Discurso durante a 122ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre o ritmo do crescimento econômico brasileiro no atual Governo. (como Líder)

Autor
Alvaro Dias (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PR)
Nome completo: Alvaro Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Comentários sobre o ritmo do crescimento econômico brasileiro no atual Governo. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 15/07/2011 - Página 29712
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • COMENTARIO, SITUAÇÃO, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, BRASIL, REGISTRO, DADOS, COMISSÃO ECONOMICA PARA A AMERICA LATINA (CEPAL), REDUÇÃO, CRESCIMENTO ECONOMICO, COMPARAÇÃO, PAIS, AMERICA LATINA, NECESSIDADE, CONTENÇÃO, INFLAÇÃO.

            O SR. ALVARO DIAS (Bloco/PSDB - PR. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Sr. Presidente. 

            Há anos, nós debatemos nesta Casa - e tem sido um enfrentamento com lideranças do Governo - os índices de desenvolvimento econômico do Brasil. Em várias oportunidades, nesse debate, de um lado, o Governo apresentou seu entusiasmo, às vezes até de forma ufanista, com os números do crescimento econômico, e, de outro lado, a Oposição fez o contraponto, apresentando parâmetros de comparação com o crescimento de outros países.

            A verdade é que o mundo passou, durante um bom período, por uma fase áurea de desenvolvimento, de crescimento econômico, e isso proporcionou ao Brasil oportunidades preciosas de crescimento maior. E nós sempre afirmamos que o governo brasileiro desperdiçava oportunidades de crescimento, porque estávamos crescendo muito menos do que os outros países do mundo. Eu me lembro de ter repetido aqui, inúmeras vezes: em determinado momento, o Brasil crescia mais apenas do que o Haiti.

            Ao final do ano passado, as estatísticas mostravam que, no cômputo dos oito anos, o Brasil foi um dos países da América Latina que menos cresceu. Apenas três países da América Latina cresceram menos que o Brasil. Pois bem, hoje nós somos obrigados a, mais uma vez, dizer na tribuna que aqueles que, de forma ufanista, proclamam o crescimento econômico do Brasil como uma conquista gloriosa do atual Governo estão equivocados.

            Houve um momento em que se falou em espetáculo do crescimento, e não se viu espetáculo de crescimento. Especialmente aqueles que são candidatos a ministro pronunciam discurso ufanista, na esperança de talvez serem convocados a ocupar um dos ministérios, mas os números são outros. O Brasil, mais uma vez, será o lanterninha em matéria de crescimento econômico, entre os países vizinhos.

            Segundo relatório divulgado pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe - Cepal, o Brasil será, juntamente com a Guiana, o País que registrará o menor crescimento da América do Sul em 2011, com expansão de 4%. Para 2012, estima-se que o Brasil repetirá o crescimento de 4%.

            No nosso entorno, a economia do Peru terá um crescimento de 7,1%; a do Uruguai, de 6,8%; a do Chile, de 6,3%; a do Paraguai, de 5,7%; a da Bolívia, de 5,7%; a da Venezuela, de 4,5%; a da Argentina, de 8,3%.

            De acordo com a Cepal, o crescimento econômico do Haiti será de 8%. Portanto, não posso dizer mais que o Brasil cresce apenas mais do que o Haiti. Agora não ganha nem mesmo do Haiti em matéria de crescimento econômico.

            Certamente os governistas continuarão a alardear que o Brasil cresce de forma extraordinária. No ano passado, o Paraguai cresceu o dobro. O Brasil cresceu a metade do que cresceu o Paraguai no ano passado.

            O estudo da Cepal alerta para a necessidade de conter a inflação e destaca a vulnerabilidade da região diante do espetáculo especulativo, que pode causar bolhas financeiras imobiliárias.

            A variação da inflação no Brasil medida nos 12 meses encerrados em maio último foi de 6,6%, uma das maiores taxas inflacionárias da região.

            O Chefe da Divisão de Desenvolvimento da Cepal, Osvaldo Kacef, aponta o contrassenso local: o Brasil impõe restrição à entrada de capitais e, ao mesmo tempo, eleva a taxa de juros, exibindo-se mais atrativo para os capitais. Ele considera o câmbio valorizado como um veneno de efeito gradativo. O Brasil, entre 2007 e 2010, atraiu 76% do capital de curto prazo entre 19 países da região. O especialista manifestou ainda preocupação no tocante à primarização das exportações brasileiras.

            É fato: a participação de produtos manufaturados na pauta das nossas exportações caiu de 55%, em 2005, para 39%, em 2010.

            A Cepal alerta sobre a necessidade de a política fiscal ser direcionada para o aumento da poupança do setor público. “O cenário internacional é muito incerto, e os países da região devem aproveitar o momento favorável para se preparar para um período pior.”

            Sr. Presidente, vários analistas econômicos recomendam que, diante de um cenário internacional nebuloso e marcado por muita instabilidade nos mercados financeiros, um governo prudente cuidaria de reduzir a vulnerabilidade da economia nacional. Algumas medidas deveriam ser adotadas: um planejamento rigoroso dos gastos, com foco na moderação e na eficiência, e o ataque com rigor aos focos de inflação.

            As análises são convergentes num ponto: a nossa economia, a exemplo de outros países emergentes, tornou-se perigosamente aquecida. As pressões inflacionárias aumentaram.

            É preocupante, como constatam...

(Interrupção do som.)

            O SR. ALVARO DIAS (Bloco/PSDB - PR) - ... especialistas na matéria, o fato de os gastos governamentais, no Brasil, continuarem crescendo praticamente sem controle, em grande medida alimentados por uma receita tributária em contínua expansão. É bom citar que, no último ano, o crescimento do quadro de funcionários públicos dos três Poderes foi de 52 mil servidores. As importações cresceram de forma expressiva e com velocidade, impulsionadas pela demanda interna e pela valorização cambial.

            O superávit comercial foi carcomido, e alguns países, notadamente o Brasil, passaram a ser deficitários na conta corrente do balanço de pagamentos. No caso brasileiro, o déficit deste ano está estimado no mercado financeiro em US$60 bilhões. Para o próximo ano, a projeção é de um rombo de US$70 bilhões.

            Se houver um agravamento do cenário global, é possível que o financiamento desse déficit seja comprometido em face das cautelas adotadas pelo próprio no mercado financeiro. As condições do comércio internacional poderão agravar-se. A América do Sul, notadamente o Brasil, é zona de risco igualmente.

            Portanto, Sr. Presidente, nós recomendamos cautela e prudência. O discurso ufanista que se ouve aqui, no Senado, de quando em vez, não se justifica. O cenário, no que diz respeito ao crescimento econômico do País, não é para se comemorar. Ao contrário, é para se buscarem alternativas para a reversão dessa tendência.

            Estamos verificando que, a cada ano, o País cresce menos, na comparação com os nossos vizinhos, e isso é que tem que ser estabelecido como parâmetro para analisar e para avaliar o crescimento econômico do País.

(Interrupção do som.)

            O SR. ALVARO DIAS (Bloco/PSDB - PR) - Vou concluir, Sr. Presidente.

            Creio que esses números, quando colocados em quadros comparativos, é que devem nos orientar, já que um país com as potencialidades econômicas como o nosso não pode crescer nesse percentual inferior a países emergentes, muitos deles com potencialidades inferiores às nossas. Ou seja, estamos desperdiçando oportunidades de oferecer qualidade de vida mais adequada à população brasileira em razão da contenção do processo de crescimento econômico do nosso País porque o Governo não tem tido a capacidade para impulsioná-lo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/07/2011 - Página 29712