Discurso durante a 135ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Reflexões acerca da crise econômica internacional e das denúncias de corrupção no Brasil.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ADMINISTRAÇÃO PUBLICA.:
  • Reflexões acerca da crise econômica internacional e das denúncias de corrupção no Brasil.
Aparteantes
Ataídes Oliveira, Jarbas Vasconcelos, Jorge Viana, Ricardo Ferraço, Rodrigo Rollemberg.
Publicação
Publicação no DSF de 16/08/2011 - Página 33034
Assunto
Outros > ADMINISTRAÇÃO PUBLICA.
Indexação
  • ELOGIO, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DA REPUBLICA, INICIATIVA, DEMISSÃO, MINISTRO DE ESTADO, POLITICO, SUSPEIÇÃO, CORRUPÇÃO, IMPORTANCIA, VALORIZAÇÃO, CLASSE POLITICA.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Paulo Paim, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, na vida de cada um de nós há coisas ruins que vêm para o bem: são aquelas coisas que chegam e nos despertam e que têm solução, porque o que não tem solução jamais pode vir para o bem. Na vida das nações também há momentos em que coisas ruins acontecem e podem ser para o bem, sobretudo coisas ruins que não tenham a ver com guerra, porque essas raramente deixam coisas boas.

            Nós estamos vivendo dois problemas que podem ser positivos se nós, primeiro, despertarmos e, segundo, enfrentarmos. Se não fizermos isso, aí as coisas ruins se transformarão permanentemente em coisas negativas e irreversíveis.

            A primeira coisa é uma espécie de vergonha que contamina a sociedade brasileira, especialmente nós, os políticos, diante da corrupção que se começou a ver. Isso pode ser positivo se nos despertar, Senador Paim, para a necessidade de enfrentarmos esses problemas. Além dessa necessidade, precisamos de lucidez para enfrentá-los. A coisa ruim que pode estar vindo para o bem é a crise que vivemos aqui e no mundo inteiro por uma economia que se exauriu, que está exausta, que não tem condições de continuar mantendo tudo que veio fazendo nesses últimos anos e, sobretudo, que não é capaz de proporcionar o aumento dessa riqueza que é excludente - ela não consegue se espalhar para todos.

            Hoje, nós estamos aqui - o Senador Simon, que foi quem nos convidou, disse bem - em uma sessão diferente, em um momento grande, como ele disse. De fato o é. De fato, é um momento em que nós, Senadores, independentemente de partidos - ouvimos há pouco o Senador Randolfe falando, ouvimos há pouco a Senadora Ana Amélia falando -, independentemente de posições pessoais, independentemente de querer cargos, independentemente de querer liberação de emendas, queremos participar do processo para fazer com que essas duas crises possam ser enfrentadas e, ao serem resolvidas, o Brasil fique melhor.

            Este é um grupo de pessoas... E há muitos aqui. Eu até diria que alguns, às vezes, não fazem isso, mas têm condições de despertar. Nós fazemos parte de um grupo que põe o País em primeiro lugar. Eu tenho a impressão de que nenhum aqui está excluído da possibilidade de colocar o Brasil em primeiro lugar. Alguns estão distraídos, vai ver, alguns estão com assuntos imediatos que fazem com que o País fique relegado. Mas ninguém aqui está excluído do patriotismo de pôr o Brasil em primeiro lugar.

            E, ao pôr o Brasil em primeiro lugar, nós temos que enfrentar essas duas crises. Falemos primeiro do que nos provoca mais hoje, porque a mídia é quem funciona como o relógio despertador da consciência da população e de cada um de nós. É o problema da crise que vivemos pela vergonha por que passamos, pelos prejuízos que sofremos neste País, pelas notícias de corrupção, mas que felizmente chegaram, afloraram e são hoje do conhecimento.

            Nós estamos aqui para sugerir à Presidenta algumas ações que possam ajudar isto a ser superado. Mas, em primeiro lugar, nós estamos aqui para manifestar ao Brasil inteiro que nós estamos ao lado dos gestos da Presidenta no momento em que ela faz o ato de demissão das pessoas sob suspeição.

