Discurso durante a 140ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração dos 42 anos da Empresa Brasileira de Aeronáutica - Embraer e homenagear o Doutor Ozires Silva, ex-Presidente da empresa, o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial - DCTA e o Instituto Tecnológico de Aeronáutica - ITA.

Autor
Rodrigo Rollemberg (PSB - Partido Socialista Brasileiro/DF)
Nome completo: Rodrigo Sobral Rollemberg
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração dos 42 anos da Empresa Brasileira de Aeronáutica - Embraer e homenagear o Doutor Ozires Silva, ex-Presidente da empresa, o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial - DCTA e o Instituto Tecnológico de Aeronáutica - ITA.
Publicação
Publicação no DSF de 19/08/2011 - Página 34374
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, AUTORIDADE, COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, EMPRESA BRASILEIRA DE AERONAUTICA (EMBRAER), INSTITUTO TECNOLOGICO DE AERONAUTICA (ITA), COMENTARIO, HISTORIA, EMPRESA, HOMENAGEM, OZIRES SILVA, EX PRESIDENTE, SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA.

            O SR. RODRIGO ROLLEMBERG (Bloco/PSB - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Prezado Sr. Presidente, Senador Luiz Henrique; prezado Senador Cristovam Buarque, ambos signatários desta justíssima homenagem; prezado Reitor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica, Exmº Sr. Tenente-Brigadeiro-do-Ar Reginaldo dos Santos; prezado Diretor do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), Exmª Sr. Tenente-Brigadeiro-do-Ar Ailton dos Santos Pohlmann; Prezado Prefeito da Cidade de São José dos Campos, sede da Embraer, Sr. Eduardo Cury; prezado Vice-Presidente de Relações Institucionais da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer), orgulho nacional, Sr. Jackson Schneider; prezado Ex-Presidente da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer), homenageado nesta presente sessão, grande brasileiro, referência para todos nós, Dr. Ozires Silva; prezado Ministro do Superior Tribunal Militar, Exmº Sr. Tenente-Brigadeiro-do-Ar Cleonilson Nicácio, Exmº Sr. General-de-Brigada Luís Felipe Linhares Gomes, representando o Comandante do Exército; Exmºs Srs. Oficiais Generais da Aeronáutica; Srªs e Srs. Pesquisadores do DCTA; militares da Banda Sinfônica da Base Aérea de Brasília; prezados Senadoras e Senadores; senhoras e senhores, em primeiro lugar, quero cumprimentar os Senadores Luiz Henrique e Cristovam Buarque por essa justíssima homenagem.

            Tive que me retirar durante parte da sessão, mas quero cumprimentar o Senador Luiz Henrique pela parte que tive a oportunidade de ouvir do seu pronunciamento, onde demonstra, como excelente ex-Ministro da Ciência e Tecnologia que foi, conhecimento e a importância deste segmento para o desenvolvimento do Senado Federal, o Senado hoje realiza esta sessão destinada a comemorar o aniversário de uma empresa e a homenagear um indivíduo e duas organizações militares voltadas ao ensino e à pesquisa. Os quatro homenageados têm suas trajetórias intimamente ligadas. Os quatro, ao longo de suas caminhadas, alcançaram extraordinário sucesso, destacando-se como evidências incontestáveis de que o Brasil e os brasileiros podem, sim, realizar feitos notáveis.

            Nada mais justo do que homenagear pessoas e entidades que concretizaram realizações de tamanha magnitude como as da Embraer, do Dr. Ozires Silva; do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA); e do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). O simples dever de reconhecimento a quem tanto fez pelo Brasil já seria motivo mais do que suficiente para esta Casa prestar-lhes reverência.

            O tributo de admiração que hoje apresentamos a nossos homenageados inspira, contudo, uma reflexão de grande relevância para esta Nação.

            O SR. PRESIDENTE (Luiz Henrique. Bloco/PMDB - SC) - Senador Rodrigo, V. Exª me permite?

