Discurso durante a 105ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas à proposta de sigilo sobre os gastos públicos para a Copa do Mundo do Brasil de 2014. (como Líder)

Autor
Mário Couto (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PA)
Nome completo: Mário Couto Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Críticas à proposta de sigilo sobre os gastos públicos para a Copa do Mundo do Brasil de 2014. (como Líder)
Aparteantes
João Pedro.
Publicação
Publicação no DSF de 22/06/2011 - Página 24922
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CRITICA, PROPOSTA, GOVERNO FEDERAL, EXECUÇÃO, OBRAS, CAMPEONATO MUNDIAL, FUTEBOL, SIGILO, GASTOS PUBLICOS, DESRESPEITO, TRANSPARENCIA ADMINISTRATIVA, FACILITAÇÃO, CORRUPÇÃO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. MÁRIO COUTO (Bloco/PSDB - PA. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Senador Demóstenes Torres, antes de iniciar o meu pronunciamento, quero dizer a V. Exª que acredito nas suas afirmações.

            Tenho certeza de que, pelo seu caráter demonstrado nesses quatro anos em que milita nesta Casa, V. Exª não iria para Manaus para faltar com a ética a um colega. Tenho certeza disso. Tenho certeza de que as afirmações de V. Exª foram no sentido de mostrar a votação naquela noite. Inclusive, meu caro Senador, naquela oportunidade da votação, Senador João Pedro, eu chamei desta tribuna os Senadores amazonenses. Clamei, por várias vezes, a presença de V. Exªs aqui no plenário, pois tinham dito a mim que os Senadores amazonenses estavam no cafezinho. Eu aqui clamei: “Que venham os Senadores amazonenses defender o seu Estado”. Mas não vi. É verdade. E deve ser isso que o Senador Demóstenes Torres mencionou lá em Manaus.

            Mas, na fala da nobre, querida,...

            O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Eu falei nesse dia, Senador Mário Couto. Eu fui para a tribuna no dia da votação.

            O SR. MÁRIO COUTO (Bloco/PSDB - PA) - Mas na hora da votação V. Exª não estava aqui. É melhor ficarmos calados...

            O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Eu estava. Não, não. Eu estava, sim.

            O SR. MÁRIO COUTO (Bloco/PSDB - PA) - ...e deixarmos a coisa passar.

            O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Estava, sim.

            O SR. MÁRIO COUTO (Bloco/PSDB - PA) - É melhor, Senador.

            O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Eu não ouvi V. Exª. Eu não ouvi V. Exª. Quero dizer que eu fui para esta tribuna, aí mesmo.

            O SR. MÁRIO COUTO (Bloco/PSDB - PA) - É melhor não falar mais, senão eu vou alongar a discussão.

            O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Não, não. Se V. Exª quiser falar, fale. Eu estou aqui para ouvi-lo.

            O SR. MÁRIO COUTO (Bloco/PSDB - PA) - Eu vou alongar a discussão, Senador!

            O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Então, fale. Fale!

            O SR. MÁRIO COUTO (Bloco/PSDB - PA) - Senador, eu o chamei. Eu o chamei. Eu o chamei. Eu clamei: “Que venham os Senadores amazonenses votar em favor de seu Estado”.

            Na hora da votação eu olhei, e o senhor não estava aqui, Senador.

            Ai, Jesus Cristo! Ave Maria! Nossa Senhora de Nazaré, minha querida padroeira! É isso que acontece. É isso que acontece. Tem que obedecer às ordens do Palácio. E aí complica.

            Só quero deixar muito claro, Senadora... Senadora Vanessa? Senadora Vanessa? Eu a elogiei tanto hoje, Senadora. Desde que cheguei aqui, eu a estou elogiando, mas agora não vou poder fazer isso da tribuna.

            A senhora sabe, Senadora, quem foi que elogiou Fernando Henrique Cardoso por carta escrita? Eu li nesta tribuna poucos dias atrás. A senhora sabe quem foi? Sabe não, Senadora? Olhe para mim, Senadora. Olhe para mim, querida. Você é tão bonita. Olhe para mim. Olhe para mim, Senadora.

            Foi a Dilma. A Dilma reconheceu quem é Fernando Henrique Cardoso. Reconheceu em todos os seus méritos. Olhe que o Lula não queria, hein? O Lula foi, foi, foi, foi e jamais reconheceu! Jamais reconheceu! Eu aqui tive que elogiar a Dilma, porque ela teve um caráter muito forte em chegar aqui e reconhecer quem é Fernando Henrique Cardoso.

            Mas hoje, por exemplo, não vou poder elogiar a Dilma. Não vou poder elogiar.

            Aliás, Presidente Paim, quantos minutos eu tenho? São vinte?

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS. Fora do microfone) - V. Exª já utilizou quatro minutos. Restam 16 minutos.

            O SR. MÁRIO COUTO (Bloco/PSDB - PA) - Eu posso falar à vontade.

            Quando a Dilma, Srs. Senadores, diz...

            Olhe só, Senador, como é que está caminhando este País. Eu fico muito preocupado, Senadores. Muito preocupado com a Presidenta da República... Senadora Vânia, olhe aonde nós chegamos! Isso é uma vergonha, Senadora, para a nação. A Presidenta do Brasil vai à imprensa e declara que os gastos públicos da Copa serão sigilosos.

            Em que país do mundo inteiro, brasileiros e brasileiras, me diga, Brasil, em que país os gastos públicos são sigilosos?

