Discurso durante a 124ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Apresentação de requerimento de Voto de Solidariedade ao governo e ao povo norueguês em razão dos atentados cometidos em Oslo e na ilha de Utoya.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Apresentação de requerimento de Voto de Solidariedade ao governo e ao povo norueguês em razão dos atentados cometidos em Oslo e na ilha de Utoya.
Publicação
Publicação no DSF de 02/08/2011 - Página 30706
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • REGISTRO, APRESENTAÇÃO, REQUERIMENTO, VOTO, SOLIDARIEDADE, POVO, GOVERNO ESTRANGEIRO, PAIS ESTRANGEIRO, NORUEGA, REFERENCIA, ATENTADO, JUVENTUDE, PAIS.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, AUTORIA, MARINA SILVA, EX SENADOR, PUBLICAÇÃO, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), RELAÇÃO, SOLIDARIEDADE, POVO, PAIS ESTRANGEIRO, NORUEGA, REFERENCIA, ATENTADO, JUVENTUDE.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Prezado Presidente, Senador Paulo Paim, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, venho aqui requerer, nos termos do art. 222 do Regimento Interno, seja inserido em ata Voto de Solidariedade ao governo e ao povo norueguês em razão dos terríveis atentados cometidos em Oslo e na ilha de Utoya.

            Os terríveis atentados terroristas acontecidos recentemente em Oslo, capital da Noruega, e na pequena ilha lacustre de Utoya provocaram um grande choque em todo o mundo e deixaram um saldo trágico de 77 mortos, em sua maioria, adolescentes que participavam de um acampamento promovido pelo partido trabalhista norueguês.

            Trata-se da pior tragédia acontecida na Noruega, um país dedicado à paz, desde a Segunda Guerra Mundial.

            Num mundo já acostumado à violência, os recentes atentados cometidos na Noruega surpreendem pela crueldade. Além das bombas colocadas no centro de Oslo, o terrorista confesso, Anders Behring Breivik, assassinou a sangue frio, com estudada meticulosidade, dezenas de adolescentes inocentes que estavam acampados na ilha de Utoya, num massacre que perdurou por quase uma hora.

            Matar propositalmente jovens inocentes, quase crianças, tem um sentido terrível: significa intenção de matar o futuro, aniquilar a inocência e mutilar a esperança. Em seu delírio ideológico de inspiração nazifascista, é possível que o assassino acredite ter plantado a semente de um novo regime racial e culturalmente intolerante, antidemocrático e fortemente repressivo. Pois se enganou.

            A reação da sociedade norueguesa à tragédia é exemplar. O Primeiro-Ministro trabalhista Jens Stoltenberg vem orientando seus concidadãos a “conservar seus valores de tolerância e democracia”. O Rei Herald V manda mensagens afirmando que a transparência, a abertura e a democracia são valores fundamentais que devem continuar a constituir a identidade do país. 

            Cidadãos anônimos expressam o seu firme desejo de que a Noruega reaja à tragédia e ao choque com mais democracia, mais tolerância, mais solidariedade. Afirmam que a Noruega não deve reagir como os Estados Unidos da América, que, após os atentados de 11 de setembro de 2001, montou um aparato repressivo sufocante. A Noruega responde à violência com paz.

            Na ultima sexta-feira, 29 de julho, Oslo foi palco de um desfile de rostos compungidos, mas serenos, de cidadãos que depositavam flores, velas e mensagens para as 77 vítimas.

            Foi um “atentado contra a democracia”, afirmou Stoltenberg, em um ato perante sua militância social-democrata, cada um com uma rosa na mão, e perante jovens vestidos de preto, com uma insígnia vermelha na lapela com as siglas das juventudes do partido.

            “Responderemos ao ódio com amor”, enfatizou Stoltenberg, repetindo aquela que foi a consigna diária do político social-democrata, bastante elogiado pela imprensa conservadora por ter encontrado palavras de esperança na tragédia coletiva.

            “Vocês não estão sozinhos, nosso movimento é o ombro sobre o qual podem chorar”, acrescentou Stoltenberg, após uma longa semana em que parecia onipresente.

            “(Stoltenberg) deu uma lição a todos, isso é certo”, admitiu Arnt Hargen, vereador do opositor Partido Progresso no distrito de Bislett, no norte de Oslo.

            Talvez a declaração que melhor resume esse extraordinário espírito da Noruega tenha sido a do prefeito de Oslo, Fabian Stang, que afirmou: “Juntos puniremos o assassino. E seu castigo será mais generosidade, mais tolerância, mais democracia.”

            O Brasil e o mundo têm de se inspirar nessa altiva reação da Noruega ao grave trauma da violência gratuita.

            E o Senado Federal, representante da democracia brasileira, não pode deixar de manifestar sua irrestrita solidariedade ao povo e ao governo noruegueses, nesse momento difícil em que o trauma faz aflorar o que a Noruega tem de melhor. Os jovens de Utoya, tenho certeza, estão orgulhosos de seu país.

            Em vista do exposto, conclamamos os nobres pares a apoiarem este importante requerimento.

            Eu gostaria de dizer que os Senadores aqui presentes, como o próprio Presidente Paulo Paim, o Senador José Pimentel, a Senadora Lídice da Mata, a Senadora Ana Rita e ainda o Senador Alvaro Dias assinaram o presente requerimento. O Senador Vital do Rêgo também disse que gostaria de assiná-lo.

            Sr. Presidente, quero destacar o tão belo artigo escrito pela nossa colega, a ex-Senadora Marina Silva, na Folha de S. Paulo, nesta segunda-feira, 29 de julho, em que ela expressa que visitou três vezes a Noruega: “Em duas, fui a trabalho, como Ministra do Meio Ambiente, e, na última, tive a honra de receber o Prêmio Sofia. Já da primeira, impressionei-me com a ausência de ostentação, que pude ver em três dimensões: nas ruas, com a simplicidade das pessoas; nas esferas de poder, como no austero gabinete do amigo Erik Solheim - que acabara de ser nomeado ministro -, e, principalmente, na arte, em uma visita ao Museu Nacional, onde vi a obra “O Grito”, de Edvard Munch.”

            E ela aqui comenta: “O pavor que grita no quadro de Munch é o de um tempo em que não agredíamos tanto a natureza e, embora nos sentíssemos vulneráveis, talvez não o fôssemos tanto quanto hoje”.

            E ela, ao concluir, lembra as palavras de Hannah Arendt, “para quem os homens ‘embora devam morrer, não nasceram para morrer, mas para recomeçar’. Mergulhando em nossa dor, acharemos o ponto onde ela se origina: ao nos separarmos da natureza ao ponto de nos opormos a ela, separamo-nos e opomo-nos a nós mesmos. Precisamos, portanto, recomeçar”.

            Eu gostaria, Sr. Presidente, de requerer também que seja transcrito, na íntegra, o belo artigo de Marina Silva, ao requerimento, e toda a minha solidariedade ao povo da Noruega como um dos povos que mais admiraram, sempre, a recomendação de Martin Luther King Jr.: “Vamos sempre procurar confrontar a força física com a força da alma”.

            Muito obrigado.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR EDUARDO SUPLICY EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do regimento Interno.)

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Matéria referida:

- Artigo da ex-Senadora Marina Silva no jornal Folha de S. Paulo, do dia 29 de julho de 2011.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/08/2011 - Página 30706