Discurso durante a 111ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Relato da visita de comitiva de vereadores do município de Campo Novo, Rondônia, ao gabinete de S.Exa., para relatar as dificuldades enfrentadas pelos agricultores assentados naquela região; e outros assuntos.

Autor
Ivo Cassol (PP - Progressistas/RO)
Nome completo: Ivo Narciso Cassol
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA FUNDIARIA.:
  • Relato da visita de comitiva de vereadores do município de Campo Novo, Rondônia, ao gabinete de S.Exa., para relatar as dificuldades enfrentadas pelos agricultores assentados naquela região; e outros assuntos.
Aparteantes
Jayme Campos.
Publicação
Publicação no DSF de 01/07/2011 - Página 26605
Assunto
Outros > POLITICA FUNDIARIA.
Indexação
  • REGISTRO, RECEBIMENTO, VISITA, GRUPO, VEREADOR, MUNICIPIO, CAMPO NOVO (RS), ESTADO DE RONDONIA (RO), EXPOSIÇÃO, PROBLEMA, AGRICULTOR, ASSENTAMENTO RURAL, REGIÃO, DIFICULDADE, ACESSO, CREDITOS, EFEITO, AUSENCIA, TITULO DE PROPRIEDADE, COBRANÇA, ORADOR, PROVIDENCIA, INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRARIA (INCRA), ACELERAÇÃO, REGULARIZAÇÃO, ASSUNTOS FUNDIARIOS, LOCALIDADE.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. IVO CASSOL (Bloco/PP - RO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado. É com alegria que quero aqui cumprimentar, mais uma vez, o Presidente desta sessão, o Senador Paim, e as Srªs e Srs. Senadores. É com alegria que também quero aqui cumprimentar e deixar o nosso abraço a todo o povo do nosso Brasil imenso que está nos acompanhando pela TV Senado. Também quero mandar o nosso abraço a uma liderança extraordinária, a uma guerreira que temos no Estado de Rondônia, que já foi Prefeita por várias mandatos, Deputada Estadual, uma grande amiga, a Deputada e ex-Prefeita Lúcia Tereza, e ao seu esposo Tião. Deixo o meu abraço a todo o povo do meu Estado.

            Sr. Presidente, recebi a visita, em meu gabinete, na semana passada, de uma comitiva de vereadores do Município de Campo Novo, no Estado de Rondônia. Eles relataram a agonia vivida pelos agricultores assentados naquela região.

            Sempre cobrei, quando era Governador, e continuo cobrando aqui, no Senado Federal, a lentidão do Incra em analisar os processos de regularização fundiária e emissão dos títulos definitivos. Não aceito e não compactuo com a morosidade do sistema que está perpetuando no Incra. Se há falta de pessoal, tem que ser contratado; se tem que capacitar, vamos capacitar; se tem que mudar, vamos mudar; mas do jeito que está não dá para continuar, Sr. Presidente.

            Ao mesmo tempo, há vários profissionais em nosso Estado, pessoas sérias e competentes, mas precisamos, acima de tudo, no comando do Incra, de pessoas que tenham sangue na veia, de pessoas que tenham vontade de fazer acontecer, porque, da maneira como está, não dá. Vou falar mais no relato que farei daqui para frente.

            Só no Município de Campo Novo, em Rondônia, existem 15 projetos de assentamento. Buritis, nosso Município vizinho, tem mais 18 projetos de assentamento. Cada projeto possui, no mínimo, 250 famílias assentadas.

            Em Campo Novo, os projetos de assentamento são: São Pedro, Nova Vida, Pedra do Abismo, Lagoa Azul, São José do Buritis, Santa Elisa, Altamira, São Carlos, Rio Alto e São Domingos. Foram implantados, Senador Jayme Campos, em 1993, há praticamente 20 anos, e até hoje a maioria dos assentados não possui o título definitivo, apenas a declaração de assentamento. O passo seguinte seria a emissão do CCU, Contrato de Concessão e Uso, e depois a emissão do título definitivo.

            O processo de regularização fundiária não é só em Campo Novo e em Buritis, não. É também na cidade de Machadinho, do meu amigo Neodi, que foi Presidente da Assembleia por vários anos; nas regiões de Cujubim, na região de Nova Mamoré e em tantas outras, nos quatro cantos do Estado de Rondônia.

