Discurso durante a 148ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem ao cineasta Glauber Rocha pelo transcurso de seus 30 anos de seu falecimento, ocorrido no dia 22 do corrente.

Autor
Romero Jucá (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RR)
Nome completo: Romero Jucá Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao cineasta Glauber Rocha pelo transcurso de seus 30 anos de seu falecimento, ocorrido no dia 22 do corrente.
Publicação
Publicação no DSF de 30/08/2011 - Página 35559
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ANIVERSARIO DE MORTE, DIRETOR, CINEMA.

            O SR. ROMERO JUCÁ (Bloco/PMDB - RR. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, na semana passada, lembramos a passagem dos 30 anos de morte do cineasta Glauber Rocha, falecido em 22 de agosto de 1981. Gostaria hoje de juntar-me aos que renderam justa homenagem à memória deste que foi um dos personagens mais importantes e influentes da cena artística brasileira nos anos 1960 e 1970.

            De fato, Senhor Presidente, é impossível falar das artes e da cultura no Brasil durante esse complexo período, que coincidiu com a ditadura militar, sem mencionar o nome de Glauber Rocha. Glauber fazia parte da geração de artistas que inclui nomes como os de Hélio Oiticica, Torquato Neto, Caetano Veloso, Chico Buarque, geração que ao mesmo tempo ampliou e deu novas direções ao rico impulso criativo que floresceu no Brasil a partir da década de 1950, com criadores como Oscar Niemeyer, Tom Jobim e Vinícius de Moraes, Haroldo e Augusto de Campos, Clarice Lispector, entre outros. Coube à geração de Glauber dar continuidade a essa explosão criativa que se seguiu ao fim da 2ª Guerra e à redemocratização - enfrentando, no processo, as grandes dificuldades postas pelo início de um novo ciclo autoritário no Brasil, logo no início dos anos 60. Foi assim que essa geração, para além de sua contribuição ao movimento das artes e da cultura nacional, prontamente assumiu o papel de resistência, com tudo o que isso implica para a criação artística.

            Não é exagero dizer que Glauber Rocha foi um dos artistas e intelectuais brasileiros mais influentes daquele período. O movimento do Cinema Novo, de que é o representante mais perfeito, teve, sem dúvida alguma, um impacto relevante na evolução da arte cinematográfica na segunda metade do século XX. Com seus filmes e com sua ampla produção teórica, Glauber Rocha deixou uma marca inconfundível no cinema, inscrevendo definitivamente o Brasil na história da sétima arte.

            Como figura pública, Glauber Rocha tornou-se quase um ícone. Sua figura expressiva, seu tom sempre polêmico, seu estilo muitas vezes agressivo são marcas registradas daquele período que englobou a instalação da ditadura militar, sua evolução e, finalmente, sua distensão, a partir do final da década de 1970. Muitos de nós certamente ainda se lembram de sua marcante participação no programa Abertura, da TV Tupi, um evento importante naquele momento em que o País pouco a pouco se preparava para a volta à democracia.

            Glauber Rocha morreu como viveu, envolvido nas polêmicas provocadas por seu último filme, A Idade da Terra, e totalmente absorvido pelo trabalho criativo. Poucos meses antes de ser internado, em Portugal, já doente, trabalhava em vários projetos de roteiros. Aos 42 anos, encontrava-se em plena maturidade intelectual e artística.

            Sua morte prematura privou o País de um de seus artistas, pensadores, intérpretes mais originais. Mas como sempre acontece com os grandes criadores, vai-se o homem, fica a obra.

            Era o que tinha a dizer, Senhor Presidente.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/08/2011 - Página 35559