Discurso durante a 145ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Lamento pela proibição, ao lutador Marcelo Guimarães, de citar o nome de S.Exa. em reportagem exibida, hoje, elo programa Mais Você, da TV Globo. (como Líder)

Autor
Magno Malta (PR - Partido Liberal/ES)
Nome completo: Magno Pereira Malta
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DIREITOS HUMANOS. IMPRENSA.:
  • Lamento pela proibição, ao lutador Marcelo Guimarães, de citar o nome de S.Exa. em reportagem exibida, hoje, elo programa Mais Você, da TV Globo. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 26/08/2011 - Página 34714
Assunto
Outros > DIREITOS HUMANOS. IMPRENSA.
Indexação
  • COMENTARIO, ATUAÇÃO, ORADOR, ASSISTENCIA SOCIAL, RECUPERAÇÃO, PESSOA CARENTE, VICIADO EM DROGAS, CONTRIBUIÇÃO, CARREIRA, ATLETA PROFISSIONAL, LUTA.
  • CRITICA, PROGRAMA, TELEVISÃO, PROIBIÇÃO, ATLETA PROFISSIONAL, LUTA, CITAÇÃO, PESSOAL, NOME, EXIBIÇÃO, FOTOGRAFIA, ORADOR.

            O SR. MAGNO MALTA (PR - ES. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Senadora Marta Suplicy, Srs. Senadores, Brasil, que nos ouve, nos escuta pelos veículos de comunicação do Senado da República, os senhores e as senhoras que nos visitam que estão na galeria, sintam-se abraçados, cumprimentados, bem-vindos a esta Casa, Srs. Senadores, Senador Mozarildo, Senador Paim, o Brasil.

            Eu gostaria, Srª Presidente, se os cinco minutos não me contemplarem, uma vez que nós estamos numa quinta-feira, com alguns oradores faltosos, que V. Exª me desse mais alguns minutos, para que possa contar para o Brasil um história. E, de uma maneira muito específica, Srª Presidente, Srª Senadora Ana Amélia, eu queria contar uma história para a Ana Maria Braga; queria que a senhora ouvisse a história que vou contar para Ana Maria Braga, da Rede Globo, que faz o programa Mais Você e que hoje, pela manha, fez uma matéria muito bonita, mostrando um lutador vitorioso de MMA.

            Ana Maria, vou lhe contar uma história.

            Um dia, um homem, policial, mal remunerado, com três filhos, sofrido, envelhecido, fazendo bico para sustentar os três filhos, procurou-nos em estado de desespero. Estava com um filho altamente drogado, vivendo alucinado, fugiu ao controle desse pai, mas um pai amoroso, que havia tentado tudo com esse filho, Ana Maria. Falaram dele, de um projeto de recuperação de drogados, chamado Vem Viver, e ele foi lá, Senadora Marta, e levou esse menino.

            Eu venho há 30 anos recuperando drogados, tirando meninos da rua, adultos, gente de 7 a 70 anos, de 8 a 80 anos. Nas nossas dificuldades, quando esse pai chega, quando o menino é recolhido da rua, a unidade nossa de Cachoeiro de Itapemirim, onde está tudo concentrado, estava muito cheia. Havia gente dormindo no chão, porque não dá para você mandar embora quem chega a sua porta. E é a minha vida, é o meu sacerdócio, foi o que Deus me deu para fazer ao longo da vida, e foi o que minha mãe me ensinou. Aliás, dizia minha mãe, Senadora Marta, Senadora Ana Amélia, que a vida só tem um valor, e o único valor que a vida tem é quando você investe a sua vida na vida dos outros. Eu aprendi muito cedo.

            Mas falei com aquele pai, eu o vi tão sofrido, falei com ele: “Eu vou tentar lá em Barra de São Francisco”, que era a unidade que a gente tinha aberto lá numa casinha muito pequenina, na beira do rio, que tinha dois quartos e só tinha seis beliches, mas estava lotado. E eu liguei lá para o pastor Humberto e disse: “Olhe, não tem jeito não; tire um mais antigo aí do beliche e põe no colchonete no chão, porque eu estou mandando mais”. “Mas não cabe.” Eu falei: “Mas eu estou mandando; o pai está aqui comigo desesperado, e eu estou mandando o menino para aí”. E o Marcelo se mandou para lá.

            Tudo o que fizemos por outros o Marcelo recebeu. Como lá não tem psicólogo, não tem psiquiatra, porque não é lugar de doido mesmo, lá ninguém toma remédio controlado, é amor, amor, amor, amor, amor, Deus de manhã, Jesus meio-dia e Espírito Santo de noite, o Marcelo ficou bom, como ficam bons 85% dos que passam por lá - e o nosso desacerto nos 15% se deve aos alcoólatras e não aos viciados em cocaína, nem em crack, porque o álcool é pior do que essas duas drogas. E a sociedade hipócrita bebe, se alcooliza e põe o dedo na cara de quem está cheirando cocaína. Pois bem. O Marcelo se recuperou. Volta à casa com a sua bênção como tantos outros.

            O Marcelo vai estudar. O Marcelo recebe apoio de um professor de jiu-jitsu chamado Caveira, que estava lá na Ana Maria hoje. O Marcelo entra na faculdade e faz Educação Física. O Marcelo vira faixa preta de jiu-jitsu e faixa preta de wrestling no Brasil, um dos melhores do País. Saiu das drogas, das ruas, e eu tive o prazer de enxugar a lágrima daquele pai, de devolver o sorriso, com a minha família, àquele pai. Aliás, é uma prática que eu tenho tido na minha vida, Senadora Marta, que me alegra muito. É só o que eu sei fazer: ajudar a enxugar lágrima de mãe e pai que choram com filho drogado.

