Discurso durante a 133ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Análise dos possíveis efeitos da crise econômica e de seus potenciais impactos no Brasil; e outros assuntos.

Autor
Marcelo Crivella (PRB - REPUBLICANOS/RJ)
Nome completo: Marcelo Bezerra Crivella
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ECONOMIA INTERNACIONAL.:
  • Análise dos possíveis efeitos da crise econômica e de seus potenciais impactos no Brasil; e outros assuntos.
Publicação
Publicação no DSF de 13/08/2011 - Página 32773
Assunto
Outros > ECONOMIA INTERNACIONAL.
Indexação
  • ANALISE, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL, EFEITO, RELAÇÃO, ECONOMIA NACIONAL, DEFESA, ESTABILIDADE, DESNECESSIDADE, POLITICA, PAIS.

            O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, senhoras e senhores telespectadores, senhores ouvintes da Rádio Senado, hoje ocupo esta tribuna apenas para extravasar algumas preocupações e um sentimento.

            Nós estamos acompanhando uma crise de proporções globais. Nós vemos os Estados Unidos aumentando sua base monetária de US$850 bilhões para US$2,4 trilhões em apenas um governo. Isso nunca ocorreu na história americana, nem mesmo durante os quatro governos de Franklin Delano Roosevelt, que enfrentou o New Deal - quatro governos porque ele foi eleito quatro vezes, embora tenha morrido na última, não governou.

            Nós nunca vimos tanta emissão, tanta fabricação. As máquinas americanas estão fabricando dólar durante vinte e quatro horas sete dias por semana. Era de se perguntar sobre a inflação num país que fabrica tanto dinheiro. Como ocorreu na Alemanha, durante a guerra, em que era preciso três trilhões de marcos na Alemanha de Hitler para se comprar um dólar.

            Onde é que está a inflação americana? Bom, é que toda essa liquidez, senhoras e senhores telespectadores, não chega à mão do povo; ela fica nos bancos. São títulos públicos que são comprados, resgatados, dando liquidez ao mercado, novos não são colocados, e essa liquidez nos bancos, nos grandes fundos de pensão, nos grandes investidores acabam migrando para outros países, para outros centros econômicos por um mercado financeiro globalizado. E isso cumpre, em última análise, uma intenção que não é das melhores, que é a guerra cambial. A mesma arma que os americanos reclamam que é feita pela China agora eles usam, a mesma estratégia, como dizia Maquiavel, como constatava Hobbes, Locke, os grandes pensadores da política nos séculos XVI, XVII e XVIII.

            E o Brasil? O Brasil sofre com isso, como sofrem também os demais países em desenvolvimento, porque veem os seus mercados estabilizados obrigados a pagar um preço, a um sacrifício, vamos dizer assim, a uma renúncia enorme da sua sociedade, que, durante anos, suportou sacrifícios e construiu a sua estabilidade, como nós brasileiros, com a única forma de se dar estabilidade, que é com o trabalho. Eu preciso lembrar aqui que na segunda página da Bíblia Sagrada ainda se encontra o princípio fundamental da prosperidade: “do suor do teu rosto tirarás o teu sustento”. Desgraçadamente, os homens, sobretudo do mercado financeiro, por meio da especulação, tentam mudar essa lei para uma outra, mais cômoda, que é a seguinte: do suor do rosto dos outros, sobretudo dos mais fracos, dos oprimidos, você vai tirar o seu sustento, o seu conforto, a sua opulência, a sua riqueza. Mas isso não dura muito. Isso gera bolhas, isso gera crises, e, no final, aqueles que constroem sobre areia, nas primeiras trovoadas, nos primeiros relâmpagos, nas primeiras borrascas, veem seu império cair.

            É isso que estamos vivendo, em última análise. A Inglaterra quer um pound, uma libra mais fraca, os franceses querem um franco mais fraco, os franceses, os alemães, os belgas, os espanhóis querem um marco, um euro mais fraco, o chinês quer uma moeda mais fraca, os indianos querem uma rúpia mais fraca, e o Brasil precisa, também, de uma moeda que não sacrifique a sua indústria, o seu poder de competitividade, sobretudo na sua vocação.

            O mundo moderno elegeu a China como a fábrica, a fábrica da humanidade. Mas o Brasil é, e por muito tempo será, a fazenda. Nós somos aquele único país do mundo que ainda tem fronteiras agrícolas. Temos de sustentar uma população de duzentos milhões de pessoas, mas ela é modesta diante da nossa área continental. Portanto, temos superávits, sobretudo de soja, sobretudo do nosso rebanho, da proteína branca e vermelha.

