Discurso durante a 104ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações acerca da produção de azeite de oliva no Estado de Santa Catarina, destacando o Projeto das Oliveiras e a importância de investimento em pesquisa agropecuária no País.

Autor
Casildo Maldaner (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/SC)
Nome completo: Casildo João Maldaner
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA AGRICOLA.:
  • Considerações acerca da produção de azeite de oliva no Estado de Santa Catarina, destacando o Projeto das Oliveiras e a importância de investimento em pesquisa agropecuária no País.
Publicação
Publicação no DSF de 21/06/2011 - Página 24770
Assunto
Outros > POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • COMENTARIO, RELAÇÃO, PRODUÇÃO AGRICOLA, OLEO VEGETAL, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), NECESSIDADE, INVESTIMENTO, PESQUISA, AGROPECUARIA, PAIS.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. CASILDO MALDANER (Bloco/PMDB - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, nobres colegas, quero trazer um tema para abordar nesta tarde que para nós, catarinenses, diz muito, e por que não também ao Brasil? Falo de alguns produtos que consideramos nobres e que já começamos a produzir. E sobre isso vou alinhavar alguns aspectos.

            Vou falar sobre o Projeto das Oliveiras, por meio do qual estamos procurando um caminho para reconstruir nosso Estado. Senador Ataídes, as oliveiras estão relacionadas ao azeite nobre. Hoje, o Brasil importa praticamente 100% de azeite, Senador Alvaro Dias. Essa é a situação.

            Portanto, vou traçar algumas linhas sobre isso, já que temos algumas características em nosso Estado.

            Atribui-se a Pero Vaz de Caminha, em sua carta ao reino de Portugal, a frase cunhada em 1500, quando da chegada das primeiras naus ao solo brasileiro, que acabou eternizada: “A terra é tão generosa que nela, em se plantando, tudo dá”. Cumprimos esse destino. Nosso País tornou-se um dos grandes celeiros do mundo, exportando alimentos dos mais diversos.

            Assim, vou discorrer um pouco sobre os vinhos nobres que produzimos, mas também sobre as oliveiras, pois hoje o Brasil importa praticamente 100% do azeite que consome. Já tivemos alguma produção, mas paramos. E o azeite é alguma coisa que vem desde a Bíblia.

            Começamos com alguns experimentos em nosso Estado, por meio da Embrapa e da Epagri, que é um centro de pesquisa, que começou a lançar os primeiros produtos do azeite de oliva em Santa Catarina. Isso dá em alguns lugares de mais altitude.

            Trago até uma amostra, nesta tarde aqui, aos colegas e ao Brasil do que é um azeite de oliva que já se começa a produzir em terras catarinenses - tem que ter certa altitude, é um negócio nobre, é alguma coisa que chama a atenção e, se Deus quiser, nós teremos lá uma produção em série, que vai, aos poucos, além de ajudar na descentralização, fazer com que pequenas propriedades características... São nichos de terrenos que produzem isso em Santa Catarina, que estão experimentando, descentralizando pequenos proprietários. Em um hectare de terra, pode-se produzir uma grande quantidade, e em terrenos pedregosos. Lembra muito bem a região de Israel que produz isso, algumas regiões da Espanha, da Itália, da Grécia que têm os terrenos, alguns nichos mais ou menos na mesma proporção.

            Os nossos técnicos, a Epagri, que é um órgão técnico ligado à Secretaria da Agricultura em Santa Catarina, já começa a lançar os primeiros experimentos.

            E eu prometi, recebi, lá no oeste, lá em Chapecó, do engenheiro agrônomo Crestani, que coordena a Epagri naquela região, este exemplar e resolvi trazer aqui para mostrar ao Senado. Também pedi para, quando se produzir mais, trazer aos Senadores para que cada um possa ter um kit para poder experimentar o que é um azeite produzido já em terras brasileiras, já nas terras de altitude de Santa Catarina, que tem uma acidez mais ou menos das melhores, uma acidez baixa. E, naturalmente, vão me mandar, vão produzir isso, assim como temos as maçãs de qualidade, que também quero ver se trago para cá. Acho que isso aqui faz bem.

            Então, vou fazer algumas análises sobre este produto que começa a despertar em terras catarinenses e será interessante - acho - para o Brasil. Faço algumas análises, Sr. Presidente e nobres colegas.

            Mais recentemente - como disse, desde a época de Pero Vaz de Caminha já se anunciava isso no Brasil -, mesmo culturas que eram consideradas exclusivas de clima frio vingaram por aqui, com a qualidade de nosso solo e a força de nossos agricultores.

            Neste aspecto, Santa Catarina, por sua diversidade climática e geográfica, tem sido destaque nacional.

            Foi assim com a maçã, fruta de clima temperado que encontrou em nossa serra as condições propícias para sua produção - tanto é que o Estado responde por cerca de 60% de todas as maçãs colhidas no País. Hoje temos outras frutas de altitude com grande qualidade, como peras e nectarinas, especialmente em nossas colônias japonesas.

            Nos últimos anos, temos presenciado o desenvolvimento da produção de vinhos finos de altitude, com excelente qualidade. As condições de terreno e clima concedem um terroir, nos termos técnicos, ou seja, uma marca e sabor únicos ao vinho catarinense. Apesar de o volume produzido ainda ser relativamente pequeno, especialmente quando comparado ao vizinho Rio Grande do Sul, pioneiro na produção de vinhos finos, os catarinenses já têm arrebanhado títulos e troféus mundo afora por sua qualidade.