            Isso é um ato novo neste País, salvo algumas exceções no passado. Tenho recebido muitos comentários: “Mas ela não fez, ela seguiu o que a imprensa levantou”. Desculpem-me esses, mas ninguém é demitido pelos grandes jornais. Você é demitido pelo Diário Oficial, e não vai para o Diário Oficial o que o repórter manda, mas o que a Presidenta assina. Ela fez esse gesto e assinou. Ao assinar, lamentavelmente, em vez de apenas receber apoio, ela recebe também ameaças. Ameaças de que o fato de tomar essa posição pode levar à perda da base de apoio que ela tem aqui.

            Nós estamos aqui hoje para deixarmos claro que há pessoas que vão apoiá-la ainda mais por isso e outras que não apoiavam e podem apoiar. Não vão apoiar o Governo, como ouvimos o Senador Randolfe dizer aqui, como ouvimos a Senadora Ana Amélia manifestar sua independência. Aqui não estamos para apoiar o Governo muitos de nós, estamos para apoiar um gesto e para exigirmos que esse gesto seja continuado, que não fique só naqueles cujos nomes surgiram nos jornais. Eu gostaria de ver, em algum momento, a Presidenta tomando a iniciativa de fazer esse gesto até mesmo antes que o Governo o divulgue, antes que, desculpe, os jornais divulguem, para que ninguém diga que ela fez porque a mídia divulgou aquelas denúncias.

            Nós estamos aqui para dizer para ela que ela conta com o apoio de Senadores, que, no lugar de perder base de apoio, ela pode ganhar apoiadores -não uma base, mas apoiadores - por esse gesto e que nós queremos que ela vá além.

            O Senador Pedro Simon disse: “Ela precisa ir a outros Ministérios sobre os quais pesem suspeitas”. Eu diria mais: ela tem que ir a Ministérios sobre os quais ainda não pesem suspeitas, mas que ela, pelos meios que tem, pelos serviços que tem de informação do que acontece no Governo, tome a iniciativa; que os jornais ponham a notícia e não, a denúncia. Este será o grande momento: quando os jornais voltarem a divulgar notícia e não, denúncia.

            O Sr. Rodrigo Rollemberg (Bloco/PSB - DF) - Senador Cristovam.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Eu vou passar a palavra, Senador Rodrigo.

            Essa situação vai fazer com que haja o engrandecimento dela e da classe política, porque nós, independente de partido, de pessoa, de história pessoal, estamos pagando um preço.

            Senador Pedro Simon, antes de passar a palavra para o aparte, eu moro, Senadora Ana Amélia, no mesmo apartamento há 31 anos. Eu tenho vizinhos que devem ter 25 anos que moram ali, porque muitos dos que estavam ali quando eu cheguei já se mudaram. Pois esses dias, no elevador, uma vizinha, que deve ter uns vinte anos que está ali, simpaticamente, disse: “Cristovam, estou de olho em você.” E eu, surpreso, pensei: “De olho em quê? Eu coloquei o carro no estacionamento errado? Eu deixei a música tocando muito alto?” E ela disse: “Eu estou de olho, porque você é Senador. Eu estou de olho para ver se vai sair alguma coisa contra você”.

            Todos nós aqui estamos dessa forma, sob suspeita; todos nós aqui estamos com todo mundo olhando para a gente, o que significa que perdemos a confiança ou que temos a confiança, mas sob suspeição, pelo simples fato do cargo que nós ocupamos, pelo simples fato do posto que nós temos. Essa situação não mantém a democracia por muito tempo, eu digo muito tempo historicamente, que podem ser décadas. Não é possível um país funcionar sem credibilidade nas suas instituições e nas pessoas que fazem essa instituição. E o Governo é a parte mais visível.

            Por isso, nós estamos aqui para manifestar nosso apoio à faxina - que é o nome que ela própria começou a chamar -, mas nós estamos aqui também para cobrar que não pare nessa faxina. Ela não pode ficar só na faxina, mas ela não pode ficar na faxina só; ela tem que ir, além disso.

            Senador Rollemberg.