            Não podemos ver inviabilizada a nossa estabilidade econômica por desmandos daqueles que, durante muito tempo, exigiram de nós sacrifícios pesados, renúncias amargas e hoje querem vencer sua crise utilizando-se de táticas, eu diria, tão medíocres como foram as inspirações ambiciosas que lançaram a maior economia do mundo na catástrofe de uma bolha do mercado financeiro.

            Sr. Presidente, temos uma Presidenta muito atenta a isso. É uma mulher culta, muito digna, que não só representa todas as belezas da bondade, do charme, da delicadeza da alma feminina, mas também as resistências morais e de caráter da mulher brasileira que tanto nos orgulham. Ela não foge aos números, ela não foge às reuniões, ela não foge a se devotar, a se debruçar sobre relatórios, reuniões. Mesmo nos finais de semana ela tem cumprido uma árdua missão.

            Agora, nós não podemos permitir, nós do Parlamento, nós homens da política, que neste momento de dilúvio, neste momento em que as economias do mundo se encontram debilitadas, não podemos caminhar, nós, Brasil, país estável, para uma crise política. Assim como dizem que a reforma política é a mãe de todas as reformas, a crise política é a mãe de todas as crises. Ela acentuou em muito a crise americana quando os seus parlamentares, sobretudo no Senado, com os democratas desunidos... E aqui faço um apelo à base do meu Governo, à base do nosso Governo. A imprensa diz uma frase que é muito interessante, tirada de um corolário estabelecido por um juiz da suprema corte americana: a imprensa não precisa ser perfeita; ela deve ser livre. Os partidos políticos também não precisam ser perfeitos, as bases do Governo também não precisam ser perfeitas, porque todos temos virtudes e defeitos, mas precisamos ser unidos.

            Se eles precisam ser livres, nós precisamos ser unidos, porque podemos mergulhar o nosso povo, nosso País, se nos faltarem ideais, se nos faltar a responsabilidade nos momentos tormentosos da vida pública, poderemos mergulhar nossa gente sofrida e valente em um crise que ela não merece viver e que terá sido iniciada nas nossas mais mesquinhas ambições, no nosso mais inescusável oportunismo, na nossa mais vergonhosa falta de compromisso com a Pátria. É isso que precisamos ver. Neste momento de crise mundial, neste momento em que as fronteiras brasileiras, digo as fronteiras do nosso mercado financeiro, são agredidas por um câmbio falacioso, fictício, um câmbio movido à impressão de papel desbragada, vergonhosa, absurda, jamais vista na história, nós não podemos mergulhar em uma crise política.

            É bem verdade que tem a Polícia Federal, muitas vezes, extrapolado suas prerrogativas. Muitas vezes, mais necessário e mais desejável seria que essa Polícia Federal tão altiva levasse essa altivez, levasse essa vocação para a defesa da Pátria para as fronteiras brasileiras. Quem sabe ali não poderíamos, efetivamente, conter aquilo que o Senador Acir Gurgacz agora nos disse que é a maior amargura das famílias brasileiras, que é a quantidade de cocaína, de maconha que entra todos os dias pelas fronteiras brasileiras, para não falar de munição e armas. Seria bom que a Polícia Federal, sem dormitar dos crimes cometidos contra o Estado, se ocupasse também das fronteiras com o mesmo empenho e nos desse a satisfação não só de levar à mídia uma prisão que, de certa forma, parece-nos precipitada para um Estado de Direito, porque levar à prisão um administrador cuja vida pública é de longos anos e que, apenas a dois meses no cargo, se viu arrastado por um dilúvio que não foi ele que provocou... Não é possível que, em dois meses, o sujeito seja culpado por coisas ocorridas ou iniciadas há anos atrás. Mas está na cadeia, está na prisão. Eu gostaria de ver um ímpeto semelhante mostrando as toneladas de cocaína na televisão, nos jornais, na Record, na Globo, em todos eles, de uma ação efetiva, de uma ação que, aí sim, nós diríamos muito mais justificada, muito mais idônea, muito mais eficiente para os destinos deste País.

            Mas isso tudo são coisas que acontecem em todas as sociedades. Tudo isso são conflitos da nossa história, serão do nosso futuro e, porque não, do nosso presente. Mas nada disso, absolutamente nada, isso e outras coisas que poderão ocorrer jamais poderão abalar a estrutura de uma base de governo eleita, cujos resultados são tão expressivos que têm trazido milhões de brasileiros que viviam oprimidos nas classes D e E a viverem uma vida melhor, a consumirem, a terem seu automóvel, a não correrem o risco de perder o emprego e ficarem no desalento. Nós, que hoje temos superávit na balança comercial, não podemos, sob hipótese alguma, colocar em risco nosso projeto, nosso programa por quaisquer percalços que ocorrem na evolução política, social, econômica e até espiritual dos povos.

