Discurso durante a 140ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração dos 42 anos da Empresa Brasileira de Aeronáutica - Embraer e homenagear o Doutor Ozires Silva, ex-Presidente da empresa, o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial - DCTA e o Instituto Tecnológico de Aeronáutica - ITA.

Autor
Ana Amélia (PP - Progressistas/RS)
Nome completo: Ana Amélia de Lemos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração dos 42 anos da Empresa Brasileira de Aeronáutica - Embraer e homenagear o Doutor Ozires Silva, ex-Presidente da empresa, o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial - DCTA e o Instituto Tecnológico de Aeronáutica - ITA.
Publicação
Publicação no DSF de 19/08/2011 - Página 34370
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, AUTORIDADE, COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, EMPRESA BRASILEIRA DE AERONAUTICA (EMBRAER), INSTITUTO TECNOLOGICO DE AERONAUTICA (ITA), HOMENAGEM, OZIRES SILVA, EX PRESIDENTE, SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA.

            A SRª ANA AMÉLIA (Bloco/PP - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Caro Presidente Luiz Henrique, Senador Cristovam Buarque, a quem cumprimento pela oportuna iniciativa de prestar esta homenagem às instituições que estamos celebrando hoje: o ITA, o DCTA e a Embraer; e a esta figura exemplar que orgulha a todos os brasileiros, Ozires Silva.

            Queria saudar todas as autoridades da Mesa, em especial o homenageado e os representantes das entidades homenageadas, o Prefeito da cidade e meu conterrâneo Jackson Schneider.

            A história do desenvolvimento brasileiro se confunde com a história das principais organizações brasileiras e se confunde também com a história de vida de líderes, como é o caso de Ozires Silva. Há, no Brasil, um restrito número de organizações empresariais que fazem parte do nosso orgulho, empresas de que os brasileiros se sentem donos porque são referências positivas do nosso País no exterior. E imagino que, nesse seleto grupo, estejam empresas centenárias.

            Quando viajamos para o exterior, há um orgulho especial quando pegamos um talher em Estocolmo e vemos que a marca é Tramontina, fabricada lá em Carlos Barbosa, no meu Rio Grande do Sul; ou quando vamos a Joanesburgo e tomamos um ônibus fabricado em Caxias do Sul, da Marcopolo; ou quando nos enxugamos, em um hotel de três, quatro ou cinco estrelas, em qualquer grande cidade do mundo, Senador Cristovam Buarque, com uma toalha Karsten, lá de Santa Catarina, do Senador Luiz Henrique; ou quando eu, por exemplo, peguei um voo, na Polônia, num avião da Embraer.

            Digo apenas essas, mas poderia citar tantas outras empresas brasileiras que se internacionalizaram e que, como a Embraer, são orgulho nacional. No caso da Embraer, especificamente, há o chamado agregado, que transcende em muito o valor material do que significa apenas um avião voando, mas em matéria de conhecimento, de ciência, de sabedoria, de esforço pessoal de cada um, de um modesto mecânico, de um funcionário atendente, de um ajudante a um engenheiro com PhD, a um especialista em engenharia aeroespacial.

            A Embraer foi fundada em 19 de agosto de 1969 pelo governo brasileiro, com a missão estratégica e inteligente de transformar o conhecimento em ciência e tecnologia - esse conhecimento foi transformado em tecnologia e em engenharia aeronáutica.

            Com o passar dos anos, essa empresa que estamos homenageando hoje, a Embraer, desenvolveu uma linha de aeronaves utilizadas para fins militares, agrícolas, comerciais, que foram batizadas com nomes que enaltecem a presença do Brasil no céu de todas as partes do mundo: Bandeirante, Xavante, Xingu, Urupema, Ipanema, Tucano e Brasília.

