Discurso durante a 106ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Análise sobre a situação econômica do Brasil e alerta em relação ao que ocorre na Grécia. (como Líder)

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SOCIO ECONOMICA.:
  • Análise sobre a situação econômica do Brasil e alerta em relação ao que ocorre na Grécia. (como Líder)
Aparteantes
Antonio Carlos Valadares.
Publicação
Publicação no DSF de 23/06/2011 - Página 25284
Assunto
Outros > POLITICA SOCIO ECONOMICA.
Indexação
  • ANALISE, SITUAÇÃO, ECONOMIA NACIONAL, ATENÇÃO, PROBLEMA, IMPEDIMENTO, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, APREENSÃO, QUALIDADE, EDUCAÇÃO, BRASIL.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, o Ocidente inteiro tem uma dívida muito grande com a Grécia antiga. E nós, brasileiros, o Brasil, como parte desta civilização ocidental, também temos muitas dívidas com a Grécia antiga. Mas, de repente, acho que a gente começa a ter uma dívida com a Grécia de hoje. É a dívida de perceber os alertas que estão vindo da Grécia para nossos países.

            Os países europeus já despertaram para o risco às suas economias, em função daquilo que está acontecendo na Grécia. Nós também precisamos prestar atenção ao que está acontecendo naqueles países europeus.

            A crise na Grécia era invisível, imperceptível até há alguns anos. Um país que adquiriu uma moeda forte, como o euro; um país que foi capaz de fazer as Olimpíadas, como eles fizeram; um país que, de repente, pelos gastos públicos, pela incapacidade de desvalorizar e ajustar a sua moeda à realidade dos preços entre os diferentes países, fica amarrado ao euro, e seus preços, portanto, são os mesmos de todos os outros países, e cai o turismo e caem as exportações.

            Para completar, além da moeda supervalorizada, além dos gastos públicos elevados, fizeram manipulação das informações, Senador Valadares, durante anos. O povo grego não sabia a realidade dos gastos. Os organismos internacionais não sabiam a realidade da crise. De repente, caiu tudo!

            Nós estamos numa situação muito diferente da Grécia de hoje, mas a Grécia estava numa situação muito diferente da que está hoje há cinco, seis anos.

            Nossa economia hoje está bem, mas precisamos alertar: ela não vai bem. E a diferença entre estar bem e ir bem é que estar bem é uma análise conjuntural, do momento, e ir bem é uma análise estrutural, do futuro.

            A nossa economia, é claro que vai bem. Nós somos a sétima economia do mundo. Nossa economia vai bem. Nós temos tido crescimento sistemático de 4% ao longo dos últimos anos, entre 2003 e 2010. Nós não apenas crescemos o PIB, que chegou a três trilhões e quase setecentos bilhões de reais. Mais que isso, a renda do trabalhador brasileiro cresceu nos últimos anos, o que, às vezes, não acontece com o crescimento do PIB, em que só cresce a renda para alguns poucos, e não para os trabalhadores.

            A nossa economia, a gente pode dizer também que vai bem, porque não apenas cresceu o Produto Interno Bruto, a renda nacional, mas cresceu a renda per capita, ou seja, poderia ter acontecido diferente: o produto crescia, mas a população crescia mais ainda e a renda per capita não crescia. Ela cresceu no Brasil. Nós conseguimos - e é preciso aí louvar o governo do Presidente Lula - que o salário mínimo crescesse sistematicamente acima da inflação. Em função disso, nós podemos dizer que conseguimos. Hoje, há uma demanda crescente das classes C e D. Também podemos perceber uma demanda crescente da classe E, graças ao Bolsa Família, nascido do Bolsa Escola.

            Eu creio que, por tudo isso, a gente pode dizer que a economia vai bem, mas ainda dá para acrescentar algumas coisas. Por exemplo, nós temos risco de inflação, mas pequeno. A inflação não está nem alta, nem fora de controle. Nós temos um sistema bancário sólido, de acordo com todos os indicadores que a gente tem, inclusive com o Índice de Basiléia, que analisa os bancos de todo o mundo. Dá para dizer, sim, que a economia vai bem por diversos indicadores que nós temos. Apesar disso e mesmo com a moeda forte e sólida, que é outro indicador positivo que nós temos, apesar disso, dá para ficar preocupado, cada um de nós.

            E eu, ao mesmo tempo em que louvo a boa posição, quero fazer um alerta, nos mesmos moldes que alguns devem ter feito na Grécia de cinco, seis, sete anos atrás, e os alertas não foram atendidos.

