Discurso durante a 132ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apoio ao governo da Presidente Dilma Rousseff e defesa de uma maior articulação entre o Congresso Nacional e o Poder Executivo.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Apoio ao governo da Presidente Dilma Rousseff e defesa de uma maior articulação entre o Congresso Nacional e o Poder Executivo.
Aparteantes
Ana Amélia.
Publicação
Publicação no DSF de 12/08/2011 - Página 32618
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • APOIO, ATUAÇÃO, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, NECESSIDADE, ESFORÇO, APROXIMAÇÃO, EXECUTIVO, LEGISLATIVO.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, tanto na vida quanto na política, o maior erro é não ver os erros, a maior dificuldade é não ver as dificuldades. E, hoje, estamos enfrentando em nosso País algumas dificuldades e vamos dizer alguns erros - falarei depois sobre isso - que não estamos vendo ou de que não estamos cuidando com o devido respeito e cuidado. Temos que fazer com que todos esses erros sejam vistos. Mas o mais grave é quando um governo perde apoio pelos acertos.

            Estamos vivendo erros claros, como a falta de articulação entre nós no Congresso, a falta de articulação nossa com o Poder Executivo e até a falta de convivência respeitosa entre nós e o Judiciário. Ou nós superamos essa dificuldade ou o Brasil vai enfrentar momentos muito graves.

            Estou assustado como algumas pessoas, pelo menos de acordo com o noticiário, como certas pessoas responsáveis estão fazendo afirmações que são extremamente perigosas para o País.

            Segundo o jornal, até mesmo se diz que a Presidenta Dilma pode não terminar o mandato. Isso não pode ser dito, falado, pensado nem sonhado. Mas, segundo os jornais, têm pessoas com influência dizendo isso. Se a gente deixar que isso comece a permear, vamos perder o controle. Quando digo controle, não é o controle da máquina, não. É o controle do funcionamento das instituições.

            Nós vivemos essa dificuldade, e essa dificuldade vem da falta de articulação. Quantas vezes aqui os líderes nos reúnem, discutem, falam conosco? E quantas vezes eles falam com as autoridades do Poder Executivo? E pior: estão levantando que a dificuldade que atravessa o Poder Executivo hoje, a Presidenta Dilma, do ponto de vista político, é porque está fazendo certo, uma faxina.

            Quando a gente perde apoio por um erro, é fácil resolver: não comete o erro. Mas, quando a gente perde o apoio, Senadora Ana Amélia, por um acerto, aí fica difícil corrigir, já que parar o acerto para retomar apoio é uma tragédia porque perde a opinião pública inteira. Continuar no acerto perdendo a base é um perigo muito grande. Talvez, o erro tenha sido lá atrás, quando se fez uma base de apoio, Senadora Marta, com um número imenso de partidos e sem uma bandeira.

            Não é problema haver quinze partidos, desde que tenha uma bandeira que unifique. Nós não tivemos essa bandeira para unificar todos esses partidos cujo número nem sei e que compõem a base de apoio, até porque, por falta de bandeira, tem partido que metade apoia e metade não apoia. A gente nem sabe quantos apoiam em função dos partidos.

            Nós estamos numa posição difícil, Senadora Marta, e sei que a senhora deve compartir com isso. A Presidenta tem uma base de apoio caótica, sem uma bandeira, e está sendo punida por erros que está tomando, como demitir aqueles que são suspeitos de corrupção, embora não se justifiquem algemas em suspeitos. Algemas em criminosos eu acho que se justificam, sim; algemas em suspeitos, não.

            Ao mesmo tempo, tem gente querendo desviar o debate. O debate que era feito em função de quem abre e se apropria de dinheiro do cofre está virando o debate sobre quem fecha as algemas. O fundamental ainda são os cofres. O grande erro não é ter usado algema. O grande erro é ter aberto os cofres. Agora se a pessoa é suspeita, não dá para justificar o mesmo tratamento que se faz com alguém que foi condenado. Mas esse é um lado da questão.

            O verdadeiro lado da questão é como a gente retoma uma articulação que possa dizer: “Presidente não é punido por acertos; Presidente é punido por erros e não por acertos”. Nós precisamos articular entre nós: aqueles que pensam o País acima das suas siglas, aqueles que pensam o futuro acima do presente, aqueles que pensam as gerações adiante, nas eleições que a gente vai ter no ano que vem para prefeito.