            O Sr. Rodrigo Rollemberg (Bloco/PSB - DF) - Senador Cristovam, eu quero cumprimentar V. Exª, como também cumprimentar o Senador Pedro Simon, que foi o orador anterior. Fiz questão de vir ao início desta sessão para também manifestar a minha solidariedade à Presidenta Dilma por todas as medidas, a ela e a todas as instituições que tomem medidas efetivas de combate a corrupção. Fiz questão de fazê-lo no início da sessão, por aparte, porque tenho um compromisso no meu gabinete, mas estou inscrito e falarei mais tarde com mais tempo e de forma mais detalhada o que penso sobre esse tema. Mas nós, particularmente, em Brasília sofremos recentemente com um dos maiores escândalos políticos da história deste País e tenho convicção de que nós todos temos que nos debruçar sobre medidas efetivas que possam contribuir para reduzir a corrupção em nosso País. Recentemente, estive na China e percebi que ali também há uma grande preocupação, hoje, com o combate à corrupção. Tive a oportunidade de dizer, desta tribuna, que na semana em que cheguei à China dois prefeitos tinham sido condenados à morte por corrupção. Mas entendo que, além de prestar solidariedade à Presidenta Dilma pela medida que vem tomando de combate à corrupção, é importante que o Senado reflita sobre que medidas concretas podemos tomar no sentido de prevenir, ou de reduzir, ou de punir mais drasticamente a corrupção em nosso País. Quero registrar alguns avanços, porque é importante, em um momento com este, registrar alguns avanços que contribuem para dar transparência, para colocar luzes sobre os fantasmas que existem na administração pública. Entre eles, o projeto aprovado pelo Congresso Nacional, que teve origem aqui no Senado Federal, de autoria do Senador Capiberibe, do Estado do Senador Randolfe; a Lei da Transparência, que obriga os Governos Federal, Estaduais e Municipais, os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário a colocar em tempo real, na Internet, para controle de qualquer cidadão, todos os seus gastos, contratos, convênios, pagamentos. É importante observar se efetivamente essa lei está sendo cumprida em todas as instâncias federativas, por todos os Poderes, porque, sem dúvida, elas dão maior condição de controle social por parte da população. Quero cumprimentar V. Exª e os Senadores que estão solidários a essa causa. Eu diria que este deve ser o grande objetivo do Senado Federal, o objetivo final: resgatar a importância da política como instrumento para melhorar a vida das pessoas e, sendo assim, nós não podemos conviver com o desvio do recurso público daquela sua finalidade que é promover o bem-estar social. Portanto, fiz questão de vir aqui manifestar minha solidariedade. Terei oportunidade de usar esta tribuna ainda na sessão de hoje. Muito obrigado, Senador Cristovam.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Presidente, retomo de onde eu parei ao dizer que a Presidenta não está só na faxina. Não queremos que ela fique só na faxina. Nós queremos que ela vá além disso e que entenda que tem que ouvir o Senado, discutir com o Congresso o que nós sugerimos deva ser feito não só no aspecto da miséria moral que nós atravessamos, mas também nos aspectos de como reorientar a economia, como reorientar a sociedade para que nós tenhamos um Brasil melhor, porque, Senador Pedro Simon, não basta pensar na miséria moral; é preciso pensar nos desequilíbrios que nossa sociedade vive, é preciso pensar nas ameaças que essa crise nos traz. Quando a gente juntar as duas crises, a grave crise moral com a grave crise da economia, nós poderemos, aí, sim, começar a trabalhar um Brasil melhor.

            Nós estamos aqui porque pomos o País em primeiro lugar - eu acredito deve ser a intenção de todos os que aqui estão -, mas queremos que a Presidenta entenda que nós queremos sugerir algumas coisas que ela deve fazer.

            Senador Pedro Simon, nós sabemos que falar aqui muitas vezes não repercute em nenhuma parte, que o Poder Executivo nem toma conhecimento, em geral, do que a gente fala aqui. Por isso, Senador Pedro Taques, eu acho que é hora de a Presidenta chamar para conversar pessoas daqui que não querem indicar nem um cargo, porque, nos últimos governos, o Presidente só se reunia com quem pede cargo. Chame para conversar quem não quer indicar ninguém para cargo. Chame quem quer ir lá, mas não para pedir liberação de emendas, porque é outra coisa que os presidentes se reúnem com seus ministros para discutirem emendas. Chame quem for capaz de colocar o País em primeiro lugar e não interesses seus, pessoais, que podem ser legítimos, grandes e importantes, mas devem estar em segundo lugar. Chame para nos ouvir, não apenas um apoio, mais que isso, sugestões para que este País não tenha mais a possibilidade de corrupção.