            Hoje, temos uma estabilidade. Hoje, temos, nos compulsórios, no Fundo de Garantia e nos outros, US$400 bilhões. Hoje, temos como saldo da balança comercial US$300 bilhões. É pouco? É pouco se compararmos com a China, que tem US$2 trilhões, mas é muito se compararmos com o maior país exportador, que é a Alemanha, que exporta US$900 bilhões, mas que tem um saldo, em sua balança comercial, em depósitos, hoje, muito menor. Não chega ao nosso. Nem a Inglaterra, nem a França... Qual a grande potência...? Nem a Itália, que tem R$300 bilhões depositados nos bancos da Europa e dos Estados Unidos. Nós temos. Temos números alentadores. Temos um programa que está redimindo o nosso povo da tragédia de morrer soterrado na lama e no lixo a cada tempestade, que é o programa Minha Casa Minha Vida. Não podemos deter as tempestades, mas podemos evitar que o nosso povo more em barraco com seus filhos. E é isso que estamos fazendo. É um programa grandioso. Temos um PAC em andamento. Estamos construindo refinarias de petróleo no norte e no sul, estamos construindo grandes hidrelétricas, recapeando nossas estradas, estamos dando perspectiva de vida, aumentando o número de universidades e vagas para os nossos jovens. Enfim, o Brasil é, hoje, uma potência respeitada no mundo e nada disso pode ser colocado em risco por uma crise política movida a descontentamentos aqui e ali por excessos, porque todos nós havemos de convir que aqueles que governam têm realmente de tomar providências muitas vezes drásticas quando ocorre, na Administração Pública, o pecado fundamental que é o sobrepreço e o superfaturamento.

            É claro que essas coisas são difíceis de ser avaliadas - falo como engenheiro, não é nem como Senador -, mas precisam ser investigadas todas, com o nosso aplauso, por mais que nos doa. Digo os partidos políticos, que muitas vezes se vêem traídos até pelos seus indicados.

            E falo aqui com muita liberdade, porque o meu Partido é tão pequeno! É o menor do Brasil - eu digo em número - e, portanto, não tem nenhum ministério, nenhuma participação no Governo. Mas tem, sim, responsabilidade com os destinos da nossa Pátria. E esse Partido tem também como seu inspirador maior José Alencar, que foi um homem que nos ensinou pelo exemplo, não pelas palavras, que o homem público espera o reconhecimento do povo pela sua honra e a recompensa espiritual, que é a derradeira, que é a verdadeira, que é aquela que realmente importa aos homens que já venceram as paixões menores da sua natureza mesquinha; que já chegaram a uma certa idade para entender que nem os prazeres da riqueza ou os prazeres da própria carne nos trazem alento nos momentos finais da vida ou quando a razão se sobrepõe às paixões.

            É ali que o homem vive da sua honra, da dignidade do seu passado. É ali que ele consegue encontrar, nos momentos difíceis da idade mais adulta, a paz para viver com o prestígio dos seus amigos, o carinho da sua família e o reconhecimento dos seus serviços prestados à Nação.

            Pois bem, eu faço aqui então este meu modesto pronunciamento, mas que, espero, de alguma forma, seja ouvido nesta Casa. A crise política é a mãe de todas as crises. Ela não pode prosperar. Ela começa sorrateira, nos corredores, passa pelos gabinetes. É uma entrevista aqui, é uma notícia ali no jornal. Isso, para quem está governando, traz desconforto, porque a missão é dura, a missão é difícil, sobretudo para uma dama ilustre, que acaba de vencer uma das doenças mais difíceis que o ser humano enfrenta hoje, que é o câncer.

            Nós não a colocamos lá para supliciá-la, para depreciá-la, para chantageá-la ou usar de outras técnicas que são comuns na política, mas desonrosas. Pelo contrário. Sobretudo nós, da base do Governo. Nós estamos aqui, atentos e firmes, para cumprir nossa missão, para dar a sustentação que o Governo que nós elegemos, que nós lutamos para colocar lá possa e precise ter, a fim de cumprir a sua missão derradeira, que não é distribuir cargos, que não é atender demandas menores, mas, sim, garantir o progresso econômico, o bem-estar social, a tranquilidade às suas famílias, a educação aos jovens e o trabalho ao nosso povo, à nossa gente sofrida e valente, que nos deu a honra de representá-los aqui nesta Casa.

            Sr. Presidente, muito agradecido pelo tempo que me concedeu e que Deus nos guarde nesses momentos difíceis.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/08/2011 - Página 32773