Pronunciamento de Walter Pinheiro em 23/08/2011
Discurso durante a 143ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Reverência à memória do cineasta, ator e escritor Glauber Rocha, pela passagem dos trinta anos de seu falecimento.
- Autor
- Walter Pinheiro (PT - Partido dos Trabalhadores/BA)
- Nome completo: Walter de Freitas Pinheiro
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
HOMENAGEM.:
- Reverência à memória do cineasta, ator e escritor Glauber Rocha, pela passagem dos trinta anos de seu falecimento.
- Publicação
- Publicação no DSF de 24/08/2011 - Página 33967
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
-
- HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, ATOR, DIRETOR, CINEMA.
O SR. WALTER PINHEIRO (Bloco/PT - BA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente desta sessão, Senador José Sarney, que, na medida desta relação estabelecida com o nosso Glauber Rocha, creio, Senador José Sarney, que muito mais como Presidente desta Casa e com a responsabilidade de abrir a sessão, V. Exª tem, eu diria, o prazer de abrir uma sessão tão importante para os dias de hoje, quando nós estamos discutindo tantas coisas que Glauber tocou, inovou, ao seu tempo, sem as ferramentas de que dispomos hoje, mas principalmente revolucionando através de um dos instrumentos mais poderosos, que é exatamente a cultura.
Minha companheira, Senadora Lídice da Mata, a quem parabenizo pela brilhante iniciativa, a lembrança da baiana lembrando os baianos. Não como uma obrigação do território, minha companheira Lídice da Mata; não como uma obrigação da baianidade, mas com a obrigação e o compromisso, principalmente, com a verdade, com os fatos, com os dados históricos e com a beleza daquilo que Glauber produziu - se não presente hoje aqui fisicamente, a beleza do que ele produziu se estabelece em cada canto neste espaço. O que nós discutimos, inclusive, na semana passada: a aprovação de uma importante matéria que trata do audiovisual brasileiro, muito tempo depois, muito depois de Glauber, minha cara Lídice, mas com as coisas profundas e as raízes desse debate que ora V. Exª traça com régua e compasso, de forma muito incisiva, sobre as andanças do Glauber buscando sintonizar o cinema novo em âmbito nacional, sem perder a perspectiva e sem perder a raiz da cultura local.
Portanto, a iniciativa de V. Exª é fundamental para que possamos, mais do que prestar uma homenagem a um baiano, prestar uma homenagem a um ideário, ao que ele conseguiu deixar vivo entre nós. Essa é a maior obra que Glauber já realizou.
Quero saudar a mãe de Glauber. Na hora do almoço, ela até brincava com a gente. A Lídice perguntava à D. Lúcia Rocha se hoje ela é mais conhecida do que Glauber. Aí ela disse assim: “Quem o conheceu primeiro, obviamente, hoje, sou eu”. Porque ela é a origem de tudo. E ela nos dizia, de forma muito tranquila, na hora do almoço, que uma das paixões de Glauber, Senador Sarney, era Brasília. Agora há pouco, ela voltava ainda a falar comigo ali, sua voz mansa, suave, com os olhos lacrimejando por esta homenagem. Ela disse que ele gostava muito de Brasília. E, numa expressão dita por ela ali: “Glauber, por diversas vezes, disse que Brasília era uma das cidades mais bonitas do mundo”.
Portanto, D. Lúcia, nós agradecemos à senhora pela origem, pela chegada de Glauber, um menino, segundo a senhora, de mais de cinco quilos. A pequenina D. Lúcia gestou um gigante, gestou algo que, de forma grandiosa, meu caro Anibal, ficou para nós.
Quero saudar também a filha do cineasta, Paloma Rocha, aqui presente; Henrique Cavalleiro; a neta Sara; o bisneto Tiago Barbosa, que compõem este momento de homenagem, em que quero ser extremamente breve, Presidente Sarney. Mas eu não poderia, de forma alguma, neste dia, em que até brinquei, de muito agito... Cheguei até a traduzir um pouco a expressão de Glauber, quando falava “Deus e o diabo na terra do sol”. O Senado viveu esse dia hoje. Deus e o diabo pelos corredores do Senado, com tanta efervescência, tanta ação, tanta coisa brotando, se discutindo, falando. Este é o momento em que a presença da família nos leva a crer neste “quase tudo ao mesmo tempo agora” que Glauber conseguiu produzir neste Brasil, numa época extremamente difícil; uma época cheia, recheada de preconceitos; uma época ainda marcada fortemente por outra visão de desenvolvimento, quando a cultura era tida como elemento perigoso para a sociedade, até por ser o caminho do despertar, o caminho de abrir mentes, o caminho de se descortinar este nosso Brasil para, conhecendo as suas raízes, ter oportunidade de construir um país melhor.
É desse Glauber que estamos falando, extremamente atual, presente, com essa sua sutileza, essa sua capacidade de tocar em questões aparentemente complexas, meu caro Valdenor, você, que também é de Vitória da Conquista. Aliás, Conquista tem nos brindado com grandes nomes da cultura baiana e brasileira. Alguém que sabia, com a sutileza do sertanejo, do caatingueiro, tocar nessas questões da cultura local, transformando-a em ferramenta capaz de sacudir um país, uma nação, rompendo os costumes.
Eu costumo dizer, meu caro Valdenor, que lei é até mais fácil: lei até se rasga; cultura é mais difícil. E este é o exemplo do dia de hoje, a cultura que foi espalhada por este País, a experiência que não ficou só nos quatro cantos da nossa querida Bahia, uma experiência que se alastrou mundo afora.
Portanto, este Senado, no dia de hoje, cumpre um papel importante para que a gente chame a atenção, minha cara Paloma, do Ministério da Cultura para o desafio que ele tem pela frente, não de estabelecer uma relação com o acervo, com toda essa produção cultural de Glauber, como se fosse uma obrigação mercantilista, como se fosse uma obrigação meramente patrimonial; nós estamos falando de algo imaterial. Que o Ministério da Cultura possa perceber o desafio que tem pela frente de ampliar aquilo que Glauber conseguiu produzir até hoje, permitindo, inclusive, que, neste novo cenário, em que pretendemos estimular todo um processo local de produção cultural, essa experiência sirva para o Ministério como uma verdadeira bandeira; que essa luta sirva como elemento, como fermento básico para que a gente possa agitar este Brasil inteiro e utilizar bem, neste nosso tempo, essa produção cultural; para que a gente, de uma vez por todas, quebre todos os paradigmas, rompa os preconceitos e estabeleça, no nosso tempo, aquilo que Glauber fez no País num tempo muito mais difícil, descortinando essa nova era de um novo Cinema Novo para todos nós.
Muito obrigado, Sr. Presidente.