            Isso porque uma coisa importante é pôr corruptos na cadeia. Mais importante do que isso é não ter corrupto em nenhum governo e não ter corrupto não é uma questão só de selecionar bem. É uma questão de fazer uma máquina que seja imune à corrupção. É impossível zerar completamente, mas é possível reduzir muito. Começa pela maneira de fazer a base de apoio aqui. A base de fisiológica é o lugar onde se espalha a chance de corrupção maior. Agora uma base de apoio programática é em função de metas, de objetivos, em função de coisa que muitos não gostam de falar, mas eu falo, é em função de ideologia, reduz muito a chance de corrupção. Junte-se a isso acabar com a impunidade, como o Senador Simon falou, acabar com a impunidade e fazer as investigações profundas, e a gente tem a chance de praticamente fazer um governo imune à corrupção.

            Que a Presidenta convide aqueles que têm sugestões sobre isso. Aqui neste Congresso tem uma quantidade enorme de projetos de lei que visam a imunizar o governo contra a corrupção. Fazer aquilo que a gente faz com as vacinas: inocular formas que façam com que seja impossível ter corrupção. E prender aqueles que hoje estão... Mas quem prende, o Senador Simon lembrou, quem prende não é presidente, presidente prende na ditadura; na democracia quem prende é a polícia e a Justiça, não é a Presidenta; ela demite. É o mais que pode fazer depois que se descobre. Mas ela pode fazer muito antes, muito antes. Debater com aqueles que hoje estão dispostos a ir a ela como símbolos da Nação, para dizer que sugestões nós temos, Senador Ferraço, que sugestões nós temos para que este País ponha ele, o País, em primeiro lugar, para que ponhamos o País em primeiro lugar. Isso é possível e isso é necessário; isso é possível e isso é urgente.

            Era isso, Senador Paim, que eu gostaria de falar, mas antes eu passo a palavra ao Senador Ferraço.

            O Sr. Ricardo Ferraço (Bloco/PMDB - ES) - Senador Cristovam Buarque, o Senador Pedro Simon traz um chamamento e uma convocação ao Senado da República, sem juízo de qualquer tipo de valor ou pensamento de qualquer um dos Senadores que compõem o Senado Federal. Este é o momento, julgo, muito mais que apenas expressar a nossa solidariedade à Presidente Dilma por suas iniciativas. Este é o momento de trazermos o nosso entusiasmo para com as iniciativas que tem adotado a Presidente Dilma nos últimos dias. Não pode ficar a impressão que somos um amontoado de homens ingênuos. V. Exª governou o Distrito Federal, o Senador Pedro Simon governou o Rio Grande do Sul, nós governamos o Estado do Espírito Santo num momento dramático da sua quadra política, histórica, ética e administrativa. É possível governar com critérios republicanos, é possível e necessária a construção de um projeto nacional e, a partir desse projeto, ser edificada uma coalizão, não uma coalizão para terceirização do interesse público por parte de alguns e de alguns partidos. Quero crer que essa convocação feita pelo Senador Pedro Simon possa de fato se desdobrar, possa ter consequências e nós possamos ir adiante debatendo aquilo que, a meu juízo, está no cerne desse problema, que é aquilo que os estudiosos estão chamando, especificamente o cientista Sérgio Abranches, de presidencialismo de coalizão, que já foi aqui manifestado pelo Senador Pedro Taques. Um presidencialismo em que, no objetivo de alcançar a todo e qualquer custo a governabilidade, que é importante, pode tudo. Minha solidariedade a V. Exª por essa manifestação.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Agradeço Senador e realmente V. Exª trouxe uma palavra chave: ingenuidade. Ninguém pode ser um governante ingênuo, mas nenhum deve ser governante conivente. É aí que está o equilíbrio, sem ingenuidade e sem conivência. O que vemos hoje é que, em função de criar o que se chama “base”, realizou-se uma aglutinação em função de interesses menores. Vamos substituir essa aglutinação não por uma base, mas por uma aliança em função de programas, em função de objetivos nacionais. Isso é possível, isso é preciso, isso é urgente.