            O SR. RODRIGO ROLLEMBERG (Bloco/PSB - DF) - Pois não.

            O SR. PRESIDENTE (Luiz Henrique. Bloco/PMDB - SC) - Eu queria saudar a presença no plenário dos alunos do 4º ano do Colégio Militar D. Pedro II, a quem quero pedir uma salva de palmas. (Palmas.)

            O SR. RODRIGO ROLLEMBERG (Bloco/PSB - DF) - Cumprimento também os jovens estudantes que nos honram com sua presença.

            Refiro-me ao fato de que as trajetórias de afirmação e de conquistas percorridas por esse homem e por essas organizações estão firmemente assentadas em pilares que têm de ser mais valorizados por todos nós, governo e sociedade brasileira. O sucesso do trabalho empreendido pela Embraer, pelo Dr. Ozires, pelo DCTA e pelo ITA serve de demonstração cabal do imenso retorno que é proporcionado pelos investimentos realizados em educação, ciência e tecnologia e inovação.

            Este é o aspecto para o qual faço questão de chamar a atenção do colendo Plenário: a homenagem que aqui fazemos a essa personalidade e a essas organizações tem de servir-nos de lembrete quanto à importância vital para o futuro da Nação de priorizarmos essas três áreas: a educação, a ciência e a tecnologia.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a criação da Embraer, 42 anos atrás, no dia 19 de agosto de 1969, representou, na verdade, mais uma etapa na concretização de um sonho antigo, cujos alicerces começaram a ser fincados quase 30 anos antes por um homem de extraordinária visão, o Marechal-do-Ar Casimiro Montenegro Filho. Foi no início da década de 40 que Casimiro Montenegro começou a conceber a ideia de uma escola de engenharia aeronáutica no próprio Ministério da Aeronáutica. Nesse período, ao viajar para os Estados Unidos em missão do Ministério, Montenegro visitou um centro de desenvolvimento tecnológico da Força Aérea norte-americana e o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).

            Entusiasmado com o que viu, Casimiro Montenegro julgou que o MIT era o melhor modelo para organização do futuro Centro Técnico do Ministério da Aeronáutica. Convidou, então, o chefe do Departamento de Engenharia Aeronáutica daquela instituição, o Prof. Richard Harbert Smith, para visitar o Brasil e contribuir no processo de organização do Centro Técnico.

            Em agosto de 1945, o Plano Geral do Centro foi acolhido pelo Ministério da Aeronáutica e aprovado pelo Presidente da República. A proposta era de algo mais amplo do que exclusivamente uma escola superior, planejando-se uma integração de atividades em ciência e tecnologia no campo aeronáutico. Entendia-se primordial para o sucesso de uma instituição de tal natureza que ela gozasse de autonomia plena, fosse livre para estabelecer sua própria filosofia, diretrizes e procedimentos, bem como para gerir, econômica e financeiramente, seus projetos e realizações.

            O Instituto de Tecnologia da Aeronáutica (ITA) foi concebido como estabelecimento de ensino modelar, comparável às grandes universidades americanas, constituído por seleto grupo de professores de renome internacional. Um dos principais objetivos do projeto era elevar a ciência e a tecnologia aeronáutica ao mais alto nível, comparável ao das nações mais avançadas, de modo a se obter a consolidação de uma indústria aeronáutica capaz de competir com aquela dos países desenvolvidos.

            Surgia, assim, o embrião de uma escola de alto nível no País, com professores experimentados, trazidos do exterior. No ano de 1954, formou-se a primeira turma de engenheiros do Instituto de Tecnologia da Aeronáutica, que contava com as instalações adequadas e professores e alunos morando no próprio campus.

            Os passos seguintes - que culminaram com a criação do complexo de pesquisa e desenvolvimento então denominado Centro Técnico de Aeronáutica (CTA), hoje Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) - começaram pela instalação dos laboratórios de pesquisa para empregar os profissionais de excelência formados e pela criação de um ambiente propicio para o desenvolvimento das atividades de pesquisa na área aeronáutica.

