Discurso durante a 141ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comemoração do transcurso do Dia do Maçom.

Autor
Mozarildo Cavalcanti (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/RR)
Nome completo: Francisco Mozarildo de Melo Cavalcanti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração do transcurso do Dia do Maçom.
Publicação
Publicação no DSF de 20/08/2011 - Página 33548
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, AUTORIDADE, SESSÃO ESPECIAL, HOMENAGEM, COMEMORAÇÃO, DIA, MAÇONARIA, COMENTARIO, NECESSIDADE, COLABORAÇÃO, ORGANIZAÇÃO, COMBATE, MISERIA, CORRUPÇÃO, OBJETIVO, MELHORIA, SOCIEDADE CIVIL.

            O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PTB - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Senador Cristovam. É uma honra falar nesta sessão, com V. Exª presidindo-a, porque costumamos dizer, entre nós, maçons, que existem maçons também sem avental, pessoas que têm uma vida que se pauta justamente pelos princípios maçônicos, e V. Exª, com certeza, é uma dessas pessoas.

            Meus irmãos, minhas cunhadas aqui presentes, quero cumprimentar os maçons de todo o Brasil, as cunhadas, os sobrinhos, como chamamos os filhos dos maçons, os nossos filhos, e dizer que, para mim, é uma honra muito grande. Desde que assumi o mandato de Senador, no primeiro ano, fiz apenas um pronunciamento registrando o Dia do Maçom, porque pertenço àquela corrente de maçons que acham que não temos por que nos esconder, que não temos por que dizer só para algumas pessoas que somos maçons.

            Pelo contrário, essa época de trevas em que a Maçonaria precisou fazer isso e em que os maçons precisaram, de fato, se esconder e até trabalhar em cavernas, essa época, felizmente, passou em quase todo o mundo, embora ainda existam países no mundo em que a Maçonaria é perseguida. Na nossa história, temos, realmente, momentos tenebrosos, em que sofremos perseguições, seja pelo viés religioso, seja pelo viés das ditaduras de todos os matizes, mas, felizmente, não estamos mais vivendo esse momento.

            Evidentemente, como disse o Deputado Izalci, nós temos uma longa história, tanto no mundo quanto no Brasil. Até fiz um pronunciamento escrito que conta essa história, mas essa história é, hoje, do conhecimento público, embora nunca seja demais repeti-la, porque sempre há alguém jovem ou alguém, que até mesmo não sendo jovem, mas com certo acúmulo de juventude, que não conhece a história da Maçonaria no Brasil, que foi responsável, como foi dito, pela Independência do País, pela Abolição da Escravatura, pela Proclamação da República e por outros tantos feitos.

            Mas quero me ocupar, hoje, da Maçonaria do presente e da Maçonaria que queremos para o futuro, porque, fazendo um levantamento que nem sei se é o último, mas que é, pelo menos, o levantamento mais atualizado que pude fazer, nós temos lojas que pertencem ao Grande Oriente do Brasil, as grandes lojas e a Comab em todo o País.

            São 6,5 mil lojas, isto é, 6,5 mil lugares onde os irmãos se reúnem. É verdade que muitos templos, como chamamos, que são os prédios, acolhem duas, três, quatro ou até mais lojas, que se reúnem uma vez por semana ou conforme estabeleça o seu regimento, mas o certo é que temos 6,5 mil lojas no Brasil todo.

            Temos mais de 221 mil maçons e quando um maçom está na Maçonaria, ele está porque a esposa dele concordou que ele estivesse. Não há nenhuma outra instituição que precise da aquiescência da esposa para que o marido entre na instituição. Isso é uma prova do contrário do que muitos dizem: que a Maçonaria é uma instituição machista. Ela é a única instituição onde a pessoa só entra se a esposa concordar. Por quê? Porque nós valorizamos, sobretudo, a família. Nós consideramos, de fato, a família a célula mater da sociedade, e por isso nós prezamos a mulher dessa forma.

            Dizem: “Ah, mas, nas reuniões dos maçons, as mulheres não entram”. Isso é muito mais por uma tradição, muito mais por uma história longa, mas nada que nós fazemos nas nossas reuniões... Às vezes, estamos reunidos no templo e as cunhadas estão reunidas na sala ao lado, na Fraternidade Feminina Cruzeiro do Sul, instituição que é responsável pelas grandes obras sociais que a Maçonaria faz. Temos as instituições dos nossos jovens, os De Molays; a Associação Paramaçônica Juvenil; as Filhas de Jó, que são meninas; a APJ, que é mista, homens e mulheres. Então, não existe essa questão.

            Agora, se tivemos, no passado, o desafio de lutar contra a ditadura, de lutar pela independência, eu pergunto: qual é o desafio atual que a Maçonaria tem de enfrentar?

