Discurso durante a 105ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas ao regime diferenciado de contratações proposto para as obras da Copa do Mundo de 2014 no Brasil. (como Líder)

Autor
Cyro Miranda (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/GO)
Nome completo: Cyro Miranda Gifford Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESPORTE.:
  • Críticas ao regime diferenciado de contratações proposto para as obras da Copa do Mundo de 2014 no Brasil. (como Líder)
Aparteantes
Flexa Ribeiro.
Publicação
Publicação no DSF de 22/06/2011 - Página 24950
Assunto
Outros > ESPORTE.
Indexação
  • CRITICA, MEDIDA PROVISORIA (MPV), CRIAÇÃO, REGIME ESPECIAL, LICITAÇÃO, OBRAS, CAMPEONATO MUNDIAL, FUTEBOL, APREENSÃO, DIFICULDADE, FISCALIZAÇÃO, INCENTIVO, DESVIO, FUNDOS PUBLICOS.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. CYRO MIRANDA (Bloco/PSDB - GO. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Acir, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, por mais boa vontade que tenhamos, é praticamente impossível acreditar que o novo Regime Diferenciado de Contratações - RDC, um intruso na Medida Provisória 527, trará benefícios ao uso do dinheiro público na realização da Copa do Mundo de 2014.

            A verdade nua e crua é que está armado um grande esquema para esbanjar o dinheiro do cidadão brasileiro, já punido diariamente por uma arrecadação recorde mês após mês.

            O histórico dos eventos internacionais recentes no Brasil depõe contrariamente a qualquer discurso de boas intenções realizado pelo atual Governo.

            Vejam que o precedente dos Jogos Pan-Americanos, em 2007, durante o governo Lula, é alarmante: houve aumento de quase 800% nos custos. De R$410 milhões, em 2002, a conta fechou em R$3,7 bilhões. É conta multiplicadora para Palocci nenhum colocar defeito!

            Sob sigilo, Copa e Olimpíada seguirão no mesmo caminho e irão muito mais longe. Será um banquete com o dinheiro suado do trabalhador brasileiro.

            O curioso e inexplicável é que o Brasil foi definido como sede da Copa de 2014 em outubro de 2007; mas, nesses três anos e sete meses, quase nada se fez.

            Por quê? Porque, ao que tudo indica e como está amplamente divulgado na imprensa, a inoperância e a ineficiência estão lado a lado, como de hábito, para patrocinar o campeonato de interesses escusos em que deve se transformar a Copa de 2014.

            E tudo deve ocorrer sob o manto do sigilo e sob o pretexto de preservar o Erário. Parece até que o Brasil, como nunca antes na história de outro país em todo o mundo, tornou-se à prova de wikileaks, e nenhuma informação mantida sob o sigilo do Governo e dos órgãos de controle irá vazar.

            Como bem observa a jornalista Eliane Catanhêde, no caso do Agente 007, o 00 significa licença para matar. No do RDC aprovado para a Copa e a Olimpíada, o RD é licença para roubar.

            Mas não é só o sigilo que coloca em risco a probidade e a austeridade no uso do dinheiro público, Srªs e Srs. Senadores. O RDC estabelece outros pontos polêmicos, como a possibilidade de aumentar o valor de um contrato sem limite, na mesma licitação. Hoje, pela lei, esses aditivos estão limitados a 25%, no caso de obras novas, e 50%, para reformas.

            Pode ser que não, Sr. Presidente, mas, pelo andar da carruagem, a Copa de 2014 será um megaevento no pior dos sentidos. A Copa de 2014 será uma porteira aberta para os desvios de recursos públicos.

            E para variar, o RDC está sendo aprovado por meio de uma medida provisória, a toque de caixa e sem o devido exame da matéria.

            Com certeza, cada voto favorável à Medida Provisória nº 527 contribui para o descrédito do Congresso Nacional perante a opinião pública.

            Nós temos o dever de nos colocarmos como contrapeso ao Poder Executivo, e não de convalidarmos medidas obscuras e carentes de um amplo debate.

            O Governo diz que o RDC é utilizado em outros países, mas por que, então, isso não foi divulgado de forma clara para a opinião pública? Que países são esses e quais as características de cada uma das leis? Será que elas foram copiadas como deveriam ser, se é que o foram, ou se fez um arremedo de modo a permitir um verdadeiro assalto aos cofres públicos, sob o manto da legalidade do RDC? Por que não se respeitou o Congresso Nacional nem se enviou um estudo detalhado e com a devida antecedência?

            Senador Flexa Ribeiro, quando juntamos as peças, não há como não pensar numa grande e ardilosa armação, um jogo torpe para superfaturar as obras e obter vantagens com o dinheiro do povo.

            Sr. Presidente, a sociedade brasileira tem assistido a tudo isso e, com certeza, não aprova a conduta nem do Poder Executivo, nem do Poder Legislativo.

