviava.

            Ouvi aqui, um dia desses, numa homenagem que prestamos, um pastor dizer que lutaram muito tempo para provar que não eram protestantes, mas evangélicos. E aí, com o passar do tempo, eu diria que me tornei uma pessoa ecumênica, mas, sobretudo, cristã. Portanto, acredito justamente nisto: que os ensinamentos de Cristo são válidos em qualquer ambiente, mas, principalmente, na família.

            Eu, como médico, repito, vi muitos casos. É fácil até fazer a diferença. Vamos falar da família pobre. Não vamos falar aqui da família abastada, não; uma família pobre cristã e uma família pobre, digamos, que não tenha religião. Você vê muita diferença no comportamento dos pais, na orientação que os pais dão aos filhos.

            Hoje, nós nos deparamos com uma sociedade em que tantas mazelas nos afligem! As drogas, por exemplo. Temos, a cada dia, uma nova droga. Quando eu estudava, lá em Belém, no curso de medicina, eu me lembro de que a droga de que se ouvia falar era a maconha. E, assim mesmo, a gente via, nas páginas policiais dos jornais, que a maconha era usada praticamente por bandidos, por assaltantes. Não se ouvia falar que um jovem fumasse maconha. Mas, hoje, já passamos da maconha para a cocaína, para o crack e, agora, para o oxi. Quer dizer, cada dia, vamos dizer assim, os industriais, os homens que vivem desse negócio chamado tráfico se ampliam.

            E como é que se combate isso? Será que é só com a repressão? Não é; com certeza, não é só com a repressão. É basicamente com a educação. É colocando no seio da família o jovem, como o menino que vi aqui, de paletó, para que ele entenda que a droga é, sob todos os aspectos, nociva. Obviamente, se ele for criado dentro de um ambiente cristão, dificilmente ele vai por esse caminho.

            O Senador Crivella frisou muito bem aqui: não somos levados muito em conta pelas grandes potências mundiais, porque sempre fomos considerados como uma espécie de quintal dos Estados Unidos. Sempre fomos olhados como o País das bananas. Não éramos levados em consideração como povo. No entanto, somos, hoje, uma economia que ameaça a economia desses poderosos, donos do mundo, que, inclusive, agora, usam de todos os artifícios para até sufocar o resultado positivo dessa miscigenação que se deu no Brasil; e uma miscigenação em que há um predomínio nítido - estão aí as estatísticas - das religiões cristãs, sem desmerecer as outras.

            Sempre entendo que qualquer religião que reverencie, que preste obediência a Deus e que siga seus ensinamentos, é um caminho para se chegar a Ele. Agora, é evidente que, se temos uma religião, como, no caso, as religiões cristãs, que pregam de maneira muito simples a verdade de Deus, então, nada melhor do que, de fato, cultuar esses princípios. E, se olharmos até os mais elementares, como, por exemplo, os mandamentos da lei de Deus ou as pregações outras de Jesus, nós vamos ver que teremos, sim, uma sociedade cada vez melhor, porque não nos faltam características raciais especiais, não nos falta tolerância com as diferenças de cores, não nos falta tolerância com as diferenças de religião - coisa difícil, Senador Crivella, de encontrar nos chamados países desenvolvidos. A tolerância talvez seja um dos maiores dons que o brasileiro recebeu com essa formação, durante esses séculos de existência.

            E eu espero que este dia em que comemoramos os 100 milhões de exemplares da Bíblia impressos pela Sociedade Bíblica do Brasil possa servir, realmente, como reflexão, para que todos aqueles que, de uma maneira ou de outra, podem apoiar essa obra, apóiem-na. Não interessa, repito, se a pessoa é desta ou daquela denominação, se é católica, se é anglicana. Enfim, para mim, como disse Jesus, o importante é que sejamos, um dia, um só rebanho e tenhamos um só pastor.

            Isso será complicadíssimo se nós não começarmos cedo, embora para Deus nada seja fora de tempo. Eu fui um exemplo: só depois de formado, só depois lidar com a realidade, depois de ter passado pela lavagem cerebral dos microscópios, dos testes químicos e das comprovações biológicas, é que, realmente, cheguei à conclusão de que Deus está presente onde menos se imagina que Ele esteja.

            Então, eu fiz um discurso escrito, Senador Crivella, que trata da história da Sociedade Bíblica do Brasil - e peço a V. Exª que o considere lido e como parte integrante do meu pronunciamento -, mas eu quis falar de coração, falar da minha felicidade por saber que tem muita gente, neste País, que se preocupa com a fé, que se preocupa com os princípios salutares da família, da sociedade.