            O primeiro alerta é no que se refere aos pontos que são positivos, mas carregam um pouco de dúvida. Por exemplo, nós temos uma grande exportação, apesar do real supervalorizado, mas nós estamos com déficit da balança comercial. E isso é muito preocupante. Isso pode levar, em algum momento, a uma queda da moeda brasileira com a desvalorização, que trará vantagens nas exportações, mas trará desvantagens dramáticas no nível de inflação.

            Temos uma moeda forte que não tem se desvalorizado. Ao contrário, tem se valorizado. Mas estamos já com indicadores de inflação. E a inflação continuando, a moeda cai automaticamente.

            Temos uma transferência de renda para a população pobre, que é um dos grandes indicadores, mas ela não é capaz de dar o salto para tirar os pobres da pobreza. Ela apenas dá renda aos pobres - o que já é uma coisa boa - que lhes permite comprar bens essenciais. Mas ninguém compra alfabetização com renda. Ninguém compra a escola do filho com renda, nas camadas pobres. Só os muito ricos podem pagar por isso. Ninguém compra um sistema de saúde bom com salário mínimo, com salários baixos. A prova é que a classe E tem melhorado, Senador Ataídes, mas a gente vê a tragédia da saúde todos os dias pela televisão.

            Esses são três itens preocupantes. Mas têm alguns que são bem mais, porque não há dúvida sobre eles. São os elementos que acendem uma luz pelo menos amarela para adiante.

            O primeiro deles - e o Senador Arruda até tocou nisso - é o caso do endividamento. Mas eu nem falo do endividamento em geral. Falo especificamente do endividamento das famílias brasileiras. Hoje, as famílias brasileiras estão endividadas, por 100 meses, algumas. E o grave é que, sem esse endividamento, a economia não cresce. Porque nós crescemos vendendo produtos para uma população que não tem renda suficiente para comprar, e a única forma é postergar o pagamento, por meio de empréstimo bancário. Esse endividamento é o risco do que aí fora se tem chamado de “bolhas”, que explodiram nos Estados Unidos no setor imobiliário e, aqui, podem explodir no setor dos bens de consumo.

            É preciso estar alerta ao grau de endividamento das famílias. Mas não só isso: é preciso estar alerta também ao grau de endividamento das empresas brasileiras. E aí há dois tipos de endividamento. O endividamento positivo para investir, que é ameaçador, mas é positivo, é um risco necessário. Mas tem um outro: é o endividamento para pegar dinheiro lá fora e especular aqui dentro na taxa de juros alta.

            Essa é uma ameaça estrutural.

            A outra é a taxa de juros, mas não sejamos simplistas, como alguns são ao dizerem: “A taxa de juros está alta, vamos baixar a taxa de juros para evitar esse problema”. Há uma relação estrutural que define a taxa de juros. A taxa de juros não é fruto apenas da vontade do Banco Central ou dos donos dos bancos ou do Governo, que é dono do Banco do Brasil. Não! A taxa de juros tem a ver com o excesso de endividamento. A taxa de juros tem a ver com o nosso consumo elevado que exige endividamento e que faz subir a taxa de juros. Não tem jeito de baixar a taxa de juros quando todo mundo está querendo pegar dinheiro emprestado, como acontece hoje o povo brasileiro. Esse é um ponto perigoso.

            E a taxa de juros também é relacionada a outro aspecto em que se precisa acender uma luz amarela, quase vermelha, que são os gastos públicos. E os gastos públicos têm que ser analisados, pois são de dois tipos: tem o gasto público para investimento, que traz vantagens; agora, tem o gasto público para custeio, que traz vantagem apenas imediata, dinamizando a demanda. Agora, os gastos em investimos com portos, estradas, escolas, universidades, hospitais, esses gastos de investimentos trazem benefícios permanentes, mas o custeio traz benefícios apenas momentâneos, conjunturais. Parte da boa situação da economia brasileira hoje se deve aos gastos públicos, mas são benefícios conjunturais.

            Nós temos que analisar também o problema da nossa infraestrutura. Esse é um gargalo que só será superado quando tivermos grandes investimentos do setor público. Esses grandes investimentos do setor público só serão viáveis quando tivermos uma relação da renda pública com custeio menor que com investimento. Nós temos que tomar cuidado, porque a infraestrutura pode inviabilizar a continuidade da boa situação em que está a economia brasileira, mas em que não anda a economia brasileira, porque ela anda sobre as estradas, sobre os portos, sobre as universidades.