            Ainda segundo a concepção do plano idealizado por Montenegro, quando nos laboratórios houvesse produtos com potencial de comercialização, seriam fundadas empresas. Assim, em 1969, quando o avião para linhas regionais Bandeirante havia tomado forma, foi criada a Embraer.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, criada a Embraer, fruto de uma iniciativa do governo brasileiro, no contexto de um projeto estratégico para implementar a indústria aeronáutica no País, como parte de uma política de substituição de importações, foi escolhido para presidi-la - como era de se supor - um engenheiro aeronáutico formado pelo ITA - um iteano, como se costuma dizer -, o Dr. Ozires Silva.

            Contando, então, somente com 38 anos, Ozires Silva já ostentava um currículo invejável. Diplomado Aviador Militar com apenas 20 anos de idade, já fora professor da cadeira de Ensaios em Voos do ITA e obtivera o título de Mestre em Ciências Aeronáuticas pelo California Institute of Technology, nos Estados Unidos. Nos anos anteriores, havia exercido a direção do Departamento de Aeronaves do Instituto de Pesquisas e Desenvolvimento. Nesse cargo, liderou o desenvolvimento do avião Bandeirante, destinado ao transporte de passageiros no setor de aviação regional. Era, portanto, uma escolha natural para presidir a empresa que fora criada, tendo como seu primeiro produto esse avião.

            Permanecendo à frente da empresa durante seus primeiros 17 anos de existência, Ozires Silva teve papel preponderante na conquista, pela Embraer, de importante projeção nacional e internacional, com os aviões Bandeirante, Xingu e Brasília, ao longo das décadas de 1970 e 1980. Em 1981, a parceria com as empresas italianas Aeritalia e Aermacchi para desenvolvimento do caça de ataque ar-terra AMX viabilizou um importante salto tecnológico, o qual habilitou a Embraer para a elaboração de novos projetos.

            Em 1986, Ozires Silva deixou a presidência da Embraer para assumir a Petrobras. Em 1992, contudo, foi convidado a voltar à presidência de nossa empresa aeronáutica e a conduzir o processo de sua privatização. Após ser leiloada em dezembro de 1994, a Embraer passou por um longo e bem sucedido processo de reestruturação. Nessa sua segunda passagem pela presidência da companhia, entre 1992 e fevereiro de 1995, Ozires Silva lançou o projeto e iniciou o desenvolvimento do avião EMB 145, jato de 50 lugares cujo sucesso consolidou a Embraer privatizada.

            No entanto, Ozires Silva, ao longo de seus 80 anos de vida, teve oportunidade de mostrar seu talento, sua competência e sua enorme capacidade de realização em outros setores, além da carreira militar, da aviação, do ensino e da administração de grandes empresas. No início da década de 1990, exerceu o cargo de Ministro de Estado da Infraestrutura. Em setembro de 2003, foi designado membro do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CCT), por decreto do Presidente da República, que preside o órgão.

            Dando prova de sua notável capacidade de inovar, Ozires Silva criou, em outubro de 2003, a Pele Nova Biotecnologia S.A., da qual se tornou presidente. A empresa lançou no mercado nacional um novo medicamento, baseado em tecnologia nacional, com grandes expectativas e promissoras futuras aplicações na melhoria da qualidade de vida de pacientes. O novo empreendimento do incansável Ozires tem expectativa de marcar presença no mercado internacional muito em breve.