            O processo de regularização fundiária é muito, mas muito lento, e hoje funciona da seguinte maneira: quando o agricultor ganha a terra do Governo, recebe a declaração de assentamento ou é siplado. Depois, para receber o CCU, o Contrato de Concessão e Uso, leva mais de três anos. E esse contrato tem validade de cinco anos. Depois disso é que o agricultor receberia o título definitivo.

            Receberia, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, porque, na prática, isso não funciona. No meu Estado, os agricultores que foram assentados em 1993 até hoje não receberam o título definitivo.

            Isso não é diferente nos projetos de assentamento Norte Sul e Norte Sul I, de Campo Novo, implantados em 2003; não é diferente nos projetos de assentamento Meneses Filho, Buritis, Jatobá, São Paulo e Santa Helena, todos no Município de Buritis, há mais de 14 anos implantados, mas que estão na mesma situação: até agora foram apenas siplados.

            Além disso, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a maioria das agências bancárias - aí que vem o problema, gente; aí, Jayme, que está a gota d’água - não aceita o Cadastro do Siplado e nem o CCU como documentos comprobatórios de posse para adquirir empréstimo. Somente o título definitivo.

            Sem contar que, nesses assentamentos, a maioria não tem estrada. Sem contar a falta de infraestrutura na área de educação. Os Municípios não têm condição de bancar, porque são Municípios ainda pobres, a exemplo de Campo Novo, com receita baixa, pequena. É difícil se manter.

            Buritis, onde a receita é maior, a extensão é muito grande. No Município de Cujubim não é diferente, em Machadinho, no Vale do Anari; e em tantos outros, como em Nova Mamoré. Falta a infraestrutura necessária. Não basta pegarmos uma pessoa, uma família e jogarmos no campo. Temos que dar condições para que as pessoas possam produzir. Já dei exemplos aqui.

            A reforma agrária, da maneira como está funcionando, simplesmente vai de encontro às necessidades sociais.

            É muito mais cômodo e mais fácil o Ministério do Desenvolvimento Agrário - e já falei isso para o Ministro, em uma audiência pública, poucos dias atrás - mudar a sistemática, adquirir terras em torno dos grandes centros e colocar esses assentados da reforma agrária para produzir fruticultura, para produzir as hortaliças e tantos outros que agregam mão de obra a essas famílias, e não colocar mata adentro, muitos locais com malária, muitos locais sem estrada, sem acesso, sem educação e sem saúde.

            Eu vivi isso. Quantas estradas nos assentamentos eu reabri! Quantos técnicos nós contratamos, Jayme Campos, para nos atender, nossos extensionistas na área rural para dar condições de aumentar a produção dos nossos agricultores assentados! Infelizmente, o passo sempre foi o de tartaruga.

            Tenho em mão, Sr. Presidente, uma declaração do gerente do Basa, o Banco da Amazônia, do Município de Buritis, Estado de Rondônia, Sr. Misael Moreno dos Santos, em que afirma que só no mês de março deste ano foram rejeitadas, por aquela agência bancária, 123 propostas de crédito, porque os produtores não tinham o documento definitivo.

            “Ah, mas libera!” Liberam umas migalhas, liberam esmola. Os agricultores precisam, sim, e deixou de injetar no Município mais de R$5 milhões.

            O que nós precisamos fazer com esse dinheiro? Com certeza, com esse dinheiro, o agricultor poderia, além de comprar máquinas e equipamentos, construir e ampliar galpões, comprar sementes, fertilizantes, enfim, comprar uma vaquinha de leite, ou mais até, para poder produzir no dia a dia; e, ao mesmo tempo, ficou sem e não tem. E, se ele não tiver condições mínimas de fazer uso correto do solo, da área legalmente explorada, sabe o que vai fazer? Vai desmatar e entrar, ainda mais, na ilegalidade porque desmatou.

            Então, com o dinheiro, tem condições de corrigir o solo, melhorar seu rebanho, fazer o manejo de pastagem, melhorar geneticamente o gado, aumentando mais ainda a produção de leite.

