Discurso durante a 148ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Registro da importância do ensino do xadrez nas escolas brasileiras, por ocasião da participação de S.Exa. em evento que contou com a presença do campeão mundial da modalidade, o russo Garry Kasparov; e outros assuntos.

Autor
Anibal Diniz (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Anibal Diniz
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESPORTE. POLITICA DE TRANSPORTES.:
  • Registro da importância do ensino do xadrez nas escolas brasileiras, por ocasião da participação de S.Exa. em evento que contou com a presença do campeão mundial da modalidade, o russo Garry Kasparov; e outros assuntos.
Publicação
Publicação no DSF de 30/08/2011 - Página 35552
Assunto
Outros > ESPORTE. POLITICA DE TRANSPORTES.
Indexação
  • REGISTRO, PARTICIPAÇÃO, SOLENIDADE, CAPITAL FEDERAL, COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO, ESPORTE, IMPORTANCIA, PRESENÇA, ATLETA PROFISSIONAL, VITORIA, CAMPEONATO MUNDIAL, INCENTIVO, JUVENTUDE, PRATICAGEM, DEFESA, IMPLANTAÇÃO, PRATICA ESPORTIVA, ENSINO PUBLICO, PROMOÇÃO, MELHORIA, APRENDIZAGEM.
  • COBRANÇA, GOVERNO FEDERAL, ACELERAÇÃO, CONSTRUÇÃO, PONTE, RIO MADEIRA, REPUDIO, VALOR, PEDAGIO, TRANSPORTE AQUATICO.

            O SR. ANIBAL DINIZ (Bloco/PT - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, telespectadores da TV Senado, ouvintes da Rádio Senado, pessoas que nos acompanham pelas redes sociais na Internet, é com muita alegria que compareço à tribuna na noite de hoje para registrar a minha participação em evento promovido pelo Governo do Distrito Federal, pelo Governo Federal, por intermédio do Ministério da Ciência e Tecnologia, em parceria com a Semp Toshiba, pela comemoração de seus 50 anos de existência no Brasil, um evento enxadrista que contou com a presença do grande mestre internacional Garry Kasparov, o maior enxadrista de todos os tempos.

            Apesar de ter se aposentado das competições, ele continua um jogador atual, contemporâneo. No encontro de hoje, houve uma simultânea em que ele jogou com treze praticantes do xadrez.

            O Ministro Aloizio Mercadante não se encorajou a enfrentá-lo, com medo do que seria manchete no dia seguinte, mas eu, representando o Senado, e o Governador Agnelo Queiroz nos encorajamos a jogar contra o Garry Kasparov. Foi uma experiência fantástica estar com o, sem dúvida, maior jogador de xadrez de todos os tempos.

            Ao mesmo tempo, fomos presenteados com o último livro de Garry Kasparov: Xeque-Mate - a Vida é Jogo de Xadrez, que é este que eu apresento aqui.

            E por que faço tanta questão de fazer este registro aqui na tribuna do Senado? Porque a presença de Garry Kasparov no Brasil pode servir de grande estímulo para a garotada aprender a jogar xadrez, estudar um pouco do xadrez, não só como competição, mas como ciência mesmo, como aplicação exata na busca de resposta precisa para cada um dos problemas que a vida apresenta. E é muito interessante porque Garry Kasparov não é um enxadrista excêntrico, daqueles que, para se aplicar ao jogo de xadrez, deixa de ser gente, deixa de viver a vida. Não, ele é um profissional, ele tem a sua profissão da qual sobrevive e é um participante da política. É nascido no Azerbaijão, mas tem nacionalidade russa e nacionalidade americana. É um ativista político e tem dedicado grande parte do seu tempo a contribuir para a popularização do xadrez, que é algo muito praticado na Rússia, nos países do leste europeu, mas que está vivendo um momento muito especial no Brasil.

            Veja só que, nessa atividade de hoje, nós pudemos conhecer a enxadrista Katherine Vescovi, de 12 anos, uma garotinha brasileira, campeã nacional até a categoria sub-18. Imaginem só que uma garotinha de 12 anos joga até com jogadoras de quase 18 anos e é a campeã nacional. Ela é a representante do Brasil no sul-americano, inclusive é campeã sul-americana também e representante do Brasil nas competições mundiais.

