Discurso durante a 106ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Manifestação sobre as festas de São João no Nordeste, as chamadas "festas juninas", uma tradição muito forte na região.

Autor
Antonio Carlos Valadares (PSB - Partido Socialista Brasileiro/SE)
Nome completo: Antonio Carlos Valadares
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ECONOMIA POPULAR.:
  • Manifestação sobre as festas de São João no Nordeste, as chamadas "festas juninas", uma tradição muito forte na região.
Aparteantes
Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 23/06/2011 - Página 25289
Assunto
Outros > ECONOMIA POPULAR.
Indexação
  • REGISTRO, INICIO, FESTA, PERIODO, JUNHO, TRADIÇÃO, REGIÃO NORDESTE, IMPORTANCIA, MOVIMENTAÇÃO, ECONOMIA POPULAR.

                          SENADO FEDERAL SF -

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            O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (Bloco/PSB - SE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Cristovam Buarque, na sapiência que lhe é peculiar, analisando a situação do Brasil, reconheceu que o nosso País vai bem. Apenas ele disse que está bem, mas não vai bem.

            Eu digo de outra forma. Acho que o Brasil vai bem, mas precisa melhorar. Esse é o esforço que nós todos devemos fazer, o Governo da Presidenta Dilma, no intuito de colocar no Brasil uma estrutura de ensino adequada e capaz de oferecer, no futuro, tudo aquilo de que nós precisamos para desenvolver na ciência e na tecnologia.

            Esse esforço precisa ser desenvolvido a cada dia do nosso governo.

            O Brasil melhorou? Sem dúvida alguma. Avançou em vários aspectos, principalmente no aspecto social. Aquela dívida social tremenda que nós tínhamos, de milhões de pessoas passando fome e vivendo na miséria, hoje, nós podemos dizer que, com os programas de distribuição de renda que foram feitos no Brasil, que estão sendo executados e outros novos surgindo, como o Brasil Sem Miséria, estão recompondo aquela solidariedade que sempre foi uma qualidade do brasileiro. A solidariedade ao ser humano. A solidariedade a todos aqueles que, direta ou indiretamente, poderiam e, no entanto, por motivos sociais, não estão participando ativamente do crescimento do nosso País, os chamados miseráveis.

            Portanto, Senador Cristovam Buarque, concordo com V. Exª em gênero, número e grau, que o futuro do Brasil depende disto, do investimento no setor educacional, com foco nas condições das universidades, para que as pesquisas sejam fomentadas, para que as novas escolas técnicas que estão surgindo, surjam ainda mais, para que haja uma expansão universitária ainda maior do que já houve no governo do Presidente Lula. Lá, no próprio Estado de Sergipe, nós já temos a expansão da universidade federal para os Municípios do interior. Hoje, podemos dizer que, futuramente, dentro em pouco, médicos que antigamente só se formavam na capital, agora vão se formar também no interior do Estado. Professores que só poderiam ter o seu diploma universitário na capital, agora já podem obter esse direito no interior. Isto é, descentralizando o setor educacional e também melhorando a qualidade do ensino em todo Brasil. Isso é um esforço desenvolvido pelo Governo no intuito de preparar o futuro. Mas ainda não chegamos lá. V. Exª tem razão.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - Permita-me, Senador. Só para dizer que estou totalmente de acordo. Aceito até mudar a minha expressão: “o Brasil está...” - o Brasil não, eu falei economia. “A economia está bem, mas não vai bem”, pelo que V. Exª disse. “A economia está bem e pode melhorar”, eu aceito. Com um detalhe, a gente só melhora quando a gente fala, diz o que é que vai mal.

            O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (Bloco/PSB - SE) - Correto.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - Se a gente não identifica as luzes amarelas antes de ficarem vermelhas, a gente não melhora. O que eu tentei fazer foi, na linha do que V. Exª disse, o Brasil vai bem e precisamos melhorar. Eu quis alertar para alguns pontos sem cujo enfrentamento nós não continuaremos indo bem. No mais, estamos de acordo.

            O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (Bloco/PSB - SE) - V. Exª não tenha receio, porque as suas palavras sempre são levadas em conta por aqueles que pensam no melhor para o Brasil, inclusive eu. Estou inteiramente de acordo com que devemos sempre refletir, devemos sempre procurar atualizar o nosso pensamento e devemos sempre alertar o Governo, o nosso Governo, o Governo que nós apoiamos, para melhorar substancialmente a sua qualidade. E a qualidade passa por isso a que V. Exª se referiu em seu brilhante discurso.

