Discurso durante a 143ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reverência à memória do cineasta, ator e escritor Glauber Rocha, pela passagem dos trinta anos de seu falecimento.

Autor
Wilson Santiago (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: José Wilson Santiago
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Reverência à memória do cineasta, ator e escritor Glauber Rocha, pela passagem dos trinta anos de seu falecimento.
Publicação
Publicação no DSF de 24/08/2011 - Página 33971
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, ATOR, DIRETOR, CINEMA.

            O SR. WILSON SANTIAGO (Bloco/PMDB - PB. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, não poderia deixar de me fazer presente à homenagem que o Senado Federal presta hoje ao cineasta Glauber Rocha, em função dos 30 anos de sua morte, ocorrida em 22 de agosto de 1981. Primeiro, por ser o artista um nordestino, uma vez que nascido na Bahia. Mais do que isto, um nordestino definitivamente ligado à região em que nasceu, conforme pode ser comprovado pela sua obra. Enfim, pelo profundo enraizamento de seus filmes na realidade brasileira. Um homem do seu tempo e do espaço em que viveu, apesar do caráter universal de sua obra.

            Quero, portanto, parabenizar a senadora Lídice da Mata pela idéia que teve em requerer esta sessão especial. São justíssimas as razões que provocam este evento. O brasileiro tem mesmo o dever de reverenciar aqueles que fizeram de suas vidas atos particulares de dedicação ao Brasil e a sua gente. No caso de Gláuber Rocha, o de uma existência dedicada à arte cinematográfica, encarada com paixão, e, sobretudo, com extraordinário poder de transformação.

            Um pouco da história de Glauber é necessário neste momento. Filho de Adamastor Bráulio Silva Rocha e de Lúcia Mendes de Andrade Rocha, Glauber Rocha nasceu na cidade de Vitória da Conquista, sudoeste da Bahia. Alfabetizado pela mãe, dona Lúcia Rocha, que temos a felicidade de receber nesta sessão do Senado Federal, e à qual rendo minhas homenagens, estudou no Colégio do Padre Palmeira - instituição transplantada pelo padre Luís Soares -, de Caetité, então, o principal núcleo cultural do interior do Estado.

            Em 1947 mudou-se com a família para Salvador, onde seguiu os estudos no Colégio 2 de Julho, dirigido pela Missão Presbiteriana, ainda hoje uma das principais escolas da cidade. Ali, escrevendo e atuando numa peça, seu talento e vocação foram revelados para as artes performativas. Participou em programas de rádio, grupos de teatro e cinema amadores.

            Começou a realizar filmagens, que logo abandonou para iniciar uma breve carreira jornalística, em que o foco era sempre sua paixão pelo cinema.

            Sempre buscando a polêmica, escreveu e pensou cinema. Queria uma arte engajada ao pensamento e pregava uma nova estética, uma revisão crítica da realidade. Era visto pela ditadura militar que se instalou no país, em 1964, como um elemento subversivo.

            Glauber faleceu vítima de septicemia, ou como foi declarado no atestado de óbito, de choque bacteriano, provocado por broncopneumonia que o atacava há mais de um mês, na Clínica Bambina, no Rio de Janeiro, depois de ter sido transferido de um hospital de Lisboa, capital de Portugal, onde permaneceu 18 dias internado. Residia há meses em Sintra, cidade de veraneio portuguesa, e se preparava para fazer um filme, quando começou a passar mal.

            Sua filmografia é vasta e mundialmente reconhecida. Antes de estrear na realização de um longa metragem, Barravento, em 1962, Glauber Rocha realizou vários curtas-metragens ao mesmo tempo que se dedicava ao cineclubismo e fundava uma produtora cinematográfica.

            Deus e o Diabo na Terra do Sol, em 1964, Terra em Transe, em 1967 e O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro, em 1969, são três filmes emblemáticos, nos quais uma crítica social feroz se alia a uma forma de filmar que pretendia cortar radicalmente com o estilo importado dos Estados Unidos da América. Essa pretensão era compartilhada pelos outros cineastas do Cinema Novo, corrente artística nacional liderada principalmente por Rocha.

            Com Barravento ele foi premiado no Festival Internacional de Cinema da Tchecoslováquia em 1963. Um ano depois, com 'Deus e o Diabo na Terra do Sol", ele conquistou o Grande Prêmio no Festival de Cinema Livre da Itália e o Prêmio da Crítica no Festival Internacional de Cinema de Acapulco.

            Foi com Terra em Transe, contudo, que Glauber tornou-se reconhecido, conquistando o Prêmio da Crítica do Festival de Cannes, o Prêmio Luis Buñuel na Espanha, o Prêmio de Melhor Filme do Festival Internacional do Cinema de Locarno, e o Golfinho de Ouro de melhor filme do ano, no Rio de Janeiro. Outro filme premiado de Glauber foi O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro, prêmio de melhor direção no Festival de Cannes e, outra vez, o Prêmio Luiz Bunuel na Espanha.

            Essa a história, evidentemente, bem reduzida do nosso homenageado. Parabenizo, neste instante, a dona Lúcia Rocha, mãe de Glauber Rocha, sua filha, Paloma, e sua neta, Sara, aqui presentes. Tiveram todas elas a felicidade de terem o nosso homenageado numa linha de parentesco tão próxima. Parabéns a Dona Lúcia, especialmente, pela disposição em durante todos estes anos manter viva a memória de Gláuber, cuidando do seu acervo. Enfim, parabéns, mais uma vez, à senadora Lídice da Mata, autora do requerimento, e ao Senado Federal, pela realização desta sessão especial.

            Muito obrigado


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/08/2011 - Página 33971