Discurso durante a 111ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Ratificação da informação, já reconhecida oficialmente desde 1998, de que o ponto extremo norte do território brasileiro encontra-se no Monte Caburaí, no Estado de Roraima; e outro assunto.

Autor
Ângela Portela (PT - Partido dos Trabalhadores/RR)
Nome completo: Ângela Maria Gomes Portela
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PROGRAMA DE GOVERNO.:
  • Ratificação da informação, já reconhecida oficialmente desde 1998, de que o ponto extremo norte do território brasileiro encontra-se no Monte Caburaí, no Estado de Roraima; e outro assunto.
Aparteantes
Mozarildo Cavalcanti.
Publicação
Publicação no DSF de 01/07/2011 - Página 26603
Assunto
Outros > PROGRAMA DE GOVERNO.
Indexação
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, EMPENHO, IMPLANTAÇÃO, PLANO NACIONAL, BANDA LARGA, PROMOÇÃO, INCLUSÃO DIGITAL.
  • RATIFICAÇÃO, INFORMAÇÃO, COMPROVAÇÃO, ESPECIALISTA, DEFINIÇÃO, LIMITE GEOGRAFICO, BRASIL, LOCAL, ESTADO DE RORAIMA (RR), CRITICA, MEIOS DE COMUNICAÇÃO, REPETIÇÃO, ERRO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            A SRª ANGELA PORTELA (Bloco/PT - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Muito obrigada, Senador Paulo Paim, Presidente neste momento.

            Quero cumprimentar os Senadores e Senadoras e dizer que é uma alegria muito grande ver o empenho, a decisão da Presidenta Dilma em implementar as ações para o Plano Nacional de Banda Larga. Ela pretende realmente dar prioridade a esse projeto, de fundamental importância para a inclusão digital de milhares brasileiros em todo o Brasil, especialmente na Região Norte, como foi muito bem colocado aqui pelo nobre Senador Walter Pinheiro, que realiza um excelente trabalho na Comissão de Ciência e Tecnologia.

            Quero destacar aqui as últimas decisões, Senador Paulo Paim, da nossa Presidenta Dilma, no sentido de resolver, definitivamente, o problema da exclusão digital em nosso País. O Plano Nacional de Banda Larga será uma realidade porque é prioridade da nossa Presidenta.

            Mas quero, neste momento, além de destacar a importância desse plano de inclusão digital do Governo Federal, dizer, nobres Senadores, que este tema que trago aqui hoje é recorrente, já tendo sido destaque no pronunciamento, inclusive, do Senador Mozarildo Cavalcanti.

            Nós não podemos, como representantes do Estado de Roraima, deixar de esclarecer aqui, a despeito dos insistentes esclarecimentos da nossa bancada para corrigir a repetição de um equívoco, de uma incoerência que causa grande mobilização no meu Estado de Roraima.

            Estou falando, Sr. Presidente, Srs. Senadores, de uma informação que, embora reconhecida como fidedigna, ainda é desconhecida pela maioria dos brasileiros. A informação de que o extremo norte do País, o ponto mais setentrional, encontra-se no monte Caburaí, no Estado de Roraima.

            Faço essa observação porque foi com muito custo, com um trabalho persistente de inúmeras pessoas, de inúmeras instituições, que o monte Caburaí foi reconhecido oficialmente, Senador Mozarildo Cavalcanti, como o ponto mais ao norte do País.

            Esse reconhecimento, Senador, resulta de um trabalho que teve à frente o Exército Brasileiro, a 1ª Brigada de Infantaria de Selva, sediada em Roraima, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a nossa Universidade Federal de Roraima, o Ibama, a Embrapa, a Assembleia Legislativa do Estado de Roraima, a Prefeitura do Município de Uiramutã e várias outras instituições que, entre os dias três a seis de setembro de 1998, organizaram uma expedição oficial ao monte Caburaí e identificaram, por meio de GPS, a nascente do rio Uailã, naquela região, próxima ao monte Roraima e à tríplice fronteira entre Brasil, República da Guiana e Venezuela, como o ponto extremo no Norte do País.

            O monte Caburaí está localizado a 5 graus e 16 minutos norte, comprovadamente 84 km mais ao norte que o Cabo Orange, no rio Oiapoque, no Estado do Amapá, cuja latitude é 4 graus, 30 minutos e 30 segundos norte. Portanto, a latitude do monte Caburaí é quase um grau superior ao Oiapoque, uma diferença tão expressiva que é possível visualizá-la nos próprios mapas da Região Norte do Brasil.

            Embora o reconhecimento tenha ocorrido a partir de 1998, com a expedição oficial ao monte Caburaí, desde 1931, pelo menos, essa informação já era conhecida. Naquele ano, a Comissão Brasileira Demarcadora de Limites, tendo à frente o Capitão-de-Mar-e-Guerra Braz Dias de Aguiar, concluiu que o monte Caburaí era o ponto extremo ao norte do Brasil. Até então, acreditava-se que esse ponto se localizava no monte Roraima.

            A partir de 1998, com as conclusões oficiais da expedição científica ao monte Caburaí, o Ministério da Educação decidiu corrigir as informações constantes nos livros didáticos de Geografia, que apontavam o Cabo Orange, na foz do rio Oiapoque, como o ponto extremo do País.

