Discurso durante a 115ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem, em nome da Bancada do PT, à memória do Senador e ex-Presidente Itamar Franco, recentemente falecido. (como Líder)

Autor
Humberto Costa (PT - Partido dos Trabalhadores/PE)
Nome completo: Humberto Sérgio Costa Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem, em nome da Bancada do PT, à memória do Senador e ex-Presidente Itamar Franco, recentemente falecido. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 06/07/2011 - Página 27041
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ITAMAR FRANCO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, SENADOR, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), ELOGIO, CONTRIBUIÇÃO, CONSOLIDAÇÃO, DEMOCRACIA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco/PT - PE. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Srª Presidenta, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, ocupo a tribuna na tarde de hoje, em nome da Bancada do PT, para também render nossas homenagens ao ex-Senador, ex-Governador de Minas Gerais, ex-Prefeito de Juiz de Fora, ex-Presidente da República Itamar Franco.

            Desde o seu passamento, de imediato, nós apresentamos uma nota de pesar em nome da Bancada do PT e fomos representados, tanto no velório quanto no enterro, pelo nosso Senador Lindbergh Farias.

            Desde sábado passado, quando se deu essa notícia do falecimento do ex-Presidente Itamar Franco, muito se tem sido dito e escrito sobre o legado por ele deixado ao Brasil. Várias injustiças apenas começaram a ser reparadas; outras ainda estão a caminho, mas o caminho é irreversível. Sua participação essencial no Brasil moderno será plenamente esclarecida e conhecida.

            Agora, reduzido a cinzas, como foi seu desejo expresso, não cabe mais lembrar Itamar Franco com os rótulos a ele dados pela superficialidade da crônica política diária.

            Contraditório, folclórico, vulcânico, acidental ou, ainda, antiquado e provinciano. Assim ele foi classificado pelos críticos que, como todos os políticos, colecionou durante a vida, na maioria das vezes, por se manter fiel ao que sempre pensou e defendeu: um Brasil autêntico, justo e apegado aos seus valores nacionais.

            As diversas hagiografias escritas desde sábado passado tampouco sublinham com clareza sua coragem de enfrentar a ditadura como Senador do então PMDB. Em 1978, ainda MDB, durante seu primeiro mandato como Senador, Itamar Franco presidiu a CPI do Acordo Nuclear, que o regime autoritário pretendia impor ao País. O prazo inicial de encerramento da CPI, então de três meses, prolongou-se pela persistência de Itamar na busca por documentos e chegou a atingir um prazo de três anos.

            Vivíamos em plena ditadura militar e era preciso coragem para exigir transparência do regime. Ele não teve medo de assumir riscos. Questionou, insistiu, deu voz ao Senado como a Casa onde deveriam ser debatidos os grandes temas nacionais, mas, acima de todos os adjetivos que recebeu, é preciso enfatizar que Itamar Franco foi, isto sim, um político ainda a ser decifrado, cuja grandeza histórica começa a ser fielmente dimensionada a partir de agora, quando ele já não está mais entre nós.

            Sua importância no Brasil moderno tem início no turbilhão político que representou o impeachment de 1992. A partir desse momento, Itamar Franco atravessou a maior crise institucional após a redemocratização, para se firmar como um dos principais personagens da história recente do Brasil.

            Como bem lembrou ontem, desta tribuna, o nobre Senador Pedro Simon, Itamar Franco foi o primeiro Vice-Presidente da República a não se mostrar açodado para ocupar o principal posto executivo do País. Diferente de outros vices que estavam no posto em crises institucionais anteriores, ele não se apressou em receber a faixa presidencial. Pelo contrário, além de colocar o cargo à disposição dos Senadores daquela Legislatura, comprometendo-se a assumir e imediatamente convocar novas eleições, adiou sua posse por um dia. Não tinha pressa em assumir, ciente da delicadeza daquele momento crucial para a nossa Constituição, que então completava apenas três anos de vida. Esse desprendimento evidencia seus principais traços como político e ser humano: a dignidade, o respeito à lei, o espírito republicano.

            Mas Itamar Franco também nos deixou sem que tivesse tempo de superar a superficialidade dos inúmeros rótulos com que a crônica política, muitas vezes de forma cruel, classificou-o. Ele não foi apenas o Presidente da República que, com frequência, provocou turbulências no mercado financeiro ao criticar a agiotagem, os interesses antinacionais do capital especulativo. Tampouco foi o Presidente que, como um Quixote, enfrentou os gigantes da indústria farmacêutica mundial, em seu inconformismo com a política de preços imposta ao País pelo setor naquela época.

            Itamar Franco foi, sem dúvida, um dos maiores Presidentes da República que já governou o Brasil.

            A ele deve-se, também, o fim da espiral inflacionária que afligiu gerações de brasileiros. Quase todos os dias pela manhã, antes de entrar em seu gabinete, atendia os jornalistas para responder aos representantes do mercado financeiro, que ocupavam lugar cativo na imprensa para reclamar da intempestividade do Presidente da República contra os juros extorsivos.

            Assim era Itamar Franco: coerente na sua aparente contradição; fiel aos aliados do presente, mesmo aqueles que havia enfrentado como opositores no passado.

            Foi preciso que Itamar Franco não estivesse mais entre nós para que parte da verdadeira história daqueles anos começasse a ser contada tal como ocorreu. Essa talvez tenha sido sua maior mágoa, como o próprio Itamar deixou transparecer ao jornalista Carlos Monforte, na série de programas chamada “Profissão ex-Presidente”.

            Tranquilo, e alertando seu interlocutor de que jamais havia relatado em público a real versão de um dos mais importantes fatos da nossa história econômica recente, o Plano Real, seu maior desejo era o de restabelecer a verdade e ser reconhecido por seu papel na sua implementação.

            Nesse aspecto, pode repousar tranquilo, Senador e ex-Presidente Itamar Franco. Seu verdadeiro lugar na história está assegurado pela verdade dos fatos.

            Muito obrigado, Srª Presidente. Muito obrigado, Srªs e Srs. Senadores.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/07/2011 - Página 27041