Discurso durante a 142ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comemoração dos 122 anos de nascimento de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas, a poetisa e contista brasileira Cora Coralina.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração dos 122 anos de nascimento de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas, a poetisa e contista brasileira Cora Coralina.
Publicação
Publicação no DSF de 23/08/2011 - Página 33855
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, POETA, ESTADO DE GOIAS (GO), ELOGIO, OBRA LITERARIA.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (Bloco/PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Boa tarde a cada uma e a cada um.

            Quero cumprimentar, inicialmente, o Senador Rodrigo Rollemberg, que tomou a iniciativa desta justíssima homenagem que o Senado brasileiro presta a uma das pessoas mais marcantes do século XX da história do nosso País e, ainda mais, na história das letras do nosso País.

            Quero cumprimentar a filha da poeta Cora Coralina, Vicência Brêtas Tahan, e os presentes: Flávio Salles, que é neto; Flávio Salles Neto, que é bisneto; Gabriel Salles, bisneto; Gisela Salles, bisneta; Leandro Salles, bisneto; Heloisa Salles, esposa do neto; Joana Salles, esposa do bisneto, Senhora Natália Queiroga, mãe de tataraneta.

            Feliz a pessoa que pode, numa homenagem, ter presente a família desta maneira, porque ou está sendo homenageada há tanto tempo que essa descendência chegou e o nome permanece visível ou já deixou uma prole ainda em vida.

            A Cora Coralina é uma dessas que deixou em vida uma prole de letras, uma prole de filhos, que deixou uma marca presente no que escreveu e deixou uma marca presente naquelas pessoas a quem ela deu origem.

            Mas, mais que isso, Cora Coralina é homenageada não apenas pelo que escreveu, mas pelo que ela viveu, pelo que ela realizou. Ela não foi apenas uma poeta ou uma poetisa, como se pode também chamar, ela foi uma historiadora, ela foi uma memorialista, ela foi uma mulher ousada, ela foi uma grande artista da cozinha; com a gastronomia e com a poesia, ela deixou a sua marca. Mas, além disso, o que ela fez, que é diferente, nas artes das letras, na poesia, é que ela foi, como muitos dizem, universal a partir do local. Ela fez a sua poesia olhando ao redor, da janela da sua casa, o rio passando. E olhando o rio passar da janela da sua casa, ela falou para o mundo inteiro porque ela falou para o coração das pessoas.

            Creio que há dois poetas do século XX que eu considero poetas-irmãos: Cora Coralina e aqueles que como ela fizeram a poesia local, e entre eles eu cito Mário Quintana, um poeta que fez da poesia local o mundo inteiro rodar em torno.

            Comecei a ler Cora Coralina muito cedo, ainda jovem, em Recife, e ela, que entrou na poesia já com uma certa idade, pelo menos para ser conhecida, naquela época, ela já fazia a cabeça da gente, ela e Mário Quintana. São os dois diferentes, não são os dois melhores, até porque sou contra dizer quais são os poetas melhores, isso aí é como se a gente fosse medir a poesia com uma fita métrica para saber qual deles é melhor. Não existe poeta melhor; existe poeta que mais nos toca na hora em que lemos, na hora em que ouvimos o seu poema.

            Então não é que sejam os melhores, mas eles fazem parte dessa pequena irmandade do poeta que é universal ao ser local, que ao mesmo tempo toca a vida, o coração de pessoas do mundo inteiro, quando seus poemas são traduzidos, dizendo que olham ao seu redor, sem precisar fazer grandes análises, sem precisar da metafísica, apenas da realidade.

            Cora Coralina foi uma poeta da realidade e, ao ser uma poeta da realidade, ela mudou a realidade com seus poemas, com seus textos, com seus atos e, por isso, estamos aqui hoje comemorando e, ao mesmo tempo, prestando esta justa homenagem.

            Ouvi o final do discurso do Rodrigo Rollemberg. De fato, feliz um povo, feliz uma nação, feliz um idioma que teve uma Cora Coralina, e felizes somos nós que podemos contar com a sua obra para sempre, podendo ir ali de vez em quando ler um pedaço, ler outro pedaço, deliciar-nos com aquilo que ela escreveu. Alguns mais felizes podem deliciar-se também com as receitas que ela deixou, suas duas formas de realizar poesia, além da própria vida que foi também uma poesia em si.

            Parabéns, Senador Rodrigo!

            Felizes somos nós que estamos aqui para dizer: Cora Coralina, poeta que tem nome de poeta, poeta cujo som do nome é uma poesia. Felizes de nós que podemos aqui dizer que ela, por tudo o que fez, está viva com sua família e conosco também.

            Muito obrigado a cada um e a cada uma pelo privilégio de aqui, no Senado Federal, homenagearmos um dos grandes nomes da história das letras e, com isso, demonstrarmos que a história não pode homenagear apenas os generais e os políticos, mas também as pessoas de letras como Cora Coralina.

            Um grande abraço a cada uma, a cada um e muito obrigado, Senador, e muito obrigado, Goiás, por nos ter dado Cora Coralina. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/08/2011 - Página 33855