            Como se não bastasse, Ozires Silva foi eleito Presidente do Fórum de Líderes, organização não governamental que se dedica ao desenvolvimento de estratégias empresariais, foi Reitor da Universidade de Santa Amaro (Unisa), em São Paulo, e é agora Reitor da Unimonte, em Santos. Conferencista requisitado, articulista em periódicos nacionais e estrangeiros, já publicou diversos livros, entre eles A Decolagem de um Sonho - A História da Criação da Embraer, Casimiro Montenegro Filho - A Trajetória de um Visionário - A História do Criador do ITA, Nas Asas da Educação - A Trajetória da Embraer, obra na qual explica que o sucesso da Embraer pode ser considerado como uma vitória da educação, e Etanol, uma Revolução Verde-Amarela, já traduzido para o inglês.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, após a saída de Ozires Silva da presidência da Embraer, em 1995, a empresa continuou na sua senda vitoriosa. Inspirada no espírito pioneiro de Alberto Santos Dumont, ela é hoje uma das maiores empresas aeronáuticas do mundo, posição alcançada graças à busca permanente e determinada da plena satisfação de seus clientes.

            Fiquei muito feliz, recentemente, na China, ao ver o grande número de aviões da Embraer servindo à aviação regional daquele país.

            No momento em que completa 41 anos de existência, a empresa atua em todas as etapas de um processo muito complexo: projeto, desenvolvimento, fabricação, venda e suporte pós-venda de aeronaves para os segmentos de aviação comercial, aviação executiva e aviação de defesa. Já foram produzidos pela Embraer mais de cinco mil aviões, que operam em 92 países, nos cinco continentes, tornando-a líder no mercado de jatos comerciais com até 120 assentos, além de ser a fabricante de alguns dos melhores jatos executivos em operação e de ingressar em um novo patamar no setor de defesa.

            Sr. Presidente, o investimento realizado em educação, ciência e tecnologia em nosso País é ainda bastante escasso.

            Tive oportunidade, há dois anos, de visitar o ITA, quando pude confirmar, com muita tristeza, que muitos professores estavam se aposentando. Havia uma dificuldade de reposição daqueles professores, criando um hiato, que, sem dúvida, trará consequências muito nefastas ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia no nosso País.

            A homenagem que hoje prestamos à Embraer, ao Dr. Ozires Silva, ao Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) e ao Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) deve ter o condão de nos fazer lembrar quão elevado é o retorno dos investimentos realizados em educação. Observem as Srªs Senadoras e os Srs. Senadores que o faturamento da Embraer em um ano corresponde a mais de cem vezes o orçamento anual do ITA.

            Todas as vezes que o Brasil decidiu investir em ciência, tecnologia e inovação, os resultados foram magníficos. Está aí o exemplo da Embraer, da Embrapa, da Petrobras. Entendo que, hoje, precisamos fazer, no setor espacial, aquilo que o Brasil teve coragem de fazer, anos atrás, no setor aeronáutico. Um país como o Brasil, com as condições que tem, com o melhor sítio de lançamento do planeta, reúne todas as condições para dominar o ciclo completo espacial, com grande sítio de lançamento, com foguetes lançadores de satélite e com satélites com tecnologia nacional.

            Ao longo de sua história, o ITA e o DCTA vêm colhendo valiosos frutos, todos eles resultado do projeto visionário elaborado pelo Marechal-do-Ar Casimiro Montenegro Filho, um homem que, já na década de 1940, sonhava em impulsionar a indústria aeronáutica brasileira.

            Além da própria Embraer, muitos outros casos de sucesso são resultado da existência e da atuação do ITA e do DCTA. Cito apenas dois exemplos: a criação do primeiro motor a álcool pelo engenheiro aeronáutico iteano Urbano Ernesto Stumpf e a ida ao cosmos do primeiro astronauta brasileiro, Marcos César Pontes, outro engenheiro aeronáutico formado pela instituição, integrante da turma de 1993.

            Por tudo o que já realizaram, pela demonstração que nos dão da importância dos investimentos em educação, ciência, tecnologia e inovação, eu não poderia deixar de associar minha voz à homenagem que o Senado Federal hoje presta à Embraer, ao Dr. Ozires Silva, ao Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) e ao Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA).

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/08/2011 - Página 34374