            Existem inúmeros desafios, é verdade, mas nós poderíamos resumir esses desafios em dois: o combate à miséria e o combate à corrupção. Aliás, uma se alimenta da outra. Justamente porque existe a miséria, é possível aos maus políticos corromperem os eleitores. Isso não quer dizer que gente rica não se corrompa, e tem muita gente boa que se corrompe, no processo eleitoral, de maneira até mais vil que uma pessoa que está passando fome e que, portanto, às vezes, vê na oportunidade eleitoral uma forma de ter algum benefício.

            Então, assim como temos de combater a miséria e a corrupção, nós vamos dizer: mas com que instrumentos? Ora, se nós temos 6,5 mil lojas no País, se cada loja dessas fizer um trabalho...

            Como é que se combate, por exemplo, a miséria? É lógico que, primeiro, pelo socorro alimentar. Se você tem uma família passando fome, a primeira coisa que você tem de fazer é encontrar uma forma de dar uma cesta básica para aquela família, mas se ficarmos só dando cesta básica e cesta básica, aquela família não sairá daquilo.

            Então, temos de trabalhar no viés da educação, para que aquela família tenha condições de ver seus filhos saírem da miséria pelo trabalho, pela condição correta de profissionalismo. Nós temos de fazer... Como disse a Presidente Dilma, um país rico é um país sem miséria. Então, é um desafio que não pode ser só dos governos. Não pode, e não deve ser só dos governos.

            E o combate à corrupção? Ora, uma das razões de haver miséria neste País é a corrupção, porque se tira dinheiro - e está-se vendo toda hora na imprensa, não preciso nem ter o trabalho de rememorar para vocês -, milhões da saúde, da educação, dos transportes. E o que se está fazendo com isso? Condenando-se inúmeras, milhares de pessoas à miséria.

            Aí, nós vemos, paralelamente, as reportagens das pessoas nas filas dos hospitais sucateados, nós vemos alunos, como gosta de dizer o Professor Cristovam, na escola de má qualidade. Muitos governadores e muitos prefeitos, às vezes até mesmo as autoridades federais, dizem: “Mas, no Brasil, todos estão na escola”. Mesmo que todos estejam na escola - se é que estão -, mesmo que todos estivessem na escola, nós teríamos de dizer: mas em que tipo de escola? Em que qualidade de escola?

            Ora, a gente vê, Professor Cristovam, pessoas fazendo curso superior que não conseguem redigir um bilhete de maneira correta. Por quê? Porque o ensino fundamental e o ensino médio são muito precários. As pessoas passam pela escola e terminam virando profissionais com um currículo na mão, pedindo emprego e, às vezes, na hora em que se faz uma entrevista, essas pessoas não passam sequer na entrevista, porque até falam de maneira errada.

            Então, é preciso, é lógico, que façamos esse grande combate, repito, pela educação e pelas ações sociais - o que a Maçonaria faz, é preciso dizer claramente, e não vejo, também, por que nós temos de esconder o que nós fazemos.

            É verdade que nos norteia um preceito segundo o qual devemos dar com uma mão sem que a outra perceba. É verdade, mas isso significa que eu não preciso dizer que dei para fulano de tal uma coisa e ficar alardeando isso como os fariseus. Não, mas fazermos um balanço social, dizermos para a sociedade que a loja tal, durante o ano, atendeu tantos idosos, atendeu tantas crianças, fez isso, fez aquilo é um dever nosso para com a sociedade.

            Então, a Maçonaria do presente, que quer construir o futuro, tem de estar atuante. Não basta ser a Maçonaria que vai se reunir uma vez por semana ou uma vez por mês, porque essa Maçonaria pode fazer bem para quem está lá dentro, sob o ponto de vista do engrandecimento espiritual, enfim, da assimilação de princípios, mas a Maçonaria não pode mais se cingir a isso, tem de ser muito mais proativa, tem de ir atrás, tem de ir atrás. Tem de ir atrás participando da política.

            De que adianta... Eu vejo, às vezes, manifestos maçônicos protestando contra a corrupção, mas eu pergunto: quantos maçons se candidatam, na eleição, para que nós possamos ter gente não corrupta eleita? Quantos maçons se engajam na campanha de um irmão maçom ou de uma pessoa que, não sendo maçom, é correta? Aí, se cada irmão fizer essa reflexão, vai ver que, realmente, é como dizia Martin Luther King: o que preocupa não é a ousadia ou o grito dos corruptos, mas o silêncio dos bons. De que adianta eu ser bom se eu fico calado, se eu não ajo por medo de me meter e ser considerado mais um? E daí? Imaginem: eu sou médico. Se eu tivesse essa filosofia, não entraria no hospital para não me contaminar; eu não pegaria em um paciente para não me contaminar. Ao contrário, eu tenho de entrar para combater a contaminação.

