Discurso durante a 143ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reverência à memória do cineasta, ator e escritor Glauber Rocha, pela passagem dos trinta anos de seu falecimento.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Reverência à memória do cineasta, ator e escritor Glauber Rocha, pela passagem dos trinta anos de seu falecimento.
Publicação
Publicação no DSF de 24/08/2011 - Página 33969
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, ATOR, DIRETOR, CINEMA.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador José Sarney; Srª Vice-Presidenta, Senadora Marta Suplicy; Srª Lídice da Mata e Senador Walter Pinheiro, Senadores que propuseram esta bonita homenagem ao maior cineasta da história do Brasil; Srª Lúcia Rocha, mãe de Glauber Rocha; Srª Paloma Rocha, filha de Glauber Rocha; Sr. Henrique Cavalleiro; Sara Rocha e todos os amigos aqui presentes; eu fui um admirador de Glauber Rocha. As imagens de O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro ainda estão na minha mente e para sempre ficarão, tal a impressão forte, tão forte que ficou.

            A Lídice, o Walter, o Geovani e a Marta falaram já da biografia, mas, tendo em conta esse depoimento tão belo que a Srª Lúcia Rocha fez a respeito de seu filho e como nem todos que assistem a TV Senado puderam ler, hoje, no Jornal do Senado, o seu belo depoimento sobre o seu filho Glauber, eu aqui gostaria de ler estas palavras que me comoveram:

Como era o filho Glauber Rocha?

Enquanto todas as crianças da idade dele estavam na rua, brincando de peteca ou bola de gude, ele ficava dentro de casa, lendo e escrevendo. Aquilo me chamava a atenção. "Minha mãe, minha cabeça é um vulcão", ele explicava. Eu entendi que, lendo e escrevendo, ele dava um jeito de expelir todas as ideias que tinha dentro da cabeça. O curioso é que Glauber detestava a escola. Uma vez, ele brigou com a professora e veio para casa dizendo que não queria mais voltar. Ele achava a professora fraca. Queria que eu o ensinasse a ler e escrever. E, de fato, fui eu que o alfabetizei.

Dos filmes de Glauber, qual é seu favorito?

Meu favorito é Barravento. Sabia que ele planejou esse filme quando tinha sete anos? Estávamos passeando na praia de Buraquinho, na Bahia, e ele, criança, disse: "Quando crescer, vou fazer um filme aqui". Anos mais tarde, ele voltou lá para fazer Barravento. O filme é muito bonito. Eu participei de todos os filmes que Glauber fez no Brasil. Eu costurava as roupas, fazia comida para os atores... Ajudei com dinheiro também. Eu era rica e, por causa do cinema, fiquei pobre. Mas não me arrependo. Valeu a pena. Se outro filho quisesse fazer cinema, ajudaria do mesmo jeito.

A senhora cuida do Tempo Glauber, um espaço que guarda 100 mil documentos. Foi difícil reunir um acervo tão amplo?

Eu comecei a juntar o material quando ele tinha 9 anos. O primeiro documento é o roteiro de uma peça de teatro que ele encenou no colégio.

Tenho até anotações que ele fazia em papel, amassava e jogava fora. Eu corria ao lixo, pegava o papel, passava com ferro e guardava. Minha missão, hoje, é reunir, conservar e divulgar toda a produção de Glauber. Tenho fotos, poemas, cartas, entrevistas publicadas, desenhos, roteiros que nunca chegaram a ser filmados. As pessoas vêm aqui, interessam-se pelos roteiros, mas ninguém tem coragem de fazer os filmes. Seria muita responsabilidade. Quando Glauber foi morar na Europa, ele me pediu que eu cuidasse de todo o material dele. Jurei que cuidaria de tudo e que, assim, ele nunca morreria. E, de fato, ele nunca morreu - porque o artista nunca morre.

            Muito obrigado, Srª Lúcia Rocha, por ter guardado esses documentos tão preciosos para todos nós brasileiros a respeito de seu filho Glauber Rocha.

            Obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/08/2011 - Página 33969