            Portanto, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Incra precisa urgentemente aumentar seu quadro de pessoal, diminuir a burocracia, tomar providências no sentido de acelerar a análise dos processos de regularização fundiária, dotar o assentamento com estradas transitáveis e edificação rural que tenha Luz para Todos, que tenha Luz do Campo, que está sendo colocada pelo Governo Federal e, ao mesmo tempo, escoar a produção, para viver dignamente nos quatro cantos deste País.

            Além disso tudo, também, aqui, quero, hoje, fazer justiça e parabenizar a nossa Presidente Dilma Rousseff. É uma técnica, pessoa extraordinária, que vai estar em nosso Estado na semana que vem, no dia 5, às 11 horas da manhã, onde vai acionar o botão para que as águas do rio Madeira passem pelas comportas de fundo, permitindo fechar o rio e concluir as obras - 50% delas estão prontas. A partir do final do ano, já tem máquinas funcionando e gerando energia em nosso Estado, e às 14 horas, na antiga Quéops, vai assinar o decreto da transposição dos servidores do Estado de Rondônia, dando igualdade para os demais Estados da Federação brasileira - o Território foi transformado em Estado.

            Mas, ao mesmo tempo, quero aqui parabenizar, Senador Jayme Campos, nossa Presidente, pela conduta que está tendo com o trabalho e a escolha dos seus Ministros, colocando à frente do Ministério do Meio Ambiente a Ministra Izabella, uma técnica.

            Como funcionava o Ministério do Meio Ambiente até há pouco tempo? Até as vésperas das eleições de 2010, era ocupado como cargo político. Os ministros só queriam saber de aparecer na televisão. Os ministros só trabalhavam para microfone.

            Eu faço um desafio aqui, nesta Casa, e disse, hoje, para a ministra na Comissão de Meio Ambiente e Agricultura.

            Se nós tivéssemos de começar a prender e botar na cadeia quem cometeu irregularidades, Jayme Campos, com certeza, nós teríamos de prender esses ex-ministros, porque legislação tinha, mas não a colocaram em prática.

            Foi lá no seu Rio Grande do Sul que deixaram plantar uva nas encostas. Foi em Santa Catarina que deixaram plantar maçã, no oeste catarinense, em regiões em que isso seria proibido. Foi no Estado de Rondônia que o Sr. Taboca, da linha 45, porque desmatou 100 hectares de terra, foi premiado pelo Governo Federal, na década de 80, com 500 hectares de terra, porque desmatou tudo.

            Agora, vêm alguns ambientalistas nos chamar de bandidos e de ladrões, ao setor produtivo!

            Não estou legislando em causa própria, porque não preciso disso. Todo mundo conhece a minha história. Tenho propriedade, sim, e respeitei a lei, e continuo respeitando a lei, porque eu preservei 50%. Estava na Constituição, estava no Código Florestal. Ao mesmo tempo, digo isso, Jayme Campos, porque a ex-Ministra Marina Silva, que o povo rejeitou nas urnas - graças a Deus, Presidente Dilma -, em seis anos como Ministra do Brasil, não levou uma Cibalena para Rondônia. “Ah, o que é Cibalena?” Um Melhoral, uma Aspirina. Não levou para Rondônia, Sr. Presidente e Srs. Senadores, nem um carrinho de mão. Só fazia propaganda no microfone e na televisão. Quando chegavam ao nosso Estado, chegavam com a carabina na mão, tratando todo mundo como bandido.

            Existe alguém, existiu alguém, tem alguém no nosso Estado que não cumpre a lei? Tem, e quando pegarem, têm de meter a taca! Mas tem também aqui, em Brasília, pessoas que não respeitam a lei, e muitos colarinhos brancos vão para a cadeia aqui, também. Isso é assim em todo lugar.

            Portanto, eu quero parabenizar a Presidente Dilma, que nomeou uma equipe técnica para estar à frente do Ministério do Meio Ambiente, com responsabilidade. Pela primeira vez, uma ministra foi visitar a Embrapa, como ouvi Senadores, agora há pouco, discursando.