            Isso tudo para ressaltar como o Brasil também vive um momento importante. A Confederação Brasileira de Xadrez tem desenvolvido programas nesse sentido. Alguns Estados têm adotado o xadrez como disciplina obrigatória nas escolas. O Estado do Paraná, na cidade de Curitiba, tem alguma experiência nesse sentido, e muitas escolas públicas têm adotado o xadrez como disciplina complementar. Pode até se tornar disciplina obrigatória, como forma de incentivar o fortalecimento do raciocínio lógico das crianças.

            Por isso, a atividade de hoje, promovida pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, com o Ministro Mercadante, em parceria com a diretoria da Semp Toshiba, aconteceu lá na sede do Sebrae, mas contou com a participação desses personagens e também com a presença especial de 150 alunos da rede pública do Distrito Federal. Isso tudo como forma de incentivo a que o xadrez seja propagado para as crianças, para que elas tenham acesso, tenham contato com essa prática o mais cedo possível, para que possam se desenvolver com muito mais competência e tenham muito mais habilidade para se deparar com os problemas.

            Houve um momento importante no pronunciamento do Ministro de Ciência e Tecnologia sobre todo o esforço que está sendo feito para que as empresas produzam tablets para serem popularizados no Brasil, inclusive as partidas de xadrez aconteceram em tablets da Semp Toshiba. E uma coisa me chamou bastante a atenção no discurso proferido pelo Garry Kasparov, que foi o seguinte questionamento: uma pessoa, para chegar ao nível de excelência a que chegou Garry Kasparov, tem uma receita pronta e acabada para o sucesso?

            Ele fala que quando tinha 12 anos começou a ser uma celebridade do xadrez mundial. Porque ele foi campeão juvenil com 17 anos, e campeão mundial aos 22 anos, em 1985. Ele tinha 22 anos e foi o campeão mundial mais jovem da história. E desde que foi campeão, ele não deixou de ser campeão. Ele abandonou o xadrez em 2005. Ele deixou de jogar oficialmente, mas ele não havia passado o título de campeão para ninguém, porque não havia sido derrotado numa competição oficial da Federação Internacional de Xadrez. Então se perguntava muito para ele qual era o segredo, qual a fórmula mágica para se chegar a esse nível de excelência.

            E a mesma pergunta vale para todas as áreas, porque, quando vemos alguém de sucesso, o caminho mais fácil, o caminho da simplificação é sempre falar: qual é o segredo do sucesso? E ele acabou, depois que se aposentou como enxadrista, refletindo sobre essas tantas perguntas e resolveu escrever a respeito e mostrar que a experiência de cada um é particular e que cada um tem que se desenvolver a partir da sua potencialidade, para que ninguém se sinta incapaz de superar as suas próprias dificuldades.

            Ele escreve com muita precisão a esse respeito e me pareceu muito interessante partilhar esta reflexão, a reflexão de que o sucesso não vem pronto e acabado; ele não tem uma receita, ele é fruto de muito trabalho. Cada um na sua e aplicar o máximo possível para atingir a excelência. Então, ele escreve, logo no início, sobre o segredo do sucesso, o seguinte:

Quando eu era um astro adolescente do xadrez, em uma União Soviética apaixonada pelo jogo, desde cedo me acostumei a dar entrevistas e a falar em público. Além de perguntas eventuais sobre hobbies e garotas, essas primeiras entrevistas voltavam-se unicamente para a minha carreira enxadrística. Posteriormente, em 1985, tornei-me campeão mundial com a idade de 22 anos, o mais jovem da história e, daí em diante, o tipo de perguntas que me eram feitas mudou radicalmente. Em vez de me pedirem informações sobre jogos e torneios, as pessoas queriam saber como alcancei um sucesso sem precedentes. Como é que eu conseguia me esforçar tanto? Quantos lances à frente eu conseguia ver? O que se passava em minha cabeça durante o jogo? Eu tinha memória fotográfica? O que comia? O que fazia toda noite antes de dormir? Em resumo, quais eram os segredos do meu sucesso?