            Então, só podemos combater a corrupção entrando na luta, que eu sei, nós sabemos, é desigual. Nós, que fazemos... Eu quero dizer à sociedade brasileira que, ao contrário do que possa parecer, não é a maioria dos políticos que é corrupta, não, mas uma minoria, como não é a maioria dos padres que é pedófila, não é a maioria dos policiais que se corrompe, não é a maioria de outros profissionais que pratica atos de corrupção.

            É ruim quando a sociedade só reclama, ou nem reclama. Isso é muito ruim, porque é um prato feito para aqueles que são, realmente, corruptos e que se alimentam, como disse Martin Luther King, justamente do silêncio dos bons, da omissão dos bons.

            Então, o meu pronunciamento tem como objetivo conclamar, e não é preciso idade para isso. Qualquer um, jovem ou idoso - e idoso, eu prefiro dizer, tem acúmulo de juventude -, tem de entrar na luta.

            Vamos ter, no ano que vem, eleições para vereadores e prefeitos. Muita gente não dá valor às eleições de vereadores e prefeitos, mas esses são os políticos da base. Se a base não for boa, será difícil ela apoiar, por exemplo, para deputado estadual, federal, senador, alguém bom, porque já vem o costume de lá. Por isso, é importante que, em cada Município, cada loja veja que começa a oportunidade.

            Agora, já foi aprovada a Lei da Ficha Limpa, mas para candidato ficha limpa. E o eleitor ficha limpa? Os fichas-sujas que estão na política foram eleitos por quem? Só por eleitor ficha suja? O eleitor que se corrompe é um eleitor ficha suja.

            Eu vi um estudo, uma pesquisa feita pelo jornal O Estado de S.Paulo, no ano passado ou retrasado, em que foram entrevistados eleitores do Brasil todo, no interior e nas capitais, com um dado estarrecedor: 69% dos eleitores entrevistados admitiram que já votaram em troca de favores.

            Você pode dizer: “Ah, mas não é ilegítimo votar em alguém por causa de um favor”. Depende das circunstâncias, mas, de um modo geral, se o motivo do voto dele foi só o favor, se ele não analisou a pessoa que estava fazendo aquele favor e elegeu uma pessoa corrupta, o que ele é? Também é um corrupto.

            Infelizmente, embora a lei diga que tanto o que compra quanto o que vende o voto têm de ser punidos, não há punição para o que vende o voto. Não há, na história. Existe a lei, mas ninguém ousa fazer uma representação contra um eleitor que vendeu o voto.

            Há outra corrente na Maçonaria que diz que a Maçonaria não deve envolver-se em política. Mas em que política ela não deve se envolver? E de que forma não deve se envolver na política?

            Não é bom, não é salutar que a gente leve para dentro das nossas lojas debates partidários. Aliás, é proibido, e muito sabiamente. Por quê? Para não haver desunião. É lógico: eu não posso chegar dentro da minha loja e defender o meu partido, defender o meu ponto de vista ideológico “x” ou “y”. Não, mas a política de interesse nacional, essa política é uma obrigação nossa. Ou não está lá, nos nossos ensinamentos, que nós temos de cavar masmorras aos vícios e elevar templos às virtudes? Está. Então, como é que fazemos isso? Lutando, indo, realmente, para a sociedade e esclarecendo.

            Já que estão reunidas, aqui, as três potências maçônicas do Brasil - o Grande Oriente do Brasil, a cuja instituição sou filiado; as Grandes Lojas, e meu pai pertenceu às Grandes Lojas; e a Comab, que é a Confederação Maçônica do Brasil -, a todas as três potências quero fazer este chamamento: vamos de fato, orgulhosos da história do nosso passado, construir um presente de luta, um presente proativo, para que amanhã, no futuro, a nossa história de hoje tenha alguma coisa a registrar. Senão, no século que vem, ainda vamos ficar lembrando a Independência do Brasil, a Abolição da Escravatura, a Proclamação da República. Aí, algum estudioso vai perguntar: “E o que fez a Maçonaria do Brasil depois disso? Depois da Proclamação da República, o que fez? Que tipo de colaboração deu para que a cidadania fosse, de fato, instituída neste País?”

            Aí, pode ser que haja alguns tipos de pessoas da nossa instituição, que eu não sei se chamo de conservadoras, que podem ficar assustadas com essa colocação, mas, lá na época da Independência do Brasil, por exemplo, aqueles como Gonçalves Lêdo e José Bonifácio tiveram a coragem de participar de maneira ativa e não esconderam que eram maçons, tanto não esconderam que induziram o Príncipe D. Pedro I a entrar para a Maçonaria. E com que objetivo? Era o de, realmente, só torná-lo um bom maçom? Não, era o de fazer a independência do País. Foi uma atitude política ou não foi? Foi uma atitude política.

            Então, nós precisamos, sim, fazer uma reflexão profunda, repito, para que nós possamos construir uma Maçonaria ativa no presente, para que possa a história, no futuro, dizer que estávamos presentes.

            Muito obrigado a todos. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/08/2011 - Página 33548