            É isso que precisa, que o Ministério do Meio Ambiente ande lado a lado com o Ministério da Agricultura, com as autarquias que representam o setor produtivo.

            Nós não queremos e não aceitamos ser tachados, nós, produtores, como se não cumpríssemos a legislação.

            Não estou defendendo esses que estão aí, desmatando pelo Brasil afora, sem autorização. Nesses, tem de meter a peia! Para esses, tem de se fazer uma legislação, como fiz no Estado de Rondônia, quando fui Governador. Aquele que desmata sem autorização tem de perder o pedaço de terra que desmatou - perder e dar para alguém que precise, de outro lado.

            É “facinho” coibir: é só começar a colocar a lei em prática. Não adianta fazer muita lei, tem de fazer pouca e bem-feita.

            Eu defendo o setor produtivo, Jayme, porque é o único caminho que temos para continuar vivendo dignamente, sustentando os nossos irmãos e vendendo excedentes no mercado internacional.

            O senhor, que é um produtor, ex-Governador do Estado de Mato Grosso, fez um grande trabalho e aqui, nesta Casa, é um guerreiro, um lutador, uma pessoa que luta.

            Com a palavra.

            O Sr. Jayme Campos (Bloco/DEM - MT) - Obrigado, Senador. Senador Ivo, estou prestando atenção ao seu pronunciamento e todas as vezes que a pessoa fala com o coração, fala a verdade. Sei das dificuldades do seu Estado de Rondônia, V. Exª também tem conhecimento das dificuldades que temos em Mato Grosso. Lamentavelmente, o Incra, como V. Exª disse, envelheceu. O Incra não acompanhou a demanda do desenvolvimento e do progresso do Brasil. O senhor fala da regularização fundiária, que é um problema sério da Amazônia brasileira. Nós aprovamos, aqui neste plenário, uma medida provisória que busca a regularização de algo em torno de 62 milhões de hectares na região Amazônica do Brasil. Já se passaram dois anos e o resultado é pífio: não foi regularizado nem 1% daquilo que estava previsto. Espero que o MDA e o Incra, em conjunto, façam a articulação e possam, com certeza, melhorar essa performance em relação aos índices, que são precários. Todavia, a questão da política agrária, no Brasil, é grave, é séria, tendo em vista que não só em Rondônia e em outras regiões do Brasil, mas particularmente em Mato Grosso, temos, todos os dias, problemas, porque, como V. Exª disse aqui, as pessoas não têm acesso a crédito agrícola por falta de documento. No Mato Grosso não é diferente e, certamente, no Pará não é diferente, bem como em outros Estados da Federação. O que precisamos é de políticas públicas e, sobretudo, de agilização da regulação fundiária. Caso contrário, vamos continuar com essa mesma demanda que há hoje, dizem, em relação ao Código Florestal. Por quê? Os grandes desmatamentos também estão nos assentamentos, na medida em que esses assentamentos, como V. Exª bem disse aqui, não têm infraestrutura, não têm estrada, não têm saúde, não têm educação. O que resta para o cidadão, para ele tirar um pouquinho de sustento para a sua família, é derrubar uma árvore e vender, clandestinamente, para as madeireiras. V. Exª sabe disso. Quando vou aos assentamentos de Mato Grosso, tenho pena, Senador Ivo, tenho dó. Aquelas pessoas que estão ali muitas vezes vivem em estado de petição, sem nenhuma infraestrutura, sem assistência técnica. São verdadeiros heróis que estão ali, ocupando aquele pedacinho de terra, tentando tirar, naturalmente, a sua sobrevivência. Nesse caso, V. Exª tocou num assunto também bastante pertinente: a visita da Ministra Izabella Teixeira hoje, à nossa Comissão de Meio Ambiente e Agricultura. Tive a sensação de que ela vai ser uma grande Ministra, porque, sobretudo, ela é uma técnica muito bem-intencionada. Ali, esqueci de fazer uma indagação: se ela não está com o mesmo viés político. Imagino que ela não está, porque a outra que estava lá fez toda aquela parafernália, fez aquele tamanho barulho que fez já pensando em termos de eleição futura, já que foi candidata a Presidente da República. Neste caso, estamos com um papel preponderante agora, esta Casa está discutindo um projeto realmente importante para milhões de vidas brasileiras que estão no campo e na cidade, que é o Código Florestal. Espero que, de forma democrática, de forma responsável, sejamos zelosos, para fazermos um código ambiental respeitando as nossas particularidades. Os problemas do Sudeste e do Sul não são como os do Centro-Oeste, não são como os do Norte do País, Senador Paulo Paim. Temos as nossas diferenças. O seu Pampa do Rio Grande do Sul não é como o nosso Cerrado e como o nosso bioma Amazônia, V. Exª sabe perfeitamente. O que queremos é segurança jurídica no campo. V. Exª não