Pronunciamento de Marta Suplicy em 10/08/2011
Discurso durante a 131ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Defesa da implementação de políticas públicas voltadas ao atendimento das necessidades dos idosos.
- Autor
- Marta Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
- Nome completo: Marta Teresa Suplicy
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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POLITICA SOCIAL.:
- Defesa da implementação de políticas públicas voltadas ao atendimento das necessidades dos idosos.
- Publicação
- Publicação no DSF de 11/08/2011 - Página 32403
- Assunto
- Outros > POLITICA SOCIAL.
- Indexação
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- DEFESA, IMPLANTAÇÃO, POLITICAS PUBLICAS, PROTEÇÃO, IDOSO, IMPORTANCIA, APROXIMAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, GOVERNO MUNICIPAL, PROMOÇÃO, MELHORIA, QUALIDADE DE VIDA, CIDADÃO.
A SRª MARTA SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Prezados Senadores e Senadoras, Senadora Marinor, que preside a Mesa, inicialmente, quero falar brevemente da indignação, pois me senti muito mal com como a imprensa lidou com o meu comportamento ontem.
Depois de presidir por horas a sessão, fui ao banheiro. Não fui me esconder no banheiro; fui porque havia uma necessidade de ir ao banheiro. Então, dizer que fui me esconder no banheiro é inaceitável. E, quando saí, havia dez jornalistas, para a minha surpresa, pois não tinha visto jornalista quando fui ao banheiro. E fui perguntada sobre acontecimentos acerca dos quais eu já tinha me manifestado para a primeira jornalista que me abordou.
Então, simplesmente, disse que não iria mais falar sobre o assunto, porque já tinha me manifestado e não sabia do que se tratava, frente àquilo que vimos todos pela imprensa. Colocando a minha indignação pela forma desrespeitosa como fui tratada, passo para outro assunto mais ameno.
Quem cuidará de você? é uma coluna que fiz, na Folha de S.Paulo, que fala sobre o problema dos idosos no Brasil.
Em 2030, os idosos brasileiros serão, segundo o IBGE, quase tão numerosos quanto os jovens. Essa é uma notícia positiva, pois estamos vivendo mais, e preocupante, pois não existe planejamento no atendimento adequado aos cuidados necessários que tal população exige - sejam médicos, domiciliares, de lazer, de alternativas profissionais.
O problema do idoso não é somente brasileiro. Os países desenvolvidos também estão diante de uma situação complicada, só que muitos estão enfrentando o desafio há muito tempo. Alguns até conseguiram um planejamento exitoso.
Em 2030, os Estados Unidos terão 72,1 milhões de adultos acima de 65 anos, mais que o dobro do número de idosos em 2005. Os americanos têm uma regra: poupam para chegar à terceira idade em condições de vivem em algum lugar planejado, em comunidade. Os que podem planejam essa independência e essa assistência que a terceira idade vai exigir.
Na França, com grande número de idosos solitários, a ex-Ministra do Trabalho Martine Aubry, agora pré-candidata à presidência da França e a quem tive o prazer de conhecer há muito tempo, ainda Deputada Federal, criou um programa - com o qual fiquei encantada - que capacitava jovens a serem visitadores de idosos. Eles faziam as compras para os idosos, porque muitas vezes os idosos - e isso existe também na cidade de São Paulo; tentei fazer na cidade, mas não foi possível, não tive tempo - moram no centro, em predinhos, e não conseguem descer as escadas. Quando chegam às calçadas, as calçadas têm buracos. Não conseguem, não têm a saúde necessária para fazer as compras de supermercados. O que acontece? Passam inanição. São idosos que vivem de leite e banana, que não conseguem se alimentar adequadamente. Não conseguem, quando têm consulta médica, pegar um ônibus, porque não têm um familiar para levá-los. Pegar um ônibus na terceira idade, andar sozinho e pegar um ônibus, todos sabem, é muito difícil. Na cidade de São Paulo, nem se fala. Então, esses jovens acompanham o idoso na consulta médica, fazem uma caminhada com o idoso, porque a saúde requer, fazem as compras do supermercado para o idoso e, muitas vezes, quando têm um treinamento adequado, podem até tirar a pressão, fazer um tipo básico de trabalho e até dar banho no idoso. Esse Programa da Ministra Aubry foi muito interessante e é uma forma de nós podermos auxiliar, através do Município, porque é uma ação municipal, esses milhares de idosos que não têm família ou, se têm, a família não está lá para poder ajudá-los.