            Mas eu gostaria de falar, Sr. Presidente, sobre aquilo já é um evento, não digo nordestino, mas nacional. A partir de hoje, muitos Senadores já se deslocaram para os seus Estados, notadamente para o Nordeste, onde irão, como eu irei dentro em pouco, participar do nosso tradicional São João.

            As festas juninas são uma tradição muito forte do Nordeste do Brasil. Em toda a região, a perspectiva dessas festas transforma as cidades e o espírito das pessoas, que, vivendo em um clima árido, mantêm o hábito de agradecer anualmente a São João, bem como a São Pedro e a Santo Antônio, pelas chuvas caídas nas lavouras.

            De fato, a afinidade com essas festas está profundamente arraigada na nossa alma. Muitos nordestinos que residem fora de seus Estados costumam economizar dinheiro, comprar presentes e voltar com eles para sua cidade natal, na época das festas juninas, a fim de comemorar os Santos.

            No Nordeste, é comum que nordestinos peçam licença ou ofereçam-se para trocar o período do Natal por alguns dias de folga em junho ou ainda negociem suas férias para gozá-las no meio do ano e poderem estar presentes às festas juninas em sua terra. O mês de junho é um mês de refluxo migratório, e as companhias de transporte rodoviário e aéreo atestam esse fato.

            Na opinião de Rita Amaral, Doutora em Antropologia Social pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, “pode-se dizer que a importância dessas festas para as populações nordestinas e nortistas ultrapassa a do Natal, principal festa cristã, e que elas são, historicamente, o evento festivo mais importante dessas regiões, tanto cultural como politicamente”.

            O ciclo das festas juninas gira em torno de três datas principais: 13 de junho, festa de Santo Antônio; 24 de junho, São João; e 29 de junho, São Pedro. Durante esse período, o País - principalmente o Nordeste - fica praticamente tomado por festas. De norte a sul, comemoram-se os santos juninos com fogueiras, comidas típicas, música, dança, fogos de artifício. Em razão de ser a época da colheita do milho, as comidas feitas com esse cereal, como a canjica e a pamonha, destacam-se no cardápio dos festejos do Nordeste.

            Afora a sua importância cultural, política e social, as festas juninas têm - como se pode perceber pelos números apresentados acima - um papel muito relevante ao movimentar a economia dos Municípios onde são realizadas, beneficiando as populações locais. Toda a região Nordeste se mobiliza para essa grande festa.

            Os festejos colaboram para o desenvolvimento e a promoção do turismo nacional, além de contribuírem para a geração de novos empregos e ocupações e também para a valorização do patrimônio cultural, natural e social. Como os Estados da região atraem um expressivo fluxo turístico que busca o sol e as praias nos meses de verão, as festas juninas contribuem fortemente para reduzir os efeitos sazonais que implicariam, não fossem esses eventos, baixa ocupação da rede hoteleira no mês de junho.

            Em centenas de cidades nordestinas, os festejos juninos movimentam mais gente que o famoso carnaval brasileiro.

            Os arraiais, em alguns Municípios do interior, são confraternizações de dimensões relativamente modestas, mas, em outros, já se consolidaram como mega eventos, que competem entre si e propagam o espírito da festa pelo País afora, chegando a reunir, em alguns casos, até dois milhões de turistas ao longo de um só mês.

            O circuito junino do Nordeste é hoje uma atração muito procurada, que atrai brasileiros de todas as outras regiões. Caruaru, em Pernambuco, e Campina Grande, na Paraíba, disputam o título de maior festa do País. A primeira é conhecida como a “Capital do Forró”, ao passo que a segunda proclama a sua festa como “o maior São João do mundo”.

            Já o pequenino Estado de Sergipe, onde as festas juninas também são um evento especial e o primeiro de todos, um grande cantor, conhecido por Rogério, apelidou uma das festas realizadas em Areia Branca, a nossa festa realizada no Estado de Sergipe, como “o país do forró”. A partir de Rogério e de Areia Branca, quando administrava aquele município o Prefeito Souza, Sergipe ficou conhecida em todo o Brasil, no setor turístico, como “o país do forró”.

            O meu querido Estado não fica atrás: lá, os santos juninos são intensamente celebrados. A principal característica que destaca a nossa festa é uma extraordinária diversidade, fazendo-a ser considerada por muitos como o melhor São João do Brasil. Eu mesmo considero. E não é bairrismo.

