Discurso durante a 142ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comemoração dos 122 anos de nascimento de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas, a poetisa e contista brasileira Cora Coralina.

Autor
Wilson Santiago (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: José Wilson Santiago
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração dos 122 anos de nascimento de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas, a poetisa e contista brasileira Cora Coralina.
Publicação
Publicação no DSF de 23/08/2011 - Página 33859
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, POETA, ESTADO DE GOIAS (GO), ELOGIO, OBRA LITERARIA.

            O SR. WILSON SANTIAGO (Bloco/PMDB - PB. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, de maneira justa, o Senado Federal reúne-se nesta tarde para festejar os 122 anos de nascimento da poetisa goiana Cora Coralina. Nascida em 20 de agosto de 1889, Ana Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas, é considerada como um dos maiores nomes da poesia do Centro Oeste, e do Brasil. Por isto, é muita oportuna a proposta desta sessão especial feita pelo senador Rodrigo Rollemberg, que, nesta Casa, é um dos representantes do Distrito Federal.

            Ana Lins ou Cora Coralina (este, o pseudônimo que passou a usar e que a terminou consagrando no mundo da literatura), nasceu na Cidade de Goiás, então, capital de Goiás. Na época, a cidade de Cora Coralina era rica em manifestações de arte e cultura, com sarais, jograis, artes plásticas, literatura, arte culinária e cerâmica. Além de um ritual único no Brasil, a Procissão do Fogaréu, realizada na Semana Santa.

            Filha de Francisco de Paula Lins dos Guimarães Peixoto, desembargador nomeado por D. Pedro II, e de Jacinta Luísa do Couto Brandão, Ana nasceu e foi criada às margens do rio Vermelho. A casa em que morava fora comprada por sua família no século XIX, quando seu avô ainda era uma criança. Estima-se que essa casa foi construída em meados do século XVIII, tendo sido uma das primeiras edificações da antiga Vila Boa de Goiás, sendo, hoje, motivo de visitação a todos os que chegam à Goiás Velho.

            Cora Coralina começou a escrever os seus primeiros textos aos 14 anos de idade, publicando-os nos jornais da Cidade de Goiás, e nos jornais de outras cidades, como constitui exemplo o semanário "Folha do Sul" da cidade goiana de Bela Vista. Também escreveu em periódicos de outros lugares, como a revista A Informação Goiana do Rio de Janeiro, que começou a ser editada a 15 de julho de 1917. Escrevia, apesar da pouca escolaridade, uma vez que cursou somente as primeiras quatro séries, com a Mestra Silvina.

            Publicou seu primeiro livro - Poemas dos becos de Goiás e Estórias Mais - aos 76 anos de idade, embora tenha começado a escrever os primeiros textos aos 14 anos. Naquele tempo, apesar de viver numa sociedade conservadora e machista, Cora era saudada como uma promessa literária.

            Depois da publicação do primeiro livro, em 1965, Coralina publicou, em 1976, Meu livro de Cordel. Outras obras da autora são: Estórias da Casa Velha da Ponte; Meninos Verdes; O Tesouro da Casa Velha; A Moeda de Ouro que o Pato Engoliu; Vintém de Cobre; e As Cocadas.

            Cora casou-se em 1910 com o advogado Cantídio Tolentino Bretas, com quem se mudou, no ano seguinte, para o interior de São Paulo. Passou 45 anos no estado, vivendo inicialmente no interior, em Avaré e Jaboticabal, e depois na capital, onde chegou em 1924. Nas primeiras semanas, teve que permanecer trancada num hotel em frente à Estação da Luz, uma vez que os revolucionários de 1924 pararam a cidade. Em 1930, presenciou a chegada de Getúlio Vargas à esquina da rua Direita com a praça do Patriarca. Um de seus três filhos participou da Revolução Constitucionalista de 1932, contrária a Getúlio.

            Com a morte do marido, em 1934, Cora passou a vender livros como meio de sustentar os filhos. Em seguida, mudou-se novamente para o interior paulista. Na cidade de Penápolis, passou a vender linguiça caseira e banha de porco que ela mesma preparava. Transferiu-se em seguida para Andradina, até que, em 1956, retornou a Goiás, voltando a morar na casa velha da ponte, que habitaram em criança. Ali exerceu por muitos anos o ofício de doceira, pois pouco restara dos bens que sua família um dia havia possuído, até que uma queda limitou seus movimentos, obrigando-a a andar com o auxílio de uma muleta.

            Sua poesia, no entanto, somente viria a ter dimensão nacional a partir de 1979, pelo reconhecimento do grande poeta mineiro, Carlos Drummond de Andrade. Em carta enviada à goiana, o mineiro não exagera quando sentencia: “Que riqueza de experiência humana, que sensibilidade especial e que lirismo identificado com as fontes da vida I Aninha hoje não nos pertence. E patrimônio de nós todos, que nascemos no Brasil e amamos a poesia (...)".

            Esta é a brasileira que homenageamos nesta sessão. Ainda hoje, em evento marcado para as 18 horas, o presidente do Senado Federal, senador José Sarney, inaugura uma exposição literária sobre a obra de Cora Coralina. Mais uma justa homenagem que a Casa presta a esta ilustre goiana. Homenagens que nunca serão poucas a quem tanto serviço prestou à literatura brasileira, da forma mais simples que pode existir: falando a linguagem do povo.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/08/2011 - Página 33859