Discurso durante a 143ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reverência à memória do cineasta, ator e escritor Glauber Rocha, pela passagem dos trinta anos de seu falecimento.

Autor
Geovani Borges (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
Nome completo: Geovani Pinheiro Borges
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Reverência à memória do cineasta, ator e escritor Glauber Rocha, pela passagem dos trinta anos de seu falecimento.
Publicação
Publicação no DSF de 24/08/2011 - Página 33968
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, ATOR, DIRETOR, CINEMA.

            O SR. GEOVANI BORGES (Bloco/PMDB - AP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador José Sarney, Presidente do Senado Federal, signatário da presente homenagem, Srª Lúcia Rocha, mãe do cineasta Glauber Rocha, Srª Paloma Rocha, filha do cineasta Glauber Rocha, demais convidados; signatária da presente homenagem, Exmª Srª Senadora Lídice da Mata; signatário da presente homenagem, Exmº Sr. Senador Walter Pinheiro; filho do cineasta Glauber Rocha, Sr. Henrique Cavalleiro; neta do cineasta Glauber Rocha, Srª Sara Rocha; bisneto do cineasta Glauber Rocha, Tiago Barbosa; Vice-Reitor da Universidade do Legislativo Brasileiro, Exmº Sr. Carlos Mathias; Vereador do Município de Buritis, Sr. Júlio César; Secretária do Audiovisual do Ministério da Cultura, Srª Ana Paula Santana, representando a Ministra de Estado de Cultura, Exmª Srª Ana de Hollanda; Coordenadora da Mostra de Cinema em Direitos Humanos, Sr. Wellington Pantaleão, representando a Ministra da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Exmª Srª Maria do Rosário; Senhoras e Senhores; demais autoridades presentes, antes mesmo de parabenizar a Senadora Lídice da Mata, do PSB da Bahia, o Senador José Sarney, do PMDB do meu querido Estado do Amapá, e o Senador Walter Pinheiro, pela iniciativa desta sessão solene que se destina a homenagear o genial cineasta Glauber Rocha, quero pedir licença de fazer uma saudação à Srª Lúcia Rocha, aqui presente à Mesa, mãe do cineasta, que, lúcida e firme, intuitiva e amorosa, é a grande guardiã do Tempo Glauber, o centro cultural do Rio de Janeiro dedicado ao filho, que é o pai do Cinema Novo, o grande movimento de jovens cineastas que decidiram dar um basta às alienações culturais que as chanchadas brasileiras, na época, refletiam.

            O movimento, iniciado na segunda metade da década de 60, pregava o rompimento com o cinema americano, a estética artificial e a temática do conto de fadas. E defendia a criação de um cinema genuinamente brasileiro, que retratasse a realidade nacional e não escondesse as mazelas sociais.

            Fiel ao seu princípio de “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”, Glauber foi um inflamado defensor da cultura brasileira. Lidou com a experimentação estética de vanguarda em diversos níveis: do roteiro e da fotografia ao trabalho literário com a palavra e experiências de montagens radicais - chocando a muitos com suas imagens da pobreza e da fome.

            “A imagem, rigorosamente, deve ser um vocábulo, e o cineasta deve escrever com imagens”, conforme ensinava o cineasta que rodou o mundo, projetou o Brasil internacionalmente, o cosmopolita que nunca deixou de ser sertanejo. Em sua obra, jagunços, amores, paixão, famílias, terra e morte: tudo como metáfora da revolução que ele perseguia.

            Veloz de raciocínio, rápido nas palavras e singular com a câmera, Glauber reinventou o sertão mítico da sua infância de maneira eloquente e emblemática, com arte e engenhosidade.

            Com “Barravento”, foi premiado na Europa e teve o filme exibido no Festival de Cinema de Nova York. Com “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, concorreu à Palma de Ouro no Festival do Filme em Cannes. Com “Terra em Transe”, ganhou os prêmios Luis Buñuel e o da Federação Internacional de Imprensa Cinematográfica. Recebeu ainda prêmios e elogios na Suíça, em Cuba e no Brasil. Em 1969, ganhou o prêmio de melhor diretor no Festival de Cannes com “O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro”.

            Para Glauber, o cinema era uma trincheira política. E ele provocava o espectador a que tomasse lugar no contexto histórico brasileiro e promovesse a grande revolução.

           Dizia Glauber:

Minha alma deseja a revolução e minhas mãos trabalham para a revolução. Porém o que é revolução? Uma revolução é a mudança total das leis naturais e sociais. Uma revolução só pode se realizar quando a morte vence a vida, porém, ao mesmo tempo, a morte é o nada e o nada é contrarrevolucionário.

            Nada melhor para entender Glauber que Glauber por ele mesmo.

            Como mãe, Dona Lúcia Rocha sabe, como ninguém, que Glauber não foi jamais uma personalidade simples, retilínea e previsível. Muito ao contrário: era um ser superdotado e, como tal, complexo, de visão multifacetada, às vezes até contraditório. Dizia-se até barroco e apocalíptico.

            Morreu cedo, aos 42 anos, mas, trinta anos depois, esta sessão mostra que Glauber Rocha está mais vivo que nunca, até porque, contrariando a lógica natural das coisas, o gênio não morre, Senadora Lídice da Mata!

            Parabéns, Senadora Lídice e Senador José Sarney, que teve a visão e a sensibilidade de ser seu amigo e de ver aquele gênio nascer na cultura brasileira. Senador Walter Pinheiro, também parabenizo-o por essa iniciativa.

            Parabéns, Dona Lúcia Rocha, pelo filho que pôs no mundo. É possível que, do céu, Glauber esteja filmando esta cena a partir da emoção contida nos olhos lacrimejantes de sua mãe, abundantes como o mar que ainda vai virar sertão.

            Muito obrigado a todos os presentes. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/08/2011 - Página 33968