            Dr. Ozires e representantes da Embraer, do ITA e do DCTA, em 1995, tive a honra de integrar uma comissão especial liderada pelo então Ministro da Justiça, Ministro Paulo Brossard, numa viagem a Cuba. Fomos em um avião Brasília. Quando chegamos a Havana, num jantar com a presença do Presidente Fidel Castro, para surpresa de todos nós, Fidel Castro falou sobre o Brasília com a autoridade de um produtor desse avião. Ele falou das características, do combustível, da economicidade, do desempenho e da importância desse avião para a aviação regional e fez os comparativos. Foi, realmente, uma surpresa que o líder de um país amigo e irmão tivesse dado aos brasileiros - eu, naquele momento, como jornalista - uma verdadeira aula sobre um patrimônio que é de todos os brasileiros.

            O Xingu, por exemplo, é utilizado desde 1993, Senador Luiz Henrique, Senador Cristovam Buarque, pela Força Aérea francesa. A mesma França que quer nos vender aviões militares agora, que já decidiu pela sua modernização e utilização até o ano de 2025. Um importante reconhecimento à qualidade da nossa indústria aeronáutica que, em 2010, forneceu um quinto dos jatos executivos comercializados no mundo. Não é pouco coisa, e, por isso, temos a oportunidade, hoje, de exaltar e enaltecer tudo o que está sendo feito para projetar o Brasil numa área tão especializada da indústria internacional.

            Em 1994, a Embraer atingiu a maioridade. Desenvolvida, já era capaz de caminhar com suas próprias pernas, deixando de ser uma empresa estatal e passando a ser uma empresa privada. Nem por isso deixou de continuar prestando importante papel no desenvolvimento econômico e tecnológico do nosso País. Continua a ser a Empresa Brasileira de Aeronáutica e a permanecer no coração dos brasileiros.

            O Senador Cristovam Buarque fez referência, e eu confirmo agora, porque participei de toda a exposição que a direção da Saab, produtora do avião militar Gripen... E, hoje, não tive oportunidade de participar de toda a exposição da Boeing, que produz também aviões militares, mas o que eles falam, especialmente no caso dos suecos, eu, como brasileira, senti-me extremamente orgulhosa, porque eles disseram, com todas as letras, inclusive autoridades suecas, que o Brasil foi o primeiro País escolhido pela Suécia para repassar toda a sua tecnologia de um avião militar. Não vou discutir o mérito, inclusive a posição do Senador, nacionalista como eu, Cristovam Buarque, a respeito dessa matéria. Mas o fato de um país, com o desenvolvimento tecnológico que tem a Suécia, disponibilizar, pela primeira vez a um país estrangeiro, toda a sua aeronáutica, também não é pouca coisa. E, quando perguntei por que escolheram a Embraer, eles também disseram que era a única empresa que teria... E eles só fazem isso quando a companhia do país a quem eles estão vendendo tecnologia ou repassando tem a capacidade de produzir com igual qualidade na origem, no caso, na Suécia. Também não é pouca coisa isso, Senador Luiz Henrique, Senador Cristovam Buarque. Isso orgulha todos os brasileiros. A Embraer, o ITA, o DCTA são patrimônios nossos, e temos que valorizá-los. Se puder, quero participar também dessa frente, Senador Cristovam Buarque, para reforçar o apoio político que essas instituições precisam receber do Congresso Nacional.

            Hoje, a Embraer possui unidades aqui no Brasil, claro, nos Estados Unidos, na França, em Portugal, na China e em Singapura. Mas toda essa expansão não teria sido possível sem o Instituto Tecnológico de Aeronáutica e o Centro Técnico de Aeronáutica, hoje Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), onde foi construída a primeira unidade da Embraer, a unidade Faria Lima, em São José dos Campos, São Paulo.

            Hoje, a unidade Faria Lima permanece sendo a principal unidade da Embraer, sendo responsável pelos projetos, fabricação e suporte pós-venda de aeronaves para os mercados da aviação comercial, executiva e também de defesa.