            Cada cidade sergipana celebra as datas com características muito próprias. É um espetáculo variado de cores e sabores para agradar todos os gostos. Uma grande festa gastronômica segue paralela às músicas e às danças. Os espetáculos pirotécnicos, outra tradição do ciclo junino, continuam vivos em Sergipe, talvez o único Estado brasileiro a conservar esse ritual em todas as etapas. Brincadeiras, grupos folclóricos desfilando nas ruas, muito xote, xaxado e baião, ritmos musicais genuinamente nordestinos, comida típica da melhor qualidade, paz e harmonia.

            Quem passa os festejos juninos em Sergipe nunca esquece. A cada ano, o Forró Caju, realizado nos mercados, e a Vila do Forró, que acontece na orla de Atalaia, atraem milhares de pessoas para os festejos em nossa bela capital, Aracaju.

            Lá, o primeiro dia de junho é recebido com uma salva de fogos de artifício, e, a partir daí, a festa começa. Na rua São João, no bairro Santo Antônio, acontece a tradicional troca de mastro, campeonato de quadrilhas e muito forró.

            Simultaneamente, os espetáculos multiplicam-se em outros pontos da cidade: no forródromo em frente ao Mercado Municipal, no Gonzagão e no Centro de Criatividade se concentra grande parte da população para assistir ao vivo shows de artistas regionais e concursos de quadrilha.

            Nas cidades do interior de Sergipe, os festejos juninos têm atrativos peculiares e fascinantes. Em Estância, ocorre a batalha de espadas, o barco de fogo e busca-pés. Em Capela, terra do meu querido amigo Sukita, onde o auge da festa coincide com o dia de São Pedro, é realizada a tradicional Festa do Mastro.

            A Festa do Caminhoneiro, realizada no período de 12 a 14 de junho, na cidade de Itabaiana - nacionalmente conhecida como capital nordestina dos caminhões -, ocupa um lugar de destaque no calendário nacional do setor, com um público médio de mais de 100 mil pessoas durante o evento. Há 40 anos, os caminhoneiros se reúnem para homenagear o santo padroeiro da cidade e comemorar o Dia do Caminhoneiro com shows artísticos, gincanas e desfiles de caminhões. A Feira Nacional do Caminhão representa papel de excelente vitrine para a exposição de produtos e serviços ligados ao setor de transporte de cargas.

            Em cidades como Cristinápolis, Poço Verde, Indiaroba, Tobias Barreto e em tantas outras cidades, talvez de menor porte, como Simão Dias, Pinhão, Pedra Mole, Carira, São Domingos, em todos os lugares, em todos os recantos, o São João é lembrado como a sua maior festa, como o seu grande evento festivo. Em Pacatuba, há o tradicional São João com fogueiras em toda a cidade, forró pé de serra, passando de casa em casa, e shows na praça principal. Muribeca comemora seu São Pedro com uma grande festa.

            As celebrações juninas em Sergipe são caracterizadas por muita festa, comida e alegria. Há mais de 80 anos, Santo Antônio, São João e São Pedro são festejados nos quatro cantos do Estado, entre fogos, balões, fogueiras, quadrilhas, forró, muita comida e bebida típica. Uma tradição que se fortalece a cada ano e todos contagia. Por sua extraordinária diversidade, o São João sergipano pode ser considerado um dos mais ricos do País, oferecendo a mais ampla gama de atrativos para satisfazer o interesse de todos os visitantes.

            Evidentemente, a festa possui importância, também, para a economia do Estado.

            A Secretaria de Turismo, recentemente recriada pelo nosso Governador Marcelo Déda, por meio da Emsetur, previa que, durante o mês de junho, chegassem a Sergipe para aproveitar os festejos juninos cerca de 400 mil turistas. A seccional sergipana da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis esperava que a lotação nos dias próximos a São João e a São Pedro chegasse a quase 100%.

            Ninguém sabe precisar quanto o São João movimenta a economia de Sergipe, mas alguns dados revelam que as transações comerciais têm um incremento significativo nessa época. Prova disso é o aumento do consumo de combustíveis e até do gás de cozinha, meio essencial para que o sergipano leve à mesa as tradicionais comidas juninas, como a pamonha, a canjica e o milho cozido. Até no mercado imobiliário da cidade de Capela, onde a festa de São Pedro ocorre há mais de 70 anos, observa-se um forte aquecimento nesse período, com grande elevação nos valores dos aluguéis.

