Discurso durante a 130ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação com os reflexos da crise econômica mundial na economia brasileira e cobrança de medidas preventivas por parte do governo federal.

Autor
José Agripino (DEM - Democratas/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ECONOMIA INTERNACIONAL.:
  • Preocupação com os reflexos da crise econômica mundial na economia brasileira e cobrança de medidas preventivas por parte do governo federal.
Publicação
Publicação no DSF de 10/08/2011 - Página 31976
Assunto
Outros > ECONOMIA INTERNACIONAL.
Indexação
  • APREENSÃO, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL, EXPECTATIVA, PREJUIZO, VENDA, PRODUTO DE BASE, BRASIL, MERCADO EXTERNO, NECESSIDADE, PROVIDENCIA, GOVERNO, REDUÇÃO, JUROS, MELHORIA, INFRAESTRUTURA, ALTERAÇÃO, POLITICA CAMBIAL, OBJETIVO, AUMENTO, CAPACIDADE, CONCORRENCIA, EMPRESA, PAIS, MERCADO INTERNO.

            O SR. JOSÉ AGRIPINO (Bloco/DEM - RN. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu queria hoje... Eu quase diria que vou abrir meu coração, porque, Senador Cyro, de uma semana para cá, o mundo está de perna para o ar, as bolsas de valores do mundo inteiro, repito, do mundo inteiro: do Japão, da Coreia, de Frankfurt, de Londres, de Madri, do Brasil, da Venezuela, da Argentina, de toda parte.

            Estamos vivendo uma crise nova e diferente; diferente da crise de 2008. É preciso que se faça a constatação correta. Em 2008, a crise decorreu do cometimento de irresponsabilidades da “banca”. Os bancos dos Estados Unidos, principalmente, com as suas ramificações pelo resto do mundo, porque a economia americana entra com tentáculos pela economia japonesa, europeia, sul-americana. Os bancos americanos têm ramificações por hedge, por razões de ordens diversas, com o mundo inteiro, e o processo do subprime, que era empréstimo para, fundamentalmente, financiamento de construção de moradia, era feito a pessoas que não mereciam crédito, e, em função da constatação de que havia pessoas que não tinham lastro para pagar o que tinham tomado emprestado, ocorreu uma crise de ordem bancária. Quem quebrou foram os Lehman Brothers da vida, foram os bancos dos Estados Unidos, da Europa etc.,

            Mas, Senador Jarbas Vasconcelos, estavam prontos para socorrer os países com os seus bancos centrais, o que ocorreu. Havia uma arma chamada taxa de juros, que foi acionada, e a banca internacional, com o tempo, foi sendo equilibrada e foi salva pela ação de governos. A crise do subprime, de 2008, foi contida pela ação de governos.

            A crise de hoje, Senador Aloysio Nunes Ferreira, é de governos, estamos na ponta da linha. A crise agora é decorrente de um processo que escrachou, como, por exemplo, o da economia americana. Finalmente aparecem dados: o PIB dos Estados Unidos cresce 2,7%, e a dívida cresce 11%. Há anos seguidos que se estabelecem déficits na economia americana, e esses déficits vão se somando.

            Estabeleceu-se uma disputa política entre republicanos e democratas, que produziu esse desastre que está ocorrendo agora, pela vertente política, mas com fundamento econômico. A quem é que se vai apelar? Quem está provocando essa avalanche nas bolsas de valores é a perspectiva de recessão nos Estados Unidos, que sustentam a China. Quem compra da China é fundamentalmente o mundo, mas a começar pelos Estados Unidos.

            Se a América acumulou uma dívida pública interna do tamanho que está, a discussão política entre democratas e republicanos levou a uma situação que mostrou ao mundo que a credibilidade da América não era mais AAA, mas AA só, e daí adveio o efeito dominó que ocorreu.

            O Brasil percebeu, por exemplo, que não vai ter muitas opções para vender suas commodities. Por que a Bovespa está em queda violenta? Porque a Vale do Rio Doce, que vende minério de ferro para a China, para a Europa e para os Estados Unidos, está enxergando que vai faltar comprador, a Petrobras, idem, assim como as empresas que produzem grãos e que vendem carne e, infelizmente, o Brasil ainda está sustentando sua balança comercial com commodities, porque o produto industrial está em queda.

            A balança comercial do produto industrial brasileiro - e esse é um perigo - está em queda. Em função da recessão americana, a perspectiva não é favorável para as nossas commodities que estão na bolsa, na Bovespa, para as empresas que vendem as commodities. E mais do que isso, ou tanto quanto isso: há o problema que a Europa está vivendo ou vai viver ainda mais, porque, por enquanto, é Grécia, é Irlanda, é Portugal, mas vêm aí - e eu espero que não venham - Espanha e Itália, que vão produzir uma recessão internacional que se alia à estagnação da economia do Japão, que vai produzir, como expectativa para as nações emergentes como o Brasil, uma dificuldade enorme para viver de vendas externas.

