Discurso durante a 142ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comemoração dos 122 anos de nascimento de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas, a poetisa e contista brasileira Cora Coralina.

Autor
Geovani Borges (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
Nome completo: Geovani Pinheiro Borges
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração dos 122 anos de nascimento de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas, a poetisa e contista brasileira Cora Coralina.
Publicação
Publicação no DSF de 23/08/2011 - Página 33858
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, POETA, ESTADO DE GOIAS (GO), REGISTRO, HISTORIA, VIDA, ESCRITOR.

            O SR. GEOVANI BORGES (Bloco/PMDB - AP. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, demais autoridades presentes, minhas senhoras e meus senhores,

            Esta Sessão Solene, proposta pelo nobre senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), faz mais do que comemorar os 122 anos de nascimento de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas, a poetiza e contista de Goiás, conhecida pelo pseudônimo de Cora Coralina.

            Esta sessão nos permite um passeio nostálgico ao coração do Brasil, à vida simples da roça, ao cheiro de mato, fogão de lenha, açúcar no tacho, doçura de frutas cristalizadas.

            E, principalmente, falar a respeito de Cora Coralina nos possibilita resgatar a diferença, a sutil diferença entre saber e sabedoria, entre ser sábio e ser sabido. Afinal, ensinava a maior poetiza de Goiás:

            "O saber a gente aprende com os mestres e com os livros. A sabedoria, se aprende é com a vida e com os humildes. "

            Cora Coralina, Aninha da Ponte da Lapa ou Ana Lins de Guimarães Peixoto Bretãs, escreveu histórias dos becos de Goiás, das coisas, da terra, do ventre, da infância e, sobretudo, da vida.

            A maior lição é que, apesar disso e daquilo, do tudo e do nada, ela sempre acreditou no sonho, no seu sonho.

            Só estudou até a terceira série primária. E começou a escrever poesias aos 14 anos. No entanto, só publicou o seu primeiro livro aos 76 anos, idade em que a maioria de nós pouco ou nada espera da vida.

            Ficou famosa quando contava com quase 90 anos de idade e Carlos Drummond de Andrade, o grande poeta mineiro, elogiou-lhe a forma e o conteúdo.

            Foi a primeira mulher a ser agraciada com o Troféu Juca Pato em 1984, que a elegeu a Intelectual do Ano 1983.

            Cora Coralina viveu 96 anos, teve seis filhos, quinze netos e 19 bisnetos, foi doce ira, contadora de histórias, poetiza e membro efetivo de diversas entidades culturais, tendo recebido o título de doutora "Honoris Causa" pela Universidade Federal de Goiás.

            Tem dois poemas que a mim, particularmente, me tocam demais. Um é o antológico O Cântico da Terra, do qual aqui reproduzo uma parte:

Eu sou a terra, eu sou a vida.

Do meu barro primeiro veio o homem.

De mim veio a mulher e veio o amor.

Veio a árvore, veio a fonte.

Vem o fruto e vem a flor.

Eu sou a fonte original de toda vida.

Sou o chão que se prende à tua casa.

Sou a telha da coberta de teu lar.

A mina constante de teu poço.

Sou a espiga generosa de teu gado

e certeza tranquila ao teu esforço. (...)

            O outro poema, Sr. Presidente, Srªs e Srs.Senadores, é aquele que elejo para finalizar a minha homenagem à poetisa.

            Mas ressalto que as homenagens à Cora Coralina, porém, não terminam nesta sessão. Mais tarde, às 18 horas, o meu amigo, presidente desta Casa, também escritor, senador José Sarney inaugura uma exposição literária sobre a obra da poeta na Biblioteca Acadêmico Luiz Viana Filho do Senado Federal.

            E que esse poema, intitulado Conclusões de Aninha, nos fique como reflexão:

Estavam ali parados. Marido e mulher. Esperavam o carro.

E foi que veio aquela da roça

tímida, humilde, sofrida.

Contou que o fogo, lá longe,

tinha queimado seu rancho,

e tudo que tinha dentro.

Estava ali no comércio

pedindo um auxílio

para levantar novo rancho

e comprar suas pobrezinhas.

O homem ouviu.

Abriu a carteira, tirou uma cédula,

entregou sem palavra.

A mulher ouviu. Perguntou, indagou, especulou, aconselhou,

se comoveu e disse que Nossa Senhora havia de ajudar

E não abriu a bolsa.

Qual dos dois ajudou mais?

Donde se infere que

o homem ajuda sem participar

e a mulher participa sem ajudar.

Da mesma forma aquela sentença:

“A quem te pedir um peixe, dá uma vara de pescar."

Pensando bem, não só a vara de pescar,

também a linhada, o anzol, a chumbada, a isca,

apontar um poço piscoso

e ensinar a paciência do pescador.

Você faria isso, Leitor?

Antes que tudo isso se fizesse

o desvalido não morreria de fome?

Conclusão:

Na prática, a teoria é outra.

            Finalizando, Sr. Presidente, quero dizer que a vida de cada um de nós continua repleta de acontecimentos onde, na prática, a teoria é outra...

            Era o que eu tinha a dizer.

            Muito obrigado!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/08/2011 - Página 33858