            Concluo, Senador Paim, dizendo que estamos aqui para manifestar ao Brasil que, de nossa parte, a Presidenta Dilma não será chantageada por fazer faxina, mas para dizer também a todo o Brasil que, para nós, não pode ser uma faxina pontual. Não pode ser uma faxina apenas como reação ao que sai na mídia. É preciso que vá mais adiante; é preciso que seja mais profunda. Ela não pode ficar em somente aproveitar a crise para sairmos da miséria moral que atravessamos nós, políticos. É preciso que seja uma crise para ajudarmos a resolver a miséria social que o Brasil também atravessa.

            Trata-se de uma crise para enfrentar a corrupção no comportamento de nós, políticos, porém para enfrentarmos a corrupção nas prioridades, como o dinheiro público é usado neste País, às vezes, sem ser roubado, mas servindo a uma minoria privilegiada, sem servir ao conjunto da Nação brasileira.

            Era isso, Sr. Presidente.

            O Sr. Jorge Viana (Bloco/PT - AC) - Gostaria só de cumprimentar V. Exª, Senador Cristovam Buarque, que, ao longo de sua vida pública, tem sido uma referência para todos nós, atuando em diferentes momentos da República. Foi um dos grandes Governadores do Distrito Federal. No seu tempo, tínhamos aqui a busca de políticas públicas éticas, voltadas para as camadas mais necessitadas da população. Daqui saíram políticas que viraram referências de políticas públicas no Brasil, especialmente as ligadas à educação e ao apoio aos que mais necessitam. Quero fazer apenas um registro ainda, dentro do seu pronunciamento, no sentido de cumprimentar V. Exª, os demais Senadores Pedro Simon, Pedro Taques, Randolfe Rodrigues, Senadora Ana Amélia e tantos outros Senadores - está aqui o Senador Humberto Costa, meu Líder, o Senador Pimentel, o Senador Ferraço - que engrandecem esta Casa, por diuturnamente buscar e trazer para cá os temas que possam, de alguma maneira, mudar a história do Brasil e melhorar a vida do povo brasileiro. Penso que, sem que tenhamos uma segurança jurídica no trato de um tema tão delicado, que é o da corrupção no serviço público e em outras esferas, dificilmente encontraremos o nosso destino de sermos, como membros do Congresso Nacional, respeitados pela sociedade pela nossa atuação. Acho que não devemos procurar ser melhor do que ninguém, mas temos obrigações maiores do que muitos outros. Estamos na mais importante Casa Legislativa do País. Aqui, e puxo a responsabilidade para os membros do Congresso, temos a oportunidade de criar mecanismos para dar mais transparência para a atividade pública, mas também de estabelecer regras mais claras para punir exemplarmente aqueles que tiverem desvio de conduta, assim como para encontrar mecanismos para que não se cometa injustiça no País na busca ou com os argumentos de se fazer justiça. V. Exª, com propriedade, traz, com equilíbrio, com a história de vida que V. Exª tem, esse tema e coloca de maneira precisa inclusive o seu apoio incondicional às medidas adotadas pelo nosso Governo, o Governo da Presidente Dilma. Parabéns pelo pronunciamento de V. Exª!

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Estou de acordo, Senador Jorge Viana. A sua fala permite lembrar que de fato não podemos deixar o Governo ser guiado pelo que sai da mídia antes de haver um mínimo de comprovação, pelos menos o mínimo de robustez na suspeita. Não pode ser por qualquer denúncia sem robustez de que carrega veracidade. Não podemos, senão não se governa. Aí acaba na ingenuidade. Não podemos cair na ingenuidade de reagir pura e simplesmente por qualquer denuncia de qualquer pessoa, mas não podemos cair na leviandade de fechar os olhos para denúncias que têm forte possibilidade de serem verdadeiras, mesmo antes de serem julgadas. Mesmo que seja apenas uma suspeita, mas uma suspeita robusta exige uma posição decisiva de quem estiver no Governo, e tem que ser logo. Não pode demorar.

            O Senador Jarbas Vasconcelos pediu um aparte. Com muito prazer.

