Discurso durante a 127ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro da viagem de S.Exa. à China, a convite do Partido Comunista daquele país.

Autor
Rodrigo Rollemberg (PSB - Partido Socialista Brasileiro/DF)
Nome completo: Rodrigo Sobral Rollemberg
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA.:
  • Registro da viagem de S.Exa. à China, a convite do Partido Comunista daquele país.
Publicação
Publicação no DSF de 05/08/2011 - Página 31386
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • REGISTRO, VIAGEM, ORADOR, PAIS ESTRANGEIRO, CHINA, ELOGIO, GOVERNO ESTRANGEIRO, PLANEJAMENTO, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, NECESSIDADE, GOVERNO BRASILEIRO, INVESTIMENTO, TECNOLOGIA, AGREGAÇÃO, VALOR, PRODUTO NACIONAL.

            O SR. RODRIGO ROLLEMBERG (Bloco/PSB - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Parlamentares, subo a esta tribuna para, rapidamente, fazer um registro da viagem que tive oportunidade de fazer à China, a convite do Partido Comunista da China, durante as duas semanas do recesso parlamentar.

            Fomos numa delegação de quatro partidos - PSB, PDT, PCdoB e PT-, uma delegação composta por Parlamentares e por dirigentes partidários. Isso demonstra o interesse do Partido Comunista da China e da China de ampliar os laços de cooperação com os partidos brasileiros e com o nosso País.

            Fomos recebidos, nos diversos dias em que ficamos lá, por diversas autoridades da China. Quero destacar o Sr. Wang Lequan, que é do Birô Político do Comitê Central do Partido Comunista da China e Subsecretário do Comitê de Assuntos Políticos e Jurídicos do Comitê Central do PCCh. Fomos também recebidos pelo Chen Fengxiang, Vice-Ministro do Departamento Internacional do Comitê Central do Partido Comunista, pelo Sr. Xu Zhen-Zhong, da Academia Nacional de Administração da China e também por diversos outros dirigentes partidários e dirigentes políticos das diversas províncias que tivemos a oportunidade de visitar. Visitamos Beijing, Lijiang, Kunming e Shanghai.

            Quero registrar que há uma expectativa grande na relação comercial da China com o Brasil, especialmente em função da preocupação daquele país com a questão da segurança alimentar e com a questão da segurança energética.

            Quero ressaltar, Senador Pedro Taques, que a China já é o maior parceiro comercial do Brasil, o que demonstra, no meu entendimento, Senador Anibal, uma decisão correta da política externa do governo do Presidente Lula, porque, como o mercado consumidor chinês vem aumentando muito nos últimos anos, isso tem contribuído para ampliar muito a exportação de commodities brasileiras e ajudou muito o Brasil na superação da crise mundial.

            Só para dar um exemplo, as exportações brasileiras, o comércio internacional brasileiro cresceu com todos os países, de 2000 a 2010, em torno de 245%. Nesse mesmo período, com a China, cresceu 2.343%. Nós tínhamos, em 2000, um intercâmbio com a China, que representava 2,08% do comércio externo brasileiro e, em 2010, isso representou 14,7%. O Brasil tem um superávit positivo nessa relação bilateral com a China - em torno de cinco bilhões -, porque exportamos, no último ano, 30,786 bilhões e importamos 25,593 bilhões, embora, na composição desses números, o que se revela é que vendemos commodities, especialmente ferro, soja e petróleo - são esses os três principais itens de exportação do Brasil para China -, e compramos partes de aparelhos receptores e transmissores, dispositivos de cristais líquidos, partes para aparelhos de telefonia e telas para microcomputadores, o que demonstra que, na pauta de importações brasileiras, temos produtos com altíssimo valor agregado e, na pauta de exportações, o Brasil vende produtos com pouco valor agregado. Isso demonstra a necessidade de o Brasil investir em uma política industrial, tecnológica e que garanta um volume maior na sua exportação de produtos manufaturados.

            Mas algumas coisas me chamaram a atenção na China.

