Discurso durante a 140ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração dos 42 anos da Empresa Brasileira de Aeronáutica - Embraer e homenagear o Doutor Ozires Silva, ex-Presidente da empresa, o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial - DCTA e o Instituto Tecnológico de Aeronáutica - ITA.

Autor
Luiz Henrique (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/SC)
Nome completo: Luiz Henrique da Silveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração dos 42 anos da Empresa Brasileira de Aeronáutica - Embraer e homenagear o Doutor Ozires Silva, ex-Presidente da empresa, o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial - DCTA e o Instituto Tecnológico de Aeronáutica - ITA.
Publicação
Publicação no DSF de 19/08/2011 - Página 34362
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, AUTORIDADE, COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, EMPRESA BRASILEIRA DE AERONAUTICA (EMBRAER), INSTITUTO TECNOLOGICO DE AERONAUTICA (ITA), COMENTARIO, HISTORIA, FUNDAÇÃO, REFERENCIA, HOMENAGEM, OZIRES SILVA, EX PRESIDENTE, SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA.

            O SR. LUIZ HENRIQUE (Bloco/PMDB - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Exmª Srª Senadora Ana Amélia, Presidente desta sessão solene; Exmº Sr. Senador Cristovam Buarque, que comigo subscreve o pedido de realização desta sessão; Magnífico Reitor - mais que magnífico, estupendo - do Instituto Tecnológico de Aeronáutica - ITA, Sr. Tenente-Brigadeiro-do-Ar Reginaldo dos Santos; Exmº Sr. Prefeito de São José dos Campos, cidade orgulho de todos os brasileiros, Eduardo Cury; Exmº Sr. Tenente-Brigadeiro-do-Ar Ailton dos Santos, Diretor do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial; Exmº Sr. Vice-Presidente de Relações Institucionais da Embraer, Dr. Jackson Schneider; caro amigo, ex-Presidente da Embraer, figura máxima do nosso País, Dr. Ozires Silva; demais autoridades; Srªs e Srs. Senadores, em Veneza, na Sala dello Scudo - Sala do Escudo -, existe um mapa-múndi que mostra o Brasil e a América do Sul, a África, a América do Norte. Cópia desse mapa foi ofertada, em 1420, ao herdeiro do trono português, Príncipe Dom Pedro, que visitou, durante 23 dias, de pompas e circunstâncias, aquela cidade italiana. Como presente maior, como regalo maior, o Doge lhe deu uma cópia daquele mapa-múndi. Um mapa-múndi realizado pelos chineses, que navegaram por todo o mundo muito antes de as caravelas portuguesas e espanholas chegarem à América e dobrarem o Cabo da Boa Esperança em direção ao Oriente.

            Por que eu cito essa passagem? Porque aquele mapa serviu de base, serviu de impulso, serviu de inspiração ao Infante Dom Henrique para reunir as maiores autoridades europeias em geografia, em cartografia, em construção naval, em navegação, naquilo que se convencionou chamar Escola de Sagres, e que foi a base, o fundamento para as navegações portuguesas.

            Eu comparo o ITA à Escola de Sagres - uma para conquistar os mares; o outro, para conquistar os céus e o mundo.

            Faço essa introdução para, em saudando todos aqueles que fizeram a grandeza da Embraer, homenagear desde os primeiros professores que vieram do MIT até os atuais, como aqueles que fomentaram o conhecimento capaz de nos fazer voar tão alto.

            Srª Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, não faz muito tempo, era comum ver as pessoas exprimirem desdém quando se falava em produtos fabricados no Brasil. Aliás, a minha infância foi marcada, em Florianópolis, pelas grandes lojas de ferragens que importavam tudo, até mesmo uma simples pá, uma tesoura Solingen da Alemanha, anzóis da Noruega. Não faz muito tempo. Era comum as pessoas dizerem: “Ah, esse produto é nacional, não vale nada”.

            Se isso valia para uma simples enxada, para uma simples tesoura, o que dizer para um produto de alto valor agregado? Nem sonhávamos com isso. Por isso, era da nossa cultura, a cultura que Nelson Rodrigues chamou de “sentimento vira-lata”, porque era impossível ter algum produto brasileiro que valesse a pena comprar. Parece que só depois de conquistarmos o mercado exigente lá fora é que começamos a adquirir respeito e admiração pela capacidade empreendedora nacional.