            Essas curiosidades todas se colocavam acima da própria prática do jogo; as pessoas queriam saber do que se tratava esse sucesso, como ele o havia conseguido. Mais adiante, ele vai mostrar que cada um de nós cria a sua própria fórmula singular para tomar decisões. Nosso objetivo é aproveitar essa fórmula ao máximo, identificá-la, avaliar seu desempenho e encontrar meios de aperfeiçoá-la. Isso exigirá grande honestidade de autoavaliação e do quanto você realizou o seu potencial. Não existem jeitinhos. Esse não é um livro de dicas e truques. É um livro sobre autoconhecimento e desafio, sobre como desafiar a nós mesmos e aos outros para que possamos aprender a tomar as melhores decisões possíveis.

            Estamos falando de um exímio conhecedor de xadrez, que mostra que o xadrez, na realidade, é importante para compreendermos não só o jogo em si, o jogo arte ciência, porque ele tem sua beleza, ele tem seu encanto, ele é competitivo, mas ele é fundamentalmente ciência e nos ensina, nos desafios da vida, que as tomadas de decisões desde muito cedo têm que ser feito com muito senso de ética, de honestidade, de autoconhecimento, de busca de aperfeiçoamento, a partir do próprio esforço.

            Então, diante de uma situação como essa - e louvo a oportunidade de ter participado desse evento com Garry Kasparov -, a gente vem refletir sobre a nossa política e a gente percebe que o segredo do sucesso na política também não é uma fórmula pronta e acabada, é uma construção como fruto de muitos esforços.

            A gente só atinge determinado patamar na vida com o fruto de muitos esforços. E aqueles que, porventura, resolvem atalhar o caminho para tentar ludibriar o meio ou as pessoas acabam sempre, de uma forma ou de outra, mais cedo ou mais tarde, desmascarados, postos a prova, acabam quebrando a cara.

            Então, o fundamental para a gente é saber que temos que praticar a política com o mesmo sentimento com que um atleta de alta performance procura se aplicar para ter o melhor resultado.

            Vejo aqui, Senador Paim, já disse em outro pronunciamento e repito, V. Exª aqui nesta Casa é sempre um dos primeiros, senão o primeiro, a chegar e um dos últimos a sair, senão o último a sair. Para mim V. Exª é um exemplo de parlamentar, completamente dedicado aos temas que estão presentes na vida das pessoas. Para mim esse é um exemplo de excelência. Qual é o exemplo do sucesso do Senador Paim? O segredo é estar sempre disponível, sempre aberto a ouvir, sempre disposto a fazer aquelas suas audiências públicas, ouvido cada um dos segmentos com toda atenção, com todo respeito, com toda generosidade, buscando sempre saídas. Se as respostas a gente não tem, porque é muito natural não termos as respostas, mas gente pode buscar coletivamente, com muito esforço, com muita dedicação, quais são as melhores saídas. E V. Exª, para nós, é um exemplo fundamental de como a política pode ser praticada na busca, senão da perfeição, mas pelo menos do melhor resultado possível com a nossa potencialidade. Nós podemos nos dedicar em busca sempre do melhor resultado.

            Partindo para a conclusão, Senador Paim, quero me somar ao pronunciamento do Senador Jorge Viana, feito hoje à tarde na tribuna do Senado, em que ele fez uma reflexão sobre o tanto que avançou a BR-364, no Estado do Acre, de Rio Branco à Cruzeiro do Sul. A BR-364 está praticamente com cerca de 90% concluída, mas todas as pontes já estão praticamente concluídas. Na estrada de Rio Branco à Brasiléia/Assis Brasil, que é a rodovia do Pacífico, é a BR-317, também completamente concluída, levando a ligação do Acre, no Brasil, para o Peru e de lá para os portos do Pacífico.

            Ao mesmo tempo em que, em 12 anos, foi possível executar todas essas obras no Estado do Acre, uma parte delas será concluída até 2012 com o Governador Tião Viana, que está muito empenhado nisso e nós temos de enfrentar o drama da ponte sobre o rio Madeira, que nunca acontece. São feitas licitações, licitações são tornadas públicas, depois há recursos daqui e dali, um tipo de impedimento para que essa ponte sobre o Rio Madeira aconteça.