            Estão dizendo por aí que foi um pedido do Ricardo Teixeira. Imagine! O Ricardo Teixeira atrasa propositalmente as obras da Copa do Mundo exatamente para se cair nesta condição, para que a roubalheira seja feita a vossa vontade! Do Ricardo Teixeira, Brasil! Isso é uma desmoralização à Pátria! Isso é uma desmoralização à Pátria!

            É terrivelmente ruim, Presidenta, é um mal exemplo, Presidenta, quando Vossa Excelência diz que não vai mostrar o que gastou; quando Vossa Excelência diz que não vai mostrar licitações; quando Vossa Excelência diz à Pátria amada que não vai mostrar os gastos públicos da Copa do Mundo, Vossa Excelência está dizendo à Nação: isso aqui está uma avacalhação, Nação! É isso que se imagina.

            Não bastassem aqueles gastos sigilosos da Presidência da República, agora a Nação vê estarrecida as afirmações da Presidenta da República!

            Nenhum, Mozarildo, nenhum Governo na história deste País, nenhum Presidente na história deste País, minha querida Vânia, nenhum chegou ao absurdo e à estupidez, Presidente, de dizer que os gastos públicos da Copa do Mundo são sigilosos, que a Nação brasileira não tem o direito de saber, que o povo brasileiro não tem o direito de saber, que aquele que paga os seus impostos devidamente em dia não têm o direito de saber como foi aplicado o seu dinheiro!

            O que deve estar pensando o povo brasileiro nesta hora? Que neste País tudo pode! Que este País não é sério! Que neste País a própria Presidenta da República esconde o que quer! A própria Presidenta da República não mostra a sua lisura, esconde essa lisura!

            E os tribunais? Onde estão os tribunais? O Lula desqualificou o Tribunal de Contas da União. A Dilma diz que acertou: “Eu acertei com o Tribunal de Contas da União.” Acertou o quê, Brasil? O que é que a Dilma acertou com o Tribunal de Contas da União? Acertou em não mostrar os gastos públicos, Brasil? É uma vergonha, é um mau exemplo.

            O que não deve estar dizendo o Pagot numa hora dessas? Ele deve estar dizendo: eu não te disse, Mario Couto, que não adiantava falar aí? Eu não te disse, Mário Couto, que quem tem razão sou eu, que é bom roubar neste Brasil?

            Já chegaram ao cinismo de me levarem para o Supremo Tribunal Federal quatro vezes, Senador, para calar a minha voz nesta tribuna. Já me mandaram para o Conselho de Ética nesta Casa para calar a minha voz nesta tribuna. Não vão calar. Jamais calarei. Irei até o último dia do meu mandato fazendo aquilo que o povo me atribuiu.

            Mas eu nunca pensei, sinceramente, nunca pensei em um dia vir à tribuna do Senado Federal para dizer que a Presidenta do Brasil está escondendo os gastos públicos. Reclamei aqui dos gastos de custeio, mostrei que a Senhora Presidenta da República gasta em sua casa, gasta em seu gabinete. Mostrei que a esposa do ex-Presidente tinha 106 sapatos. E eu perguntei, até me lembro, se era uma centopeia para usar tanto sapato. Mostrei que uma faixa de Presidente da República custa, neste País, R$50 mil, Brasil. Isso não é dado da minha cabeça não, Brasil. Isso é dado do Tribunal de Contas da União, da Fundação Getúlio Vargas.

            É inacreditável! Eu jamais pensei, Senadora, que uma presidenta de um país pudesse vir a público dizer que ela vai esconder, vai esconder os gastos. São bilhões, Brasil! Chega a bilhões, Brasil!

            O Ricardo Teixeira deve estar pulando de alegria. A Fifa já condenou esse senhor. Eu não sei por que, no Brasil, as pessoas que mexem com dinheiro público continuam ali naquele mesmo lugar e não saem nunca. Eu não sei qual é a proteção que essas pessoas têm tem, Senadora, porque são muito fortes. A Fifa denunciou esse senhor, e ele agora vem por trás de tudo... A idealização desse projeto de ocultar as despesas públicas é do Ricardo Teixeira. Eu não tenho nenhuma dúvida disso. Propositalmente, ele deixou as obras atrasarem para criar tipo uma emergência, criar uma estupidez. Criar uma afronta ao povo brasileiro. Criar uma desmoralização ao País. Aonde vamos chegar, meu caro Senador? Aonde vamos chegar?

            Desce um Senador da tribuna, e eu fiquei escutando atentamente o brilhante pronunciamento do Senador Demóstenes. E quanta coisa temos que falar, Senador. Querem dizer que o Brasil é um país em franco desenvolvimento, que a sociedade mudou e muda toda hora, e estão inventando coisas impressionantes, coisas que serão votadas aqui neste Senado, coisas de arrepiar o cabelo, Senadores, como, ainda há pouco, o Senador Demóstenes mostrou a todos nós.

            Sei que hoje há muitos oradores, Sr. Presidente, não vou me alongar. Mas desço desta tribuna, sinceramente, preocupado com a minha Nação. Como é que se chega ao ponto de dizer à própria Nação que os gastos, aquele dinheiro do imposto de cada cidadão brasileiro... Será feita a vossa vontade. Vai ser feito o que querem com o dinheiro.

            O povo brasileiro não vai ter acesso. Pelas palavras da Presidenta, nem os tribunais vão ter acesso. Vai-se fazer o que quiser. Se tiverem de dispensar licitações de milhares e milhares de reais, vão dispensar e dar a quem quiser. São sigilosos! Ninguém vai olhar! Nem Ministério Público, nem tribunais vão ter acesso!

            Nação brasileira, é esse o caminho que estão dando para ti, minha querida terra!

            Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/06/2011 - Página 24922