Pronunciamento de Roberto Requião em 08/08/2011
Discurso durante a 129ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Comentários acerca das críticas, formuladas pelo jornalista Ricardo Boechat, a S.Exa.; e outro assunto.
- Autor
- Roberto Requião (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
- Nome completo: Roberto Requião de Mello e Silva
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
EXPLICAÇÃO PESSOAL.:
- Comentários acerca das críticas, formuladas pelo jornalista Ricardo Boechat, a S.Exa.; e outro assunto.
- Publicação
- Publicação no DSF de 09/08/2011 - Página 31883
- Assunto
- Outros > EXPLICAÇÃO PESSOAL.
- Indexação
-
- RESPOSTA, CRITICA, DIFAMAÇÃO, ELABORAÇÃO, JORNALISTA, RELAÇÃO, ORADOR.
O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco/PMDB - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Durante o recesso, Senador Paulo Paim, estive no Paraguai para conversar com o Presidente Lugo Méndez sobre os problemas de brasileiros naturalizados paraguaios, seus filhos paraguaios e a questão da terra. Foi muito bem-sucedida a visita, e as medidas tomadas pelo governo paraguaio me satisfizeram amplamente. É uma questão paraguaia, de soberania do Paraguai, e o Presidente da República criou uma comissão mista, com o Judiciário, o Executivo e o Legislativo, para tratar de uma forma mais efetiva o problema. Andou muito bem o Presidente Lugo Méndez nessa questão.
O vereador Hermógenes - o Mogênio - e o vereador Sérgio Beltrame me acompanharam, representando os filhos de brasileiros e brasileiros naturalizados. Foi muito bem-sucedida a visita.
Nesses dias de recesso, mais uma vez, fui atacado de forma raivosa, colérica, com fúria hidrófoba pelo Sr. Ricardo Boechat. Ataques a mim e à minha família, porque ele não se contentou em mirar-me. Ataques seguidos, repetidos, e um crescendo desvairado, apoplético. Por quê? Por causa do arquivamento da representação contra mim, a propósito do famoso caso do gravador, sobre o que já me pronunciei nesta tribuna.
Quando pensava que, nesses anos de vida pública, tendo sido Deputado, Prefeito, três vezes Governador, Senador pelo segundo mandato, já tivesse a pele curtida por tantos ataques, críticas, calúnias e acusações infamantes, que já passara por tudo e mais um pouco, surpreendo-me com a voracidade, com o apetite vampiresco de alguns agressores.
Certamente abastecido pelos meus adversários no Paraná, o Sr. Boechat disse coisas gravíssimas, sem se preocupar com a verdade dos fatos. Sou jornalista e aprendi que a preocupação suprema do jornalista ou do jornalismo é a verdade e que a verdade está nos fatos. Mas que se lhe dá se a verdade contrarie o que diz? Se o propósito do Sr. Boechat é injuriar, difamar, destruir? Azar da verdade. Intrometeu-se onde não devia.
O Sr. Boechat conhece o Paraná? O que ele sabe de mim e de meu governo? O que sabe o Sr. Boechat do Porto de Paranaguá, um de seus temas favoritos ao atacar-me? Nada. Não sabe nada. Não faz mais que repetir tediosamente os argumentos de meus adversários, daqueles que processo por assalto ao dinheiro público.
De nada sabe da luta dificílima, insidiosa que o meu governo enfrentou para recuperar o Porto de Paranaguá, para limpá-lo das quadrilhas que o assaltaram e para afastá-lo do apetite salivante dos que pretendiam privatizá-lo.
O que sabe o Sr. Boechat da fraude das balanças, do roubo de cargas, da areia adicionada às sacas de soja e milho para aumentar o peso? Da urina bovina também adicionada aos grãos para aumentar o teor protéico? Da divisão das operações no porto entre bandos? Do tráfico de drogas? Da indústria de ações trabalhistas que consumiam quase todo o resultado financeiro do porto? O que sabe da desmoralização internacional do porto por causa da adulteração dos grãos que exportava?
O que sabe das mais de duas mil reclamações de importadores europeus e chineses, irritados com a falsificação do que recebiam por Paranaguá, o que nós reduzimos, com medidas duras, a zero?
Nada! O Sr. Boechat não sabe de nada. Ele apenas recolhe informações dos defensores dos interesses que contrariei ou de notórios quadrilheiros que escorracei do terminal.
O sindicado de ladrões não se conforma em ter sido expulso do cais.
O Sr. Boechat conhece o Paraná? O que ele sabe de meu governo?
Nada! Não sabe nada.