            Nós temos um problema sério de burocracia que atrapalhará e inviabilizará a continuidade da economia brasileira. Temos que quebrar essa máquina burocrática que dificulta cada ação para dinamizar a economia, mas temos de ter cuidado para não destruirmos a burocracia em troca de destruirmos também as regras, os sistemas de controle, os segredos que estão querendo quebrar, para que se possam fazer mais rapidamente os estádios de futebol. Quebra a burocracia, mas quebra a transparência e “desinstitucionaliza” os investimentos. Isto é um problema: como ter instituições sem burocracia, que dê tranquilidade ao funcionamento da economia, sem amarrá-la, impedindo que ela cresça.

            Temos o problema da corrupção. É difícil manter uma economia crescendo por muito tempo se grande parte do dinheiro público, e mesmo do dinheiro privado, vaza e sai do sistema sob a forma de corrupção, que serve para aumentar a bolha, inclusive como forma de lavagem de dinheiro, que não traz rentabilidade e dinâmica. A corrupção é um entrave que o Brasil precisa perceber como uma luz muito forte de alerta para o risco de uma economia, que está bem, começar a ir mal.

            Temos o problema do corporativismo, em que cada um defende o seu e ninguém defende o de todos. Cada setor quer crescer, seja na defesa de salários, seja na defesa de lucros, seja na defesa de rendas, e ninguém quer abrir mão para um bem comum de toda a economia brasileira. O corporativismo, que divide a República brasileira em uma quantidade de “microrrepúblicas”, é uma ameaça à continuidade do estado em que a economia está hoje. Esse corporativismo é capaz de fazer com que a economia, que está bem, vá mal daqui a algum tempo.

            Temos o problema da inflação. Felizmente, os indicadores mensais estão demonstrando uma redução da sua tendência de crescimento, mas é preciso lembrar que essas tendências são, às vezes, sazonais. Elas são reflexos daquele mês, que naturalmente, a cada ano, apresenta indicadores menores. Não dá para comemorar plenamente a redução das taxas de inflação desses meses, embora devêssemos tomar isso com certo alívio, porque tragédia seria se estivessem crescendo.

            Temos o problema sério da carga fiscal. Manter o crescimento da economia com quase 40% de receita fiscal - e essa receita gasta em custeio - é uma ameaça, um alerta, uma luz quase vermelha, tanto porque provoca inflação, quanto porque mantém a taxa de juros elevada, como também porque impede que o dinheiro vá, como deveria, para construir a infraestrutura.

            Temos um problema seriíssimo: a história brasileira é uma psicologia coletiva brasileira do problema da alta preferência nossa, do Brasil, por consumo, deixando de lado a inflação, diferentemente de muitos países. A China chegou a poupar 40% da renda. O Brasil não consegue poupar 20%. E quem não poupa em sua casa sabe dos problemas que vai ter adiante. O país que não poupa tem os mesmos problemas que tem uma família que não poupa. A família que não guarda dinheiro é o país que não guarda dinheiro - não guardar no colchão, mas guardar investindo, guardar produzindo.

            Temos o problema sério da desigualdade. Mesmo que se diga que hoje a desigualdade é menor que há alguns anos - e pode até ser -, tudo indica que a desigualdade brasileira diminuiu menos que em quase todos os outros países. Essa é uma tendência recente, felizmente, dos últimos anos: uma ligeira diminuição da renda. Primeiro, o Brasil comemora ser um dos últimos e não ser o primeiro. Jamais o Brasil comemoraria sua posição na redução da desigualdade, se a nossa seleção de futebol estivesse na mesma posição na Copa do Mundo, quando só comemoramos quando somos campeões. Na desigualdade, estamos comemorando não ficarmos fora da Copa, termos passado pelas eliminatórias, mas sem termos uma posição igual a de outros países. Mais grave ainda: estamos falando de desigualdade de renda, mas não estamos falando de redução de desigualdade da saúde, de redução de desigualdade da educação, de redução de desigualdade do transporte público, comparando com os outros. Essa desigualdade é grave.

            Presidente, guardei por último, de propósito, o que sempre falo. A educação é um gargalo que pode inviabilizar o crescimento brasileiro daqui a alguns anos. Até o séc. XIX, era possível crescer sem precisar de boa educação. Bastava ter terra fértil e a gente exportava as nossas, como hoje chamamos, commodities. Bastava terra fértil e escravos; depois, terra fértil e imigrantes pobres; depois, terra fértil e máquinas colheitadeiras. Hoje, não! Hoje, para uma economia ser sólida e estável, ela tem que exportar bens de alta quantidade de inteligência, ela tem que exportar produtos de alta tecnologia. E produtos de alta tecnologia só são viáveis em um país quando há educação boa para todos. Essa educação boa para todos permite uma boa educação para alguns na universidade e essa universidade boa permite grandes centros de ciência e tecnologia, casados com o setor industrial, criando novos produtos. Não há futuro, por melhor que esteja hoje a economia, para a economia ir em frente, se não formos capazes de dominar ciência e tecnologia, a serviço da economia.