imagina quanto prejuízo tem havido. Se a Presidente Dilma não reeditasse, agora - porque venceu no dia 11 de junho -, o decreto que prorrogou por mais 90 dias, teríamos na clandestinidade algo parecido com 70 a 80% dos homens do campo, ou seja, dos produtores rurais. Então, a matéria é assunto grave, sério. Com relação ao Código Florestal, com certeza, como o Senador Ivo Cassol está dizendo aqui, imagino que vá haver uma interação. Vamos interagir, o Poder Legislativo e o Poder Executivo, para buscar um Código Florestal não só para hoje, mas para as futuras gerações. O Brasil é um dos países que mais preservam o Planeta, V. Exªs sabem, Senador Ivo Cassol e Senador Paulo Paim. São 62% de cobertura vegetal. Temos 12% da água doce do Planeta. Se V. Exªs fizerem alguns comparativos, na Finlândia, na Holanda, em Portugal, na Espanha e em outros países da Europa não tem reserva. Eles não sabem nem o que é APP. Aqui, no Brasil, temos APP e temos reserva legal. Enfim, o Governo brasileiro é o que mais respeita os índios. Temos 120 milhões de hectares de terras à disposição dos povos indígenas. Então, é um País maravilhoso. As nossas leis são extremamente avançadas. Agora, temos de aumentar a nossa segurança jurídica, caso contrário, não vamos chegar a lugar algum. De maneira que quero cumprimentar V. Exª, que foi feliz quando disse que a política fundiária do Brasil é precária. É verdade. Não adianta fazer mais assentamentos se não dermos ao menos condições aos assentados de Rondônia, do Mato Grosso, do Pará e assim por diante. É injusto, desumano aquilo que estou vendo acontecer em Mato Grosso. Tenho visitado alguns assentamentos. No ano retrasado, coloquei uma emenda minha para destinar pequenos recursos para comprarem um pequeno refrigerador de leite, comprarem um tratorzinho para fazer um gradeamento, uma grade, uma carretinha, mas não é o suficiente, não, Senador Ivo Cassol. Nós precisamos de políticas sérias e, sobretudo, dar o documento para o cidadão, para que ele diga: “Eu sou o dono deste pedaço de terra!” Mais de 70% ou 80% dos assentados de Mato Grosso não tiveram acesso aos títulos das terras até hoje. No mínimo, é este número que estou citando aqui. De maneira que quero cumprimentar V. Exª. Temos de travar uma verdadeira cruzada no sentido de buscarmos uma regularização fundiária no Brasil, sobretudo na nossa região, e de fazermos um Código Florestal de forma responsável, respeitando essas áreas consolidadas, dando a garantia de que o cidadão que está ali é dono da sua propriedade e vai ser respeitado. Não podemos atropelar o processo. Só darei um exemplo, concluindo o meu aparte: há pouco tempo, Senador Paim, cometeram uma barbaridade contra a região médio-norte do Estado do Mato Grosso, uma região que há 30, 40 anos planta cana. Temos quatro usinas de álcool, etanol e açúcar. Lá atrás, há menos de dois anos, baixaram um decreto dizendo: de agora para frente, não se poderá plantar cana na bacia do Alto Paraguai. Essas são áreas antropizadas desde as décadas de 1950, 1960, no ciclo do diamante. Eu pergunto a V. Exªs: ora, se lá já tem quatro usinas e está-se plantando cana, por que inviabilizar uma atividade econômica que, certamente, contribuiria com a política de etanol lançada pelo Presidente Lula? O combustível renovável não só melhoraria a nossa questão comercial interna, mas serviria para exportação. Todavia, um decreto inviabilizou 121 Municípios. Com esse decreto, eles estão inviabilizados e não podem plantar um pé de cana. Então, nós precisamos ser responsáveis e zelosos, sem jogar para a plateia. Sobretudo, nós somos brasileiros, Senador Ivo Cassol. Somos brasileiros! Imagino que a terra é um bem social do povo brasileiro. Não podemos ficar fazendo aqui gracinha para outros países, que querem ter isso aqui como se fosse quintal, que querem nos explorar. Lá na Europa não existe mais APP, não existe reserva, não existe nada. A Floresta Negra, Senador Paulo Paim, na Alemanha, sabe o tamanho da Floreta Negra que falam, que comentam, que enchem a boca, sabe qual é o tamanho da Floreta Negra na Alemanha? Trinta hectares, Paulo Paim! Isto é falado e cantado no mundo inteiro. Imagina... Então, acho que nós, Senador Ivo Cassol, temos um papel aqui, independentemente de qualquer coisa, de fazermos com que o Governo Federal faça a regularização fundiária de forma respeitosa para com os trabalhadores sofridos, milhares ou milhões de brasileiros que estão à mercê de políticas públicas decentes, portanto, temos de trabalhar para um código florestal que, certamente, dará garantia e segurança jurídica para todos aqueles que produzem e constroem a grandeza do Brasil. Parabéns a V. Exª pelo belo pronunciamento na tarde/noite de hoje!