Não sabe que, no meu governo, o Paraná foi o Estado que mais avançou no combate à pobreza, que mais diminuiu a mortalidade infantil e a desnutrição da primeira infância, que mais combateu o analfabetismo, que criou o maior salário mínimo regional, Senador Paim, do País...
O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Eu estive lá, na época.
O SR. ROBERTO REQUIÃO (Bloco/PMDB - PR) - ... que zerou o imposto das microempresas e reduziu o imposto das pequenas à média de apenas 2%, que, na crise financeira global de 2008, cortou o imposto de cem mil itens de produtos de consumo popular, para estimular as compras e manter a economia girando.
Não sabe que, em meu governo, o Paraná foi o Estado que mais criou empregos com carteira assinada no País. Não sabe que meu governo instituiu a Tarifa Social do Saneamento Básico, cobrando uma tarifa simbólica pela água e pelo esgoto tratados, porque saneamento é saúde.
Não sabe que o meu governo aboliu a cobrança da conta de luz dos mais pobres, porque energia elétrica é uma conquista da civilização que não pode faltar na casa do povo.
No Paraná, Sr. Boechat, nos dias frios de inverno, os mais pobres não tinham acesso a um banho quente e nem a um ponto de luz à noite para os filhos estudarem.
O Sr. Boechat conhece o Paraná? O que ele sabe de meu governo?
Nada. Não sabe rigorosamente nada.
Não sabe que o Paraná é o único Estado que, por decisão minha e da nossa assembleia legislativa, destina 30% de seu orçamento à educação. Que a educação pública no Paraná, durante o nosso governo, alcançou as melhores avaliações do MEC, primeiro lugar do Brasil. Que nas Olimpíadas de Matemática sempre fomos os melhores. Que no ensino de Português alcançamos a ponta. Que todas as nossas escolas têm computadores em cada sala de aula, plugados à Internet por banda larga. Que restauramos o ensino técnico profissionalizante. Que produzimos e distribuímos livros didáticos gratuitamente.
Não sabe que construímos, reformamos ou ampliamos 40 hospitais, para dar ao segurado do SUS o mesmo atendimento que há em hospitais da rede privada. Que construí mais de 300 clínicas para o atendimento às mulheres e crianças de famílias mais pobres, para reduzir a mortalidade materno-infantil.
Sr. Boechat, não há paralelos no Brasil com essas clínicas e o senhor não imagina o que isso representa de proteção e carinho às famílias de menor renda.
O senhor também não sabe que construímos 320 bibliotecas em todo o Estado. Hoje, Sr. Boechat, praticamente todos os Municípios do meu Paraná têm bibliotecas. Todas com computadores ligados à Internet, por banda larga. Livros, Sr. Boechat, livros a mãos cheias para a formação de mulheres e homens livres, bem informados.
O Sr. Boechat não sabe nada disso. Ele não conhece nem a mim nem ao Paraná.
Ele não sabe que abri, irrestritamente, todas as contas do Estado, que coloquei na Internet cada tostão gasto.
O Paraná, Sr. Boechat, fez isso antes de todos os governos. Nada a esconder, Senador Paim, tudo a revelar. Sem medo.
Mas, o Sr. Boechat não sabe nada disso.
Ele não sabe que, pela primeira vez em décadas, sob o nosso governo, estancamos o processo de desaparecimento da pequena propriedade rural, segurando, em consequência, o êxodo até então incontrolável para as cidades.
Ele não sabe, Senador Blairo Maggi, que, das 371 mil propriedades rurais no Paraná, 320 mil são pequenas propriedades, até então abandonadas pelo poder público. E o nosso governo apoiou-as com crédito, assistência técnica, tratores, irrigação, sementes, moradias, saneamento, estradas, escolas agrícolas.
O Sr. Boechat não sabe nada disso.
Não sabe que o nosso governo fez uma clara opção preferencial pelos mais pobres, certamente para escândalo de alguns pretensos intelectuais, com aquele característico corte blasé, hoje capturados pela mediocridade do pensamento neoliberal, de que o Sr. Boechat parece ser um exemplo bem talhado.
Mas o Sr. Boechat não é de todo ignorante. De uma coisa ele sabe. Ele sabe que cortei as verbas públicas em propaganda. Fiz o desmame de uma sangria quase centenária. Dei um choque de capitalismo na mídia, cortei-lhe a principal fonte de sustento, o dinheiro do Tesouro Público.
Por que ele sabe disso? Porque é na mídia paranaense e em seus interesses contrariados que ele se abastece de notícias, arruína o seu fígado, exercita o seu ódio, empanturra-se de mentiras. Já que parte da mídia do Paraná fez do ataque a mim o seu meio de vida, seu sustento, porque há sempre quem pague.
