Discurso durante a 149ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações acerca do governo da presidente Dilma Rousseff.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Considerações acerca do governo da presidente Dilma Rousseff.
Aparteantes
Cristovam Buarque, Pedro Taques.
Publicação
Publicação no DSF de 31/08/2011 - Página 35585
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • ANALISE, GESTÃO, DILMA ROUSSEFF, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, NECESSIDADE, RENOVAÇÃO, ETICA, GOVERNO, COMBATE, CORRUPÇÃO, CRITICA, INTERFERENCIA, EX MINISTRO, EX PRESIDENTE, GOVERNO FEDERAL.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é muito delicado o tema que quero abordar. Que eu me inspire e diga as coisas que devo dizer.

            Já há algum tempo, a sociedade brasileira vem respeitando e cumprimentado a Senhora Presidente da República por seu estilo de governar.

É um estilo sóbrio, fala pouco, direta, mas, principalmente, deixa claro que, no seu Governo, a linha é aquela. Os partidos podem indicar as pessoas que representam o pensamento do partido, mas devem ter dois requisitos para trabalharem com ela: primeiro, têm que ter uma ficha limpa, têm que ter uma biografia transparente; segundo, têm que ter competência para exercer o cargo que desempenham.

            Ela falou, antes do discurso de posse, quando foi proclamada sua eleição, o que me emocionou, pois, eleita - em qualquer lugar do mundo, o eleito, no discurso da vitória, é alegria, é felicidade, é transparência de emoção -, ela foi fria e objetiva, dizendo exatamente o que ela faria na presidência da República. Já eleita, não na base de buscar voto, mas na base de assumir compromisso. E ela vem fazendo isso. Sem estardalhaço, sem outra preocupação que não a de fazer isso.

            Não vamos nem discutir, mas o caso do Chefe da Casa Civil foi tão óbvio que não houve dúvida nenhuma nesse sentido. Ela fez o que devia fazer: afastou o Chefe da Casa Civil.

            O que veio depois, veio depois. O irmão do Líder do Governo disse uma série de catilinárias sobre o Ministro dos Transportes, e os fatos apareceram, e ela afastou-o.

            O problema do Ministro Jobim não tem nada a ver com isso, mas é aquilo que é muito tradicional no Rio Grande: incompatibilidade de gênio, e ele se afastou.

            Dois Ministérios estão sob interrogação, o de Turismo e o das Cidades. Isso nós aplaudimos, uma série de Parlamentares de todos os partidos aplaudiram. Não é alegria pela coisa que aconteceu, é alegria pela competência dela na condução dos trabalhos.

            Aí começaram a surgir movimentos. Na Câmara, no Senado, líderes, partidos iam fazer represálias, iam cruzar os braços, iam apresentar uma votação de propostas negativas ao Governo. Chegou a se falar que haveria um movimento que levaria à tentativa de afastamento da Presidente. Inclusive, a pessoa que teria dito isso, a imprensa publicou. A pessoa me telefonou, pessoalmente, para dizer que não era verdade. E eu não tenho por que duvidar de que não era verdade.

            Esse movimento começou a acrescer. Há uma interrogação, e as pessoas perguntam: “O que está acontecendo?”

            Quando a Presidente diz que não gosta do termo “expulsão” ou coisa parecida, eu também acho que não. Mas aí as perguntas que se fazem sobre o que fará a Presidente precisam de resposta. Eu não acredito que ela retroaja na sua maneira de ser; que tenha cuidado, sim, que tenha cuidado, mas retroagir e passar a conviver... Aquilo que alguns querem dizer que com o partido republicano foi fácil, com o PT e com o PMDB é mais difícil, vamos contemporizar. Eu não acredito nisso. Sinceramente, não acredito.

            Agora, a Veja publicou uma reportagem de dez páginas, que o Líder do PT, naquela tribuna, foi e respondeu. Eu não quero discutir nada, nem o que está na Veja, nem o que o Líder falou. Não levo para o lado de que o ilustre ex-Chefe da Casa Civil estaria fazendo armações ou coisa que o valha, como deixa entender a revista, nem que tenham qualquer tipo de interesse comercial ou coisa parecida. Eu não acredito. Mas eu me pergunto: o que o Sr. José Dirceu está fazendo num quarto de hotel com o Presidente da Petrobras aqui, em Brasília? Eu já parto do princípio - mesmo porque não me passa pela cabeça; tanto o Presidente da Petrobras quanto o Sr. José Dirceu são pessoas altamente competentes - de que eles não vão se reunir num quarto de hotel, em Brasília, para discutir qualquer tipo de coisa ou qualquer tipo de negócio. Isso não me passa pela cabeça.