            Recentemente, tive o privilégio de ter em mãos amostras do primeiro azeite de oliva catarinense, que é esse que acabei de mostrar. Divido esta satisfação com os nobres. Recebi estas amostras em Chapecó, do Coordenador da Epagri na região, Valdir Crestani. O plantio de oliveiras é a nova cultura a despontar em nosso solo.

            A história da cultura da oliveira remonta aos tempos bíblicos e chegou ao Brasil séculos atrás, com os portugueses, espanhóis e italianos. Nas décadas de 1960 e 1970, foi desenvolvido um programa federal de fomento à cultura. Hoje ainda existem remanescentes de oliveiras nas Regiões Sul e Sudeste, com projetos mais avançados nos Estados de Minas Gerais e no Rio Grande do Sul.

            Mas o fato é que, atualmente, o Brasil importa 100% do azeite de oliva consumido. Foram 55,5 mil toneladas em 2010 - vejam a quantia: só no ano passado, 55 mil toneladas -, além de outras 79 mil toneladas de azeitonas em conserva, segundo informações do Conselho Oleícola Internacional. Pelos tão propalados benefícios à saúde trazidos pelo azeite, sua vasta utilização na culinária internacional e nacional, este produto milenar ainda terá grande aumento de consumo em nosso País.

            O Projeto Oliveiras, da Epagri - Empresa de Pesquisa Agropecuária e de Extensão Rural de Santa Catarina, teve início em 2005, recentemente, com o total apoio e incentivo do então Governador Luiz Henrique da Silveira, hoje nosso colega nesta Casa. Inicialmente, foram instaladas 18 unidades de pesquisa, espalhadas por todo Estado, abrangendo também diversas variedades de oliveiras.

            Algumas regiões destacaram-se mais, como é o caso de Caçador, Chapecó, Campo Erê e São Lourenço do Oeste. Outros Municípios também estão sendo avaliados com grande potencial, como Videira, Campos Novos, Ituporanga e Rio dos Cedros, com altitudes superiores a 500m acima do nível do mar.

            Com pouco mais de dois anos de pesquisa, foi extraído o primeiro azeite de oliva extra virgem totalmente produzido em nosso Estado, já com boa qualidade, conforme tenho demonstrado aqui. No ano seguinte, foi dado início ao processo de industrialização, com estudos de metodologias de preparo para azeitona de mesa. Os testes deste azeite, feitos no Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária da Argentina, revelaram excelente qualidade do azeite, com todas as análises dentro das normas do Comitê Oleícola Internacional.

            Ainda é cedo para falar em produção industrial, mas não tenho dúvidas de que ela virá. De acordo com o engenheiro florestal Dorli Mário da Croce, coordenador do Projeto Oliveiras, já existem produtores com pequenos plantios e muitos empreendedores com interesse em investir na cultura.

            Em suas previsões, dentro de cinco anos estaremos prontos para comercializar azeite de oliva totalmente catarinense.

            Há que se notar, ainda, um detalhe essencial no cultivo das oliveiras: esses produtores não serão meros extrativistas, que colhem os frutos e comercializam-nos, sem qualquer beneficiamento. A produção de azeite de oliva, bem como de azeitonas de mesa, exige tecnologia, processos industriais, que agregarão valor ao nosso produto.

            Trago este tema, nobres colegas, para destacar a importância do investimento em pesquisa agropecuária neste País tão rico, seja por meio da Embrapa ou das empresas de pesquisa estaduais.

            O mais importante órgão de pesquisa rural do País comemorou seus 38 anos de atuação e revelou dado exemplar: os investimentos públicos feitos pela empresa resultaram em lucro social de R$18,6 bilhões, apurado com base nos impactos de uma amostra de 110 tecnologias e 140 cultivares desenvolvidas pela Embrapa e seus parceiros - em especial as organizações estaduais de pesquisa - e transferidas para a sociedade.

            Quero ressaltar o cuidado que precisamos ter com nossos recursos hídricos e naturais, essenciais para o desenvolvimento de nossa atividade agropecuária.

            Lembro que, dentro de pouco tempo, estaremos votando o novo Código Florestal Brasileiro - eu até diria que nas próximas semanas, se assim houver esse entendimento nesta Casa -, que dará ao produtor as condições mínimas para o desenvolvimento de suas culturas, com a indispensável sustentabilidade socioambiental.

            Já votamos o Código na Câmara, o qual agora está em análise aqui nesta Casa. Acredito que, nas próximas semanas, teremos o senso de votarmos uma proposta que seja de sustentabilidade, que defenda a produção de alimentos e a sustentabilidade do meio ambiente.

            Então, nós, Senadores, estamos trabalhando nesse sentido para chegarmos a bom termo nessa decisão.

            Por fim, unidos, os vetores da pesquisa, da força de trabalho do brasileiro e da preservação ambiental, conseguiremos manter este País solo fértil para nossos mais ambiciosos projetos, assim como registrou Caminha há mais de 500 anos.

            Era o que tínhamos a analisar nesta tarde, defendendo este produto que começa a surgir em terras de altitude em Santa Catarina para o Brasil.

            Muito obrigado, Sr. Presidente, nobres colegas.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/06/2011 - Página 24770