Pronunciamento de Cyro Miranda em 03/08/2011
Discurso durante a 126ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Homenagem a passagem do 25º aniversário de falecimento do educador potiguar Luís da Câmara Cascudo.
- Autor
- Cyro Miranda (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/GO)
- Nome completo: Cyro Miranda Gifford Júnior
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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HOMENAGEM.:
- Homenagem a passagem do 25º aniversário de falecimento do educador potiguar Luís da Câmara Cascudo.
- Publicação
- Publicação no DSF de 04/08/2011 - Página 31222
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
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- HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, INTELECTUAL, ESCRITOR, JORNALISTA, ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (RN).
O SR. CYRO MIRANDA (Bloco/PSDB - GO. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a etnografia e a etnologia modernas decerto encontram em Luís da Câmara Cascudo um precursor, porquanto esse educador, folclorista e ensaísta compreendeu cedo que a história não poderia ser reduzida apenas à biografia e aos feitos dos homens ilustres.
Não que estes não devam receber o devido destaque como líderes dos movimentos balizadores de cada trecho dos diversos períodos da história da sociedade brasileira.
Mas a construção dos episódios tem fronteira bem mais ampla do que o poder exercido pelos políticos ou pelas classes proeminentes na sociedade e engloba os hábitos, os costumes, os valores e as crenças do homem comum, da metrópole e do interior.
Esse alcance e percepção da vida nacional foram sabiamente compreendidos por Luis da Câmara Cascudo, que se debruçou sobre o detalhe, o pormenor das culturas brasileiras e manteve um olhar atento ao descrever o sertanejo e contar a sabedoria popular, com o fez, por exemplo, em Vaqueiros e Cantadores.
Sem dúvida, Vaqueiros e Cantadores é um dos livros que consagra este filho do Rio Grande Norte, emérito professor, educador e folclorista a quem homenageamos pelo transcurso do 25° aniversário de sua morte, ocorrida em 30 de julho de 1986.
A dedicação de Câmara Cascudo ao estudo da cultura popular rendeu-nos, como legado, uma vasta obra com mais de cem volumes, reconhecida no Brasil e no exterior.
Não é possível falar em folclore no Brasil, sem mencionarmos o nome de nosso homenageado, tampouco sem reconhecer a importância do magistral Dicionário do Folclore Brasileiro.
Cascudo teve o alcance intelectual para compreender o sentido e as origens dos hábitos mais comezinhos da vida da cidade e do campo, tão bem traduzidos em volumes como Rede de Dormir e História da Alimentação no Brasil.
Esse proeminente intelectual fez os grandes centros do Sul e do Sudeste curvarem-se à pujança de sua obra, expressão legítima do Nordeste, cantado em cordéis, descrito em mitos e crenças passadas de geração a geração pela cultura popular.
Cascudo nasceu em uma família que pôde lhe proporcionar acesso à educação de boa qualidade, com preceptores particulares.
Mas o mérito de nosso homenageado foi exatamente romper as fronteiras de uma vida, que poderia ter-se restringido ao mundo dos grandes acontecimentos, para mergulhar na etnologia e etnografia, que delineiam um retrato mais justo e preciso da história ao compô-la, também, pela rotina e os costumes dos homens comuns.
Como bem descreve o pesquisador Vicente Serejo, assim é que "filho único de Francisco Justino de Oliveira Cascudo e Ana Maria da Câmara Cascudo, ele comerciante e coronel da Guarda Nacional, ela dos afazeres domésticos, nasceu Luís da Câmara Cascudo em Natal, a 30 de dezembro de 1898, onde viveu 88 anos até seu coração parar na tarde do dia 30 de julho de 1986.
Na água do primeiro banho a mãe despejou um cálice de Vinho do Porto para o filho ter saúde e o pai a temperou com um Patacão do Império para merecer fortuna. O Padre João Maria, um santo da cidade, batizou-lhe no Bom Jesus das Dores, e a poetisa Auta de Souza, amiga da sua mãe, embalou seu choro forte de menino-homem" .
Sem dúvida, são descrições como essa que motivaram o encanto e a dedicação de Luís Câmara Cascudo para compor uma vasta obra sobre os hábitos, a cultura e o folclore brasileiro.
Que este potiguar possa continuar a ser lembrado pela sua contribuição como educador, ensaísta e folclorista e a inspirar as novas gerações a continuar-lhe a obra de trazer para o centro da historiografia a cultura popular.
Muito obrigado!