            Observem que o Procurador da República, Athaíde Ribeiro Costa, Coordenador do Grupo de Trabalho Copa 2014, manifesta-se contrariamente ao Regime Diferenciado de Contratações Públicas - RDC.

            O nobre Procurador salienta que a preocupação aumentou nesta semana, porque, de acordo com matéria publicada no jornal Folha de S.Paulo, assinadas pelos jornalistas Felipe Coutinho e Fernanda Odilla, a Fifa passou a pressionar as cidades-sedes da Copa do Mundo de 2014 a cooperar nas licitações dos estádios e a contratar empresas patrocinadoras das entidade.

            Há uma apresentação em Power Point, em que a Fifa manifesta interesse na contratação da parceria ADM para a confecção de brindes, como bonés e chaveiros.

            Os documentos são assinados pelo Diretor de Marketing da Fifa no Brasil, Jay Neuhaus, num recado bastante claro: Ou a sede contrata a ADM, ou paga 17% de taxa de licenciamento, caso opte por outra fabricante.

            A Folha de S.Paulo também teve acesso a e-mail enviado em janeiro deste ano aos coordenadores das 12 cidades-sedes e assinados por Carlos de La Corte, Consultor do COL, em que é encaminhada carta do Diretor Geral de Marketing da Fifa, Thierry Weil, dizendo que a entidade considera que os produtos da Yingli Solar podem ser a melhor solução para a eficiência energética dos estádios da Copa.

            Tudo isso é de extrema gravidade, porque traz à tona um conluio para praticar crimes contra o Erário.

            Não! Nós não podemos admitir uma conduta dessa natureza, muito menos que se aprove o RDC, porque aí ninguém vai segurar mais as comportas abertas pelo superfaturamento e todas a sorte de artimanhas para favorecer empresas e grupos de interesse privado.

            Colocamo-nos, portanto, ao lado do Sr. Presidente do Ministério Público Federal, e registramos nosso protesto contra mais uma manobra que pretende, como tantas outras, ferir de morte o interesse público.

            Não ao RDC!

            Sim à transparência dos gastos públicos!

            O Sr. Flexa Ribeiro (Bloco/PSDB - PA) - V. Exª me permite um aparte?

            O SR. CYRO MIRANDA (Bloco/PSDB - GO) - Com todo prazer, Senador Flexa Ribeiro.

            O Sr. Flexa Ribeiro (Bloco/PSDB - PA) - Senador Cyro Miranda, V. Exª traz à tribuna um assunto da maior importância, que será debatido, mais proximamente, quando, por aqui, estivermos, como sempre, de forma apressada, sem uma análise mais detalhada, discutindo e votando a Medida Provisória nº 527. É lamentável e o próprio Presidente, nosso Presidente, José Sarney já deu uma declaração à imprensa dizendo que essa Medida Provisória não passará aqui no Senado com essa emenda ou com esse artigo que prevê as concorrências públicas já com a legislação não seguindo a Lei nº 8.666, flexibilizada, ainda agora com “segredo de Justiça” para que a sociedade brasileira não tenha conhecimento dos valores, como V. Exª bem destacou aí. Não vai muito longe o exemplo que esperamos não acontecer novamente, Senador José Pimentel, dos Jogos Panamericanos; apesar de licitados de forma transparente, depois ficou provado o desvio de milhares, de milhões, de centenas de milhões de reais naquelas obras. Estamos vendo agora que, lamentavelmente, o Governo do Presidente Lula só fazia ações midiáticas. Foi importante termos vencido a disputa para sediar a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, mas, como sempre, não houve planejamento. Agora, todos sabemos, e o próprio Deputado Romário, ex-jogador da seleção brasileira, já disse que só Deus para ajudar os brasileiros a não passarem vergonha na Copa de 2014. Nenhum brasileiro quer isso, mas o que está acontecendo é que isso, lamentavelmente, poderá vir a ocorrer. Deixo aqui o Estado do Pará como possível sub-sede da Copa, se algum Estado não cumprir as exigências. O Governador Jatene já disse que o Pará está de braços abertos para sediar os jogos. Espero que o Amazonas cumpra, que é nosso irmão da Amazônia, e que tenhamos duas sub-sedes na Amazônia, que representa 60% do nosso País. Então ter duas sub-sedes é mais do que justo para nossa região, já que o nordeste tem quatro sub-sedes. Vamos ver, Senador João Pedro, se a gente consegue trazer para o Pará a sede no lugar de algum Estado que não cumpra as exigências.

            O SR. CYRO MIRANDA (Bloco/PSDB - GO) - Muito obrigado, Senador Flexa Ribeiro, V. Exª tem toda razão e o que nos deixa muito triste é que, desde outubro de 2007, como disse, nós já sabíamos que a Copa do Mundo viria para cá.

            Então nós estamos procrastinando todas as decisões. Nada mais é do que uma medida provisória colocada já em 2007, para que, no afogadilho, então, com essa desculpa, a gente comece a aprovar qualquer tipo de despesa.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.

            Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/06/2011 - Página 24950