            Nesta semana, eu vi - não consegui identificar a fonte - que uma fábrica de tablets, esses novos computadores que a gente usa por aí, deixou de vir para o Brasil por falta de engenheiros na quantidade que se precisava, na quantidade e na qualidade. Como foi com os tablets, isso é em quase tudo. Hoje, nós importamos os remédios de qualidade, os equipamentos de saúde de qualidade. Hoje, nós importamos tudo que exige alta quantidade de inteligência ali dentro. Até com os aviões da Embraer, essa maravilha da indústria brasileira que tanto nos orgulha, grande parte dos mais sofisticados componentes, aqueles que exigem mais inteligência, é importada. Pode-se dizer que isso é resultado da globalização, mas por que os outros países globalizados importam nossos produtos primários e nós importamos os produtos de alta tecnologia?

            Lembro, para deixar como uma coisa bem concreta, que este País, que deixa de receber fábrica de tablets, computadores modernos, por falta de engenheiro, tem uma das maiores conquistas de sua história, que é o Instituto Tecnológico da Aeronáutica, com o seu futuro, de certa maneira, arranhado, porque os seus professores vão se aposentar e a gente não está vendo dinheiro suficiente para contratar novos.

            O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco/PSB - SE) - V. Exª me concede um aparte, Senador?

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Darei em um minuto.

            Mais grave que isso: por causa do corporativismo deste País, hoje, é difícil contratar professores para o ITA, porque ganha-se muito mais em outros setores da economia. Outros setores da economia, que prefiro nem citar, pagam salários muito superiores aos dos professores do ITA. Basta dizer, para que vocês vejam quais são os setores que conseguem atrair os melhores, que o salário de um professor hoje do ITA, lá em cima, não deve chegar a R$8 mil, R$10 mil. E a gente tem setores da economia pública brasileira que ganha R$18 mil, como primeiro salário, não raro R$23 mil. O de um professor do ITA dificilmente chega a R$10 mil.

            Tudo isso - e vou passar o aparte ao Senador Valadares - mostra que a economia brasileira está bem, mas não vai bem. Ela está bem do ponto de vista de hoje, na conjuntura; ela não vai bem do ponto de vista do futuro por razões estruturais. E o que estou fazendo aqui hoje, de certa maneira, é uma continuação do que fez o Senador Pedro Simon do ponto de vista da política. Ele fez alertas à Presidenta Dilma, do ponto de vista da ética no seu Governo, do ponto de vista das decisões do seu Governo, politicamente; eu estou fazendo esse alerta do ponto de vista da economia. E o faço com a tranquilidade de quem pertence ao bloco de apoio, porque o bom apoiador é aquele que alerta dos riscos que sofre o governo que ele apoia.

            Essa é a minha fala, Sr. Presidente, mas eu gostaria, com muito prazer, de dar um aparte ao Senador, que representa tão bem uma parte do meu Nordeste, Senador Valadares.

            O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco/PSB - SE) - Com a anuência do nosso Presidente, eu gostaria, em primeiro lugar, de dizer que o discurso de V. Exª, como sempre, é um discurso focado na substância, na verdade, na eloquência e, acima de tudo, no compromisso que tem V. Exª com o Brasil. Compreendo que as suas palavras vêm ao encontro de toda a sociedade brasileira no sentido de que nós aqui, da base, devemos apoiar o Governo naquilo que for essencial ao nosso País, mas também alertar o Governo, e V. Exª o faz com muita propriedade, quando afirma que há técnicos, em determinados setores, faltando para a implantação de indústrias em nosso País. No que se refere ao tablet, ou seja, ao iPad que será implementado, construído aqui no Brasil, não há nenhum fator impeditivo. Já foram contratados, segundo informações do próprio Ministério da Ciência e Tecnologia, Senador Mercadante, 175 engenheiros, que foram fazer estágio, um treinamento lá na China. Agora, há necessidade de mais 200 engenheiros. Daí que a fábrica, de nome de Foxconn, a fim de fazer essa indústria, vai ter a necessidade de mais técnicos, de mais engenheiros, e por isso adiou a implantação da fábrica do mês de julho para o mês de setembro. Mas não vai o Brasil deixar de ganhar essa fábrica. Portanto, acho que o futuro depende muito justamente da montagem de uma estrutura nas universidades, na pesquisa, nas escolas do Brasil inteiro, particulares e públicas, dando prioridade à formação de técnicos nas mais diferentes áreas: área de informática, de engenharia, de mecânica, de química, de física, enfim, todas essas carreiras técnicas que exigem do Brasil muito esforço, muito trabalho, muito dispêndio financeiro e compromisso com o futuro. Por isso, parabéns a V. Exª. Na próxima terça-feira, não só o PSB, mas também o PDT estará junto com a Presidenta Dilma, e lá V. Exª terá a oportunidade de enfocar pessoalmente esse assunto tão importante da preparação do futuro para o Brasil tecnológico, o Brasil da modernidade.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Senador Valadares, quero agradecer muito, porque eu próprio tinha dito que ouvi falar que a empresa não estava fazendo o projeto por falta de engenheiro e que eu ia buscar as fontes. O senhor confirmou, apenas lembrando que é um adiamento, por enquanto. Mas, de qualquer maneira, é fato.