            Mas estariam fazendo o quê? Discutindo política. E é competência do Sr. José Dirceu conversar com o Presidente da Petrobras, num hotel, discutindo política? É competência do Sr. José Dirceu estar com uma série de pessoas, uma série de Ministros, num quarto de hotel, em Brasília, discutindo política?

            Se nós olharmos para São Paulo, está o Presidente Lula com o seu Instituto Lula. O Fernando Henrique tem o Instituto Fernando Henrique. Agora, é pomposo. E são institutos, cá entre nós, que fazem inveja aos americanos, porque são institutos de países do primeiro mundo. E está lá no jornal todo dia o Presidente Lula falando com o Ministro, falando com Governador, falando com Parlamentar, discutindo medidas futuras, quando ele não está lá no exterior. Hoje, ele está lá na Bolívia, discutindo uma estrada Brasil-Bolívia com o Presidente da República da Bolívia. Mas, se isso não é governo paralelo, o que é isso? O que o Presidente Lula quer com uma decisão que nem essa?

            Eu faço justiça. Até hoje as referências do Presidente Lula à Dilma são as melhores possíveis. Quando ele disse para não tirar o Chefe da Casa Civil, e a Presidente Dilma tirou, ele foi muito competente. Tirou, está tirado. Não fez uma crítica. Até hoje, o Presidente Lula, quando fala em Presidência da República, daqui a quatro anos, sempre diz: “A candidata é a Dilma. Ela só não vai ser se não quiser.” Não vejo uma crítica do Presidente Lula à Presidente Dilma. Faço justiça, mas a maneira de agir...

            O que é mais forte hoje? Reparem nas notícias dos últimos quinze dias. Quantas manchetes apareceram de alguém falando com a Presidente Dilma no Palácio do Planalto? Eu não me lembro. Ela chegou a fazer uma reunião com o alto gabarito dos Líderes e do seu Governo, e só apareceu o Ministro da Fazenda falando. Ela nem apareceu. Agora, nos últimos quinze dias, não tem dia que não aparece alguém falando com o Lula no Instituto Lula. Ou é Ministro, ou é Governador, ou é Parlamentar até de outros partidos, até do PSDB estão lá falando com ele. Isso não é meio governo paralelo?

            Eu acho que o PT se esqueceu. O PT gostou muito de falar em governo paralelo quando era oposição. No Governo Fernando Henrique, o Lula nomeou vários ministros paralelos. Isso é próprio do parlamentarismo. A Inglaterra tem isso. Como no parlamentarismo o cara pode ser governo amanhã, cai hoje o gabinete, amanhã já tem que ser governo, no partido e na oposição têm gente preparada para assumir. Mas não me parece nem que o Brasil tenha um regime tipo parlamentarismo, nem que haja um golpe de Estado previsto. Então, que tipo de governo paralelo é esse que o PT está fazendo?

            São essas coisas que estão ficando graves. E alguém se pergunta, então, se a Presidente Dilma não está recuando. Eu digo que não. Alguém se pergunta se já não passou a época de ela fazer realmente a firmeza de Governo, se ela não teria esquecido. Eu digo que não. Mas eu acho que um movimento está sendo criado e crescendo no Brasil. OAB, CNBB, ABI e uma série de entidades de parlamentares no sentido do estabelecimento de uma ética, de uma dignidade, de uma seriedade neste País está crescendo. Está crescendo.

            Um fato muito importante: o que aconteceu lá no Oriente Médio é algo que a história ainda não esclareceu devidamente. Na primavera que está aparecendo no Oriente Médio, não tem ninguém do terrorismo, ninguém muçulmano, ninguém, quem quer que seja, por trás. Não tem nem uma grande liderança atrás. De repente, não mais do que de repente, forças populares, o que é impressionante. Gente que não se sabe de onde vem começa a utilizar a Internet, e essas frentes começam a dizer: “Amanhã, às 10 horas, na frente do palácio; quinta-feira, às 10 horas e 30 minutos, na frente da rodoviária”. Um fala para o outro, o outro fala para o outro, o outro fala para o outro, o outro fala para o outro e, na insistência da busca da democracia ou da derrocada daquele regime, são milhares e milhares que derrubaram a ditadura. Parece mentira.

