Discurso durante a 142ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comemoração aos 122 anos de nascimento de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas, a poetisa e contista brasileira Cora Coralina.

Autor
Lúcia Vânia (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/GO)
Nome completo: Lúcia Vânia Abrão
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração aos 122 anos de nascimento de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas, a poetisa e contista brasileira Cora Coralina.
Publicação
Publicação no DSF de 23/08/2011 - Página 33850
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, POETA, ESTADO DE GOIAS (GO), ELOGIO, OBRA LITERARIA.

            A SRª LÚCIA VÂNIA (Bloco/PSDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Cumprimento o Exmº Sr. Presidente em exercício, Senador Rodrigo Rollemberg, a quem agradeço, em nome do povo do meu Estado, Estado de Goiás, a iniciativa desta sessão solene.

            Cumprimento a filha da Cora Coralina, Srª Vicência Brêtas Tahan.

            Cumprimento os familiares presentes: o Sr. Flávio Salles Neto, a Srª Gisela Salles e o Sr. Leandro Salles, bisnetos.

            Cumprimento os demais parentes que aqui estão, amigos, companheiros de Cora Coralina.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em primeiro lugar, não poderia deixar de dizer a V. Exª que muito nos honra esta sessão solene, principalmente a iniciativa de V. Exª de trazer a esta Casa, neste dia tão importante para o Estado de Goiás, um marco na nossa história, em que Cora Coralina completaria 122 anos. Portanto, receba desta Parlamentar e de todo o povo de Goiás, as nossas homenagens e os nossos agradecimentos por trazer uma poetisa que não é apenas goiana, mas também brasileira para ser homenageada nesta Casa.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, senhoras e senhores convidados, sinto-me honrada de ser goiana e manifestar-me nesta homenagem a Cora Coralina. Ana Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas, a Aninha dos becos da Cidade de Goiás, a poetisa Cora Coralina, completaria 122 anos neste mês de agosto. Portanto, há 122 anos, na cidade de Goiás, nasceu aquela que escolheu o pseudônimo de Cora Coralina.

            Era uma pessoa extremamente simples, profissionalmente uma doceira, que virou a maior poetisa de Goiás e uma das maiores do Brasil. Uma contista que não se deixou influenciar por esta ou aquela corrente literária, ou por modismos. Sobre a sua obra, diz-se que é à prova de extinção e “de uma riqueza sem fim povoada de motivos do cotidiano do interior brasileiro”.

            Por isso disse, conscientemente, no tempo presente, que Cora completa 122 anos neste mês de agosto. Ela compartilhou conosco 96 anos, mas continua viva na inacreditável vida que viveu, atravessando dois séculos, sempre à frente de seu tempo.

            Continua viva na Casa da Ponte, hoje um museu que leva o seu nome; continua viva nos seus livros, nos seus versos e nas suas crônicas. Continua viva na sua culinária. Continua viva na memória de todos aqueles que a conheceram, que conviveram com ela algum momento, que leram algum de seus livros ou de seus versos.

            Tenho a honra de dizer que pude privar do apoio, da companhia, da parceria de Cora Coralina quando fui primeira-dama do Estado de Goiás. Ela sempre presente, estimulando-nos, levando-nos para frente e fazendo com que nós entendêssemos a importância de Goiás no contexto brasileiro.

            Impressionante, ao falarmos da sobrevida de Cora, é ouvirmos a sua prosa, quando ela mesma disse: “Quando eu morrer, não morrerei de tudo. Estarei sempre presente nas páginas deste livro, criação mais viva da minha vida interior em parto solitário. Tirei-o da minha vida interior, sem ajuda e sem esperança”.

            Busco na figura de Cora, na sua humildade e na sua grandeza, a inspiração para as nossas lutas por uma sociedade melhor e mais justa. Nas minhas andanças pelo Estado de Goiás, tenho, em muitas ocasiões, falado às mulheres goianas. Apresento-lhes Cora como representante das lutas e da fibra da mulher goiana.

            Cora Coralina é, para mim, uma das pessoas mais importantes do meu Estado. Entretanto, era uma velhinha sem posses, rica apenas de sua poesia, de sua invenção e identificada com a vida com ela é, isto é, uma estrada. Alguém disse que “na estrada que é Cora Coralina passam o Brasil velho e o atual, passam as crianças e os miseráveis de hoje”. Enfim, de fato, na simplicidade dos seus versos, Cora Coralina abrange a realidade da vida.

            Num de seus poemas, Todas as Vidas, Cora usa um refrão no princípio de cada verso:

Vive dentro de mim

uma cabocla de mau olhado,

acocorada ao pé do borralho

[...]

Vive dentro de mim

a lavadeira do Rio Vermelho

[...]

Vive dentro de mim

a mulher cozinheira.

[...]

Vive dentro de mim

a mulher do povo bem proletária.

[...]

Vive dentro de mim a mulher roceira.

[...]

Vive dentro de mim

a mulher da vida.

E ela conclui:

Todas as vidas dentro de mim:

na minha vida -

a vida mera das obscuras.

            O poema fala por si só. Em Todas as Vidas, Cora celebra a própria vida, colocando-se junto aos humildes, a quem exalta.

            Nascida na cidade de Goiás em 20 de agosto de 1889, na casa que hoje é o museu que ostenta seu nome, Aninha faleceu em 10 de abril de 1985.

            Cora publicou seu primeiro livro, Poemas dos Becos do Goiás e Outras Estórias Mais, em 1965, aos 75 anos de idade. Somente então foi reconhecida nacionalmente como a grande porta-voz da realidade interiorana já afetada pela modernidade.

            Num de deus poemas mais belos, intitulado Assim eu Vejo a Vida, Cora diz:

Nasci em tempos rudes

Aceitei contradições

lutas e pedras

como lições de vida

e delas me sirvo

Aprendi a viver.

            Em julho de 1979, portanto há 32 anos, Carlos Drummond escreveu a Cora um bilhete em que, entre outras coisas, dizia “Dá alegria na gente saber que existe bem no coração do Brasil um ser chamado Cora Coralina. Todo carinho, toda admiração, do seu Carlos Drummond de Andrade”.

            Como Drummond, nós os goianos nos orgulhamos dela e a homenageamos nos seus 122 anos. Ana Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas é o símbolo de muitas aninhas por este Brasil afora, símbolo da humildade, símbolo da superação.

            Era o que tinha a dizer.

            Um abraço a todos em nome do meu Estado, o Estado de Goiás.

            Obrigada. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/08/2011 - Página 33850