            A ideia da maioria dos roraimenses e de outros brasileiros que estiveram envolvidos nesse trabalho de pesquisa era ver corrigida a expressão “do Oiapoque ao Chuí” por “do Caburaí ao Chuí”.

            Essa é a expressão correta. O Brasil começa em Roraima.

            Concedo um aparte ao Senador Mozarildo Cavalcanti.

            O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Senadora Angela Portela, eu quero cumprimentá-la. Nós que representamos Roraima, eu já tive a oportunidade de ocupar a tribuna para abordar esse tema. Inclusive, cheguei a oficiar a algumas emissoras de televisão que ainda teimam em ficar repetindo “do Oiapoque ao Chuí”. V. Exª colocou de maneira muito didática. Quer dizer, há treze anos, já está confirmado, geodesicamente comprovado, que o extremo norte do Brasil fica no monte Caburaí, ficando até mais fácil, porque Caburaí rima com Chuí. Então, o Brasil vai do Caburaí ao Chuí, e não do Oiapoque ao Chuí. Aliás, uma propaganda recente - acho que está no ar ainda - de uma emissora importante de televisão, que esteve lá no evento, está repetindo esse erro, deseducando, portanto, os jovens que estão aprendendo Geografia agora. Quero cumprimentar V. Exª não só como Senadora, mas também como professora, por estar dando essa aula hoje de geografia.

            A SRª ANGELA PORTELA (Bloco/PT - RR) - Muito obrigada, Senador Mozarildo. Sabemos, reconhecemos a dificuldade de mudar hábitos arraigados. “Do Oiapoque ao Chuí” já está no imaginário popular, mas precisamos mudar isso, porque o correto é: “do Caburaí ao Chuí”.

            O que nos incomoda, lá em Roraima, não é a expressão de uso comum da maioria dos brasileiros. O que nos incomoda é que os chamados meios mais esclarecidos da sociedade brasileira, meios de comunicação e empresas de publicidade, continuem repetindo uma informação que já foi corrigida, Senador, há mais de uma década.

            Não se trata apenas de uma ofensa ao povo de Roraima. Trata-se também de um desserviço ao País, na medida em que um dado geográfico importante é omitido por puro desconhecimento de quem contribui para formar a opinião pública.

            E por que insistir nesse tema se, de fato, a informação já é reconhecida pelo Ministério da Educação e deve constar dos livros didáticos? Porque, Sr. Presidente, para além do aspecto ufanista, da revelação de que nosso Estado abriga um dos extremos do País, está o aspecto econômico, social e cultural.

            Localizado dentro do Parque Nacional do Monte Roraima, no Município de Uiramutã - portanto, no interior da terra indígena Raposa Serra do Sol -, o monte Caburaí faz parte de uma cadeia de montanhas que define a fronteira de três países, como dito: Brasil, República da Guiana e Venezuela.

            Trata-se de uma região de impressionante beleza, com vocação natural para o turismo ecológico e de aventura. Essa região também está impregnada de simbologia, guardando os mitos, as crenças e tradições de vários povos indígenas, entre eles os Ingarikó, que habitam o sopé do monte Roraima.

            Também foi ali que se deu uma das principais disputas diplomáticas pela preservação do território brasileiro, tendo como um dos protagonistas o próprio Joaquim Nabuco, e, na sequência, uma das mais fascinantes histórias de conquista de territórios registradas no início do século XX, quando o próprio Marechal Rondon liderou as equipes que posicionaram os marcos limítrofes que definiram onde, literalmente, começa o Brasil.

            É, portanto, Sr. Presidente, fundamental que os brasileiros de outras regiões tomem conhecimento, apropriem-se dessa história, que é comum a todos nós. Mas, para que isso de fato aconteça, os meios de comunicação, que têm o poder de difundir o conhecimento, precisam estar melhor informados, buscar as informações técnicas, o trabalho de pesquisa que já foi feito, assimilar o conhecimento existente e levá-lo adiante.

            E que todos os brasileiros percebam, sem detrimento de outras regiões, sem detrimento da importância que tem o Estado do Amapá, que, na verdade, o Brasil começa do Caburaí ao Chuí.

            Só com a repetição, Senador Mozarildo, com a insistência de todos nós que representamos o Estado de Roraima, essa incoerência será superada. Um país que conhece a si próprio, que valoriza sua história, suas peculiaridades regionais, tem mais chances de alcançar um lugar de destaque no concerto das nações.

            Eu queria lembrar mais uma vez aqui: não é a expressão “do Oiapoque ao Chuí”; a expressão correta é “do Caburaí ao Chuí”.

            E eu queria, neste momento, para finalizar as minhas palavras, destacar aqui o trabalho de divulgação, o interesse que alguns amigos do Facebook lá de Roraima têm procurado realizar no sentido de divulgar intensamente essa ideia.

            Quero agradecer à Shirley Brito, ao Fernando Heder, ao escritor Aimberê Freitas, ao escritor e jornalista Aroldo Pinheiro e ao Rudson Leite. São pessoas que têm procurado, nas redes sociais, divulgar esse limítrofe, divulgar esse dado importante, que, infelizmente, o Brasil ainda não conhece.

            Muito obrigada a todos.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/07/2011 - Página 26603