            O impacto do São João no comércio sergipano é, portanto, difícil de mensurar, haja vista que boa parte das transações é informal, como aquelas realizadas pelos pequenos produtores de milho e amendoim, as relativas ao trabalho das costureiras, das doceiras e dos trios pé de serra. Mas junho é um mês de boas vendas em vários segmentos, e, consequentemente, isso melhora a arrecadação do ICMS. Importa ressaltar, ainda, que o São João tem maior capacidade de internalizar os recursos do que outros eventos e que a festa não está centralizada apenas na capital, criando um movimento de turistas dentro do próprio Estado.

            A expectativa dos comerciantes sergipanos era de que o aumento de consumo ocasionado pelos festejos juninos levasse a um crescimento expressivo nas vendas deste ano em relação ao ano passado. Além do setor de roupas e calçados, a venda de comidas típicas, bebidas, fogos, fogueiras e artigos de decoração aquece a economia. No Ceasa sergipano, as vendas chegam a crescer 40% em relação a maio, sendo o milho o carro-chefe. Além dele, outros produtos, como o amendoim, a castanha, a laranja e as tradicionais fogueiras, também têm suas vendas aumentadas. Com efeito, Sr. Presidente, Srs. Senadores, o São João é uma festa que dá alegria - mas também dá alegria aos comerciantes - e promove o crescimento da nossa economia.

            A longa tradição de homenagear os santos juninos, que na verdade remonta ao período colonial, deitou profundas raízes na alma do povo nordestino. Os festejos, que sempre contaram com o decidido engajamento das comunidades locais, passaram a adquirir, no período mais recente, características de grandes eventos, atraindo enorme público, oriundo inclusive de todas as demais regiões do Brasil.

            Nesse contexto, à grande importância cultural, política e social que as festas juninas sempre tiveram passou a somar-se um significativo papel na economia local e regional. Hoje, esses festejos movimentam toda a cadeia produtiva de Municípios onde se realizam, gerando emprego e riqueza para a população.

            Por fim, nessa medida, as festas juninas do Nordeste merecem o apoio decidido não apenas dos governos locais, mas também da Administração Federal, por intermédio dos Ministérios da Cultura e do Turismo, que se devem fazer presentes com apoio, assistência técnica para realização e divulgação dos eventos, bem como no apoio à articulação com agentes privados que possam atuar como patrocinadores.

            Concedo um aparte, com muito prazer e alegria, ao Senador Cristovam Buarque. Sei que V. Exª já ia se retirando, mas resolveu ficar para ouvir o meu discurso. Muito obrigado. Eu lhe concedo um aparte com muita alegria.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - Eu fiquei como pernambucano e, também, para dizer que, hoje, o Distrito Federal é uma região em que há uma quantidade de festas juninas que surpreende qualquer um de fora do Distrito Federal, Senador Ataídes - o senhor não imagina. Claro que se explica. Nós somos, no Distrito Federal, quase metade nordestino, e goiano, e mineiro, e carioca, e gaúcho. Ceilândia, por exemplo, é uma cidade nordestina, e aí a quantidade de danças que a gente vê pelas ruas faz a gente pensar que está numa cidade do Nordeste. Fora isso, tirando a defesa do Distrito Federal, eu ainda acho que a maior festa junina, mesmo, é a de Caruaru - e não podia pensar de maneira diferente por ser pernambucano -, embora dispute muito com Campina Grande e com todas as cidades em que há grande festa como essa no seu Estado, Sergipe. Mas parabéns pelo seu discurso, trazendo esse aspecto cultural para dentro do Senado e fazendo com que o Brasil inteiro veja a vitalidade da cultura nordestina.

            O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (Bloco/PSB - SE) - Agradeço a V. Exª.

            Fiquei muito satisfeito em saber que Brasília, sendo uma cidade nordestina - grande parte dos construtores de Brasília realmente veio do Nordeste do nosso País -, está comemorando São João como no Nordeste.

            Parabéns a V. Exª, que é um nordestino autêntico. Certamente, essa sua qualidade não só de educador como de nordestino sincero que tem a palavra abalizada para dizer a verdade fez V. Exª o Senador mais votado, por mais uma vez, do Distrito Federal.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/06/2011 - Página 25289