Discurso durante a 132ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apoio à Presidente da República, Dilma Rousseff, em suas ações no combate à corrupção.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Apoio à Presidente da República, Dilma Rousseff, em suas ações no combate à corrupção.
Publicação
Publicação no DSF de 12/08/2011 - Página 32690
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • ELOGIO, CONDUTA, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, COMBATE, CORRUPÇÃO.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Paim, Srª Senadora Ana Amélia, Srs. Senadores, eu venho na linha do grande Senador Pedro Taques e na linha que começou com o nosso querido Senador do PDT, aqui de Brasília, Cristovam, e no aparte da Senadora Ana Amélia.

            Aliás, Senadora, V. Exª tem tido uma atuação brilhante sobre esse ângulo. Eu digo, do fundo do coração, com a maior emoção, que V. Exª está iniciando aqui, mas iniciando aqui o que nós todos conhecíamos.

            As pessoas dizem: “Mas como ela é tão brilhante e está se saindo tão bem assim?” Eu não vou dizer o número de anos por causa da idade e porque fica chato, mas por muito tempo ela foi chefona de rádio, televisão, jornal. Por isso ela tem essa experiência.

            Pela linha que V. Exª está adotando, meus cumprimentos.

            Sobre a delegação de V. Exª, lá no seu Estado, envolvendo uma determinada ação de um elemento de seu Partido, eu digo: sou a seu favor, acho que o senhor não tem culpa, mas tem de investigar. Eu acho que é algo realmente muito importante.

            A imprensa de hoje está muito ruim, principalmente para o meu Partido. Esta manchete, “Chantagem na base”, e botando o Líder do MDB lá na Câmara dos Deputados, por amor de Deus, não é possível.

            Nobre Líder, com o maior respeito, não é possível!

            A Presidenta está atuando. Está! Eu vou dizer já de saída, de cara, que, primeiro, eu gosto da Presidenta. Gosto, porque ela está fazendo o que o Lula não fez, o que o Fernando Henrique não fez. Ela está tendo coragem, e ela não tem a força política nem do Fernando Henrique e nem do Lula!

            O Lula era o homem forte do seu governo, muito maior que o PT e o PMDB, mas não fez. Para mim, na minha opinião, o Lula é um homem de bem. Eu conheço o Lula desde a sua origem, desde que ele era metalúrgico e foi crescendo. Ele não teve comprometimento com ninguém. Ele não subiu em nenhuma vantagem, ele nunca foi pelego de Ministério, ele sempre esteve ao lado da luta. Como Deputado, como líder, como metalúrgico, sempre esteve do lado do bem, mas não teve coragem. Na Presidência da República, ele não teve coragem de fazer o que podia ter feito. Ele podia ter deixado o PT seguir o caminho dele, da ética, da moral, da dignidade, que era o do grande PT.

            Eu, às vezes, quando falo, meu amigo Paim, que sonho refazer o velho MDB, acho que alguém como V. Exª e outros deviam sonhar refazer o velho PT. Quer dizer, aquele PT da luta, da resistência, da garra, da dignidade, da seriedade.

            O Lula fez um grande governo, um grande governo. Trabalhou, realizou, fez obras, o Brasil cresceu, o Brasil avançou. Não é brincadeira 15 milhões de pessoas saírem da miséria e irem para a classe pobre, em direção à classe média. É uma grande realização.

            Pela primeira vez, a gente viu crescimento com distribuição de renda. O Lula fez um grande governo na parte do social. Na parte ética, ele deixou muito a desejar, e podia ter feito. O Lula não se dobrou nem a empreiteira, nem a banco, nem a coisa nenhuma. Não se vendeu, não se curvou, simplesmente não agiu. Não botou para a rua, na hora, o José Dirceu. Esperou que fosse cassado o mandato dele. Não demitiu Waldomiro de Subchefe da Casa Civil, quando a televisão publicou as roubalheiras que ele estava fazendo. Não fez nada e as coisas aconteceram. Como, cá entre nós, a mesma aconteceu com Fernando Henrique. E as coisas aconteceram.

            A Presidenta está agindo.

            Minha querida Dilma, vá um pouco mais devagar. Vá um pouco mais devagar, Dilma.

            Não que ela não esteja certa, mas a coisa está tão errada que não pode mudar da noite para o dia.

            O grande erro cometido, e até acho que o Lula o cometeu na melhor das intenções, foi a organização desse Ministério que está aí. As composições foram feitas no sentido de se ter uma ampla base partidária, e nunca houve governo na história do Brasil com uma base partidária tão grande quanto a que teve a Dilma quando começou. Mas a que preço?

            A Dilma disse, há uns dias: “No meu governo, as indicações dos Ministérios, dos cargos públicos podem ser políticas, mas têm de ser pessoas moralmente inatacáveis e com capacidade para exercer o cargo.” Nota dez. É isso aí. É isso que tem de ser!

            Primeiro erro: os partidos estão indicando pessoas que não são 100% inatacáveis, pelo contrário; pessoas que já têm biografia de erros sérios cometidos; pessoas que, com a biografia das coisas que já fizeram, não poderiam ter sido indicadas e, se indicadas, o Presidente não poderia aceitar. Essa é a questão.

            De repente, acontecem esses fatos, e essa marola não vai parar. Para cada um desses que está sendo atingido, há outro e, se formos seguir, daqui a pouco vamos pegar todos os Ministérios. Em cada lugar tem alguém.

            Aí, vem o José Dirceu dizer que há perigo de a Dilma não completar o governo. Essa é uma questão realmente muito importante, que devemos analisar.