            Certamente, com a Embraer não terá sido diferente. O Brasil fabricar aviões, aviões a jato, aviões sofisticados, aviões civis, aviões militares, isso parecia uma miragem na retina dos nossos olhos. E é difícil acreditar que a Embraer poderia existir se não tivesse sido criada como empresa de capital misto e controle estatal. Ou melhor, como empresa estatal.

            E aí entra um ingrediente fundamental no domínio da tecnologia. O Estado tem que estar empurrando, o Estado tem que fazer valer seu poder de investimentos e seu poder de compra. É assim que foi feita a Nasa, é assim que foi desenvolvido o Vale do Silício: o governo americano empurrando, induzindo e, com seu complexo militar, com seu complexo espacial, adquirindo os produtos. 

            Atualmente, a Embraer é uma das maiores empresas do mundo - aliás, apenas a Boeing e a Airbus, construtoras de aviões de grande porte, estão à sua frente -, disputando, ombro a ombro, com a canadense Bombardier na faixa dos aviões médios.

            Eu quero aqui exaltar o ex-Chanceler Celso Amorim quando daquela memorável discussão na OMC. O Chanceler Celso Amorim demonstrou, naquele momento, o tamanho da diplomacia brasileira ao defender, com precisão e competência, a eficiente empresa que os brasileiros produziram em São José dos Campos.

            A Embraer é filha do ITA. Seus profissionais vieram majoritariamente do ITA e, é verdade, também - o que, às vezes, é um pouco esquecido - do Centro Técnico Aeroespacial.

            Seus primeiros produtos já surpreenderam pela qualidade e pela eficiência: a aeronave agrícola EMB 200, Ipanema; o planador de alto desempenho EMB 400, Urupema - não sei se todos sabem, mas Urupema é a cidade que registra as temperaturas mais baixas do nosso País, mais baixas que a conhecida São Joaquim; os aviões Bandeirante, Xingu e EMB 120 Brasília. Todos demonstraram que o Brasil tinha potencial não apenas para ser um país de carnaval e futebol, de café e cana-de-açúcar, mas para desenvolver uma indústria aeronáutica respeitável para todo o mundo.

            Vieram também os aviões destinados a fins militares, como o EMB 312, o Tucano e o Supertucano, muito procurados para treinamento por forças aéreas de todo o mundo. Em 1981, teve início a parceria com a Aeritalia (hoje Alenia) e Aermacchi, possibilitando elevação a novo patamar tecnológico para a Embraer. Fruto dessa união de esforços foi o AMX, um caça de ataca ar/terra. Nesse ponto, sem xenofobismo, nos soubemos valer de importante parceria de um país europeu.

            Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, será que a Embraer poderia ter sobrevivido num mercado dificílimo sem o pulso e a ousadia de um de seus mais importantes administradores? É incrível, mas toda organização bem-sucedida tem um líder excepcional. Nenhuma grande empresa nacional chegou a seus patamares de eficiência sem um líder extraordinário à sua frente. Por isso, quero lembrar aqui a importância fundamental do engenheiro aeronáutico Ozires Silva.

            Quero lembrar a importância desse paulista, nascido em Bauru, que dedicou parcela importante de sua vida aos projetos da Embraer e que tem sua história intimamente ligada à Aeronáutica.

            A Itália, que é um país sem recursos naturais, desenvolveu uma extraordinária empresa, uma empresa impossível de ter o porte e o tamanho que teve naquele país. Desenvolveu a ENI - Ente Nazionale Idrocarburi. Por que essa empresa se tornou grande, respeitável? Porque à frente dela teve um Enrico Mattei, uma figura extraordinária. 

            Ozires Silva se nivela a figuras extraordinárias, a figuras únicas, a figuras inexcedíveis, como Enrico Mattei.

            Ozires é oriundo da nossa Aeronáutica. Ingressou na Força Aérea Brasileira (FAB) em 1948, recebendo o diploma de aviador militar em 1951. Como piloto militar, Deputado Edinho Bez, que nos honra com sua presença, ele serviu na Amazônia e no extraordinário Correio Aéreo Nacional (CAN). Diplomou-se em Engenharia Aeronáutica pelo ITA em 1962.