            O SR. IVO CASSOL (Bloco/PP - RO) - Obrigado, Senador Jayme Campos, pelo aparte, pela posição e pelo conhecimento que V. Exª tem.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. IVO CASSOL (Bloco/PP - RO) - Sr. Presidente, peço-lhe mais alguns minutos.

            Quero, nesta oportunidade, também dizer que discutimos, hoje, na Comissão de Agricultura, para que V. Exªs possam ter ideia, a maneira como são tratados os produtores nos Estados Unidos. Eles são tratados, Presidente, com respeito. Até a placa do carro deles é diferenciada - o próprio Jayme dizia isso, ele esteve lá -, para que, ao pararem seja onde for, os demais saberem e dizerem: “Aquele é um produtor de mãos calejadas”. Aqui não, pois o campo não tem garantia. Os proprietários, que investem, a todos os dias e a todo o momento, recebem a Força Nacional com carabina, metralhadora. Sem contar que também, em vários países da Europa, há o subsídio para que possam produzir. Aqui, produzimos - o senhor falou em várias usinas de álcool e de açúcar -, mas, ao mesmo tempo, enquanto produzimos álcool, Jayme, da cana-de-açúcar, os Estados Unidos produzem álcool da beterraba e do milho. Olhem a diferença! Álcool do milho! Há pouco tempo importávamos esse álcool, porque, lá, há o subsídio, enquanto que, para nós, infelizmente, é diferente. No período em que fui Governador, Senador Paulo Paim, Presidente Jayme Campos, várias vezes o Ministério da Agricultura importou leite da Argentina, prejudicando os produtores de leite do Rio Grande do Sul, o seu Estado.

            No Estado de Santa Catarina não é diferente.

            Quando o agricultor brasileiro pensa estar ganhando uns trocados pelo preço do leite, 60 dias depois importam leite de algum País, quase sempre da Argentina, para derrubar os preços, como se o nosso agricultor nadasse em dinheiro. Ele, infelizmente, vive com o “pires na mão”, trabalha diuturnamente no sol e na chuva para poder produzir o seu sustento e, ao mesmo tempo, vender o excedente para sustentar a sua família com dignidade.

            Então, esta Casa precisa de uma política urgentemente, para que não venha a acontecer no futuro o que já aconteceu no passado. Não sou contra importar, mas temos de garantir o preço mínimo para quem produz, a exemplo da Senadora Ana Amélia, que falava do arroz do Rio Grande do Sul e do de Santa Catarina. Olha o exemplo do arroz de Rondônia, o exemplo do feijão produzido em Alta Floresta, na região de Santa Luzia, de Alto Alegre, de São Felipe e tantas outras que produzem em nosso Estado, enquanto o preço mínimo era de oitenta por saca, os atravessadores pagavam sessenta, setenta, e sequer a Conab estava comprando, Presidente. O prejuízo é muito grande. Não podemos admitir. Nós temos de estar na frente. Então, é isso que precisamos. À frente dos Ministérios, precisamos ter mais técnicos, para produzirmos mais, com menor custo e com mais agilidade, técnicos trabalhando entre si e se entendendo.