            Nós, nas Diretas Já, tínhamos movimento, tínhamos partido, tínhamos liderança, tínhamos ideias, tínhamos uma demonstração enorme de fazer. Eles só têm um “não”. Não quero aquele governo, não quero aquela ditadura, não quero aquele fascismo. E o derrubaram. Se lá eles puderam fazer, por que o Brasil não pode?

            No Brasil, não há violência; no Brasil, não há outra coisa senão lutarmos para reiniciarmos a vida brasileira.

            Nós estamos no caminho certo. A economia vai bem, o desenvolvimento vai bem, o crescimento vai bem. No Governo Lula, esse crescimento, acompanhado de distribuição da renda, vai bem. Mas a moral, a ética vão péssimas.

            Terminar com o Brasil país da impunidade é algo que a sociedade pode aceitar como bandeira. Esses jovens de caras pintadas podem aparecer. E, Presidente Dilma, que bom que isso venha com a senhora tendo o respeito de todos!

            O Sr. Pedro Taques (Bloco/PDT - MT) - Senador Pedro Simon, em poucas palavras, eu não conheço nenhum país civilizado do mundo em que ex-Presidente da República se reúna com ministro para tratar de projetos em andamento vindos do governo anterior, quando ele era o chefe de estado e chefe de governo. Isso enfraquece a governabilidade da Presidente. Isso é fato. Nós temos que elogiar o Presidente Lula pelo seu governo, agora, esse tipo de atitude enfraquece a instituição da Presidência da República. Ex-Presidente precisa se desencarnar do cargo que ocupou.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Eu concordo plenamente com V. Exª. É uma realidade profunda essa que V. Exª afirma, principalmente quando o ex-Presidente é o grande responsável por aquela que está dirigindo; é o grande responsável por quem está presidindo, com a qual fala todo dia. Fala e pode falar, telefona, discute e debate, o que é diferente de montar um governo paralelo lá no Estado de São Paulo.

            Aliás, o Lula já fez errado quando montou ali a sede do governo, porque tinha mais movimento a de São Paulo do que a daqui. Foi a primeira vez que aconteceu isso na história. São Paulo é o mundo econômico, político; manda o ministério, tudo é São Paulo, mas ninguém, antes do Lula, tinha montado ali um gabinete da Presidência da República, na época inclusive em que ele não estava no Palácio, estava lá no Banco do Brasil, tão pomposo como o de São Paulo.

            Pois não, Senador.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - Senador Pedro Simon, mais uma vez, em seus muitos anos de vida pública, o senhor demonstra que a sua preocupação é com a Nação, é com as instituições, é com o funcionamento da democracia e vem aqui, de uma maneira transparente, clara, séria levantar o risco que nós vivemos do enfraquecimento da figura da Presidenta Dilma. O senhor não usou nenhuma ilação de que esses encontros podem ser negociatas, como a imprensa tenta fazer; não levantou suspeita do que está por trás de conspiração; o senhor foi ao âmago do que é indiscutível. O indiscutível é que se cria a impressão de que há poderes paralelos à Presidenta e, nesse caso, dois: o Presidente Lula e o ex-Ministro...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - O que o senhor traz aqui não tem nada a ver com suspeita. É uma constatação. Isso é muito perigoso, porque no regime militar a força vem dos canhões; mas no regime civil vem da imagem, da credibilidade, da liturgia, da liderança de quem está na Presidência. E qualquer arranhão a essa liderança, a essa liturgia, qualquer arranhão pode tirar poder. Quando o senhor falou antes, e eu estava ouvindo, que se comentou a possibilidade até mesmo de que ela não terminasse o mandato e o senhor disse, com toda a clareza, que recebeu telefonema da pessoa que teria dito isso, dizendo que não é verdade, não há dúvida de que não é verdade. Eu não acredito que seja verdade. Mas existem duas formas de golpe: o golpe que tira o presidente e o golpe que aprisiona o presidente. Aprisionar o presidente...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - Presidente, eu gostaria de pedir, porque esse tema eu acho que é tão importante para a democracia, para a República, o tema que o Senador Pedro Simon...