O Sr. Boechat abastece-se também com meus adversários políticos, alguns conhecidos ladrões do dinheiro público, gente que já foi presa e que só está solta porque a Justiça, ora a Justiça... Um deles é um caso notável.
Este fulano, quando era secretário de Estado, liberou o bingo no Paraná, embora não tivesse competência para isso. Liberado o bingo, tornou-se dono de casas de bingo e foi pilhado em interceptações telefônicas recebendo prestação de conta do movimento das casas.
Esse mesmo personagem é acusado de desvio de milhões de reais em uma operação de levantamento de crédito tributário. Vejam vocês, levantamento de crédito tributário.
Ele e comparsas pagaram, com dinheiro público, a uma determinada associação, mais de R$10 milhões para que a tal associação levantasse créditos tributários do Detran, o Departamento Estadual de Trânsito.
Só que, senhoras e senhores, o Detran não paga ICMS, logo não tinha créditos a receber e, mesmo assim, pagou R$10 milhões pela consultoria.
Meu Deus, que desfaçatez! Que certeza de impunidade!
Pois bem, essa gente está solta, e eu fui condenado várias vezes porque os chamei pelo nome, chamei-os como devem ser chamados, Senador Vitalzinho, ladrões! Enquanto os processos contra eles patinam nos tribunais, condenam-me por denunciá-los publicamente. Ora, eles ainda não foram julgados em instância final.
É de informantes assim que parece se valer o Sr. Boechat. E com informações assim, calunia-me, ofende-me.
Mas quem é o Sr. Ricardo Boechat, esse paladino da moralidade, da retidão, esse Catão, esse varão da República, esse homem sério que nunca cometeu os deslizes, por exemplo, do Poema em Linha Reta, de Fernando Pessoa?
Quem é essa espada, esse chicote vingador dos deuses?
Seria o mesmo Ricardo Boechat demitido de O Globo, em 2001, por revelar o conteúdo de matérias que seriam publicadas pelo jornal a uma das partes que disputava o controle de um bom naco da telefonia nacional, então em processo de privatização? Seria o mesmo personagem?
A história é a seguinte: o empresário Nelson Tanure, principal acionista do Jornal do Brasil, era aliado da TIM na disputa desta com o banqueiro Daniel Dantas, pelo controle da Telemig Celular e da Tele Norte Celular. E o Sr. Boechat foi pego, apanhado, flagrado em grampos telefônicos revelando para um empregado de Tanure matérias que O Globo publicaria sobre o assunto.
Ouçam o que disse o Observatório da Imprensa sobre o escândalo:
Em um dos diálogos, ocorrido em 15 de abril [de 2001], Ricardo Boechat conta a Paulo Marinho os termos de reportagem que está escrevendo para revelar manobras do Opportunity e que seria publicada no dia seguinte em O Globo.
Pela conversa, fica evidente que a direção do jornal não foi informada sobre o grau de ligação do jornalista com Nelson Tanure e sobre o fato de que a reportagem foi minuciosamente discutida com Paulo Marinho.
A nota do Observatório conclui:
Curiosamente, a reportagem [de Boechat] acabou sendo usada, dez dias depois, como peça de processo na ação judicial dos fundos de pensão [...] contra o Opportunity.
Oportuno, não é, Sr. Boechat?
Chamado às falas pela direção de O Globo, o senhor Ricardo Boechat teve suas explicações rejeitadas e acabou sendo - como se diz hoje, Senador Simon, nesses casos do Governo Federal - defenestrado pelo jornal.
Na verdade, os fatos explicavam tudo. E é nos fatos que todo jornalista deve buscar a verdade.
Que mais dizer ao Sr. Boechat? Que mais dizer do Sr. Boechat?
O que ele disse a meu respeito está sendo levado pelos meus advogados aos tribunais.
Ocorre-me, neste momento, um dito popular: “Se você for mordido pelo cachorro, bata no dono, não no cachorro.” Mas e se o cachorro for um reles vira-lata, que transita pelos becos e pelas vielas, um cachorro sem dono, de muitos donos, o que podemos fazer? Bater, sem dúvida, no cachorro. É o conselho que dou às pessoas que sofrerem essas agressões, essas pequenas mordidas de cachorros vadios. E, no limite, façam como estou fazendo: recorram aos tribunais e utilizem, se puderem, tribunas como esta do Senado, de liberdade de expressão e não censurada pelos interesses dos donos de rede de televisão.
Obrigado pela tolerância do tempo, que, aliás, parece que ainda não se esgotou.
Obrigado, Senador Paim.