            Volto ao início do meu discurso, volto àquela Sala do Escudo, em Veneza, àquele mapa-múndi com que foi presenteado D. Pedro, em 1420.

            Em 1963, passou a servir como engenheiro e piloto no Departamento de Aeronaves do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento (IPD) do Centro Técnico Aeroespacial (CTA), tendo assumido também a cadeira de Ensaios de Voos do ITA.

            Ozires começou, em seguida, a sua carreira de grande administrador. Assumiu, em 1964, a direção do Departamento de Aeronaves do IPD-CTA. Foi sob sua chefia que se deu início ao projeto do avião Bandeirante, fator decisivo para a consolidação da Embraer. Foi escolhido como primeiro Presidente da Embraer, que dirigiu com brilho desde a sua fundação. Ficou 17 anos no comando dessa empresa, que, hoje, é símbolo da capacidade tecnológica brasileira, da capacidade criativa do brasileiro, da capacidade de inovação do brasileiro.

            Em 1972, deixou a Força Aérea Brasileira, na qual tinha permanecido por 24 anos.

            Foi Presidente da Petrobrás de maio de 1986 a julho de 1988 e deu passos importantes para a então sonhada autossuficiência na produção de petróleo.

            De março de 1990 a março de 1991, foi Ministro de Estado da Infraestrutura do Governo Fernando Collor - ali não teve tempo para fazer valer o seu brilho. É importante lembrar que o Ministério da Infraestrutura era um superministério que abrangia Comunicações, Minas e Energia e Transportes. Tudo isso se deu dentro de um organograma - e poucos brasileiros sabem - que foi elaborado por outros dois extraordinários irmãos nossos. Aquele cronograma de um governo enxuto, de poucos Ministérios e de muita gestão foi elaborado, nada mais nada menos, que por Eliezer Batista e Raphael de Almeida Magalhães.

            Em julho de 1991, Ozires Silva retornou à Presidência da Embraer e ali ficou até fevereiro de 1995. Durante esse período, comandou a elaboração do projeto e o desenvolvimento do EMB 145, jato de cinquenta lugares - e aí começou uma trajetória magnífica da empresa -, cujo sucesso colocou a Embraer no lugar de destaque que hoje ocupa. Foi nessa sua segunda gestão que ocorreu o processo de privatização da Embraer, em dezembro de 1994, decisão que marcou uma nova e ascendente etapa da empresa.

            A Embraer adquiriu extraordinária competência na construção de jatos e conquistou grande confiança do mercado nacional e internacional. Atualmente, seus produtos são disputadíssimos.

            Desculpem-me os presentes se faço esse relato, porque sei que todos estão cansados de saber desses fatos, mas estou falando para não sei quantos milhões de telespectadores, e muitos, talvez, tenham ouvido falar da Embraer, mas outros não têm a consciência da importância estratégica dessa empresa no desenvolvimento de nosso País.

            Ozires Silva, por sua vez, como os desafios não o intimidavam, assumiu a Presidência da Varig em junho de 2000, função que desempenhou até 2002. Não obstante tenha sido um período muito curto, ele criou um sistema de logística a que deu o nome de VarigLog, dedicado ao transporte rápido de mercadorias.

            Foi designado para o Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CCT) em 2003, permanecendo ali por todo o tempo que a lei permite, três anos, com uma recondução.

            Outro fato que marca o espírito irrequieto e sempre voltado para novos desafios do engenheiro Ozires Silva foi a criação de sua empresa de Biotecnologia, a Pele Nova, que estabeleceu uma grande inovação em medicamentos, com tecnologia nacional. O próprio nome da empresa já diz qual é a sua atividade: restaura a pele rompida com a própria pele, num processo biológico de recomposição.

            Ozires Silva é também Presidente do Fórum de Líderes, organização não governamental que se dedica ao desenvolvimento de estratégias empresariais. Ultimamente, tem destacado sua presença marcante também no ensino superior, como reitor da Universidade de Santo Amaro (Unisa), em São Paulo, de 2006 a 2008, ano em que foi designado reitor da Unimonte, da cidade de Santos, no Estado de São Paulo.

            O incansável Ozires Silva ainda encontra tempo para escrever, tendo publicado vários livros, e mantém colaboração em jornais.

            Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, considero a imagem e a atuação do grande brasileiro Ozires Silva - aqui, repito muitas vezes o seu nome, embora, em técnica de redação, isso não seja recomendável, porque seu nome deve ser repetido, repetido, repetido, repetido, para configurar a grandeza da sua vida e da sua obra - indissociáveis do surgimento e do desenvolvimento da Embraer. Daí, tenho destacado a figura deste grande e arrojado brasileiro, que também merece as homenagens desta Casa pelo que fez em prol da aviação brasileira.

            Porém, é preciso lembrar também que a nossa aviação não poderia ter chegado ao que representa na atualidade se não fossem as instituições que fornecem os quadros e desenvolvem a tecnologia necessária a essa atividade.

            Destaco especialmente o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), que teve origem no Centro Técnico de Aeronáutica (CTA), criado para ser órgão científico e técnico do Ministério da Aeronáutica, com o objetivo de exercer suas atividades em prol da Força Aérea Brasileira, da Aviação Civil e da então sonhada e futura Indústria Aeronáutica, segundo os programas e planos do Ministério.

            Uma das instituições que integram o DCTA dispensa apresentações. É o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), criado pelo Decreto nº 27.695, de 16 de janeiro de 1950, e definido pela Lei nº 2.165, de 5 de janeiro de 1954. Trata-se de uma instituição universitária de excelência - eu poderia até dizer que é a instituição universitária de maior excelência entre as de maior excelência do nosso País -, especializada no campo do saber aeroespacial, sob a jurisdição do Comando da Aeronáutica (Comaer). O ITA tem por finalidade promover, por meio da educação, do ensino, da pesquisa e da extensão, o progresso das ciências e das tecnologias relacionadas com o campo aeroespacial e a formação de profissionais de nível superior nas especializações de interesse do Comaer e do setor aeroespacial em geral.

            O que quero destacar na metodologia de ensino do ITA é o seu caráter dual: o aluno alterna sala de aula com a prática dos ensinamentos que apreende em sala de aula. É o que os alemães chamam de ensino dual. O ITA é pioneiro - e, lamentavelmente, é ainda pouco acompanhado neste País - na metodologia do ensino dual, que envolve aprender e fazer, estudar e trabalhar. Essa tecnologia faz com que qualquer pessoa selecionada no exame de admissão para essa escola já se sinta um brasileiro de saber privilegiado, tal a rigidez de conhecimentos que são exigidos dos candidatos.

            O ITA é símbolo da competência intelectual nacional, devido à concorrência que se estabeleceu em virtude da qualidade de ensino ministrada nessa instituição. Digo sempre que, se uma pessoa passar pela rua e se alguém disser “aquele ali é um engenheiro formado pelo ITA”, o outro vai responder “aquele é um profissional de Engenharia como poucos na América Latina.”

            O DCTA concentra ainda atividades de pesquisa que se têm mostrado importantíssimas para o desenvolvimento do setor aeronáutico e aeroespacial brasileiro.

            Logo depois da criação do antigo CTA, em 1954, nasceu o Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento (IPD), que foi o segundo instituto a integrar esse Centro, em ordem cronológica de ativação. Quero salientar aqui também o pouco salientado, o pouco exaltado IPD, que se constitui no instrumento básico de execução do programa de pesquisas e desenvolvimento no campo da Aeronáutica. O pouco conhecido IPD já pôde contar, desde o início, com a participação de alguns engenheiros formados pelo ITA.

            Termino, Srª Presidente, Srs. Presidentes, exaltando o ITA, o DCTA, o IPD, o antigo CTA, o Ministério da Aeronáutica, que, com sua política de longo prazo, com sua política futurista e futuróloga, criou esses instrumentos.

            O Brasil voa alto, como as naus lusitanas viajaram longe. Certamente, por causa daquele mapa e daquela Escola de Sagres, os portugueses foram ao Oriente e chegaram às costas do Brasil. E, certamente, por causa dessas instituições, o Brasil voa alto no conceito internacional. Ficamos felizes e orgulhosos quando, em países do primeiríssimo mundo, embarcamos em um avião da Embraer.

            Viva Ozires Silva! Que Deus lhe dê longa vida para continuar servindo a este País!

            Viva o ITA! Viva a Embraer! (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/08/2011 - Página 34362