Discurso durante a 115ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Necessidade de investimentos tanto em educação, quanto em centros de ciência e tecnologia ligados à indústria, de forma a dinamizar a economia do País.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA CIENTIFICA E TECNOLOGICA.:
  • Necessidade de investimentos tanto em educação, quanto em centros de ciência e tecnologia ligados à indústria, de forma a dinamizar a economia do País.
Publicação
Publicação no DSF de 06/07/2011 - Página 27042
Assunto
Outros > POLITICA CIENTIFICA E TECNOLOGICA.
Indexação
  • NECESSIDADE, INVESTIMENTO, EDUCAÇÃO, PRIORIDADE, APLICAÇÃO, RECURSOS, CIENCIA E TECNOLOGIA, IMPORTANCIA, APROXIMAÇÃO, ENSINO, ATIVIDADE INDUSTRIAL, PROMOÇÃO, DESENVOLVIMENTO TECNOLOGICO, BRASIL.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Senadora Marta Suplicy, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, não faz muito - creio que na semana passada -, eu falei aqui que a economia brasileira está bem, mas ela não vai bem. A diferença entre estar bem e ir bem é que estar mostra um momento atual, mostra a conjuntura, em que os indicadores de emprego, de crescimento, de balança de pagamentos são indicadores positivos, mas ir bem significa o que a gente espera daqui para frente. E aí temos que analisar não apenas os indicadores presos ao minuto de hoje, mas os indicadores com o que tem dentro de cada um deles, para a gente saber se a estrutura da economia brasileira é consistente, dá robustez a essa economia de hoje, que está bem, para que ela vá bem no futuro.

            E eu listei diversos pontos, como o endividamento das famílias e das empresas, tanto das famílias aqui dentro como das empresas em relação aos bancos estrangeiros, os gastos públicos, a dívida pública, a crise de institucionalidade que nós temos, em que os investidores não sabem bem quais são as leis que vão valer daqui a alguns anos. Eu falei da inflação, com que, embora pareça sob controle, temos que nos preocupar, a carga fiscal, a desigualdade, a pobreza e o meio ambiente, que ameaça parar a economia porque estamos depredando tanto que vai se esgotar.

            Mas há um item que quero chamar a atenção hoje, um único item: a incapacidade brasileira para inovar no conjunto da economia, apesar de exemplos muitos positivos, como Petrobras, como Embrapa e como Embraer, mas, no conjunto, nós não temos uma economia com uma característica grande de inovação - e isso é antigo, é histórico.

            Quando a gente vê como a economia brasileira começou, produzindo açúcar, a tecnologia para se fazer aquele açúcar, simples tecnologia, foi importada.

            As tecnologias para o café, para o ouro, para o algodão, para nossos produtos primários, como ferro, são simples, ou importadas, ou que surgem naturalmente pelo exercício da atividade de produção.

            Quando a gente dá o salto da economia agrícola, da economia de extração mineral para uma economia industrial, este País torna-se industrial, mas sem a inovação. Nossas indústrias de automóveis são totalmente estrangeiras do ponto de vista do desenho, de todos os aspectos de tecnologia. Nós montamos! Mesmo quando a gente faz todo o automóvel, estamos montando do ponto de vista da planta, do desenho, da concepção. Tudo isso é importado.

            E assim vai para quase todos os nossos produtos; obviamente, não todos. Só que, até aqui, isso era perfeitamente possível para fazer a economia crescer, mesmo quando não tínhamos ciência e tecnologia. Daqui para frente, não. Daqui para frente, o que caracteriza uma economia sólida é a economia produzindo bens com alto conteúdo de inteligência, de conhecimento, de ciência e tecnologia.

            Os outros países que hoje são desenvolvidos fizeram isso a partir do final do século XIX, ao longo do século XX. Outros países o fizeram recentemente, como Cingapura, a Coréia, o próprio Japão - que é um pouco mais antigo, mas também é novo -, a Índia, a Finlândia, a China. São países que fizeram suas revoluções científicas e tecnológicas e, hoje, começam a exportar produtos.

            O melhor exemplo é o da Coréia. Compramos eletrodomésticos coreanos, mas não montados na Coréia. Eles são inventados na Coréia. Como na Finlândia, que era um país atrasado há poucas décadas, e hoje, cada vez que a gente usa o celular, provavelmente está pagando alguma renda a empresas da Finlândia.

            Pois bem. O Brasil precisa dar o salto para se transformar em produtor de bens com alto conteúdo de inteligência. E aí precisamos tomar algumas decisões que nós não estamos vendo, apesar de o mercado começar a pressionar nessa direção. Um exemplo é como, recentemente, o número de candidatos para os cursos de engenharia começou a crescer em relação a outras profissões, como reação ao mercado, não como reação a um esforço nacional, apesar de que a Presidenta Dilma lançou agora um programa de bolsas para o exterior, dirigido para ciência, tecnologia e, sobretudo, engenharia.

