Discurso durante a 113ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Voto de pesar, minuto de silêncio e levantamento da Sessão pelo falecimento do Senador Itamar Franco.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Voto de pesar, minuto de silêncio e levantamento da Sessão pelo falecimento do Senador Itamar Franco.
Publicação
Publicação no DSF de 05/07/2011 - Página 26858
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ITAMAR FRANCO, SENADOR, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, ELOGIO, VIDA PUBLICA, IMPLEMENTAÇÃO, PLANO, REAL, CONSOLIDAÇÃO, REDEMOCRATIZAÇÃO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, vou pedir desculpas a todos, meus colegas do Senado, para falar àqueles com menos de 40 anos, até mesmo com menos de 35 anos; àqueles que tinham entre 10 e 15 anos quando Itamar Franco foi Presidente.

            Provavelmente, essas pessoas tenham dele uma visão um tanto apagada, diferente, porque, enquanto vivo, ele já não era mais Presidente, mas ainda não era um personagem da história. Daqui a 20, 30, 40, 50 anos, as pessoas, talvez, tenham uma visão mais profunda de Itamar Franco; mais do que aqueles que, hoje, estão vivos com menos de 35 anos. É para eles que quero falar.

            Quero dizer a vocês, que tinham pouca idade quando Itamar Franco foi Presidente, que há três características fundamentais de um homem público; três características, Senadora Lídice, que, hoje, estão em falta: valores, ideias e atitudes. A gente pode até resumir, Senador Pedro Taques, com a sigla VIA. A VIA é o que define se o político vai merecer ou não homenagem da história; se ele teve valores, se ele teve ideias, se ele teve atitudes.

            Há diversos aqui entre nós que têm uma dessas três qualidades: valores, ou ideias, ou atitudes. Há até alguns de nós que têm duas dessas qualidades, mas é muito raro; é muito raro encontrar, hoje em dia, um político - talvez não só no Brasil - que tenha as três qualidades da VIA: valores morais, ideias de propostas para o Brasil e, ao mesmo tempo, atitudes ao longo da sua vida.

            Olhemos os valores. Itamar Franco foi um homem de valores, como disse aqui o Senador Pedro Simon. O valor do nacionalismo, que muitos esquecem e não acreditam que seja uma coisa fundamental. Itamar Franco tinha um valor, o valor da Nação brasileira, o valor dessa unidade, desse pedaço da humanidade chamado Brasil. E ele levava esses valores às últimas instâncias no amor que ele tinha ao País. Itamar Franco foi um político com o valor mais forte e ético do nacionalismo. Também o que todos se lembram dele: o valor com a honestidade, o valor com a integridade no exercício de todos os seus mandatos. Um homem que chegou aos 81 anos, assumiu tantos cargos, e cadê uma crítica moral a ele? Cadê?! Cadê uma crítica ao desempenho dele nesses mandatos todos que ele exerceu, inclusive no exercício da Presidência? São os valores éticos que caracterizam o grande ex-Presidente, que fez com que, lembrando aqui o Senador Taques, a corrupção fosse inviável. O Senador Taques disse que, hoje, a corrupção ficou até normal. Eu diria: ela ficou usual. Normal ela não é, embora eu tenha entendido o que senhor quis dizer. Mas ela ficou usual. Não era no Governo Itamar.

            Os corruptos, hoje, perderam a discrição. Isso, sim, que é grave! Quando os corruptos perdem a discrição é porque a coisa está muito grave e porque ficamos tolerantes. E Itamar foi homem de um compromisso moral que permitiu a ele uma intransigência.

            Também foi um valor moral o compromisso dele com o povo e com os pobres. A gente fala, hoje, de campanha pela erradicação da miséria. A gente fala, hoje, de bolsa-família, mas ele foi quem lançou a luta contra a pobreza, não nos esqueçamos disso. Foi Itamar Franco, com o papel do Betinho, que era seu arauto.

            E, finalmente, entre os valores, a democracia. A democracia, para Itamar, era algo tão fundamental, que não era uma questão política, era uma questão de ética, do valor que ele carregava dentro dele.

            Quanto às ideias, basta a gente falar duas coisas fundamentais: a ideia que ele tinha de um projeto de desenvolvimento nacional, que ele levou também no sentimento de Minas, e a ideia do Plano Real, de que alguém pode dizer: “Mas quem o trouxe foram os economistas”. Não importa. Foi o Presidente, que foi capaz de ter a ideia de agarrar aquela proposta e levá-la adiante. Então, na hora em que executam a proposta, a ideia é do Presidente, é do governador, é do prefeito. E aqui, entre nós, é de um de nós, embora muitos nos tragam as ideias.

            Ele foi um homem, sim, de ideias, mas ele foi, sobretudo, um homem de atitudes. Atitude, por exemplo, como essa de acreditar e pagar para ver o projeto inacreditável de que a gente poderia conviver com duas moedas durante seis meses, depois se tirava uma e ficava só a estável. Foi uma atitude dele comprar isso. Poucos Presidentes seriam capazes de acreditar que isso daria certo, e outros, até acreditando, talvez não topassem, mas ele tinha atitude. Como aquela atitude dele para com o Senador Antônio Carlos Magalhães, de que alguns já falaram aqui, inclusive a Senadora Lídice, de ele dizer: “Se o senhor tem o que me comunicar, muito bem”. E abriu as portas para a imprensa: “Não precisa dizer para mim suas denúncias, diga para o mundo inteiro”. Essa é uma atitude. Essa é uma atitude que falta, muitas vezes, em cada um de nós, e que ele teve dia após dia. Como também considero como atitude, além de valor, a modéstia que ele carregava.

            Cada cargo que ele ocupou, ocupou com as mesmas características: as características do seu topete, de que todos se lembram, a característica do pão de queijo, a característica do Fusquinha. Era uma atitude que ele tomava diante do projeto de desenvolvimento brasileiro, que dizia que essas coisas deviam ser abolidas e substituídas pelas coisas importadas.

            Cada um fala de uma posição sobre atitude. Itamar Franco não falava, tomava as atitudes. Por isso é que estamos, aqui, prestando esta homenagem. Por isso ele virou essa unanimidade.

            Graças a isso, ele deixou três marcas, Presidente, e eu concluo com isso, se me der um minuto. Ele deixou três grandes marcas, além das de suas atitudes, da lembrança dos valores e das ideias.

            Ele deixou a marca, de que todos já falaram aqui, do Plano Real; ele deixou a marca da sua integridade; mas tem uma de que, eu acho, ainda não falaram: ele deixou a marca do Presidente que pega este País em um dos pontos mais baixos de nossa autoestima, depois de termos feito o impeachment do primeiro Presidente eleito em, sei lá, 30 anos, ele pega o Brasil lá em baixo e traz a autoestima de volta, pelo seu comportamento durante dois anos e meio.

            Em apenas dois anos e meio como Presidente, Itamar deixou uma marca que vai ficar na história deste País com muito mais força e duração do que a de muitos Presidentes que passaram por seus quatro, por seus oito e mais anos até, como nós já tivemos em regimes firmes e autoritários.

            Itamar Franco vai viver para sempre. Por isso, eu quis falar àqueles que têm menos de 35, menos de 40 anos hoje, que não viram o governo dele, mas que vão ver o nome dele na História, daqui para frente e para sempre.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/07/2011 - Página 26858