            Eu não concordo com o José Dirceu. Realmente, ele quase não deixou o Lula completar o mandato dele. Organizou-se, aqui, o esquema de uma CPI sobre o Lula, CPI que não saiu, e eu fui um dos que interferiram.

            Quando o PFL reuniu os maiores juristas do Brasil para discutir a criação da CPI, chamaram-me lá pela experiência que eu tinha da CPI do Collor, e eu disse: sou um advogado simples, não sou jurista, não sou coisa nenhuma, mas CPI não é coisa de jurista, é coisa de embasamento político, é coisa de ter um esquema e condições de levar adiante. E os juristas concordaram. E, ali, que coisa interessante, a conclusão a que se chegou foi de que a CPI não ia adiante, e o Lula se transformaria em vítima na CPI. É, essa burguesia quer tirar o Lula, que é um líder sindical dos trabalhadores, e que o Lula estava tão queimado, tão desmoralizado com o mensalão, que seria melhor deixar chegar o fim do Governo dele. Agora, esse rapaz que foi o chefe da Casa Civil está fazendo uma afirmativa muito séria. Diz ele que falou com vários Senadores e com vários políticos e que o que ele diz é o pensamento desse Senador, e as manchetes dos jornais, aqui está o Congresso em Foco, mostrando que tanto aqui como no Correio Braziliense, as bases do Governo estão agitadíssimas, estão na ameaça de começarem a implodir. O Líder propõe a votação de um projeto polêmico, a questão do vencimento de militar, e aquele Deputado Eduardo Cunha, que já tem polêmica com a Presidente da República, que tem restrições a ele, quer votar aquela questão da saúde, a Emenda 29, que é altamente polêmica no seu desenvolvimento.

            Então, a chantagem seria essa, Sr. Presidente: começar a colocar questões de desgaste em cima de questões de desgaste para complicar a vida da Presidente.Não podemos entrar nessa tese, não podemos aceitar essa tese. O MDB tem o direito de debater. Está-se vendo que o que aconteceu no Ministério do Turismo foram coisas que aconteceram quando o Ministério estava na mão do PT. Então, o MDB está magoado porque estão fazendo essa onda em cima de um Ministro do MDB de fatos que ocorreram quando o Ministro era do PT. Mas daí a reagirmos dessa maneira, não pode.

            Creio que o MDB deve parar para pensar. O MDB tem todo o direito de exigir tratamento de respeito, tem todo o direito de debater as questões que estão acontecendo. Eu acho que houve exagero na questão do Ministério do Turismo. Eu acho que deve ser discutido. Essa questão das algemas é uma coisa muito interessante, a gente nem repara, é difícil aparecer um Jornal Nacional sem que haja um pobre, um gurizinho, algemado. A polícia vai à favela, entra na briga e prende não sei quantos, leva, num camburão, todo mundo preso, um bolo de gente algemada. Algemar pobre pode, não interessa saber se ele oferece perigo ou não, se ele oferece resistência ou não. Agora, desde que algemaram um dono de banco, a coisa começou a preocupar. Desde que algemaram gente de colarinho branco, a coisa começou a preocupar. Acho que a questão das algemas, não importa se é colarinho branco, não importa se é político, não importa se é o povão, se der para evitar, deve ser evitado. Fazer um carnaval em torno do fato só prejudicou. Acho que quando a gente debate, quando o MDB diz que está magoado ele tem razão, mas a reação não pode ser essa. A reação não pode ser à base de chantagem, até porque não podemos oferecer de bandeja para a Presidenta esse prato: “Ela é a heroína que está querendo moralizar e os partidos não estão deixando”. É assim que a imprensa está colocando. Esta é a interpretação das manchetes de jornais e de televisão. Está lá a Presidenta, que quer mostrar, quer moralizar, quer colocar a casa em dia, mas a classe política não deixa. O MDB, o próprio PT não deixa e ameaçam a Presidenta com votações aqui no Congresso. Não pode. O MDB não pode entrar nessa, muito menos o PT.

            A Presidenta deve ter um pouco mais de jogo de cintura. A Presidenta e suas lideranças devem dialogar um pouco mais com o Congresso.

            Mas a resposta do Congresso na base da chantagem não pode.

            Quando uma pessoa, podem dizer o que quiser dela, é sabedora dos fatos e tem liderança política, como o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu disse, que corre o boato de que há grandes possibilidades de a Presidenta não completar o mandato, esta notícia deve ser não apenas rejeitada, como o Senador Sarney a rejeitou - e fez muito bem o Presidente José Sarney, porque a notícia coloca o nome dele, de que ele teria conversado com o Sr. José Dirceu, e o Presidente José Sarney deixou muito claro de que sua posição é a mesma em favor da democracia, a favor da Presidência da República, que apurem o que tem que ser apurado, mas com entendimento e diálogo com toda a sociedade.

            É isso, Sr. Presidente, que eu, repetindo os pronunciamentos dos outros, venho a esta Casa dizer. Espero que, se Deus quiser, saiamos desta crise. Que a Presidente Dilma tenha condições de levar adiante esta questão, e que esse diálogo, que tem de ser feito com o MDB, com o PT e companhia, seja feito o mais breve possível. Mas que seja feito assim, Sr. Presidente, vamos conversar. Indicações podem ser feitas. Não estou discutindo loteamento ou não loteamento. Indicações partidárias podem ser feitas, mas qual é a biografia? Qual é o passado? Qual é a dignidade? Qual é a seriedade? Qual é a competência?

            Acho que é por aí. Cometeu um fato errado, cometeu um desmando, a porta da rua é do que precisa, e os partidos devem aceitar.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/08/2011 - Página 32690