            Mas, quando a gente analisa a nossa realidade, a nossa realidade é que 11% dos nossos alunos estão nas áreas de engenharia, nas áreas de ciências, da matemática e da computação, 11%. Não têm futuro. Igualmente grave é que esses 11%, Senadora Marta Suplicy, estudam engenharia, matemática, computação, mas raramente isso está amarrado, interligado com o setor produtivo da economia. É como se estivéssemos formando os velhos bacharéis, só que agora bacharéis na área das ciências.

            Nós temos que criar uma relação próxima das áreas de engenharia com o setor produtivo, como fez a Petrobras, como fez a Embrapa, como fez a Embraer. É preciso lembrar que esse nosso grande exemplo, Senadora Marta, a Embraer, é filha de uma escola de engenharia chamada Instituto Tecnológico de Aeronáutica. Aqueles aviões que a gente vê e nos orgulham são, secundariamente, produtos de uma fábrica. Na realidade, são produtos de uma escola, são produtos da educação.

            Nós precisamos dar o salto, fazer uma economia da inovação. E aí, o primeiro passo é a revolução na educação. Cada cérebro perdido são muitos reais e dólares perdidos. Depois, nós temos que dar ênfase ao ensino na universidade, não só apoiando-as como também mudando o perfil dos nossos alunos para que eles comecem a trabalhar nas áreas da engenharia. Além disso, é preciso começar a fazer outros ITAs.

            Em 2006, quando fui candidato a Presidente, eu sugeria a gente criar um ITA para a energia, outro para biotecnologia, outro para informática, para inteligência artificial, para nanotecnologia e robótica, para o desenvolvimento sustentável, para as telecomunicações, para as ciências da informação e para a genética. É claro que eles não vão dar resultados imediatamente, mas ao longo do tempo. E alguns perguntam: “Quanto custa isso?” Senadora Marta, esses 4,5 bilhões de que se fala, de apoiar a fusão de duas grandes empresas do varejo, permitiriam financiar sete grandes centros do tipo ITA em dez anos - dez anos, dez anos, que é o tempo suficiente para eles atravessarem o período de nascimento, de puberdade institucional e se transformarem em grandes centros de formação de ciência e tecnologia. Isso não basta.

            Nós precisamos fazer muitas outras coisas para ter esses centros de ciência e tecnologia. Precisamos fortalecer pesquisa nas universidades. Precisamos avançar rapidamente nos campos de importância estratégica. Precisamos estabelecer mecanismos que estimulem o trabalho articulado com outros produtores, tecnólogos e, sobretudo - este é fundamental, Presidenta -, uma política salarial que permita atrair os cérebros deste País para as atividades da engenharia, da ciência e da tecnologia. Isso não acontece hoje.

            Eu vi, há pouco, a história de um jovem terminando doutorado em Nanotecnologia, em Bruxelas, que está deixando de lado tudo o que estudou para se preparar e fazer concurso para trabalhar em uma das polícias do Brasil: ou a Federal ou a Civil. Não vou dizer que o trabalho das polícias não seja importante, mas um jovem que fez Nanotecnologia, que gastou recursos nossos para estudar Nanotecnologia, de quem nós precisamos para dinamizar a nossa economia, esse jovem vai fazer muita falta se queremos dar o salto para uma economia do conhecimento.

            Agora mesmo, no ITA, estão se aposentando - creio - 30% a 35% dos professores. Vai ser difícil substituí-los, pela concorrência com outros setores da economia e do serviço público, que pagam muito mais, não permitindo atraí-los. Se não resolvermos esse problema da educação, da universidade, inclusive do produto dela, dos grandes centros de ciência e tecnologia ligados à indústria e da política salarial, beneficiando e atraindo os melhores cérebros para essas áreas, este País vai provar o que lamentaremos muito: que a economia hoje está bem, mas que já ia muito mal, porque, a longo prazo, vai esbarrar em diversos daqueles pontos que eu coloquei - um deles, esse a que dediquei os meus 10 minutos hoje, é a incapacidade nossa de sermos uma sociedade e termos uma economia com alta capacidade de inovação para inventar os produtos novos, que caracterizam uma economia dinâmica no mundo do século XXI. É tempo ainda, mas não podemos adiar. E o primeiro passo é quebrar essa ilusão de que uma economia que está bem é o mesmo que uma economia que vai bem. A nossa está bem, mas não vai bem, porque tem grandes entraves que precisamos superar.


Modelo1 6/16/242:18



Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/07/2011 - Página 27042