            Primeiro, a infraestrutura, que é realmente impressionante. Ainda hoje alguém conversava comigo e dizia que grande parte das gruas do mundo - parece-me que quase metade delas - estão na cidade de Shanghai. Realmente é impressionante o volume de obras que a gente vê na China; o número de portos e de aeroportos, a qualidade e o tamanho deles, revelando, efetivamente, uma infraestrutura extraordinária.

            Outra coisa que chama a atenção e salta aos olhos, é o desenvolvimento planejado, o planejamento das atividades de curto, médio e longo prazos. A China sabe exatamente o que está fazendo e aonde quer chegar. Impressionaram-me, também, os investimentos em alta tecnologia, que têm contribuído para que a China se transforme, efetivamente, na segunda economia do mundo e com uma perspectiva muito grande de, nos próximos anos, superar a economia norte-americana e se transformar na maior economia do mundo.

            Também ficou bastante patente a preocupação com a corrupção. Não foi à toa que, na semana em que chegamos à China, dois prefeitos tinham sido condenados à morte, acusados de corrupção. Essa é uma preocupação presente, a gente percebe que esse é um fenômeno presente no mundo, de uma forma geral. Em função de o Partido Comunista da China já estar no poder há 62 anos, ou seja, desde 1949, quando foi construída a República Popular da China, efetivamente há um preocupação muito grande com a corrupção. Essa é uma característica que tende a aumentar com a continuidade, com o tamanho dos governos. 

            Há também algumas decisões de caráter estratégico; uma que me chamou a atenção foi a de urbanizar o país. Sessenta por cento da população da China ainda se encontra no campo, e os índices de maior pobreza da China também se encontram no campo. Daí a decisão do país de fazer um grande processo de urbanização, embora esse processo seja completamente diferente do brasileiro porque se dá de forma planejada.

            Outra preocupação bastante presente é a necessidade de aumento da renda per capita, embora a China já seja a segunda economia mundial, em função do número enorme de chineses, um bilhão e trezentos milhões, a renda per capita gira em torno de quatro mil dólares por ano, enquanto a renda brasileira, por exemplo, está em torno de dez mil dólares por ano. Portanto, há essa preocupação de aumentar a renda per capita da população.

            Estão fazendo grandes investimentos em tecnologia para energias renováveis, me chamou muito a atenção na cidade de Kunming grande número de motos elétricas circulando. Certamente essas motos já, já, estarão sendo exportadas para o mundo. Eles estão fazendo muitos investimentos em energia solar, energia eólica e em outros tipos de energia renovável. Há uma decisão também muito clara, de promover o desenvolvimento de regiões deprimidas dentro dessa perspectiva de planejamento de longo prazo, de focar grande parte dos investimentos em regiões depreciadas economicamente.

            De qualquer forma existem enormes desafios para a China como existe para o Brasil e para outros países. Mas no caso específico deles, há uma preocupação enorme com a segurança alimentar já que se de alimentar um bilhão e trezentos milhões de chineses. Qualquer pequeno desafio na China se torna um grande desafio em função do tamanho da população. A China se preocupa também com a segurança energética, já que tem uma economia ainda muito dependente do carvão e do petróleo, e não tem produtos suficientes para suprir a necessidade energética do país. Além disso, há 55 etnias na China, Sr. Presidente, o que torna mais complexo o processo de administração num país como esse. Há regiões, como a região do Tibete, em que existem disputas políticas em relação à soberania daquela área.

            É,. Evidentemente, importante ressaltar que ainda há um grande espaço de cooperação política, comercial, cultural entre esses dois países que podem melhorar muito e de forma significativa a qualidade de vida da população da China e da população do Brasil. Mas o nosso grande desafio é investir em tecnologia, em conhecimento, para agregar valor à nossa produção, agregar valor à nossa pauta de exportações, modificando esse perfil de apenas vender commodities e apenas comprar produtos com alto valor agregado.

            Eu gostaria de deixar esse registro, Sr. Presidente.

            Agradeço a V. Exª.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/08/2011 - Página 31386