            O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco/PSB - SE) - Foram contratados 175 engenheiros, que foram à China fazer o estágio, o treinamento, a qualificação.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Mas ainda faltam 200, não é isso?

            O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco/PSB - SE) - Ainda são necessários 200 engenheiros. Naturalmente que a empresa vai encontrar e vai conseguir formular o seu projeto.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Mas, veja bem: primeiro, confirma que de fato há esse problema; segundo, estamos mandando para a China? Faz 30 anos a China estava muito atrás do Brasil. Agora mandamos para a China? Ou mandamos para a Coreia, que 30 anos atrás estava saindo de uma guerra, estava muito atrás do Brasil? Ou vamos mandar para a Irlanda, que 20 anos atrás estava muito atrás do Brasil?

            O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco/PSB - SE) - A fábrica é da China, Senador.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Muito bem. A China, então, é capaz até de inventar o produto.

            O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco/PSB - SE) - É claro. A China está muito acima...

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Muito acima de nós. Mas 30 anos atrás ela estava atrás. Quarenta anos atrás, a Coreia estava saindo de uma guerra, com tudo desarticulado. Hoje eles inventam também os produtos.

            Primeiro, nós não inventamos um tablet, não conseguimos. Nós vamos fabricar aqui um chamado qualquer coisa em chinês. Não vai ter um nome brasileiro. Como nossos carros; não há um carro brasileiro, com nome brasileiro. Ou com nome coreano. A gente não inventa o produto.

            E até mesmo engenheiros temos de mandar serem treinados, porque não estão prontos. Além disso, vamos falar com franqueza: 170, 300, 500, 1000, 5000 engenheiros para um país de 200 milhões de habitantes não é nada, Senador Valadares!

            É muito pouco! A gente não fez o esforço, e faz muito mais de vinte anos que tem gente dizendo que isso vai acontecer.

            Este discurso pode ser o primeiro meu, mas quantas pessoas vêm alertando que isso vai acontecer? Por que a índia descobriu, a Coreia descobriu, a China descobriu e começaram a investir em educação, a formar a mão de obra, e a gente não o fez? Agora, a gente está correndo atrás do prejuízo, mas do prejuízo para formar o técnico que vai montar as peças, e não para formar o cientista que vai inventar o produto. Nós não temos nem como imaginar inventar esses produtos hoje, daqui a dez, quinze ou mesmo vinte anos, a não ser com uma revolução na educação o que espero que seja possível.

            Pois bem, o que estou fazendo é o que alguns vêm fazendo há muitos anos: alertando. E lembre-se de que deixei a educação por último. Antes disso, eu li, exatamente, creio que quinze itens que ameaçam o futuro da economia brasileira. A educação é um deles, mas os outros - nesse tempinho eu concluo -, só para citar, são: o endividamento das famílias, o endividamento das empresas, a dívida do setor público, os gastos públicos, as limitações da infraestrutura, a institucionalidade, a burocracia, a corrupção, o corporativismo, a inflação, a carga fiscal, a baixa poupança e a desigualdade.

            São luzes amarelas acendendo diante de nós. Temos condições de desarmar todas elas, se nós as vemos. Quem não vê o sinal amarelo não consegue parar o carro. Por favor, vejamos que há sinais amarelos que podem ficar vermelhos em pouco tempo e parar uma coisa tão boa que temos tido, que é uma boa economia brasileira, que está bem, mas que não vai bem.

            Era isso, Sr. Presidente.


Modelo1 6/16/243:24



Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/06/2011 - Página 25284