            O Marcelo começou a lutar, e eu fui buscar uma vaga com o Wallide no Jungle Fight para dar uma oportunidade ao Marcelo. É muito difícil. É um meio difícil, todo mundo quer entrar. E o Wallide Ismail acreditou no meu argumento, deu uma oportunidade para o menino. E o menino venceu. E venceu de novo. Só que o menino não lutava nada em pé. Só sabia wrestling, chão, muito forte.

            Ana Maria Braga, todos aqueles golpes de box que ele deu hoje aí, que você pediu, fui eu que ensinei. Ele fechava o olho, ele tinha medo, ele recuava. Eu ensinei o Marcelo a vencer o medo, Ana Maria Braga. Eu ficava duas, três horas com ele: de dez à meia-noite, de nove à meia-noite, eu, ele e o Caveira, ensinando o Marcelo trocar golpes até aprender.

            Aquele título, Ana Maria Braga, sábado, lá em São Paulo, quando ele começou trocando golpes em cima, encarando, olhando, eu tive o prazer de ensinar cada coisa daquela. Depois cinturou, botou no chão, apagou com um golpe de jiu-jitsu aquele rapaz e virou campeão do mundo!

            Hoje eu fiquei muito feliz, Ana Maria Braga, com a oportunidade que você deu a ele. Só não fiquei mais feliz porque eu soube que ele foi proibido de falar meu nome, porque eu sou político.

            Fiquei triste porque eu vi a imagem do cinturão mundial dele. Vocês cortaram a imagem, só apareceu a mão e o cinturão, para não aparecer o meu rosto.

            Ana Maria Braga, eu não sou bandido. Onde tem joio, tem trigo. É assim no meio jornalístico, na classe política, é assim na igreja, Ana Maria. Onde tem trigo, tem joio. É assim no meio médico, nos ambientes sociais. Onde tem gente do bem, tem gente do mal. Que contribuição daria? Por que só mostram políticos se ele é exposto pelo ridículo como se fosse bandido? Mas eu tenho trinta anos, Ana Maria, em que tiro gente das ruas e das drogas.

            Esse rapaz que abrilhantou o seu programa durante tanto tempo ao vivo, o Marcelo, mostrado como uma joia vitoriosa, precisava ver essa joia quando estava debaixo da lama, Ana Maria, quando o pai chorava angustiado, precisando de ajuda; mas vocês não tiveram coragem de dizer qual foi a mão que estendeu, quem abraçou.

            Ana Maria, quando eu abracei Marcelo, eu não era nem vereador; eu era imortal, porque eu não tinha nem onde cair morto. Eu recolhia osso em açougue para fazer sopa para Marcelo tomar, Ana Maria, esse rapaz que você exibiu hoje.

            A SRª PRESIDENTE (Marta Suplicy. Bloco/PT - SP) - Senador, para concluir. É muito comovente o seu depoimento, mas já nos estendemos além, pela importância do tema desenvolvido. Por favor.

            O SR. MAGNO MALTA (PR - ES) - Srª Presidente, eu pedi no início que fosse benevolente comigo, até porque temos poucos oradores, mas eu precisava falar isso.

            Não estou cobrando, nem pedindo nada a ninguém. Muito pelo contrário, estou lhe parabenizando, Ana Maria. Você é uma vitoriosa, teve câncer, foi e falou, assumiu publicamente, venceu isso, quebrou tantos preconceitos. Você é uma vitoriosa, você é uma vencedora, e, quem sabe, você nem conhece essa história. Pediram para você não falar, e você não falou, mas esse menino que foi proibido de falar me chama de pai, Ana Maria. E, sábado, chorou no meu ombro depois da grande vitória em que se tornou campeão mundial. E vai muito longe o Marcelo.

            Como o Marcelo, Senadora Marta, neste momento, no Projeto Vem Viver, instituição que sustento com meus direitos autorais, há dezenas de Marcelos nas academias treinando para um dia virar outro Marcelo, como o Ledir Porto, Secretário de Segurança de Vila Velha que eu tirei da cadeia há 16 anos. Secretário de Segurança hoje, e esteve aqui no Senado para dar um depoimento emocionado na subcomissão contra as drogas, dirigida pela nossa Senadora Ana Amélia.

            A SRª PRESIDENTE (Marta Suplicy. Bloco/PT - SP) - Senador, para concluir.

            O SR. MAGNO MALTA (PR - ES) - Agradeço a oportunidade de falar a respeito desse assunto, visto que penso que a injustiça não foi nem comigo, mas com o próprio Marcelo, que se orgulha da historia que tem, e hoje é uma referência aos jovens.

            Encerro minha fala, dizendo às mães e aos pais: acreditem em seus filhos. Está usando droga? Entrou para o mundo das drogas? Mas tem jeito, tem saída. É Deus na vida da família. Acredite: tem saída. Não é programa de governo que vai mudar isso. É chamar para dentro aqueles que têm função sacerdotal, sentimento sacerdotal e amor no coração para fazer um papel na ponta, que governo não pode fazer. O papel de governo é incentivar as instituições que fazem isso de forma sacerdotal, para que possam fazer esse papel pelo Brasil.

            Mais uma vez, parabéns à Ana Maria pela sua história. Quem sabe você não conhecia essa outra versão da história.

            Parabéns ao meu Marcelo, que é como se fosse filho, como todos os outros, pela grande vitória de sábado, sagrando-se campeão. Acima de tudo, além de tudo, campeão nocauteando as drogas neste País.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/08/2011 - Página 34714