            Está na hora de este Senado decidir se quer ser apenas uma Casa de debates, denúncias, contradenúncias e defesa ou se quer ser uma Casa onde se discute como manter as instituições funcionando, como não penalizar uma Presidente pelos acertos e como alertá-la dos erros. E hoje têm erros: têm erros de articulação, têm erros de convivência, têm erros de métodos, e a gente não está vendo como corrigir isso. Junte-se a essa crise de articulação política uma crise econômica de difícil solução, porque ela carrega um entranhado tão grande de interesses que, se a gente faz para uma coisa, Senador Geovani, não tem para outra; se a gente resolve uma coisa, não resolve outra.

            Vejam que todo mundo fala da irresponsabilidade dos bancos. Não dá para situar o problema da economia em cima dos bancos nem dizer que é irresponsabilidade; é ganância dos bancos. Agora, não é só isso. A ganância dos bancos só se realiza pela voracidade dos que tomam empréstimos para comprar muito. É um casamento. É o casamento da ganância com a voracidade. Esse casamento só é possível pela leviandade e irresponsabilidade dos governos que não administram os limites dos bancos e os limites da voracidade do consumo. A gente sabe que essa voracidade do consumo tem uma razão no sentimento, na mentalidade, que é a mentalidade de consumir muito, portanto com as indústrias querendo vender muito. Então, juntem-se essa voracidade do consumo, essa ganância dos bancos, essa leviandade dos governos com a ânsia de lucro das indústrias, e estaremos numa situação difícil, por esse lado. Junte-se isso com a falta de articulação para encontrar alternativa a essa crise e para fazê-la passar aqui como a grande bandeira, acima até mesmo dos partidos, a bandeira da Nação, e a gente estará numa situação muito difícil. Agora, junte-se tudo isso, Senadora Ana Amélia, antes de lhe conceder um aparte, ao fechamento dos olhos das pessoas, sem querer ver a dificuldade, e estaremos numa tragédia.

            Eu vim aqui sem trazer respostas para como fazer a articulação, sem trazer a proposta detalhada de como enfrentar a economia. Eu vim aqui para tentar acordar cada um de nós para o fato de que o momento é muito grave. Eu já vinha sentindo isso, mas, quando hoje ouvi na rádio e, depois, vi que está nos jornais que um grande prócer próximo à Presidente alerta que pode ser que o mandato dela não termine, aí eu disse: “Não posso falar de outra coisa hoje. Tenho de tentar despertar”. Não vejo essa ameaça, mas vejo a preocupação muito grande por já ter gente falando uma coisa dessas.

            Temos uma responsabilidade: a responsabilidade de fazer um trabalho aqui dentro que possa dar sustentação aos acertos, mas cuidando para que esses acertos não tirem o poder da base nem a base do poder que a Presidenta tem. Talvez aí se deva construir uma base que diga que “nós não estamos preocupados em manter esses erros e vamos apoiar os acertos” e que “nesses acertos, apoiamos a Presidenta”.

            É isso que eu tenho para dizer: tentar acordar, despertar.

            Antes, passo a palavra à Senadora Ana Amélia.

            A Srª Ana Amélia (Bloco/PP - RS) - Serei bem rápida, porque o seu tempo já se esgotou, Senador Cristovam. O que V. Exª acaba de dizer apenas reforça a minha convicção de estar ao seu lado na iniciativa de dar, nesta Casa, um respaldo político à Presidenta Dilma Rousseff e uma sustentação a essas ações que ela está fazendo de moralização do serviço público. É fundamental. Lamentavelmente, ela tem uma maioria, mas é uma maioria desorganizada, porque cria mais dificuldades ainda. Partilho com V. Exª das preocupações do noticiário de hoje, mas também não percebo que a gente vá aprofundar uma crise. O Governo, certamente, terá a sua capacidade para superar essa dificuldade interna na política e também externa dessa crise internacional. Cumprimento V. Exª pelo nível desse pronunciamento.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Muito obrigado.

            Concluo com uma frase, Senadora. Uma frase deve levar mais que os 12 segundos, mas é uma frase, na linha da Senadora Ana Amélia, que tem tido comigo constantes debates sobres este assunto.

            Ninguém governa na democracia sem uma base de apoio...

(Interrupção do som.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Ninguém governa na democracia sem uma base de apoio, mas não vale a pena governar, tendo base de apoio, se for para cometer erros. Nós temos que saber como levar adiante os acertos, Senador Geovani, sem perder base de apoio, o que quer dizer que, talvez, seja necessário construir outra base de apoio, porque as bases de apoio não são fixas. Não errar para ter base de apoio e nem acertar, perdendo sustentação necessária para manter um governo na democracia.

            Era isso, Srª Presidente, que eu tinha para colocar.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/08/2011 - Página 32618