Discurso durante a 148ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Discussão dos limites de atuação da imprensa, citando matéria da revista Veja desta semana. (como Líder)

Autor
Humberto Costa (PT - Partido dos Trabalhadores/PE)
Nome completo: Humberto Sérgio Costa Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA.:
  • Discussão dos limites de atuação da imprensa, citando matéria da revista Veja desta semana. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 30/08/2011 - Página 35522
Assunto
Outros > IMPRENSA.
Indexação
  • DEFESA, DEBATE, ATUAÇÃO, IMPRENSA, NEGLIGENCIA, DIREITOS, CIDADÃO, REFERENCIA, TENTATIVA, INVASÃO, JORNALISTA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DOMICILIO, JOSE DIRCEU, EX MINISTRO DE ESTADO, CRITICA, IMPUNIDADE, ALEGAÇÕES, LIBERDADE DE IMPRENSA.

            O SR. HUMBERTO COSTA (Bloco/PT - PE. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, desde o último final de semana, nosso País, forçosamente, passou a ter a necessidade de discutir os limites de iniciativas de órgãos de imprensa danosos à imagem de pessoas públicas, a partir de acusações vazias, falaciosas, lançadas a partir de dados que nada expressam. Não se trata de cercear a liberdade de expressão, como muitos procuram tergiversar, tentando, assim, liquidar o debate antes mesmo que ele se inicie. Trata-se, isto sim, de pôr fim a eventos como o produzido no último fim de semana pela revista Veja, em prejuízo aos limites da ética jornalística. Sob o falso pretexto de jornalismo investigativo, a revista provavelmente cometeu ato ilegal com a tentativa de invasão de domicílio, conforme será esclarecido em inquérito em curso na Polícia Civil do Distrito Federal.

            Numa tentativa de incriminar o ex-Ministro José Dirceu e de tentar criar um clima negativo entre os integrantes da base aliada ao Governo, um dos repórteres da revista hospedou-se, na última quinta-feira, no Hotel Nauom, de Brasília, onde Dirceu se hospeda e recebe líderes partidários não dó do PT, mas de todos os demais partidos, inclusive do PSDB. Horas depois de se instalar no hotel, o repórter da revista tentou invadir o apartamento de Dirceu. Seu estratagema foi o de tentar enganar uma das camareiras do estabelecimento, dizendo que havia perdido as chaves do aposento. Após ser constrangida pelo funcionário da revista, a camareira, que não acreditou na mentira, denunciou o repórter à direção do hotel, que, às pressas, sem fechar a conta, fugiu do local do crime. Certo da impunidade, voltou ao hotel e, com falsa identidade, tentou invadir o apartamento pela segunda vez, apresentando-se como um funcionário da prefeitura da cidade de Varginha, de nome Roberto, que deveria deixar documentos importantes no aposento de Dirceu. Mas o falso testemunho novamente não enganou, e a tentativa de invasão de domicílio não se consumou pela segunda vez.

            A direção do hotel registrou a tentativa de violação de domicílio em boletim de ocorrência do 5º Distrito Policial do Distrito Federal, mas desconfia que outros crimes possam ter sido cometidos. Entre eles, estão o suborno de funcionários ou a instalação ilegal de grampos no sistema interno de tevê que garante a segurança do local.

            Essa desconfiança se sustenta no fato de a revista ter publicado as imagens clandestinas do circuito interno em preto e branco. Ocorre, Sr. Presidente, que o sistema gera imagens coloridas. Diante dessas novas evidências de espionagem ilegal, a direção do hotel anunciou que também irá acionar a Polícia Federal. Caso se confirme essa suspeita, outro crime foi cometido. Crime que, na Inglaterra, recentemente, provocou o fim das atividades de um dos jornais mais vendidos no país, bem como a demissão e a prisão de vários de seus diretores.

            O resultado já se encontra nas bancas: oito páginas de informações requentadas e ilações contra altos funcionários do Governo, Senadores e Deputados do Partido dos Trabalhadores, do PMDB e da própria oposição, sem nenhum fato ou informação concreta, a não ser a prova do crime cometido, com imagens de ambiente privado, obtidas ilegalmente.

            A democracia conquistada neste País é um bem precioso, mas ela também vem acompanhada de outros valores caros ao País. A apuração minuciosa dos fatos, a partir de provas contundentes e de resultados de investigações já feitas, é necessária antes de se lançar qualquer acusação sem cabimento contra qualquer pessoa: homem público, cidadão ou cidadã.

            Por fim, esperamos que a revista procure se pautar pela boa conduta do jornalismo ético, em respeito aos princípios democráticos brasileiros, e que atos como esses não voltem a se repetir.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/08/2011 - Página 35522