            Eu digo isso porque eu nunca vi na história recente do Brasil uma avalanche maior na bolsa de valores, com a Vale do Rio Doce e a Petrobras perdendo 40 bilhões em dois ou três dias. Eu nunca vi um desastre maior. E isso nos remete a uma reflexão: o que é que está acontecendo com o mundo? O mundo desenvolvido está anunciando a recessão. O Brasil, que vendia, e vendia muito, a este mundo desenvolvido, vai ter que compartilhar desta recessão. Quem estava imaginando? Crescemos a 7,5%, esse foi crescimento do PIB ano passado. Previa-se um crescimento de 4,5%. Deus queira - olha que eu não quero vaticinar o mal -que cresçamos 3% em 2011, Deus queira.

            Todas as contas, Senador Cyro, todas as contas do Orçamento foram feitas para um crescimento de 4,5% do PIB. Com essa previsão de crescimento do PIB, você tem uma receita arrecadada, que faz face a uma despesa que o Governo pratica. Não vai acontecer essa receita, o PIB do Brasil vai cair, infelizmente vai cair.

            Ah, o desastre está anunciado. E o Governo está anunciando algumas... Eu sinto o Governo meio tonto. Eu sinto o Governo meio tonto. Eu não sinto firmeza nas posições que o Governo está querendo adotar. Com a perda da receita, é preciso, imediatamente, começar a raciocinar sobre o corte das despesas não recessivas, sobre o corte do gasto público de má qualidade, sobre o equilíbrio fiscal, mas eu não estou vendo providências nesse sentido.

            Estou vendo anúncios de um analgesicozinho aqui, um atroveranzinho acolá para possibilitar que as empresas industriais possam exportar um milhãozinho de dólares a mais ou a menos, mas o problema é muito mais sério. E digo mais: a receita vai cair, porque o PIB vai cair, vai faltar para quem vender commodities. A economia do Brasil tem de se voltar para dentro do Brasil.

            E aí, Senador Aloysio Nunes Ferreira, o mercado brasileiro pode ser abastecido por empresas brasileiras ou por quem vender mais barato do que as empresas brasileiras. V. Exª acha que, com a taxa de juros que nós temos, com a carga tributária que nós temos, com a escassez de mão de obra qualificada que nós temos, com o câmbio valorizado que nós temos, com a infraestrutura deficiente que nós temos, as empresas brasileiras vão ter competitividade para oferecerem ao nosso mercado interno melhores preços do que os que podem oferecer as empresas chinesas, por exemplo, ou algumas alemãs, francesas ou japonesas?

            E como é que fica? Cadê as providências para enfrentar a crise sem poder vender commodities para fazer balança comercial favorável, sem poder fazer o mercado externo, como está sendo feito em termos de normalidade? Como nos voltarmos para dentro de nós próprios com esse quadro, quadro diferente daquele que a Coreia tem e pode exibir, que a Alemanha tem e pode exibir, que o Japão tem e pode exibir, de juros civilizados, de mão de obra qualificada abundante, de infraestrutura perfeita? E aí?

            O que eu quero dizer, e faço um alerta em função da crise que está posta, é que eu, que presido um partido de oposição, me ofereço ao Governo para votarmos aquilo que é preciso votar. Mas não adianta querer contemporizar, achar que nada está acontecendo. Eu quero votar coisas consistentes para que nós possamos atravessar a crise de forma decente, civilizada, altiva. Agora, que nos falem, que nos proponham coisas decentes, civilizadas e altivas.

(Interrupção no som.)

            O SR. JOSÉ AGRIPINO (Bloco/DEM - RN) - Já encerro.

            Precisamos racionalizar o gasto público, porque o PIB vai cair. E não adianta querer explodir o déficit público, porque isso aguenta um ano e, no ano seguinte, volta a inflação e está tudo anarquizado.

            Não adianta querer oferecer o mercado interno a empresas que não têm condição ou capacidade de oferecer bons preços, empresas cuja competitividade pode ser aumentada se o Governo oferecer melhores taxas de juros, melhor infraestrutura, um câmbio civilizado, tudo isso que eu acabei de dizer.

            O que eu quero dizer a este Plenário é que o meu partido faz a constatação clara de que estamos numa crise que vai exigir muita responsabilidade na sua administração. Os Estados Unidos estão passando por uma crise seriíssima, a Europa, o mundo inteiro, idem, e ela vai chegar. E se nós não nos prepararmos para isso, vamos sofrer duplamente.

            Pois eu quero dizer - aqui estão lideranças do PT, da Base do Governo - que o meu partido está disposto a sentar na mesa de negociação para encontrar caminhos, diferentemente do que aconteceu nos Estados Unidos, diferentemente em termos de patriotismo, por entender que é preciso fazer agora, com antecipação, aquilo que é preciso fazer para que o Brasil possa fazer a transição decente, antes que seja tarde.

            Obrigado, Srª Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/08/2011 - Página 31976