            É uma ponte fundamental para as populações do Acre e de Rondônia. Agora mesmo estamos no forte do verão, no período mais seco onde o nível das águas nos rios baixa completamente e nós vamos nos deparar com filas quilométricas de carros, caminhões e carretas para fazer essa travessia do rio Madeira.

            Os valores são escorchantes, desde R$ 13 por um veículo menor, uma moto ou um carro de passeio, até R$ 130 por uma carreta carregada.

            Seguramente é o pedágio mais caro do Brasil e nós precisamos de uma solução para esse problema.

            O Senador Jorge Viana fez um pronunciamento da máxima importância, pedindo às autoridades do Ministério dos Transportes que acelerem o máximo que puder a realização da licitação para construção da ponte sobre o rio Madeira, na BR-364, ligando Porto Velho, capital de Rondônia, a Rio Branco, capital do Acre; para que essa licitação aconteça o mais rápido possível e que possamos dar uma resposta para esse povo, porque não é possível as pessoas ficarem pagando todos os dias.

            A notícia que se tem - e o Senador Jorge Viana falou aqui em números aproximados - é que, para cada dia, na balsa do rio Madeira, em que a ponte não é construída, a empresa que opera o sistema de balsa tem uma arrecadação de R$60 mil. E R$60 mil, por dia, é algo como R$1,8 milhão por mês de faturamento. Aí certamente o grupo que opera esse sistema não tem nenhum interesse que aconteça a ponte sobre o rio Madeira.

            Por isso, o Senador Jorge Viana fez um apelo aqui, e eu quero reforçá-lo, no sentido de que as bancadas federais do Acre e de Rondônia possam fazer fileira junto ao Ministério dos Transportes para que a gente tenha uma resposta, o mais rápido possível, no sentido da construção dessa ponte. Porque, num país como o nosso, com os esforços todos que a nossa Presidenta Dilma está fazendo para garantir que as obras do PAC tenham continuidade e sejam concluídas com sucesso, não podemos permitir que as populações do Acre e de Rondônia tenham de esperar por mais uma década para ter uma ponte sobre o rio Madeira, na BR-364.

            Esse é o apelo que fazemos às autoridades do Ministério dos Transportes, ao Ministro Paulo Passos, que é uma pessoa solidária com a Amazônia, solidária com o Estado do Acre. Tenho certeza de que ele vai levar muito a sério essa proposição. Nós vamos, nos próximos dias, com o Senador Jorge Viana, os Deputados Federais e Senadores da bancada de Rondônia e da bancada do Acre, tentar uma nova audiência com o Ministro dos Transportes, para que tenhamos uma resposta, tanto no sentido de iniciar o processo licitatório para a construção da ponte sobre o rio Madeira, quanto no sentido de tentar uma medida, ainda que paliativa, para esse período final do verão, em que provavelmente vamos ter filas quilométricas na travessia da balsa, porque, com o nível muito baixo das águas, a balsa tem dificuldade de transitar de um lado para o outro, e cria-se um transtorno terrível para o abastecimento de todo o Estado do Acre. Há produtos que vão até a Bolívia pela BR-317, o que acaba gerando um transtorno geral para essa população.

            E a gente espera confiantemente que o Ministro Paulo Passos se sensibilize com essa reivindicação e tente fazer com que se acelere mais uma vez esse processo licitatório, que já foi interrompido no passado mais de uma vez e ai a gente espera que, agora, possa acontecer o processo licitatório e possa haver uma data para o início dessa ponte, que é fundamental para tirar do isolamento a população do Estado do Acre.

            Era isso, Senador Paim. Muito obrigado pela atenção, e a gente fica na expectativa de que, a exemplo de Garry Kasparov, a gente se dedique o máximo possível para aprender cada vez mais da política e cada vez mais da missão de servir, porque ser político é ser consciente da sua missão de servir. Está no primeiro ensinamento de Jesus Cristo: “Quem quer ser o primeiro, seja aquele que está disposto a servir”. E nós, que adotamos a vida pública, temos que estar plenamente à disposição, a serviço do outro, a serviço da sociedade e temos que nos dedicar o máximo possível para produzir o melhor resultado dos nossos mandatos.

            Muito obrigado, Senador Paim.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/08/2011 - Página 35552