            O Sr. Jarbas Vasconcelos (Bloco/PMDB - PE. Com revisão do aparteante.) - Senador Cristovam, fico muito feliz, nesse momento incomum aqui no Senado da República, um senado que tem atravessado um longo e tenebroso período de mediocridade, de subserviência, de vê-lo, na tribuna da Casa, levantando um tema desta importância, pelo passado e pelo presente de V. Exª, pela sua correção, sua honestidade, sua dignidade, junto com outros companheiros aqui, como o Pedro Taques, o Pedro Simon e tantos outros, Senadora Ana Amélia, que tem se pronunciado de forma livre e coerente. Fico muito feliz de poder aparteá-lo, muito feliz. V. Exª sempre leva à tribuna assuntos da maior seriedade, como a educação, que é o carro-chefe de V. Exª, e também o combate à corrupção. Não tenho dúvida, Senador Cristovam Buarque, de que a Presidente Dilma só leva isso a bom termo, só leva isso a um porto seguro se ela contar com o apoio da sociedade e contar com o apoio da oposição. Uma prática constante tanto na Câmara como no Senado, é a do fisiologismo, a do toma lá, dá cá. É a ameaça, é a chantagem. A chantagem de parar os trabalhos de uma das Casas ou das duas Casas. Esse cenário, realmente pode, para um governo de menos de oito meses, incomodar e assustar. A Presidente tem que ter a consciência de que a faxina, nome dado por ela, tem que ser completa. Ela não pode fazer uma faxina no Ministério dos Transportes e deixar outras áreas ou outros partidos, inclusive o meu, o PMDB, sem ser punido. Ela tem que apurar e depois, punir. Eu acho que V. Exª coloca bem quando diz que a busca, o combate não pode ser leviano. Não se pode apenas, sem fundamentação, dizer que Fulano é corrupto e daí demitir o Fulano. Os fatos têm de ser apurados. V. Exª sabe também, e não faz mal nenhum que se diga aqui da tribuna do Senado, que isso é herança maldita que a presidente herdou do governo anterior. Lula não inventou a corrupção, nem o PT, mas foi benevolente com ela. Afagar, botar a mão na cabeça é uma prática que hoje todo o Brasil conhece, o Brasil pensante, o Brasil que sabe onde tem o nariz sabe disso. V. Exª conhece minha postura política e por isso acho desnecessário dizer a V. Exª e a esta Casa que eu me incorporo a esta luta. A Presidente tem que ter o apoio claro, transparente, firme, determinado de todos nós no combate à corrupção, mas ela tem que buscar isso junto à sociedade também; sociedade organizada ou não organizada. E ela só consegue isso se der continuidade, se ela não interromper, se mantiver um comportamento uniforme. Não pode ter comportamento diferenciado. Deve combater os exageros eventuais da Polícia Federal, mas não proibir a Polícia Federal de continuar sua ação investigatória, em qualquer de suas operações, que podem ser feitas sem espalhafato, sem a humilhação da algema. De forma que quero parabenizar V. Exª, e dizer que para mim não é nenhuma novidade, saber que a Casa conta, o País conta com a sua voz, com a sua coragem, a sua coragem cívica de, em momentos importantes, ir para esta tribuna, gritar, protestar, requerer e agora se juntar à Presidente que tem demonstrado, de forma clara e inequívoca, que quer combater a corrupção. Ela não pode dizer isso que acabei de dizer e que outros talvez aqui já tenham dito, que essa é uma herança maldita da qual está tentando se desvencilhar. Ela só se livra disso, primeiro se tiver um comportamento uniforme; segundo, com apoio da oposição nesta Casa, mesmo pequena, mesmo reduzida, mas que para a presidente é muito importante, até para enfrentar os fisiológicos e ter o apoio da sociedade. Quero abraçá-lo e, mais uma vez, parabenizá-lo pela sua atuação coerente e firme.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Obrigado, Senador Jarbas. Quero lembrar que a Senadora Ana Amélia, quando fez um aparte ao Senador Pedro Simon, disse que isso aqui não é uma reunião de alinhamento. E às vezes um gesto vale mais que a fala. A sua fala é um gesto de que isso aqui não é uma reunião de alinhamento, porque o senhor já demonstrou, muitas vezes sendo incompreendido por isso, que seu único alinhamento é com sua consciência. Às vezes vai contra todo mundo, mas fica ali alinhado com a sua consciência.

            Então a sua fala não é apenas uma fala, é um gesto. E às vezes o gesto é mais importante que a própria sala.

            O Senador Ataídes pediu a palavra.