            O SR. PRESIDENTE (Geovani Borges. Bloco/PMDB - AP) - Está assegurada a palavra a V. Exª.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - ... que até eu que gosto de falar, sinceramente, de uma maneira mais enxuta, não estou conseguindo concluir nos segundos que me foram reservados. Vou tentar. Com mais dois minutos eu tiro.

            O SR. PRESIDENTE (Geovani Borges. Bloco/PMDB - AP) - Eu vou fazer o seguinte: eu vou acrescentar dois minutos para você.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - Dois minutos, muito bem; não vou usar mais do que isso.

            O SR. PRESIDENTE (Geovani Borges. Bloco/PMDB - AP) - Perfeito.

            O Sr. Cristovam Buarque (Bloco/PDT - DF) - Existem dois tipos de golpe. Existe o golpe que tira o presidente; deste ninguém está nem falando, nem imaginando neste País. Mas existe aquele que aprisiona Presidente, e a Presidenta está prisioneira. Ela está prisioneira, em primeiro lugar, do fato de que ela tomou posse como se fosse o terceiro mandato, e não o primeiro. Ela está prisioneira ao fato de que um governo, no seu terceiro mandato, é velho e começa cansado. Nós todos que já estamos velhos sabemos como cansa ser velho. Um governo que mantém os mesmos programas, que não traz uma inspiração nova, novidade, começa velho. Em geral, nós, velhos, não vivemos muito. Temos um horizonte de vida. Temo que, hoje, a Presidenta Dilma esteja prisioneira de um governo antigo, velho, cansado, que não trouxe a inspiração dos 50 milhões de votos que ela recebeu, ainda que, é óbvio, graças, em grande parte, ao apoio do Presidente Lula. Este Governo precisa ser renovado, não só pela questão da ética, como ela propôs e prometeu, e eu acreditei - e ainda acredito - na faxina. Não é só isso. É um novo governo, em termos de novas medidas, novas propostas, novos sonhos, de que o Brasil está precisando, e o que estão fazendo o ex-Presidente Lula e o ex-Ministro não ajuda a renovação do Governo dela. Ao contrário, dá a impressão, ainda mais, de tutela. Isso é muito ruim para ela, para a República inteira e para o Brasil. Por isso, o discurso de V. Exª é muito importante.

            O SR. PEDRO SIMON (Bloco/PMDB - RS) - Agradeço ao importante aparte de V. Exª, que, junto com o do Senador Pedro Taques, complementou o meu pronunciamento muito importante.

            Quero dizer apenas o seguinte: na minha opinião, não existe a hipótese de alguém torcer para que a Presidente Dilma vá mal, achando que, se isso acontecer, será bom para o Presidente Lula. Se a Presidente Dilma for mal, não há nenhuma chance de o Presidente Lula pensar em vir para a Presidência. Pode acontecer de a Presidente Dilma ir bem, e o candidato ser o Lula. Isso é normal! Mas, se a Presidente Dilma for mal, como alguns pensam, o Lula vai mal também, porque ele vai ser o responsável, porque a indicou e pelo que está acontecendo hoje - se fôssemos analisar, hoje, em qualquer pesquisa -, pelo que está fazendo para complicar o governo dela.

            É muito melhor o governo da Presidente Dilma ir bem para ela, para o Lula e para o Brasil. Não tenho nenhuma intimidade com a Presidenta. Nenhuma! Votei nela e não me arrependo. Mas, com toda sinceridade, rezo a Deus para que ela tenha coragem, para que ela tenha firmeza, que não se assuste com alguns, principalmente do PT e do PMDB.

            A Senhora tem muito tempo de governo para eles pensarem em fazer oposição. A Senhora tem que ser firme e firme na sua tese: provada a corrupção, rua; indicado um novo nome, a biografia é digna, é digno, é competente, nomeia. Isso a Senhora tem que fazer no seu governo. E tenho certeza de que cada dia que passa é isso que o povo na rua vai cobrar de V. Exª.

            Muito obrigado a V. Exª.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/08/2011 - Página 35585