            O Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) e o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) são resultados de sonhos que, inicialmente, foram sonhados por Santos Dumont. Seu livro O que vi, o que veremos, Senadores, meus queridos Cristovam Buarque e Luiz Henrique, meu caro Presidente Ozires Silva, editado em 1918 pela Editora A Encantada, registrou a ideia de criação de uma escola técnica, - vejam só! - no Brasil, voltada para a aviação, antevendo um centro de tecnologia que só se efetivaria cerca de 30 anos mais tarde.

            A Embraer, o DCTA e o protagonismo de Ozires Silva materializaram o sonho de Santos Dumont.

            Eis um parágrafo muito, muito emblemático do que disse e escreveu, à época, Santos Dumont:

Eu que tenho algo de sonhador, nunca imaginei o que tive ocasião de observar, quando visitei uma enorme fábrica nos EUA. Vi milhares de hábeis mecânicos ocupados na construção de aeroplanos, produzindo diariamente de 12 a 18.

Quando o Congresso Americano acaba de ordenar a construção de 22.000 dessas máquinas, nós, aqui, não encaramos ainda esse problema com a atenção que merece. [1918].

A principal dificuldade para a navegação aérea [escreveu ele] está no progresso dos motores... Já o aço tem sido melhorado... Outra dificuldade que se apresenta à navegação aérea é a de localizar-se o aeroplano... É tempo, talvez, de se instalar uma escola de verdade em um campo adequado...

Os alunos [continua Santos Dumont] precisam dormir junto à Escola, ainda que para isso seja necessário fazer instalações adequadas... Penso que, sob todos os pontos de vista, é preferível trazer professores da Europa e dos EUA, em vez de para lá enviar alunos.

            Escreveu isso com um senso de visão e sabedoria Santos Dumont, nos idos de 1918.

            Senhoras e Senhores, homenageados, meus caros colegas que tomaram essa oportuna iniciativa de fazer o reconhecimento do valor deste homem e deste líder, Ozires Silva, que eu, como jornalista, muitas vezes entrevistei, quando Ministro da Infraestrutura e também como Presidente da Embraer; demais autoridades que representam tanto o ITA quanto o DCTA, grandes empreendimentos não são construídos sem a interferência de grandes homens, e hoje é dia de homenagear também um filho do ITA.

            Ozires Silva é Oficial da Aeronáutica, como já foi dito aqui, e Engenheiro, formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica, e, durante toda a sua vida, trabalhou, contribuindo para o desenvolvimento da indústria aeronáutica brasileira. Capitaneou a equipe que projetou e construiu o avião Bandeirante. Liderou, em 1970, o grupo que promoveu a criação da Embraer, presidindo-a até 1986, quando aceitou o desafio de ser Presidente da Petrobras, onde atuou até 1989.

            Em 1990, assumiu o Ministério da Infraestrutura e, em 1991, retornou à Embraer, conduzindo o processo de privatização dessa grande empresa, que é um orgulho nacional. Hoje, Ozires Silva se dedica à educação, transmitindo seus conhecimentos como Reitor da Unimonte - Dr. Ozires, eu gostaria muito de ser sua aluna nessa universidade ou, pelo menos, de ser sua aluna também na escola da vida. Isso demonstra o quanto avançamos em nossa indústria aeronáutica e no nosso potencial, para crescer ainda mais.

            Nada disso seria realidade, hoje, se não tivéssemos, em nossa história, líderes que construíram a história do ITA, do DCTA e o protagonismo deste homem que também nos orgulha muito e que é um exemplo de vida para os brasileiros, especialmente neste momento, em que nós precisamos pensar e repensar, com uma atenção prioritária, nos valores da vida, nos valores da educação, Senador Cristovam Buarque, e nos valores éticos na condução de todos os projetos que temos na nossa vida e em nosso País.

            Agradeço a todos. A toda a equipe que forma essas grandes instituições, o reconhecimento especial de uma pessoa que entende que também está na educação o grande salto de qualidade para o Brasil.

            Muito obrigada a todos e parabéns aos homenageados. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/08/2011 - Página 34370