            O Sr. Ataídes Oliveira (Bloco/PSDB - TO) - Senador Cristovam, V. Exª sabe da admiração que tenho quando o senhor vai a esta tribuna. Se eu pudesse, eu estaria aqui sempre ouvindo V. Exª - o senhor sabe disso. Mas o nosso nobre e sábio Senador Vasconcelos disse belíssimas palavras, que eu queria inclusive enfatizar. Vou ser contundente às palavras do nosso tão sábio Senador Vasconcelos. Eu já ouvi o senhor dizer desta tribuna várias vezes que o senhor faz as críticas, mas também aponta as soluções. É uma das características que vejo em V. Exª e que admiro cada dia mais. Lembro-me de o senhor falar sobre a dívida do povo brasileiro, que é uma preocupação imensa para V. Exª, com a que sempre tive também uma preocupação imensa. Hoje, com os dados em mãos, no mês de maio o povo brasileiro passou a dever 64,2 - é a dívida do povo brasileiro. Isso em maio, em abril, eram 62,6. Essa preocupação de V. Exª...

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Por cento.

            O Sr. Ataídes Oliveira (Bloco/PSDB - TO) - ...é perfeitíssima, é uma preocupação tremenda, porque isso aqui é nada mais, nada menos do que uma bolha. Isso aqui foi exatamente o que aconteceu com os Estados Unidos. E o pior é que essa dívida não é de curto, V. Exª sabe disso, é uma dívida de médio e longo prazo. Então, concordo plenamente quando o nosso ex-Presidente foi à televisão e disse: “Consuma”. Consome, vai, vamos consumir, temos que consumir. Ele estava perfeitamente correto, só esqueceu de uma palavra: consuma, mas com responsabilidade. E o nosso povo, com fome de consumir, esqueceu da palavra responsabilidade. Isso, hoje, me causa muito espanto. Eu já ouvi V. Exª dizer isso algumas vezes nesta tribuna. A respeito da nossa corrupção... A oposição, primeiro. A oposição, vejo aqui, falo por mim, jamais, em momento algum, tivemos a intenção de inviabilizar o Governo da Presidente Dilma, até porque, como cidadão brasileiro e como Senador da República, seria um ato de não patriotismo pensar dessa forma. Mas estamos aqui não só para criticar como também para mostrar as soluções. É o que temos feito aqui, sempre. A corrupção que V. Exª chama de danosa, que eu chamo de câncer e que digo sempre que mata mais do que qualquer guerra, essa, sim, é uma preocupação enorme. Agora, não consigo entender, Senador, como é que não tem dinheiro para a saúde, para a segurança, para a educação, ou melhor, consigo entender, temos um PIB de 2010 que somou R$3,675 trilhões para este exercício, é possível que cheguemos a R$3,8 trilhões, e não temos dinheiro para a saúde, para a educação e para a segurança. Isso é por causa da corrupção, esse câncer; essa coisa danosa não tem permitido que esse dinheiro chegue aonde deve chegar. E o nosso Senador Vasconcelos disse uma coisa interessante: herança maldita. Que herança maldita? Claro que o nosso ex-Presidente não queria isso, mas deixou uma herança maldita, sim. E não adianta resolver em parte, o pau que dá em Chico tem que dá em Francisco. Era somente isso, meu Senador. Muito obrigado.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF) - Obrigado, Senador Ataídes.

            Concluo, Senador, mas sem deixar de responder ao Senador Ataídes, provocado por sua fala, que acho importante, que nós vivemos e estamos hoje aqui à tarde por uma questão de miséria moral. A Presidente já disse que quer enfrentar a miséria social. O que o Senador Ataídes trouxe aqui é a miséria econômica, da lógica econômica. É uma economia viciada, viciada em gastos públicos elevados, viciada em taxa de juros alta, viciada na depredação da natureza, viciada no endividamento, viciada em um conceito de riqueza que não tem como continuar chegando a todos.

            Estamos prontos - e concluo - para colaborar com tudo aquilo que for necessário a favor do nosso País para enfrentarmos essas crises. E estamos aqui querendo despertar, cada um de nós e o Governo. As crises - e concluo com o que comecei - são positivas quando nós despertamos e sabemos como enfrentá-las. Falta despertar, porque como enfrentá-las nós já sabemos.

            Era isso, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/08/2011 - Página 33034