            Sem isso, haverá uma sociedade que, como falou o Senador Crivella, se preocupa só com o ter, com as coisas, digamos, fúteis da vida e que não se preocupa com as virtudes da solidariedade, do amor e da doação realmente. Um país que tem uma sociedade dessas não tem futuro. Felizmente, o Brasil não é assim e poderá ser muito melhor com o trabalho de todos vocês.

            Muito obrigado.(Palmas.)

 

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SEGUE, NA ÍNTEGRA, PRONUNCIAMENTO DO SR. SENADOR MOZARILDO CAVALCANTI.

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           O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (Bloco/PTB - RR. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, embora nos deparemos todos os dias com notícias que são motivo de tristeza e de descrédito na bondade do ser humano, ainda temos motivos para regozijo. E um deles é a notícia da publicação de cem milhões de exemplares do Livro Sagrado pela Sociedade Bíblica do Brasil.

           É um número assombroso, que indica a importância que o povo brasileiro dá à palavra de Deus. Sim, porque “bíblia”, uma palavra de origem grega, apesar de simplesmente significar “livro”, é muito mais que isso. É o Livro Sagrado, também conhecido como “Sagrada Escritura”, onde estão contidos os mais importantes ensinamentos religiosos que deram origem à nossa fé cristã.

           As igrejas cristãs no Brasil têm uma meta, que é a de que todo brasileiro, ao completar 15 anos, tenha sua própria Bíblia.

           Para nos situarmos em relação à produção do Livro Sagrado no Brasil, devemos voltar um pouco no tempo.

           Até 1948, a disponibilização de Bíblias entre nós provinha principalmente da Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira e da Sociedade Bíblica Americana. Foi nesse ano que as igrejas entenderam que esse trabalho tinha de ser feito por uma organização que servisse a todas as denominações cristãs existentes no País.

           Dessa forma, no dia 10 de junho de 1948, na cidade do Rio de Janeiro, foi criada por destacados líderes cristãos a Sociedade Bíblica do Brasil, adotando o lema “Dar a Bíblia à Pátria”. Desde então, essa entidade assumiu as atividades de tradução, produção e distribuição da Bíblia em todo o território nacional.

           No primeiro ano, foram distribuídos apenas 80 mil exemplares. A partir de 1977, por meio do programa “A Bíblia nas Escolas”, iniciou-se a distribuição de material didático para ser utilizado tanto no Ensino Religioso curricular como no desenvolvimento de atividades pedagógicas complementares. Ampliava-se, assim, o contato da comunidade escolar com o Livro Sagrado, favorecendo o resgate de valores éticos e espirituais entre crianças e adolescentes e contribuindo para o fortalecimento do núcleo familiar.

           O trabalho foi crescendo, e ficou evidente a necessidade de dispor de uma estrutura própria de produção. Surgiu, então, em 1991, quando a distribuição de Escrituras superou a marca de um milhão, o projeto da Gráfica da Bíblia, concretizado com a entrada em operação da unidade produtora em setembro de 1995.

           A tiragem atual tem ultrapassado a casa de seis milhões de exemplares, o que possibilitou que, em apenas 16 anos de existência, a gráfica produzisse 100 milhões de exemplares, dos quais 23 milhões destinaram-se a outros 105 países. A capacidade mensal de produção é estimada em 900 mil exemplares.

           Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, mesmo com essa produção formidável, o editorial da revista trimestral A Bíblia no Brasil ressalta que é necessário dobrar a quantidade de livros impressos, para que cada brasileiro tenha o seu exemplar da Escritura Sagrada.

           Atualmente, a Gráfica da Bíblia é o maior centro produtor de Bíblias do mundo, caracterizando-se por: mais qualidade, oferta ampliada e custos reduzidos; variedade de edições; e atendimento à demanda nacional e internacional.

           A SBB inaugurou a Gráfica da Bíblia com a ideia de produzir três milhões de Bíblias e Novos Testamentos por ano, mas essa marca foi superada em pouco tempo.

           A título de curiosidade, é interessante acrescentar que são utilizadas 400 toneladas de papel, por mês, para atender à demanda nacional e internacional, ou 800 bobinas, que, se desenroladas, alcançariam 24 mil quilômetros. Se esse material fosse estendido, seria possível dar 7,2 voltas no Planeta todo ano.

           Srªs e Srs. Senadores, sem dúvida, é uma obra grandiosa e que merece ser louvada. Oxalá o homem fizesse mais obras para engrandecer a Deus! Atitudes como essa só tendem a reverter na melhora espiritual do ser humano, gerando maior respeito aos semelhantes, compreensão, solidariedade manifestada nos atos caritativos, em benefício da humanidade como um todo.

           Parabéns à Sociedade Bíblica do Brasil e à Gráfica da Bíblia por atingirem esse recorde surpreendente dos 100 milhões de exemplares.

           Parabéns às igrejas que mantêm de pé e ativa essa obra benemérita e modelar.

           Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/06/2011 - Página 24342