Nós sabemos que isso mudou no Brasil e no mundo. Antigamente um idoso tinha gente para tomar conta dele, a família tomava conta. A família não, a mulher tomava conta. A filha solteira deixava de ter uma profissão para ficar cuidando do pai idoso ou da mãe idosa. Depois, as coisas foram evoluindo e geralmente um dos filhos, geralmente a mulher, leva o genitor ou a genitora para a sua casa de casada e cuida desse idoso. Mas isso também está mudando, porque essa mulher hoje trabalha, e os lares hoje precisam de dois orçamentos, de dois salários. Ela não tem mais condição de cuidar do pai, do idoso.
E aí o que nós vemos é que o idoso está absolutamente desprotegido. Quantas vezes a gente ouve pedidos: Por que não existe quase que como uma creche para o idoso, em que ele possa ser ali deixado de manhã e ser retirado à tarde? Podemos encontrar várias formas de planejar, em situações específicas, concretas, esse cuidado com a pessoa idosa, que hoje, com a mudança familiar, incita um pensar novo que nós temos que agilizar.
A Constituição de 1988 fez avanços importantes, mas envelhecemos em plena fase de desenvolvimento de um País que está sendo construído em todas as áreas. A redução da pobreza é recente. Parte dos idosos é chefe de família e não tem como pensar em si mesmo.
Aí também há um problema: nós não temos condição de fazer como o povo americano, como vários povos, que começam uma poupança para a terceira idade. Muitas vezes o chefe de família não tem condição nem de pagar a conta do fim do mês, quanto mais fazer poupança para a terceira idade. E aí ele chega à terceira idade sem condições. Eu não estou nem falando da questão da fila de remédios, da fisioterapia que ele não pode.
Em São Paulo, a Prefeitura criou o CEU, centro que abrigava muitos programas para a terceira idade, como hidroginástica em suas piscinas, ioga, dança, que não são o fundamental da vida, mas sabem que isso teve um impacto na depressão.
Inclusive, nos telecentros que criamos, que são centros onde se pode utilizar o computador e ter aula gratuita, nas regiões mais pobres da cidade, a população idosa começou a comparecer, e houve redução de remédios antidepressivos nos postos de saúde daquelas regiões. Nós demoramos a perceber, mas foi muito interessante essa relação. Muitas vezes o idoso nem é incentivado para tal, ou porque não tem onde fazer caminhada perto da sua casa ou porque ele não imagina que ele possa ir a um telecentro.
Lembro-me de que, na primeira vez que visitei um telecentro, o primeiro, havia uma senhora idosa. Ele deveria ter uns setenta e poucos anos e estava ali. Eu fiquei surpresa, porque, geralmente, é difícil essa faixa etária buscar alguma coisa tão nova em um lugar que estava sendo inaugurado. E eu comentei: “Que interessante, a senhora quer aprender mexer no computador.” Olha, isso faz uns dez anos, e ela disse assim: “Eu vim inscrever a minha neta para o curso, mas a moça me perguntou se eu queria me inscrever e eu achei que, se eu posso, eu quero!” Eu perguntei: “Como está sendo?” E ela falou assim: “Ah, está sendo muito bom. Todos os neurônios começaram a funcionar.” Daí, a diminuição dos remédios antidepressivos.
Então, quanto à questão do idoso, há uma gama gigantesca em que nós podemos fazer intervenção, não só na área de remédio, nessas áreas em que sabemos que faltam também geriatras e tudo o mais, mas nas áreas em que os próprios Municípios podem se posicionar e podem ajudar essa comunidade.
Sei que o Governo tem tido essa preocupação, mas nós devemos ampliar essa preocupação também para o Governo Federal poder auxiliar prefeituras que estejam interessadas em projetos inovadores a se apropriar de programas que possam, realmente, ajudar os nossos idosos.
Muito obrigada, Senadora Marinor.
Era isso que eu tinha a falar.