            Foi por isso que parabenizei hoje a Ministra do Meio Ambiente, Izabella, por haver visitado a Embrapa. Antes, nenhum Ministro havia visitado a Embrapa! Essa integração é fundamental.

            No meu Governo, quando governei o Estado de Rondônia, as Secretarias trabalhavam irmanadas com um só propósito: atender a demanda popular. E é isso que precisamos. E é isso que temos sempre recomendado à nossa Presidente. Graças a Deus, ela é uma grande técnica e está colocando em prática.

            Para encerrar, Sr Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero parabenizar a população de Vilhena, em nome de Ilário Bodanese, que fará, nesse final de semana, uma grande festa agropecuária, uma das melhores e maiores agropecuárias do Estado de Rondônia - está no nosso portal da Amazônia. Então, quero parabenizar, em nome do presidente. Começa dia dois a grande Feira Agropecuária de Vilhena. Também ontem começou, na cidade de Guajará-Mirim, na nossa pérola do Mamoré, sob o comando do nosso presidente popular capixaba, uma grande festa. E, nos próximos dias, vamos ter lá também, agora no mês de agosto, a festa do boi, com uma diferença, Sr. Presidente, no Estado do Amazonas temos a festa do boi em Parintins.

            Lá, tem muitos patrocinadores; lá, conseguem fazer uma festa maior, porque têm mais dinheiro colocado à disposição. Enquanto que os que fazem essa grande festa do boi em Guajará-Mirim, há mais de 50 anos, estão fazendo a festa com aperto no bolso, no dia a dia, na vontade, na garra, festa que sempre contribuímos e ajudamos. Espero que o atual Governo não deixe de ajudar a festa do Flor do Maracujá, inclusive já adiaram a data, seria agora, porque não repassaram recursos, infelizmente. Esta é uma das grandes festas de Porto Velho, há mais de 50 anos tem tradição. É uma festa que tem a mesma magnitude da festa de Parintins, mas, infelizmente, a nossa cultura está ficando de lado. E aí eu não posso aceitar. O nosso Secretário, que cuida da área de turismo, esporte e cultura, tem que tirar o pé do chão, para que essa festa seja cada vez maior e melhor.

            Ao mesmo tempo, quero aproveitar esta oportunidade, Sr. Presidente, para agradecer a todas as pessoas que nos acompanham pela TV Senado, especialmente meus amigos, meus irmãos do Estado de Rondônia, e me colocar à disposição nesta Casa para contribuir com o desenvolvimento e o progresso desta Nação.

            E, ao mesmo tempo, sempre tenho feito isso quando uso a palavra e esta tribuna, agradecer a Deus, e pedir às pessoas, hoje é quinta-feira, porque, muitas vezes, a imprensa fala que o político não faz nada, acha que o político só vem aqui na terça-feira, na quarta-feira, na quinta-feira, depois fica coçando a perna o resto da semana, mas é o inverso. Enquanto o Presidente se direciona para o Rio Grande do Sul, a Senadora Ana Amélia também para o Rio Grande do Sul, o Senador Jayme Campos está saindo daqui a pouquinho para o Mato Grosso, e eu estou indo para o meu Estado de Rondônia, para participar dos festejos, de formaturas, enfim, do dia a dia do que acontece no nosso Estado. É assim que trabalhamos. Por isso, quero pedir as pessoas que vão à Igreja, ou mesmo em casa, que sempre elevam as suas mentes e as suas orações a Deus, que continuem colocando o meu nome e o nome de todos nós, Senadores, de nossos Deputados, de nossos Ministros, de nossa Presidente, para que possamos ter muita paz, muito desenvolvimento e muito progresso.

            Que Deus abençoe todo mundo!

            Obrigado.


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